Wrong | Cobrina escrita por Bruna


Capítulo 16
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Ei, galera do meu core!
Antes de qualquer coisa, gostaria de agradecer a Gaby por essa recomendação linda. Muuuito obrigada, guria! Tô in love por ela. *-*
Só pra lembrar: o capítulo é na visão da Karina.

Acho que é isso... Boa leitura!



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— Ok, Karina — a voz da garota me fez parar de repente, assustada. Fiquei estática na porta.

Eu poderia jurar que ela estava dormindo, afinal, eu já estava acordada a um bom tempo. Tinha feito barulho o suficiente para a garota acordar quando eu estive no banheiro, e ela nem sequer se mexeu da cama. Achei que não seria notada, mas estava errada. Muito errada.

— Pode começar! — quase ordenou. E eu soube ali, que a conversa que eu tanto adiei havia chegado.

Me virei lentamente em direção a ela. Fabi estava sentada na cama, as pernas cruzadas e a cabeça apoiada na cabeceira. Alguns fios de seu cabelo estavam bagunçados, seus olhos quase fechavam, mas ainda assim ela mantinha aquela falsa pose de durona estampava seu rosto. Tive vontade de sorrir ao vê-la.

— Começar o quê? — questionei, tentando me livrar do que viria.

— Você sabe muito bem do que eu tô falando — apontou para a cama, pedindo para que eu sentasse, e assim o fiz. Ficando de frente para ela — Onde você foi ontem? Onde você tem ido nas últimas semanas?

— Ontem eu fui à praia — respondi calmante. Ela concordou e com um olhar, pediu para que eu continuasse. Respirei fundo antes de liberar toda a verdade — Com o Cobra — soltei de uma vez, sabendo que isso seria a resposta para todas as possíveis perguntas que surgissem.

Foram apenas três palavras, mas que fizeram a garota ficar estática. O quarto era iluminado apenas pelas luzes do corredor que alcançavam uma pequena parte do cômodo, mas que fora suficiente para eu ver todas as reações da garota. Sua boca abria e fechava diversas vezes, mas nada saía. Estava em choque.

— Qual é, Fabi — a balancei pelos ombros, tentando tirá-la daquele transe — Eu sei que você já desconfiava de alguma coisa. Não é surpresa!

— É, eu desconfiava — assentiu após alguns segundos — Mas te ouvir confirmando é assustador — sussurrou para si mesma — Ele é um marginal, Karina! O que deu em você?— berrou como se fosse o óbvio.

— Não, ele não é um marginal — garanti com raiva.

Soube desde o início que era aquele tipo de reação que eu enfrentaria, mas nunca estive pronta. Talvez nunca estaria. Desde o momento em que entrei naquela coisa, sabia o que me aguardava. E mesmo assim, embarquei. Indo contra tudo e contra todos.

— O Cobra, sério isso? — pude sentir que ela ainda tinha esperanças. Esperava que eu negasse ou dissesse que estava brincando. E quando eu balancei a cabeça em concordância, ela entendeu — Você está com ele... Meu Deus, você e Cobra estão juntos — suas mãos foram até o rosto.

— Estou... — disse mais para mim do que para ela. Era a primeira vez que eu admitia aquilo em voz alta — Eu estou com ele. Estou com o Cobra — soou melhor do que eu imaginara.

— Você sabe que isso vai ser um caos quando descobrirem, né? — perguntou baixinho — Tipo uma granada. Bum! — simulou a explosão com as mãos de uma maneira engraçada.

— Eu sei... — minha voz saiu trêmula só de pensar na tal granada e nas consequências dela — Mas ninguém precisa saber. Não agora...

Fabi assentiu enquanto me prometia não falar nada sobre pra ninguém.

— Alguém, além de mim, sabe disso? — sua sobrancelha foi arqueada de uma adorável.

— Thawick. Ele também também sabe — respondi, lembrando do que o peçonhento me contara ontem.

— E você e o Cobra... Vocês estão namorando? — perguntou curiosa. Seus olhos brilhavam com expectativa.

— Não — neguei — Somos só eu ele tentando alguma coisa. Sem rótulos — expliquei, sorrindo ao lembrar da nossa conversa de algumas semanas atrás.

— Você gosta mesmo dele, né? — começou ela — Olha pra você, Karina — apontou para mim ao ver a confusão que eu me encontrava — Você anda tão feliz, tão sorridente e animada. Achei que nunca mais veria isso... — sussurrou a última frase — Ai, desculpa! — pareceu se dar conta do que falava — É que depois de tudo que aconteceu entre você e o Pedro, eu —

— Ei, relaxa — a acalmei, percebendo que ela estava se enrolando — Você tem razão. Eu estou bem com ele — confirmei — Pode não parecer, mas ele é uma cara maneiro.

E era verdade. Cobra era incrível. Da maneira dele, mas era. E eu gostava, verdadeiramente dele.

— Eu acredito em você, K. Ele pode até ser o cara maneiro que você fala, mas cê sabe que isso se limita a você. Sempre se limitou — foi sincera. Com um suspiro pesado, prosseguiu — Eu só espero que ele não te machuque. E se ele o fizer, ele é um cara morto, pode apostar.

Sorri fraco.

Eu tinha tanto medo de sair ferida. De quebrar a cara de novo. E eu sabia que as coisas com Cobra eram mais... intensas. E o risco, talvez, ainda maior. O que tornava tudo tão... errado. E ainda assim bom.

Fabi ficou quieta por uns instantes.

— Cá entre nós... O teu lutador é um gostoso! Um pedaço de mau caminho... — seus olhos pesaram e um sorriso invadiu seus lábios — Aquele peitoral tão bem definido, tão... Senhor!

Eu gargalhei ao ouví-la, jogando um travesseiro em sua direção. Acabando com a expressão sonhadora que ela tinha em seu rosto.

— Você estava indo ao QG? — me perguntou.

— Sim, estava.

— As 6hs da manhã? — olhou a hora em seu telefone — Isso tudo é saudade? — perguntou zombeteira.

— Claro que não! — garanti — É que ele costuma acordar cedo pra abrir a loja — expliquei — E eu pensei em ficar lá com o lutador gostoso até dar o horário de ir pra academia — a imitei sorrindo.

— O que cê tá esperando? — perguntou — São quase seis horas! Vai lá aproveitar o lutador — me mostrou o relógio em suas mãos, o aparelho no meio da escuridão iluminou seu quarto. 05h:57min, pude ver — Quase seis horas e eu acordada, chamando o Cobra de gostoso... Que pesadelo, meu Deus!

— Ok, tô indo — levantei minhas mãos em rendição. Andei até a porta, mas antes virei para dar uma última olhada na garota — Obrigada, Fabi! Por tudo — sorri gentilmente.

— Por nada, K. Boa sorte com tudo. Algo me diz que você vai precisar...— desejou, deitando novamente na cama — Te vejo mais tarde! — acenou, bocejando.

Assenti e fui, finalmente, embora da casa da garota.

O sol saía discretamente por entre as nuvens. Segui andando calmamente até a praça, e sorri quando senti os raios tocarem minha face. Era tão bom. Talvez não mais que sentir a areia nos meus pés, o barulho das ondas e o coração dele batendo calmante em seu peito.

Revirei os olhos ao notar o quão idiota eram meus pensamentos, e que eles, de novo, haviam chegado nele. Como sempre faziam nos últimos dias.

Dei leves batidas na porta da vitrine, esperando que Cobra me aparecesse com aquele sorriso enquanto abria a porta e fazia uma reverência bizarra para que eu entrasse. Mas não foi assim. Não encontrei os castanhos de seus olhos nem os caninos amostra em um sorriso.

— Thawick? — minha voz saiu em um sussurro surpreso.

— Novinha — cumprimentou, me dando passagem para que eu entrasse.

— Onde ele está? — perguntei casualmente enquanto entrava. Meus olhos procuraram por ele, e quando não o encontrei, voltei a encarar o loiro.

— Bom dia pra você também! — disse com uma ironia quase palpável — Eu estou bem, obrigada. E você? Espero que também esteja.

— Corta essa, cara! — revirei os olhos, impaciente.

— Ele tá no quarto — respondeu com um sorriso, indo para o balcão. Talvez terminar o trabalho que começara e que eu tinha interrompido.

Minhas mãos encostaram nas correntes, pronta para invadir o cômodo, mas Thawick quase gritou em desespero me fazendo virar depressa para ver o que estava acontecendo.

— Puta que pariu! — correu até onde eu estava, e de uma maneira rápida e astuta ficou em minha frente.

— O quê? — levantei uma sobrancelha, o questionando.

— Nada — sorriu sem mostrar os dentes, coçando a cabeça — É que eu acabei de lembrar que o Cobra saiu. Uma entrega, sabe?

— Sério? — uma falsa curiosidade invadiu meu tom — Que eu saiba ele não é o responsável pelas entregas...

— É... — parecia pensar em uma próxima desculpa — Ele acabou assumindo hoje. Era muito importante.

O cara não sabia mentir. Ele estava me escondendo alguma coisa. E pelo que eu via não era nada bom.

— Qual é! — o empurrei levemente — Sai da minha frente — ordenei já brava.

— Guria, cê não vai querer ver isso — ele tentou mais uma vez, seus olhos pesaram e uma de suas mãos apertou meu ombro — Não vai... — sussurrou.

— Ele se meteu em uma luta ilegal? — perguntei preocupada — Foi isso? — pedi brava — Thawick...

Ele soltou um suspiro pesado e se afastou, o suficiente para que eu tivesse acesso ao cômodo.

E eu entrei.

E me arrependi.

Ele não estava machucado como eu achava. Mas eu estava. Eu me machuquei ao vê-lo. Ao vê-los.

Cobra e Jade juntos. Uma das pernas da morena estava no meio das dele, o rosto enterrado no pescoço do réptil, as mãos repousavam no peito nu dele, subiam e desciam diversas vezes em um ritmo calmo. Cobra, por sua vez, tinha uma das mãos na pele da cintura da bailarina e a outra em uma de suas pernas.

Tentei desviar o olhar diversas vezes, mas todas em vão. Meus olhos se fixaram ali, nos dois. Com toda a certeza haviam passado a noite inteira juntos.

Meus olhos pesaram e um suspiro pesado deixou minhas narinas. E fiquei assim por um longo tempo. Tentando evitar que aquela coisa que parecia querer tomar conta de cada pedaço meu, viesse a tona. Ódio, raiva... ciúmes?

— Eu... — abri meus olhos lentamente enquanto virava na direção de Thawick — Eu vou embora... Academia — as palavras saíam desconexas. Eu não conseguia nem ao menos formar uma frase.

— Tem certeza? — ele me perguntou preocupado — Espera ele acordar e daí cês convers — o olhar que lhe lancei foi o suficiente para que ele parasse com o que falava — É, acho melhor você ir embora.

Assenti, indo até a porta do QG.

— Não conta pra ele que estive aqui, por favor — pedi antes de atravessar a rua, mesmo sabendo que seria em vão. Ele contaria de uma forma ou de outra.

Minhas mãos foram até meu bolso em busca da chave que meu pai me dera para que eu abrisse a academia hoje. E assim que fiz isso, fui direto à um saco de areia. Sem me importar com as luvas nem qualquer outra coisa, meu punho cerrou e um murro certeiro foi dado. E com ele vários outros. Sentia meu corpo já quente e as gotas de suor se acumularem em meu corpo.

Eu queria esquecer, e só aquilo parecia funcionar.

— Karina, tá tudo bem? — meu pai perguntou ao entrar na academia.

Uma hora se passou e eu nem ao menos notei.

— Tá tudo bem, pai — tentei que soasse o mais verdadeiro possível — Tá tudo ótimo.

— Ok, se você diz... — pareceu desconfiado, mas acatou minha desculpa — O treino começa daqui a pouco — avisou enquanto me dava as costas e ia até seu escritório.

E eu continuei lá, por muito tempo. Tentando esquecer o que eu tinha visto, sem sucesso algum. Aquele era um dos motivos para eu ter tanto medo de me envolver, de embarcar em um relacionamento ou qualquer coisa do tipo. Qualquer uma era mais interessante que eu. Eu não tinha nada de extraordinário. Era uma garota comum de 16 anos. Nunca entendi o que ele havia visto em mim, e nunca entenderia.

— E então, K — a voz de Fabi soou atrás de mim — Aproveitou teu lutador gostoso? — disse de uma maneira brincalhona se apoiando no saco de areia, me impedindo de continuar com o que eu fazia.

Senti o calor que emanava de meu corpo aos poucos ir embora. Permiti que meu corpo cansasse, e minhas pernas cederam de repente, me fazendo sentar.

— Não, não aproveitei — neguei com os olhos fechados — Mas ele pareceu aproveitar a noite... Mais do que eu gostaria — sussurrei a última parte.

— O que ele fez? — Fabi perguntou preocupada.

— Nada. Ele não fez nada — garanti enquanto me levantava e ia até a porta da academia — Duca — chamei o lutador, interrompendo por um instante a aula que ele dava — Avisa pro mestre que eu fui pra casa, tá? Tô cansada — expliquei sem mais.

Ele assentiu, sorrindo acolhedor.

As coisas com o Duca também melhoravam aos poucos. Eu não tinha raiva dele. No momento em que descobri toda a farça, fiquei com raiva de todos, mas depois percebi que Duca era só uma vítima de toda aquela história. E afinal, eu convivia com ele diariamente, não tinha opção a não ser voltar ao que éramos. Os velhos e bons amigos de sempre.

Assim que pus os pés para fora da academia, meus olhos pousaram na loja. Contrariando todo e qualquer pensamento racional meu.

Os olhos dele encontram os meus quase de imediato. E com um olhar, pediu para que eu fosse até lá. E em resposta, apenas balancei a cabeça em negação. Eu não iria.

Cobra pegou o celular em seu bolso e digitou algo rapidamente, e quando seus olhos voltaram aos meus, senti meu celular vibrar. Uma mensagem. Com relutância, peguei o aparelho.

Cobra: Precisamos conversar, Karina. Vem aqui, por favor. √√

“Não” sussurrei em sua direção. Ele assentiu como se acatasse minha decisão. Mas o brilho que ele tinha em seu olhar me fez ter a certeza de que ele não desistiria tão fácil.

O ignorei e fui até minha casa, onde só Bete estava. Tomei café e subi até meu quarto. E fiquei o resto da manhã e a tarde inteira lá, desci apenas para almoçar e beliscar alguma coisa. O dia se passou de maneira arrastada. E nem as músicas nem a luta que eu assitia na TV foram suficientes para que eu apagasse aquela cena da minha mente. Aquilo não podia ter mexido tanto comigo. Não podia...

Afinal, era só Cobra e Jade juntos. Só isso.

A noite chegou, e com elas todas as perguntas e olhares que eu temi durante o dia inteiro. Bianca e meu pai já estavam em casa, e insistiam em saber o que tinha acontecido. Pedi ao mestre a chave da academia e ele, depois de muita relutância, me entregou, com a condição de que eu voltaria cedo e de que o contaria o que estava acontecendo comigo. E eu prometi, mesmo sabendo que cumpriria apenas uma parte de nosso acordo.

E lá estava eu novamente, dividindo minhas dores com o bom e velho saco de areia. Não amenizava, mas melhores as coisas de uma maneira significativa. Sentir meu coração bater disparadamente, o sangue correr entre minhas veias e a todo aquele sentimento que a luta emanava eram coisas fantásticas.

Tirei as luvas e fui em direção ao celular, pressionei uma tecla do aparelho para conferir o horário.

21h:56min.

Já estava na hora de ir embora. O mestre já devia estar preocupado.

Senti uma mão tapar a minha boca enquanto um braço cercava minha cintura fortemente. Meu grito saía abafado e eu era impedida de fazer qualquer movimento brusco devido ao aperto ao meu redor que me mantinha presa.

Meus dentes cravaram na palma do indivíduo. O que fez ele gritar e toque afrouxar de imediato.

— Ai, Karina! — sussurrou indignado — Isso dói.

— Como você entrou aqui? Eu tranquei a porta... — perguntei assustada, conseguindo finalmente me afastar.

— Marginal, lembra? — balançou o grampo em suas mãos enquanto resmungava da mordida que levara.

— Impossível esquecer, Cobra — sussurrei dando as costas — O que você quer?

— Conversar — disse simplesmente, seu tom decidido me fez revirar os olhos. Sua mão capturou a minha de repente, me puxando e me obrigando a ficar de frente para ele. Perigosamente perto — E eu vou fazer isso. Nem que seja a última coisa que eu faça na vida.

Engoli em seco, temendo a conversa que viria.


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Notas finais do capítulo

Percebi que cês deram uma sumida no capítulo anterior :( Espero que voltem nesse e me digam tudo que acharam. E essa conversa entre Cobrina? Só eu que tô ansiosa?! Kkkkk
Beeeeijos e até o próximo!