Castle POV

Ela cheirava a cerejas. Depois de todo esse tempo, estava aí uma coisa que não mudava. Eu o senti naquela primeira vez e eu o sentia agora, com ela deitada em meus braços, a respiração leve e um silencio confortável entre nós.

O cheiro que pertencia a ela, que pertencia a mim. Eu estava orgulhoso dela; depois de perceber que ela também estava com medo, mas que escolheu passar por cima de tudo isso e simplesmente seguir em frente, encontrar uma maneira de se sentir melhor e mais útil, de fazer algo para mudar a situação, realmente. Eu estava orgulhoso e inspirado, já que com ela colocando as coisas dessa maneira, me fez perceber que eu também devia fazer o mesmo.

E então eu iria. Iria engolir meus –muitos- medos e inseguranças e estaria lá com ela, ambos oferecendo o suporte que o outro precisava, como sempre havíamos feito.

Olhei para seu rosto já adormecido, tocando levemente seu rosto, admirando sua beleza que mesmo depois de todo esse tempo ainda me tirava o ar. Levantei um pouco seu corpo e saí com um pouco de dificuldade debaixo dela, ouvindo um pequeno gemido de reclamação. Sorrindo, a peguei no colo, colocando uma das minhas mãos apoiando suas costas e outra embaixo dos joelhos, a erguendo e subindo com cuidado a escada. Não me incomodei em pegar os cobertores que ela havia trazido pra baixo.

Nem mesmo por um segundo eu pensei em levá-la até o outro quarto, então simplesmente fiz meu caminho até o meu –nosso- próprio quarto.

–Você é mesmo muito confiante. –a ouvi dizer baixinho enquanto a colocava na cama.

–Mas é claro! Quer dizer, o quê? Por quê?

–Me trazendo assim para o seu quarto...

–Nosso quarto. – apontei.

–Para a sua cama... –ela continuou como se eu não tivesse falado nada.

–Nossa cama.

–No meio da noite. –concluiu. Eu estava surpreso pelo quão alerta ela parecia, considerando que há apenas alguns minutos estava dormindo em meu colo.

–Bem, o que eu posso dizer... Eu tenho meus truques. –disse enquanto dava a volta na cama e me sentava.

Ela se virou um pouco para me olhar, um brilho descrente e divertido em seus olhos, um pequeno sorriso que ela tentava esconder se formando em seus lábios.

–É, embebedar uma mulher com chá durante a madrugada e esperar que ela durma, para então carregá-la para o seu quarto e colocá-la inconsciente na sua cama. Tem razão –ela riu – é um excelente truque.

–Ah, você sabe que eu tenho outros muitos truques, detetive. –observei seu sorriso ficar ainda maior. – E você não estava inconsciente... Pelo menos não completamente, pelo que estou vendo. Mas fala sério, com esse truque: Não dá pra errar!

Ela riu novamente. –Você é louco, Richard Castle, completamente louco.

Ela estava deitada totalmente virada pra mim agora, a cabeça apoiada em seu braço que estava um pouco levantado. Eu não podia deixar de notar as curvas de seu corpo enquanto ela deitava nessa posição e Deus! Ela era linda.

–Deixe eu te contar uma coisa sobre pessoas loucas. –disse sorrindo ao me lembrar de ter dito essas exatas palavras tantos anos atrás.

–O sexo é inacreditável. –ela respondeu sem parecer pensar, logo depois levantando os olhos arregalados em choque pra mim.

Nos encaramos durante um tempo possivelmente longo, cada um tentando encontrar o significada naquelas palavras, antes que eu pudesse falar novamente.

–Isso é...

–É. – ela tinha o sorriso mais inacreditável e enorme agora, os olhos com um brilho maravilhoso.

–Uma nova lembrança, senhoras e senhores! –disse relativamente alto, me ajoelhando na cama e abrindo os braços em uma demonstração dramática par um público invisível, escutando uma risada antes de sentir meu corpo sendo puxado para baixo, meus lábios sendo esmagados contra os dela.

Ela se afastou um pouco para me olhar, nossos olhos se encontrando e aquele magnetismo impossível nos mantendo presos assim, incapazes de desviar os olhos um dos outro, um milhão de diálogos em um mesmo segundo sem ao menos a necessidade de abrirmos a boca para falar.

Aqueles olhos verdes e brilhantes, tão expressivos e capazes de me fazer perder completamente o chão.

Quebrando nosso olhar, me inclinei novamente colando nossos lábios, logo sentindo seus dedos nos meus cabelos me puxando para mais perto.

Sinto suas mãos soltando meus cabelos e quase ao mesmo tempo minha camisa está subindo pelo meu corpo.

–Acho que alguém sentiu saudades. –disse meio ofegante, movendo minha boca para seu pescoço.

–Cala a boca. – ela respondeu num tom parecido, suas mãos voltando aos meus cabelos, acompanhando cada movimento que eu fazia, me guiando ou apenas me instigando a continuar. E então eu o fiz. Me movi conforme ela indicava, aproveitando cada momento, cada suspiro compartilhado e cada sensação proporcionada, nossos corpos se movendo em total sincronia.

Parecia que faziam meses desde que havíamos estados juntos assim pela última vez, mas não era assim. A sensação de saudade era imensa, mas agora era totalmente sobrepujada por todas as outras e não sobrava qualquer espaço para o pesar, fazendo com que tudo o que aconteceu nos últimos dias desaparecesse, quase como se não tivesse acontecido.

Nada melhor do que novos começos para apagar ou ao menos diminuir qualquer mágoa, e nós tivemos nossa cota de recomeços.

E depois de um tempo se aprende a não perder nenhuma chance, então não o faríamos. Principalmente quando já tínhamos desperdiçado tanto tempo. Então o que sempre nos restava era segurarmos um ao outro e seguir em frente, sempre.

–Lanie tinha razão. – ela diz. Estava deitada ao meu lado, o cabelo jogado sobre o travesseiro e a respiração ainda meio ofegante. O que não ajudava a tirar o sorriso mais que satisfeito do meu rosto.

–Ela geralmente tem. –assinalo. –Mas sobre o que dessa vez?

–Ah, hmm, sobre nada. –ela morde os lábios tentando conter o sorriso. –Só estava pensando alto, falando comigo mesmo, essas coisas.

–Continue pensando alto então. Anda, me conta! – disse, me levantando um pouco e colocando as mãos atrás da cabeça.

–Não! –ela riu - Foi só uma coisa que ela falou mais cedo... Nada importante.

–Sei... Vocês mulheres e seus segredos. Sabe de uma coisa, é sempre assim.

–Que tal pararmos de falar da Lanie agora? –propõe e aponta para nossos corpos quase completamente envoltos pelos lençóis.

–Já paramos. Só estou dizendo que talvez eu deva arrumar segredos também. Segredos de homem, com homens. Você sabe, pra não ficar de fora.

–Ah, é mesmo? –ela se vira pra mim, as sobrancelhas arqueadas. – E com quem exatamente você pretende compartilhar esses seus segredos?

–Ryan, Espo. Esses seriam os óbvios, mas não sei se seriam muito bons em manter um segredo de você.

–Eu tenho certeza que não seriam. Principalmente agora, que eu estou autorizada a chutar bundas por aí! Ah, não vão querer se meter com isso. –ela riu de um jeito feliz e um pouco fascinado. –Mas agora - se vira completamente de lado agora, seu olhar totalmente penetrante – Que tipos de segredos você manteria, Richard Castle? Um terreno na lua? Um arsenal secreto de fantasias de Halloween?

–Esses não são segredos. –aponto.

–Ah, ok, que tal... Um relacionamento secreto com sua chefe? Oh - faz uma cara chocada, arregalando os olhos e levando a mão até a boca –Uma mulher escondida no closet?

–Haha –fingi uma risada – essa é você. E você não era minha chefe.

–Uma mulher super sexy e nua escondida no seu closet! –ela estava obviamente se divertindo com minha cara.

–Talvez! –ela me olha estreitando os olhos. –Não, definitivamente você. Já tem prática! –acrescento, e ela me da um soco de leve no braço. –Ei! É a verdade!

– Engraçadinho... Só é verdade porque você me escondeu. –ela balançou a cabeça. –Mas tudo bem, eu superei essa.

–Eu sei, eu dei uma bela ajuda para você superar essa se me lembro bem.

–Ah, você sem lembra muito bem... –ri alto e depois morde os lábios. – Ajudou muito, definitivamente.

–Viu, eu falei sobre meus outros truques.

–É - ela riu e se aproximou mais de mim, encostando a cabeça no me ombro. – Nem precisou me encher de chá até eu ficar inconsciente.

–Não... Meus talentos falaram mais alto nesses casos. –eu ri e ela me acompanhou. Ela parecia muito mais leve do que eu via em dias, mesmo muito antes de todo o assunto Gates surgir. Parecia mais feliz, mais solta, como se um peso enorme tivesse sido tirado de seus ombros e tudo o que sobrou foi uma onda interminável de alegria. –Você parece bem melhor. –comentei enquanto a puxava para mais perto, sentindo falta de ter seu calor sobre meu corpo.

–E como não estar, certo? –respondeu enquanto se ajeitava – Eu estava feliz e satisfeita antes, mas agora... Agora parece que tudo se multiplicou, eu estou aliviada e feliz de estar conseguindo outra parte da minha vida de volta, maravilhada de poder fazer o que eu sinto que deveria estar fazendo, e absurdamente feliz que você vai estar comigo. Eu continuo com medo, mas com isso – acariciou meu peito com a ponta dos dedos- eu sei que vai dar certo... Eu estou me sentindo quase fora de controle. –riu.

–Fora de controle? –pergunto, fascinado e sem conseguir evitar o sorriso em meu rosto ao ver a felicidade tão genuína que ela expressava agora.

–É, sei lá... Minhas emoções, tudo o que eu estou sentindo. Está tudo muito intenso. Mas de um jeito bom. –suspirou e levantou para me olhar, antes de sorrir novamente e se aproximar mais, tocando meus lábios. –De um jeito muito bom.

–Tudo dando certo para os Castle’s. - digo.

–Tudo dando certo. –concordou e voltou a deitar a cabeça sobre meu peito, suas mãos subindo e descendo lentamente por ali.

Ficamos em silêncio novamente, apenas ouvindo a respiração um do outro.

–Você está dormindo? –a ouço perguntar em um sussurro depois de o que poderia ser um longo tempo. Eu não saberia dizer. Estava perdido no momento.

–Estou. –respondo.

–Sério?

–Sim. –respondo segurando o riso.

–É só que eu queria te falar uma coisa.

–O que?

–Mas eu não quero te privar do seu sono, nem nada... –disse divagando, talvez um pouquinho irritada.

–Apenas me diga. –ri.

–Ta bom.

–Então? -pergunto.

–Eu amo você.

–Eu sei. –disse. Estava mesmo disposto a tirá-la um pouco do sério agora. Consegui pelo visto, considerando a dor no meu braço onde ela o beliscou. –Ai! –eu ri. –Eu amo você também. –respondi mais sério, mexendo um pouco em seus cabelos. –Isso vai deixar uma marca. –comentei depois de um tempo, me referindo ao meu braço.

–Eu espero que deixe mesmo. -responde satisfeita.

–Como você é vingativa! -acuso.

Ela apenas ri. Aquela risada feliz e despreocupada que era capaz de fazer qualquer pessoa sorrir, capaz de colorir todo o mundo. Especialmente o meu mundo.