2 MESES DEPOIS…

KARINA

Alguns meses haviam se passado desde o acidente do Cobra. Ainda lembro do alívio que senti quando fui informada de que ele estava bem. Completamente bem, sem danos cerebrais e nem nada do tipo. Demorou um pouco para que ele voltasse a treinar, o que não foi muito do agrado do Lobão.

Nas, mais ou menos, três semanas de sua recuperação eu praticamente passei a morar no QG, ajudando toda hora, mesmo que sem necessidade. E todos os dias o meu suposto pai aparecia lá, cobrando do meu amigo as horas de treino perdidas. Isso me irritava. Sempre soube que o Lobão não entendia muito que as coisas tem limite, mas, sei lá, com o Cobra era diferente. Eu via em seus olhos que ele queria acertar vários socos no próprio mestre. Na verdade, eu acho que havia alguma coisa acontecendo. Porém, por mais que eu perguntasse, ele nunca me respondia.

Nossa relação está um pouco estranha. Antes as conversas e risadas fluíam naturalmente, agora estamos em silêncio na maior parte do tempo. E o pior, é que eu não sei como isso aconteceu. Foi meio de repente e às vezes eu tinha a sensação de que ele queria que eu ficasse longe.

Tudo ficou quieto por um tempo. Tudo mesmo. O Lobão, Joanca, Duca, Pedro. A primeira e única vez em que o vi depois do término definitivo, ele estava viajando com o resto da Galera da Ribalta para abrir o show de não sei quem. O garoto nem olhou na minha cara quando eu fui, sem graça, desejar uma boa viagem a todos. E “todos” incluía a Vicki.

Não que eu ligasse muito, mas ela insistia em me provocar. Eu queria, como que queria, jogar aquela vigarista no meio do mato e bater com uma pá em sua cabeça, só que eu apenas ignorei. Atitude essa, que foi muito bem aprovada pelo meu pai. “Você está aprendendo a se controlar”, dizia. Mas ele não sabia que eu simplesmente não estava afim. Aliás, não estava afim de nada.

Há mais ou menos um mês atrás, o exame de DNA foi remarcado, e dessa vez eu não fugi. Eu só queria que tudo isso acabasse logo, que o Cobra voltasse a ser meu amigo como antes, que essa dúvida em relação a minha paternidade fosse extinta.

E lá estava eu, o meu pai e o Lobão, esperando o resultado do teste. Meu coração batia rapidamente e parecia que eu ia desmaiar a qualquer momento. Ele deveria estar ali, ao meu lado, me dizendo que tudo ficaria bem, mas não. Ele estava longe.

Finalmente, depois de mais de uma hora de pura ansiedade, um dos médicos apareceu com um envelope na mão. E então, a ansiedade foi substituída por desespero.

— Karina e Gael Duarte, e Jorge Lobo. — ele chamou e nós nos levantamos.

Ele entregou o envelope ao Lobão, que fez questão de abrir lentamente. Meu pai estava quieto. Quieto até demais. Desde que chegamos ele estava com uma expressão desconfiada. Como se ele soubesse de alguma coisa, mas não quisesse dizer nada.

— Eu sabia. Eu sou seu pai, Karina.

O teste foi virado para mim e eu pude ver aquela palavra.

Positivo.