Entre o Espinho e a Rosa escrita por Tsumikisan


Capítulo 18
Gringotes


Notas iniciais do capítulo

Hoje tem um cap duplo dedicado a Sarah, uma das leitoras mais lindas que recomendou a fic ;w; Muito obrigada amorzinho, você não sabe o quanto me deixou feliz



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/587374/chapter/18

Foram semanas de preparativos, conversas furtivas e olhares rancorosos entre nós três e o duende, mas finalmente podíamos afirmar que os planos estavam traçados e os preparativos feitos. Eu gostava da sensação de bolar um plano, era gratificante agir depois de meses procurando as cegas.

Nos encontrávamos no menor quarto da casa, próximos de mais a Grampo. Após uma procura minuciosa, eu havia conseguido achar um único fio de cabelo negro, comprido e grosso no suéter que eu estava usando na mansão. Ele estava agora me um frasquinho, em cima da lareira, enquanto eu, Harry e Rony analisávamos plantas e discutíamos ideias. Como sempre, eu estava sendo pessimista. Pensar no que poderia dar errado era uma ótima maneira de revisar um plano, mas Harry e Rony pareciam não gostar muito da estratégia.

— E você ainda estará usando a varinha dela – disse Harry, indicando com a cabeça a varinha de Nogueira, ao lado do frasco com o cabelo. –, portanto, acho que estará bem convincente. Não tem com o que se preocupar.

— Ah não diga isso. – Rony gemeu. – Ela vai ficar acordada a noite inteira procurando mais falhas.

Me levantei e caminhei até a lareira, pegando a varinha com certo receio. Era como ter a própria Belatriz em minha mão. Estremeci.

— Odeio essa coisa – disse em voz baixa. – Realmente odeio. Parece que não se amolda bem, que não funciona direito comigo... É como um pedaço dela.

— Provavelmente ajudará quando você tiver assumido a personagem – disse Rony, tentando me entusiasmar. – Pense no que essa varinha já fez!

Larguei o objeto com nojo. Aquelas palavras provocaram o efeito contrario.

— Mas é disso que estou falando! – retorqui. – Esta é a varinha que torturou os pais de Neville, que foi usada para me machucar e quem sabe quantas pessoas mais? Esta é a varinha que matou Sirius!

Notei que Harry agora olhava para a varinha de um jeito diferente também, como se fosse a própria cobra de Voldemort. Eu me perguntava como aquela mulher e Draco poderiam ser parentes. Certo, admito que o segundo era uma peste até algum tempo, mas ele tinha a capacidade de se arrepender. Por que será que eu não imaginava Belatriz fazendo o mesmo?

— Sinto falta da minha varinha – reclamei com um suspiro. – Gostaria que o sr. Olivaras pudesse ter feito outra para mim também.

O fabricante de varinhas havia mandado outra para Luna naquela manhã. Sem duvidas tinha pensado que nós já tínhamos varinhas o suficiente para nos fazermos felizes a vida toda. Seria uma pena se uma delas fosse de uma psicopata assassina.

A porta do quarto se abriu de repente e Grampo entrou. Harry pegou a espada de Griffyndor de seu lugar habitual, do lado do sofá, o mais rápido que pode, puxando-a para perto de si. Infelizmente o duende notou o gesto protetor e arreganhou os dentes, formando um sorriso irônico. O clima teria ficado bastante incomodo, se Harry não tivesse informado depressa:

— Estivemos verificando umas coisinhas de última hora, Grampo. Avisamos a Gui e Fleur que estamos partindo amanhã e que não precisam se levantar para se despedir.

— Certo. – ele grunhiu. – Alguma consideração final para mim?

— Não. – eu disse, tentando suavizar a situação. – Parece que esta tudo certo.

Rony olhou para o teto, aliviado. Fingi não ter visto.

Naquela noite todos tivemos dificuldades para dormir. Eu fechava os olhos constantemente, mas o sono não vinha com facilidade. Me peguei girando um velho colar entre os dedos, sentindo o frio do rubi. Na noite em que conversamos com Olivaras e Grampo, eu havia vasculhado minha bolsinha de contas (e foi uma grande procura, estava tudo uma bagunça graças aos sequestradores) e encontrado o antigo colar com um pingente em forma de serpente com um coração no meio e recolocado no pescoço. Se Harry e Rony haviam notado, não comentaram. Durante as semanas que se passaram eu adquirira a mania de segurar o pingente com força e fechar os olhos, pensando em todos os bons momentos. Aquilo me dava animo para continuar. Naquela noite eu fiz o mesmo, imaginando se Draco estaria pensando em mim assim como eu pensava nele e só assim consegui dormir.

Acordei bem mais cedo que os meninos na manhã seguinte. Fui até o quartinho e peguei o cabelo e a varinha. Depois fui para os fundos do chalé, onde coloquei um vestido longo e preto que Fleur guardava exclusivamente para os enterros. Era muito maior que eu, largo em todos os sentidos, mas em breve serviria perfeitamente. Tirei o frasco com o que restava da poção polissuco da bolsinha e coloquei o fio de cabelo negro.

A poção assumira um vermelho vivido com manchas pretas como piche. Parecia maldade pura. Fechei os olhos e bebi em um só gole, sentindo o conteúdo queimar minha garganta. Quase vomitei. O gosto dela era repugnante. Em questão de segundos minha pele começou a borbulhar e formigar.

Sinceramente, nunca havia visto um plano com mais probabilidades de dar errado. Nem mesmo invadir o ministério foi mais perigoso. Até por que todos lá eram um bando de idiotas correndo em círculos. Pelo o que eu conhecia das aulas de historia da magia, seria muito mais difícil enganar os duendes.

Com a transformação completa, atravessei o jardim com passadas rápidas e o sapato de salto na mão. Eu ainda tinha minhas duvidas se conseguiria andar adequadamente naquilo, com toda a postura arrogante que Belatriz tinha. Havíamos tentado treinado meu ar superior, mas Rony não ajudava muito rindo todas as vezes que eu tentava arreganhar o nariz com nojo.

Ele e Harry já me aguardavam perto do túmulo de Dobby. Ambos olharam para mim impressionados. Tentei sorrir timidamente, indicando que ainda era eu ali, mas minha voz não parecia a mesma quando eu disse:

— O gosto dela foi nojento, pior que raiz de cuia! Ok Rony, venha aqui para eu poder dar uma ajeitada em você.

—Certo, mas lembre-se que eu não gosto da barba longa demais.

— Não é questão de gostar... – revirei os olhos, mas deixei a barba curta.

— Tente deixar meu nariz menor, gostei daquela vez...

— Cale a boca, Rony.

Eu estava me aperfeiçoando em transfiguração humana. Quando terminei, ele parecia ser pelo menos vinte anos mais velho. Harry aprovou o resultado com um mero aceno de cabeça.

Grampo saiu do chalé com um gingado característico. Ele nos analisou de cima abaixo, em busca de falhas, mas por fim deu-se por satisfeito. Nos viramos para olhar o chalé, como um ultimo adeus. Grampo subiu nas costas de Harry e eu coloquei a capa sobre eles. Segurei o ombro de Harry com uma das mãos e a outra coloquei no braço de Rony. Respirei fundo.

E desaparatamos.

Aparecemos na porta do Caldeirão furado. Estava praticamente deserto. Apenas dois bruxos conversavam em voz baixa em um canto, curvados para frente de modo que suas palavras não pudessem ser ouvidas por algum curioso.

–— Madame Lestrange. – Tom, o dono do bar murmurou tristonho.

–— Bom-dia.

Tom pareceu levemente assustado. Quando deixamos o bar e entramos no beco sem saída, Grampo grunhiu em voz alta:

— Bom dia? Bom dia?! Você é Belatriz Lestrange, não uma menininha inocente!

— Ei, relaxa. – Rony resmungou.

— Não. – coloquei a mão no peito dele. – Ele tem razão, eu quase estraguei tudo.

Ok, ser menos boazinha. Eu era Belatriz Lestrange, superior, rica, poderosa e influente. E todos os outros eram ralé. Precisava urgentemente entrar no personagem. Rude e sádica. Tentei empinar o nariz, como havíamos treinado e dessa vez Rony não riu. Acho que aquela expressão de profundo nojo combinava com o rosto dela, mesmo que ficasse cômico no meu.

Bati nos tijolos na ordem certa e a parede se abriu, revelando o Beco Diagonal. Tudo estava silenciosamente sombrio. Era como vagar por um cemitério. As pessoas estavam sentadas na rua, usando roupas esfarrapadas e com ar faminto. Seus olhos miúdos e marejados me fitavam com cobiça, alguns chegavam a sorrir ironicamente para mim. Respirei fundo e continuei meu caminho. Quantas daquelas pessoas Belatriz não teria torturado, mandado matar suas famílias ou pior?

— Ora, se não é a madame Lestrange! – alguém chamou, vindo por trás. Levei menos de um segundo para lembrar que era comigo.

—E o que você quer? – perguntei friamente, me virando.

O homem parecia profundamente ofendido. Seu cabelo longo estava preso em um rabo de cavalo e ele vestia um terninho simples, como se estivesse ali a negócios. Estava tão limpo que se destacava contra todos aqueles mendigos.

— Ele é outro comensal da morte! – Harry me alertou, baixinho. – É Travers!

— Só quis cumprimentá-la. Mas se minha presença não é bem vinda...

— Não, não de modo algum Travers. – disse, tentando soar cordial. – Só não reconheci sua voz. Temi que fosse mais dessa gentinha querendo me importunar, entende? Como vai?

—Ah claro, entendo. Mesmo sem varinha esses daí ainda não entendem qual é o seu lugar. – Ele riu, mas se tornou sério de repente - Bem, confesso que estou surpreso de vê-la aqui.

— Sério? Por quê?

— Bem, ouvi dizer que os moradores da Mansão Malfoy foram severamente castigados e agora estão confinados em casa depois da ah... Fuga.

Meu coração bateu um pouco mais rápido e eu resisti o impulso de erguer a mão para o colar devidamente escondido entre minhas vestes. Disfarcei a hesitação jogando meu cabelo arrogantemente para o lado.

— O Lorde das Trevas perdoa aqueles que o serviram mais lealmente no passado – disse com insolência. Deixei que um sorrisinho típico de Belatriz se apoderasse de meus lábios. – Talvez o seu crédito com ele não seja tão bom quanto o meu, Travers.

Apresentei Rony a Travers como Dragomir Despard, um disfarce de ultima hora. Eu tinha negócios a resolver com ele no Gringotes e precisava me apressar. Infelizmente, Travers tinha a mesma ideia e foi conosco até a entrada. Aquilo estava começando a sair do controle.

Ele foi revistado como de costume, e ainda fez piada sobre a segurança rigorosa. “Quem eles esperam que vá aparecer aqui, Harry Potter?!”. Dei uma risada alta da piada, mas por dentro estava gélida. Quando o duende se aproximou de mim com o honestímetro, me fingi de surpresa.

— Mas você acabou de fazer isso! – disse.

O Duende ficou olhando para mim, desconfiado e depois para o aparato em suas mãos. Travers assistia a cena com um sorrisinho falso e eu revirei os olhos para ele como quem diz “Da para acreditar?”

— É, você acabou de revista-los, Mario. – outro duende confirmou ao primeiro, mas eu notei sua voz ligeiramente pastosa.

Continuei a subir até chegar no amplo salão, ao lado do sempre bem humorado Travers. Ninguem olhou para nós quando caminhamos com vigor até o duende no centro, que pesava grandes pedras de diamante. Cruzei os braços e pigarreei. O duende nem se dignou a tirar a atenção de seu serviço. Olhei de esguelha para Travers, que fingia admirar os diamantes e disse em alto e bom som:

— Eu quero entrar no meu cofre.

O duende não tinha saída. Se aprumou por cima de sua mesa e me encarou com seus profundos olhos negros. Algo no sorriso que ele dera me fez crer que eles sabiam tudo que estávamos planejando. Mas, conforme o roteiro, ele perguntou:

— Identificação, por favor.

— Eu acho que isso não é necessário. – disse no tom mais arrogante que pude.

O sorriso do duende se ampliou.

— Madame Lestrange. A sua varinha será o suficiente.

Pestanejei. Eles sabiam. Sabiam que Belatriz estava sem varinha desde o que ocorrera na mansão. Como eu pude esquecer esse detalhe? É claro que eles teriam avisado! Resisti ao impulso de olhar desesperada para Rony e estreitei os olhos ameaçadoramente.

— E se eu não quiser?

— Temo que terei que chamar a segurança, senhora. Regras do banco, você entende.

Uma ruga de confusão se formava na testa de Travers. Atrás de nós, os guardas bruxos se moviam. Estávamos atraindo mais atenção que o desejado. A contragosto, puxei a varinha de Belatriz e entreguei, com as mãos tremulas. Pensei ter ouvido um farfalhar ao meu lado no momento em que entreguei a varinha.

— Ah, a senhora mandou fazer uma nova varinha, madame Lestrange! - O duende exclamou, parecendo satisfeito.

— Quê? – Perguntei, confusa. – Não, não, essa é a minha...

— Uma nova varinha? – indagou Travers, aproximando-se outra vez do balcão. Os duendes ao nosso redor começaram a prestar atenção na cena. – Mas, como poderia ter feito, que fabricante de varinha usou?

Outro farfalhar e dessa vez pude jurar que havia ouvido a voz de Harry. No ultimo instante percebi que ele havia lançado uma maldição Imperio em ambos. Graças a isso, Travers voltou para seu lugar, parecendo muito satisfeito dizendo:

— Ah, sim, estou vendo. É muito bonita. E está funcionando bem? Sempre acho que as varinhas precisam ser amaciadas, concorda?

O velho duende enfeitiçado atrás do balcão bateu palmas e um duende jovem se aproximou.

— Precisarei dos cêmbalos – disse ao outro, que correu e voltou logo depois com uma bolsa de couro que parecia cheia de metais soltos e que ele entregou ao seu superior. – Ótimo, ótimo! Então, se quiser me acompanhar, Madame Lestrange, levarei a senhora ao seu cofre.

— Espere... Bogrode!

Outro duende contornou correndo o balcão, nervoso.

— Temos instruções! – ele disse, agitado. Virou-se para mim e fez uma profunda reverencia. – Me perdoe, Madame Lestrange, mas recebemos ordens especiais com relação ao cofre de sua família.

Ele cochichou algo no ouvido de Bogrode, mas este apenas o expulsou com um aceno de mão. Seu rosto parecia vago e sua voz era distante.

— Estou ciente das instruções, mas Madame Lestrange quer visitar o seu cofre, família muito

antiga... Velhos clientes... Entende? Venham, acompanhem-me, por favor...

E ignorando o outro duende, saiu gingando em direção as muitas portas que davam para o interior do banco. Eu o segui, com Rony o mais próximo possível sem levantar suspeitas. Travers surpreendentemente também foi atrás de nós.

Já estava tudo desandando. Dessa vez não me contive e segurei o pingente entre a roupa, enquanto seguia Bogrode em direção ao vagonete.

Tomara que isso dê certo


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

>>>>