Tentei dormir, mas não conseguia – não pelo fato de ter várias pessoas conversando no andar de baixo, mas pelo fato de ter descoberto muitas coisas em um único dia – finalmente desisto e levanto. Antes de sair do meu quarto passo por um espelho. Estou agora usando uma camisola branca longa que vai até o meu calcanhar e uma sapatilha branca, sinto que estou em uma era medieval. Desci as escadas do sótão, elas eram de madeira antiga e rangiam enquanto eu descia. Cheguei no corredor e segui as vozes e cheguei na porta de um quarto. Podia ouvir a voz de Sarah, rindo alto e fazendo piadas. Lucy também está lá dentro, posso ouvir sua risada, então Logan começa a rir. Imagino se Lilly está lá dentro também... Quer dizer, claro que ela está lá dentro.

Uma mão pousa em meu ombro. Olho para trás e encontro Sarah, vou gritar, mas ela tampa minha boca e sorri para mim.

– Calma, eu vi você se aproximando. Venha, a mestra tranca as portas quando vamos dormir. Como você saiu?

– Minha porta estava aberta. – Ela sorri e me puxa para dentro de um portal que nos leva para seu quarto.

Caio em sua cama e Lilly instantaneamente começa a rir de mim. Sinto minhas bochechas queimarem. Lucy me ajuda a levantar e abre um espaço na mesma almofada que ela está sentada. Sento ao lado dela e olho em volta. Sarah claramente divide o quarto com Logan, há duas camas, uma solteira e outra de casal, a cama de casal está completamente bagunçada enquanto a de solteiro tem uma camada de poeira em cima e uma lareira acesa. Lilly me encara com raiva, mas não diz nada.

– Bem vinda Riley, ás nossas pequenas reuniões mensais. – Sarah senta ao lado de Logan, que pega uma garrafa de vidro de trás de uma almofada e toma o líquido direto da garrafa. Ele sorri para si mesmo e me entrega a garrafa.

– O que é isso?

– Só tem um jeito de descobrir. – Lucy sorri para mim.

“Ela é muito fraca para tomar esse tipo de coisa, vai desmaiar com apenas dois goles”. Lilly me observa com desdém.

Cheiro o conteúdo transparente da garrafa e torço o nariz. Tem cheiro de álcool em gel.

– Que cheiro horrível!

– O truque é ignorar o cheiro...

– E o gosto. – Logan completa a fala de Sarah.

Levo a garrafa aos lábios e tomo um gole pequeno. O gosto é pior que o cheiro, parece que estou tomando álcool em gel, não consigo me controlar e começo a tossir. Lilly sorri de modo irônico e cutuca Lucy.

“Eu disse” Ela ‘sussurra’ para Lucy.

Lucy se afasta de Lilly e pega a garrafa de minhas mãos e a entrega para Lilly, que toma um gole generoso da bebida. Ela bate gentilmente em minhas costas e me entrega um copo de refrigerante.

– Aqui, vai lhe ajudar.

– Obrigada. – Tomo o refrigerante e o gosto doce e gasoso constrata com o gosto azedo do álcool. Sorrio para Lucy, que sorri de volta e me abraça pelo ombro.

Lilly passa a garrafa para Logan e olha para mim e Lucy com o canto do olho. Sinto um calafrio e me encolho. Sarah logo passa a contar piadas e Logan tira outra garrafa de trás de uma almofada. Eles oferecem a bebida para mim, mas recuso. Lucy toma alguns goles, relutante, mas após algum tempo está bebendo como se fosse água. Fico quieta, até mesmo Lilly fala mais que eu, sua voz dentro de minha cabeça como um sussurro. Por algum motivo passam a falar sobre os acontecimentos do dia.

– Lucy, o que a mestra queria com você? – Sarah se virou para Lucy, que estava tomando o que estava na segunda garrafa.

“Verdade, o que ela queria?” Lilly parecia extremamente curiosa.

– Ah! Não era nada. Só algumas dicas de como controlar ­mais o fogo, vocês sabem que eu tive um pouco de trabalho com isso.

– Ah, não. Eu quero saber tudo. T-U-D-O! – Sarah estava bastante animada pelo fato de ter um mistério entre nós.

“O que foi? Não pode nos dizer o que ela disse? É algo confidencial?” Lilly ria. Sua voz era um fardo em minha cabeça.

– Eu já disse. – Ela olhou para mim pelo canto do olho. – Não é nada, não precisam se preocupar, ela ama todos nós igualmente.

“Até mesmo a Riley?” Lilly riu com desdém.

– C-Claro que sim! Somos todos iguais, certo? Todos iguais.

“Nem todos. Alguns estão aqui faz anos, outros estão aqui faz pouco tempo, até mesmo algumas horas. Somos diferentes, sim”.

– O que foi, Lilly? – Logan estava segurando a garrafa com as duas mãos, como se fosse uma caneca. – Você está falando mais que o normal hoje. O que aconteceu?

“Nada, nada. Estou... Animada com o fato de termos algum objetivo agora”. Ela roubou a garrafa das mãos de Logan e tomou um gole, tentando sair do assunto, Lucy olhou para ela com um olhar contido e depois olhou para mim e me deu um sorriso fraco. “Vou dormir”. Ela se levantou e fez um sinal para Sarah, que abriu um portal e deixou que ela saísse.

Ficamos mais um tempo no quarto até que comecei a ficar com sono e me levantei.

– Vou para o meu quarto.

– Boa noite, Riley.

– Boa noite, Logan, Sarah. – Estava quase atravessando o portal, me virei para Lucy. – Boa noite, Lucy.

– Boa noite. Quer saber, também vou dormir.

Atravessei o portal e apareci no corredor, fui direto para o meu quarto e deitei na cama e assim que fechei os olhos, vi o rosto de Lucy. Ela estava diferente, mais animada, mais viva e ao mesmo tempo nervosa com alguma coisa. Ela levantou os braços e empinou o nariz, de forma autoritária.

– Ajude-me com esse corpete, está muito largo. – Como um cãozinho, apertei cada vez mais o corpete dela, olhei para frente e percebi que ela estava em frente a um espelho, eu usava um vestido preto comprido de empregada e Lucy usava um lindo vestido prateado com várias flores estampadas na saia. Ela percebeu que eu a encarava e me empurrou para trás. – O que pensa que está fazendo!? Ajude-me logo com esse corpete! Tenho que ir a um chá com o duque.

– Desculpe-me, senhorita. – Minha voz estava diferente, mais tímida, quase com medo de Lucy. Foi quando percebi que não era eu quem dizia e sim uma outra garota, uma criada. Ela fazia tudo que Lucy mandava, pois era sua subordinada, mas toda vez que tocava a pele dela, seu coração batia mais rápido e ela corava. Me afastei da garota e senti minha pele formigar. “O que está acontecendo!?”.

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Ás vezes tenho vontade de dar um tapa em Sarah, mas ao mesmo tempo quero abraçá-la. Se bem que metade da culpa é minha por não avisá-la, mas tinha vergonha de dizer na frente de Riley “Não precisa me levar para o quarto de Lilly esta noite”. O que ela pensaria de mim!? Meu Deus o que estou dizendo? Lilly me encarava de sua cama, ela estava sentada e vestia sua camisola azul clara e havia prendido seu cabelo em um coche.

“O que você quer, Lucy? Não vai para o quarto de sua nova favorita?” Ela estava claramente com raiva.

– Acalme-se. Não é como se estivéssemos tempo algo sério.

“O que a mestra queria com você ontem?”.

– O quê?

“O que a mestra queria com você ontem!?”. Nunca a vi tão brava.

– Não é da sua conta, Lilly. Você não manda na minha vida!

“Vai se fuder, Lucy! Eu te jurei nunca sair do seu lado!”.

– Bom, eu estou terminando com você! Pronto!

“Há! Sabia! A mesma coisa aconteceu quando Sarah apareceu! Você ficou caidinha pela nova garota, não é mesmo? Finalmente alguém novo!”.

– Isso é diferente. Você não entenderia!

“Como assim não entenderia!? Você abusou de mim e agora quer alguém novo, alguém que não te conhece!? Claro! Deixa que eu posso falar para quem você realmente é!? O que há de tão especial sobre a garota nova!? Diga! Diga!”

– ELA É A EMILY! – Droga. Droga. Droga. Eu disse, POR QUE eu disse!? Sou uma idiota mesmo!

“Quem é Emily?” Lilly me encara com espanto, curiosidade e até mesmo um pouco de pena. Pena? “Emily não é aquela...”.

– Cala boca, Lilly. – Coloquei a mão na maçaneta de seu quarto. – E não diga nada a ninguém.

“Prometo. E... Me desculpe, mas você vai me explicar depois”.

– Ok, Ok.

Derreti sua maçaneta e quando estava prestes a sair do quarto dela, Riley começou a gritar.