Manchete, Meados 1914.
A EUROPA EM GUERRA
A Russia invade a Alemanha por diferentes pontos simultaneamente.
A Guerra entre a Alemanha e a França está virtualmente declarada.
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Oi, eu não sou um narrador muito comum, mas muitos já ouviram falar de mim. Ando por ai, vagando a procura de pessoas que me chamam, já presenciei as histórias de amor mais tristes e as mais bonitas, hoje vou contar-lhes a história de Esméria e Heitor, se essa é uma história triste ou bonita você vai decidir quando eu terminar de contar. Mas aviso-lhes logo, nem tudo termina como a gente espera.

Bom, vamos começar.
– Heitor, temos visita, os guardas estão aqui.
– Os guardas? oque eles querem ?
– Disseram que trazem noticias para você.
– Só um minuto, estou terminado aqui.
Heitor vestiu-se e desceu as escadas correndo na esperança de noticias de Dário, seu amigo que havia sido recrutado para lutar contra a Alemanha a meses atrás. Quando alcançou os pés no chão da sala correu em direção a porta e convidou os guardas para entrarem e sentarem próximos a lareira.

– Boa noite, senhores, oque os trazem até aqui ?
– Boa noite, Heitor Zarco, infelizmente não temos boas noticias, com a derrota contra a Alemanha perdemos muitos soldados e tivemos que consultar a lista de segunda chamada, o senhor foi recrutado e precisará viajar conosco para o próximo ataque. Eu sinto muito, você tem uma semana para arrumar as coisas e avisar aos seus familiares.
– Tudo bem, obrigado por virem avisar pessoalmente.

Naquela noite não se ouviu nada além de choros e lamentações, no fundo Heitor sabia que não voltaria e Esméria sabia que daqui a uma semana perderia seu amado. Eles deitaram-se juntos e ficaram assim até suas respirações se acalmarem e eles caírem no sono juntos.
Na manhã seguinte não houve sorrisos, ambos acordaram pensativos e distantes do mundo, abraçaram-se e seguiram juntos para a cozinha, foi na primeira refeição do dia que surgiram as primeiras palavras.

– Então... - Começou Heitor - Acho que nós devíamos esquecer isso por um momento e seguir normalmente, não adianta antecipar a dor ou apressar a perda. Você sabe, né ? Toda essa história de amor eterno, então o nosso também será, não importa oque aconteça nessa maldita guerra, no fim de tudo você sempre irá me encontrar.
– Heitor, eu-eu não sei, não tenho mais certeza de nada, a um dia atrás estava tudo bem, nós íamos casar e construir nossa família, como sempre sonhamos e agora ? Bom, parece que tudo caiu e foi quebrado, só prometa que no fim de tudo você estará aqui para me ajudar a reconstruir todas as peças, juntos, como sempre foi.
– Esméria, eu não posso prometer nada, você sabe como é a guerra, ela é imprevisível e incerta, mas aconteça oque acontecer, eu estarei pensando em você e acredite, se eu morrer naquela droga de guerra eu quero que saiba que você será meu último pensamento e seu nome meu último sussurro.
– Apenas prometa, prometa que no fim de tudo isso nós ainda ficaremos juntos, não importa aonde seja, prometa que vai esperar por mim.
– Eu prometo.
– Então que assim seja, não importa oque aconteça, eu esperarei por você, e se você morrer naquele lugar quero que morra sabendo que nunca haverá ninguém além de você e que a eternidade será pouco para nós.

Confesso que cada palavra deles naquele momento me acendeu, que naquele momento eu quis experimenta como é amar e ser amado, como é fazer juras de amor mesmo em meio a lágrimas e desespero, como é sentir medo e esconde-lo por pensar mais em outra pessoa do que em si mesmo, a meus caros, o amor, um sentimento que se explorado pode transformar até o mais duro dos corações, é realmente uma pena que a raça humana apenas o troque por egoísmo e momentos banais.

Aquela semana passou rápido para Heitor e Esméria, dizem que quanto mais tememos uma coisa mais nós aproximamos dela, infelizmente é verdade, o medo destrói as pessoas e lamentavelmente eles sentiram medo. Naqueles últimos dias juntos eles aproveitaram ao máximo, trocaram olhares, beijos e declarações, prometeram coisas que infelizmente eu sabia que não poderiam cumprir, uma noite antes da partida de Heitor eles sairão e deitaram-se no jardim em frente a sua casa, não ouve muitas palavras, elas seriam desnecessárias, ambos sabiam oque se aproximava, eles apenas ficaram ali, deitados, um segurando a mão do outro. Eu admirava a força de cada um deles, Esméria estava a um passo de derramar suas primeiras lágrimas, mas não o fez, ela prometeu a sí mesma que seria forte, ao menos dessa vez, por ele. Heitor sentia medo, medo de não voltar, medo do que veria por lá, medo de ter que matar pessoas inocentes. Sinceramente ? Nenhum dos dois merecia aquilo. Esméria, mesmo sendo dura as vezes, tinha a alma mais pura e clara que eu já havia visto. Heitor, era um completo Romeu, estaria disposto a se sacrificar por qualquer um que se mostrasse mais fraco, e sobre seu coração,todo amor do mundo caberia ali dentro. Mas eu vou lhes dizer uma coisa, o mundo nem sempre é justo, com um tempo a gente aprende a lidar com isso, já vi muitas pessoas cruéis viverem por essa terra, algumas tinham oque mereciam, outras apenas viveram normalmente, mas acreditem, a eternidade castigara aos que merecerem. Enquanto aos bons ? Eles podem sofrer nessa terra, mas um dia serão recompensados. Apenas tenham isso em mente.

Voltando a história, naquela noite eles foram dormir com o coração apertado, as despedidas sempre são difíceis e mesmo daqui a mil anos a maior dor ainda será perder alguém que se ama. Esméria e Heitor estavam descobrindo isso naquele momento, eles deitaram-se na cama, juntos, e esperaram de mãos dadas o sono chegar, depois de algum tempo Esméria dormiu, Heitor por outro lado não, ele escolheu passar a noite em claro, admirou cada movimento que Esméria fazia, observou como ela respirava calmamente enquanto dormia, observou os seus lindos cabelos castanhos, beijou-lhe a mão diversas vezes e por fim beijou-lhe a boca, ele guardaria aquele momento em sua memória, e mesmo se o torturassem e o fizessem esquecer de tudo ele ainda sentiria o sabor de seus lábios e acharia forças para continuar.

Naquela manhã o sol não apareceu, até mesmo ele estava de luto pelo casal. Eles acordaram e tomaram seu café da manhã, Esméria arrumou as roupas de Heitor na mala e a deixou ao lado da cama, sentou-se na mesma e admirou o seu amado, ela sabia, sabia que daqui a algumas horas, talvez minutos, ela o perderia, por algumas semanas, alguns meses, talvez para sempre. Ela levantou-se e deu-lhe um abraço apertado, ele beijou-lhe a bochecha e pediu para que ela fosse se arrumar, ela apenas foi. Quando ambos já estavam prontos Heitor pegou sua mala e com a mão livre pegou a mão de Esméria, caminharam juntos até a estação de trem, e por mais que ela fosse distante eles escolheram ir andando, escolheram aproveitar ao máximo até o menor dos detalhes. Chegando lá Heitor e Esméria aproximaram-se dos outros soldados e esperarão juntos a chegada do trem, oque para o azar dos dois não demorou muito. Assim que viu o trem se aproximar Heitor apertou a mão de Esméria e encarou-lhe nos olhos, deu um beijo em sua testa e por fim o último beijo que eles dariam.

– Esméria, eu te amo, e lembre-se até a eternidade.
– Até a eternidade, Heitor. - Ela abraçou seu amado e o viu partir naquele trem, no fundo ela sabia que seria a última vez que ela iria vê-lo.

Naquela tarde ela chegou em casa e deitou na cama que antes era do casal, sentiu o cheiro de Heitor ainda nos lençóis e ai sim permitiu-se chorar, derramou lágrimas por famílias inteiras, lágrimas essas que estavam sendo derramadas pelo mundo todo, ela sabia, agora ela sabia o quanto a guerra destrói, agora ela sabia e compartilhava a dor de milhares de mulheres que perderam seus amados ao longo do tempo. Ali, deitada, naquela cama ela jurou a si mesma que não haveria outro, que não haveria mais ninguém, seria ele para sempre, e no fim de tudo ela acreditou que o amor iria junta-los novamente.