Correntes de Andrômeda escrita por Virgo


Capítulo 7
Passado


Notas iniciais do capítulo

Dei sorte essa semana... ou nem tanto, porque eu tô com algumas dúvidas e desconfio que vou passar muitas horas sentada... doí só de imaginar :´(
Enfim. Espero conseguir voltar a ter alguma constância ou padrão, mas até lá ainda é incerto.
Tenham uma boa leitura :)



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O passado sempre retorna. Seja como uma lembrança. Seja como um sonho. Ele sempre retorna.

A voz estava nostálgica dessa vez. Gostava do tom nostálgico, de certa forma o embalava.

Persa e Lupos, ou melhor, Andrômeda e Argos, se tornaram inseparáveis. Quando se viram sozinhos no mundo, apoiaram-se um no outro e seguiram juntos, construindo assim uma amizade de profundo significado. A primeira corrente já tinha sido forjada e eles nem se deram conta.

¬ Ai... - reclamou o rapaz.

¬ Fique quieto! - repreendeu a morena. - Como quer que eu cuide dos cortes no seu rosto assim?

¬ Desculpe... - respondeu risonho. - Ai!

A lua já era soberana no céu e a festa do rei podia ser ouvida de onde estavam.

Arriscaram demais na luta travada mais cedo, pois acreditavam que em algum momento o povo os deixaria ir, no entanto, o povo ainda clamava por sangue; o melhor foi ir embora sem dar-lhes o sangue que tanto queriam, o sangue de um guerreiro caído.

¬ Perdoe-me. - pediu enquanto cuidava de um corte na boca do outro. - Não queria deixá-lo tão machucado.

¬ Por favor, não me peça perdão. - pediu. - Não que não tenhas o meu perdão. Acontece que eu também queria sair daquela arena e em outras circunstâncias podia ser você em meu lugar.

¬ Eu odeio aquele chão. - comentou.

¬ Eu sei, Andrômeda. - respondeu. - Mas devemos ser fortes. Acredite em minhas palavras. - sorriu. - O amanhã será melhor, apesar de ainda estar um pouco longe.

Ela terminou de cuidar de todos os ferimentos que causara no outro e lhe devolveu o sorriso.

¬ Só mesmo ti para me fazer sorrir, Argos. - fez um carinho nos cabelos negros e beijou sua testa. - Descanse.

O rapaz acenou e se virou no leito pobre, não demorou para que dormisse. Somente quando teve a certeza de que ele dormia em paz, Andrômeda se afastou para dormir.

Sentiu algo frio e molhado encostar em sua perna, imediatamente olhou para baixo e viu Eri junto a si. Sorriu para o animal e se sentou em seu próprio leito, fazendo carinho no animal.

¬ Não fique assim. - dizia para o animal. - Eu não estou brava com você. Sei que queria apenas protegê-lo. - riu quando ouviu o animal soltar um som estranho ao ter sua orelha coçada. - Vamos. Devemos deitar e dormir, mas você deve escolher com quem vai dormir. - o animal apenas foi deitando bem devagar sobre os pés dela. - Então dormirá comigo hoje? Tudo bem, só não me acorde como você acorda Argos, sim? - fez um último carinho no animal e deitou, logo adormeceu.

A noite era o momento em que os deuses faziam suas obras. Duas delas, obras de Hypnos, eram os sonho e os pesadelos. Os sonhos são a prévia do paraíso que aguarda todos os homens após a morte vir buscá-los, seria uma recompensa dada pelos deuses. Os pesadelos nada mais são do que um alerta, um lembrete dos erros de outrora, e uma notificação de que os homens estavam percorrendo os caminhos errados.

Não era anormal Andrômeda ter pesadelos, entretanto era bastante anormal Argos ter pesadelos. Tanto que despertar com os berros do rapaz deixou-a sem reação por um tempo.

¬ Argos! - saltou da cama e correu até o leito do outro. - Argos! Argos!

Ele se debatia e gritava com muita violência, mas não importava o quanto a morena o chamava, ele não acordava. Ela estava começando a se desesperar, se aquilo continuasse ela não poderia garantir a segurança de Argos.

¬ SHIN!!

O rapaz estava muito mal, parecia ter voltado das profundezas do Tártaro quando finalmente acordara, mas o que realmente surpreendeu foi as lágrimas que começaram a escorrer pelo rosto jovial.

Demorou muito para que as lágrimas cessassem e mais tempo ainda para que ele explicasse o que tinha acontecido. Em momento algum Andrômeda saio do lado do rapaz, como ele sempre fez, apenas deixando-o chorar suas mágoas.

¬ Quer me contar algo? - perguntou depois de um longo tempo em silêncio.

O rapaz acenou bem lentamente, o olhar era pura dor. Não era mais tão parecido com o olhar de seu irmão, ali só tinha a dor que quase destruiu o coração de Argos.

¬ Você já amou alguém, Andrômeda?

¬ Já amei muitas pessoas. - respondeu.

¬ Não esse tipo de amor. O amor de irmãos, de pais e filhos, de amigos. - volveu. - Eu quero dizer o amor que encontramos entre duas pessoas totalmente distintas e sem laços de sangue.

¬ Não. Assim eu nunca amei. - lembrou-se do que realmente acordou Argos. - O que é Shin?

¬ Não é “o que” e sim “quem”. - respondeu em tom baixo. - Shin foi... Meu escravo... Meu amigo... Meu companheiro... Meu cúmplice e... A única pessoa que amei...

Por algum tempo não soube o que dizer. Tinha a curiosidade natural que vinha da informação, mas também tinha o receio de ferir por querer saber de tempos dolorosos. Argos estava sofrendo, podia ver sua dor, mas não sabia se ele sentia a necessidade de expressá-la.

¬ Quer continuar? - decidiu ir pelo caminho mais seguro.

¬ Quero.

¬ Então... Shin estava no seu sonho? - ele acenou. - E do que se tratava esse sonho?

¬ Do dia em que ele morreu.

¬ Quer me contar o sonho? - perguntou depois de algum tempo.

Argos se deitou novamente e fechou os olhos. A principio, acreditou que ele não queria mais falar daquele assunto, mas o fato dele a segurar pelo pulso fez com que continuasse ali, secando as magoas que choraria.

¬ Você me contou muito de sua vida em noites como essa. - por fim ele se pronunciou. - E agora é a minha vez. - seu tom era deveras abatido, quase uma suplica.

¬ Estarei aqui. - respondeu a pergunta não pronunciada. - Juro que não irei deixá-lo.

Argos pareceu relaxar e soltou o pulso de Andrômeda, deixando-a livre para decidir se iria acalentá-lo ou não.

¬ Eu era muito pequeno quando minha mãe morreu. - seu tom era nostálgico. - Eu não queria que ninguém ficasse perto de mim e desprezei os membros de minha família por muito tempo, mas por fazer parte da nobreza de Delphos eu tinha que ter um escravo particular. - explicou. - Me trouxeram muitos escravos, mas eu libertava todos, os deixava ir embora e voltava a ficar sozinho. Um dia meu pai se cansou de minha desobediência e decidiu que eu devia escolher meu escravo de um jeito ou de outro, do contrario ele me venderia como um escravo. Eu não duvidei e por isso o obedeci.

¬ Como seu pai teria coragem de vender-lhe como escravo? - estava verdadeiramente indignada, nenhum pai faria isso.

¬ Meu pai me odiava. - respondeu.

¬ Por quê? - questionou. - O que levaria um pai a odiar seu filho?

¬ Agora não é hora de falar nas iras que dividiram a minha família. Mas devo dizer que tinha muitos escravos para escolher. Com várias idades, origens, condições e histórias. Dentre eles estava Shin, que era conhecido por Pirro. - a conversa anterior realmente tinha sido dada por encerrada. - Eu me senti atraído por Shin no momento que o vi, talvez por mérito de sua idade próxima a minha, de seus cabelos de fogo, que lhe concederam o nome Pirro, ou das duas pintas roxas que existiam no lugar de suas sobrancelhas. - Andrômeda quase engasgou.

¬ Ele era um lemuriano?

¬ E um lemuriano bastante orgulhoso, teimoso, imprudente e impulsivo. - viu um sorriso desenhar-se nos lábios do rapaz por pouco tempo. - Meu pai acabou por comprá-lo e ele foi deixado comigo. Shin não gostava de mim no começo, achava que eu seria um garoto mimado e egoísta, que o faria de tolo e viveria humilhando-o, mas eu lhe mostrei o contrario. Tanto que a primeira coisa que fiz foi confiar nele e o libertar das correntes que o prendiam no cômodo em que estávamos. - suspirou. - Com o tempo viramos mais o que simples escravo e senhor, viramos amigos e confidentes. Com mais tempo, viramos companheiros e cúmplices. E com mais um tempo, estávamos para descobrir o que seria o amor entre duas pessoas, estávamos para nos tornar amantes.

¬ O que aconteceu? - seu tom estava baixo, sabia que o pior estava par se revelar.

¬ Em Delphos, determinadas pessoas jamais podem se envolver com outras, ainda mais se forem desconhecidos ou escravos. - revelou com a voz embargada. - Além de Shin ser os dois, eu sou uma dessas pessoas. Logo meu pai descobriu nossos sentimentos e ordenou sua morte.

A morte era algo que ela já esperava, mas ainda sim era difícil se expressar. Palavras jamais curariam a dor de um coração que se partiu, disso ela bem sabia. No entanto, as palavras servem para chamar, para mostrar que ainda há razões para se lutar ou viver.

¬ Argos... Sabes muito bem que perdi meu irmão e meus pais, porém, jamais serei capaz de compreender sua dor em sua totalidade. - falava o que acreditava ser o melhor. - A única coisa que posso fazer por ti é secar suas lágrimas e dizer que um dia a dor vai passar, que tudo vai melhorar e que mais nada no mundo vai lhe assustar, que você vai ter motivos para sorrir.

¬ Isso me basta. - respondeu. - E... Nunca desista de que ama, Andrômeda. Lute e proteja tudo aquilo que lhe tem preço. Jamais esqueça de escutar sua razão e coração. Entendeu? - ela anuiu em resposta.

¬ Porque está sempre dizendo essas coisas estranhas? - volveu.

Argos lhe sorriu. Seu olhar voltou a ser igual ao de seu irmão, voltou a revelar seu bom coração.

¬ Porque és feita de carvalho. - respondeu um tanto enigmático. - Acredite. Um dia vai entender.

Suspirou. Somente o rapaz a fazia sorrir.

O passado sempre retorna. Retorna para que jamais seja repetido e para que o futuro seja sempre melhor.

As costas esguias de pele clara e o longo cabelo ondulado, preso em um lindo arco, foi sua última visão ao despertar.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado :)
E até quando der :)

Bjs. L :3



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