Correntes de Andrômeda escrita por Virgo


Capítulo 4
Unidos


Notas iniciais do capítulo

Meu PC explodiu e meu celular (seu substituto) ficou me trollando, juro quase ter pulado de um prédio tamanho o ódio. Me desculpem o cap mais "triste" que os anteriores, mas foi o que deu pra fazer com um celular filha da puta igual o meu DX
Bem, eu me esforcei bastante, então espero que tenham uma boa leitura :)



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O destino é algo engraçado, sempre guarda uma surpresa maior que a anterior. Lembra-se da servidão que se tornou irmandade? Lembra-se daquela cidade e de como os destinos se cruzaram novamente?

Já estava acostumado em ouvir aquela voz. Quase todas as noites ela vinha embalar seu sono com histórias fantásticas de tempos longínquos.

A Trácia era um reino belo, maravilhoso e intimidador. A cidade era uma fortaleza que se erguia no topo de uma colina e dominava a baía, cercada por um bastião reforçado por poderosos contrafortes. Mais para baixo se via outro cinturão de muralhas, menos impressionantes que o primeiro, mais antigos e ligados ao outro por uma rampa. Uma das portas, a que dava para o sul, estava sempre aberta e havia uma grande movimentação de carros, de gado, de animais de carga, especialmente burros, mas também podia-se divisar alguns bichos que nunca tinha visto antes: camelos. Muitos subiam do porto, outros vinham do campo. Havia guerreiros nas torres, nas muralhas, ao lado dos portais, pesadamente armados com elmo, couraça, escudo, espada e lança. A cidade e o seu rei faziam questão de mostrar o seu poder a quem chegava do mar, fossem mercadores, viajantes - que era o seu caso - ou piratas.

Mas apesar de sua aparência ameaçadora, a cidade era o espelho da paz. O comércio, os negócios, os navios que entravam e saíam da enseada. Um cantador de rua em busca de ouvintes. As cores vivazes, o ar abafado que abria espaço para as andorinhas, o mar que assumia a cor do vinho ao entardecer, os peixes que chispavam sob a superfície da água, as gaivotas que voavam baixo, famintas, e soltavam seus gritos estrídulos, irritantes. Tinha diante dos olhos cenas de paz.

A Trácia era tida como um titã que reinava sobre a colina. Porém, todos os titãs um dia caem e este titã caio pelas mãos de uma frota pirata numa noite sombria, em que nem mesmo a lua ousou testemunhar sua queda.

Na Trácia ela era a serva de uma família rica, contratada para treinar os filhos homens na arte da guerra e assim o fez, até aquela noite. A noite em que todos aqueles capazes de segurar uma espada foram para a batalha.

O ataque veio com um silencioso surto de sombras que surgiram de todos os lados, fluindo sobre o bastião com velocidade e ímpeto capazes de derrocar qualquer cidade menos armada. Jogando feixes para formar pontes improvisadas e com varas escalaram o bastião, mas no escuro nada disso podia ser visto, somente um fluxo ascendente, uma onda de fantasmas. Por alguns momentos, o silêncio total deu ao ataque um horror arrepiante, depois os soldados ergueram-se como um só homem para enfrentar os atacantes e o silêncio rachou-se, não num alvoroço, mas num leve som sufocado que ondeou pelos bastiões: o som de homens em combate feroz, mas em silêncio completo. Durou por um momento até que, da escuridão, veio o brado estridente de uma trompa. Dos bastiões, a trombeta grega de guerra respondeu ao desafio, enquanto novas ondas de sombras despejaram-se ao ataque, e então pareceu que o Tártaro se abria. A hora do silêncio passara e agora os homens lutavam aos gritos, chamas vermelhas brotavam na noite acima do portão sul e foram instantaneamente extintas. Cada metro dos bastiões era uma linha de batalha rodopiante e clamorosa, enquanto os piratas enxameavam pelo parapeito para enfrentar os ferozes defensores lá dentro.

A cidade inteira mergulhou num vórtice de horror. Não havia maneiras de deter os piratas, que se entregavam à chacina, ao massacre, ao estupro e ao saque. Em vários lugares houve brigas e até violentos choques entre os próprios piratas, que disputavam os despojos: objetos preciosos, tecidos, armas, mulheres. E logo depois começaram a surgir incêndios em vários pontos da cidade, primeiro nos bairros baixos e em seguida, com o passar das horas, até a cidadela. Pouco depois as chamas ardiam descontroladas por toda a cidade alta, onde a luta era mais violenta.

À medida que os últimos focos de resistência eram aniquilados, formava-se uma longa coluna de prisioneiros: em sua maioria mulheres e crianças, mas também homens por vender como escravos. E justo neste lugar se desenrolou uma das cenas mais monstruosas, em que uma criança que chorava foi arrancada dos braços da mãe e arremessada do alto das muralhas, outra cena foi a de uma jovem que foi estuprada na frente de todos e teve sua garganta cortada logo em seguida. Nada podia detê-los, estavam fazendo o que manda a lei da guerra.

A alvorada do dia seguinte espalhou a sua luz mortiça sobre uma extensão desolada, um cinzento deserto estriado por fiapos de fumaça parada. Os rios arrastavam turvas e vagarosas correntes de lama sangrenta. Não havia um só pedaço de terra que não mostrasse rasgos e feridas, nem um único prédio da soberba Trácia que se erguesse como era antes. O pranto das mulheres e crianças era cortante como uma lamina sacrifical, agudo, incessante. Somente as Moiras em seus véus pretos dançavam no campo de morte, aparecendo e desaparecendo na aura lívida.

Isso é tudo o que conseguia lembrar desse massacre, imaginou que ele tenha sido muito pior e de fato foi. Por muitos anos essa memoria amarga lhe assombraria, ainda mais por acreditar ter caído no momento em que mais precisavam de si. Nunca foi presunçosa ao ponto de achar que faria uma grande diferença na batalha, mas se não tivesse caído, mais pessoas teriam escapado. Porém, também nunca acreditou que sua queda havia sido em vão, pois assim conseguiu salvar a vida daquele que tinha olhos tão familiares, olhos ametistas tão parecidos com os de seu irmão.

Dias vinham e iam, nunca tinha certeza do que era real ou não. A febre tomará-lhe o corpo e apenas uma voz parecia abrandar sua dor. Quando finalmente conseguiu distinguir algo, aqueles olhos ametistas estavam ali, cuidando de si.

¬ Deixe-as fazer o seu trabalho. - brigou quando tocou uma ferida no braço, onde larvas comiam a carne infeccionada.

¬ O-onde... estou...?sua voz estava rouca e fraca pelo desuso.

¬ Estamos em um navio pirata. - respondeu enquanto examinava outra ferida no abdômen, a ferida que a derrotou. - Vamos desembarcar em Esparta, onde seremos vendidos como escravos ou gladiadores.

¬ O... o que fazia... na Trácia...?

¬ Andava. - jogou um pouco de vinho na ferida, o que a fez se contorcer de dor. - Mas quando a luta começou fiz o que pude para ajudar, porém, não adiantou muito coisa, a cidade caio do mesmo modo.

¬ S-seu... cão...lembrava-se vagamente do animal.

¬ Eri? - riu um pouco. - Ele está aqui, só está quieto. Os piratas não conseguiram "domá-lo" e como viram que só eu o controlava, resolveram nos vender juntos por um bom preço, é claro. - riu novamente. - Mas vejo que se lembra de mim, isso me alegra um pouco.

¬ P-por que... me ajuda...?

¬ De onde eu vim, quando alguém salva a sua vida, você deve a mesma para tal pessoa. - explicou. - Uma vida por outra vida. É um código de honra em minha cidade, enquanto minha divida não for quitada, é minha obrigação estar sempre ao seu lado. Sem contar que duvido muito que os piratas venham nos vender em separado, certamente vamos parar em um coliseu. - comentou.

¬ Argos. - chamou pelo rapaz. - S-se... agora estamos... unidos... n-não quero que... que me trate diferente... Quero ser tratada... como sua igual...

O rapaz lhe sorriu e passou a mão de leve sobre seu rosto, obrigando-a a cerrar os olhos.

¬ Por hora, você deve descansar - informou. - E juro que vou tratá-la com igualdade e respeito, Andrômeda, mas por hora me contento com minha função de servir-lhe como médico.

Tudo o que podia fazer era rezar. Do fundo de seu coração, rezou para que Atena não a abandonasse e continuasse a manter sua mão protetora sobre sua cabeça, pois sabia, os tempos agora seriam difíceis.

Tudo o que lhe restava, era acalmar a tempestade que em seu coração se formava.

A pele clara e macia como pêssego e as belas joias de ouro, foram tudo o que viu antes de despertar com a luz do sol em seu rosto.


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Notas finais do capítulo

Pelo jeito ainda não consegui escrever um cap de verdade ¬¬ Talvez no próximo...
Enfim. Espero que tenham gostado e juro fazer os ajustes necessários quando meu PC voltar do concerto :)

Bjs. L :3



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