Os Outros escrita por AKAdragon


Capítulo 4
Crazy Vibes


Notas iniciais do capítulo

Não escolhemos quem amamos, mas escolhemos quem queremos ajudar e apoiar.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/586480/chapter/4

Acordei com um trovão. Levantei da cama e olhei pela janela, não conseguia ver quase nada por causa da chuva. Olhei para o relógio, meio dia do dia 28 de março de 2013. “Não é muito tarde...” Vou para a sala e percebo que sou a única pessoa em casa. Ligo a televisão e meu PlayStation 3. Enquanto carregava, esquentei água para fazer chá e pequei um pedaço de bolo de chocolate que estava na geladeira. Fiz chá “English Breakfast” e sentei no sofá, fiquei jogando BioShock Infinite até meus pais chegarem. Minha mãe entrou em casa e começou a guardas as compras, meu pai sentou ao meu lado no sofá e começou a fazer piadas sobre o jogo.

– Para com isso eu preciso me concentrar! – Disse rindo.

– Atira nele! Olha aquele cara com chapéu, que chapéu horroroso mata ele! – Ele comia um pão com uma maionese verde, provavelmente integral.

– Não dá pra matar ele e eu tenho que me camuflar entre as pessoas, pai.

– Camuflar o caralho mata ele! Olha ali um guarda!

Eu o empurrei para o lado e voltei a atirar. Minha mãe sentou no outro sofá e começou a assistir.

– Que horror! Não tem um jogo com menos sangue, não?

– Não mãe. – Eu ri. – Mas esse jogo não é o pior, acredite.

Cheguei na parte em que Elizabeth¹ foge de Booker² usando suas fendas no espaço-tempo para fugir dele. Após algum tempo meus pais desistem de me assistir jogando e pedem para mim desligar.

– Imaginar poder abrir essas fendas e se teleportar para qualquer lugar? Seria muito legal!

– Ah não, eu ia passar mal com tantas fendas. – Minha mãe deitou no sofá e pegou o notebook. Coloquei em um programa de culinária e fiquei assistindo enquanto meu pai usava meu computador. Alguém ligou para casa e eu atendi o telefone.

– Alo?

– Sarah? Oi, eu vou ter que ficar aqui na casa do meu amigo, ok? Avisa o pai e a mãe.

– Ok. Toma cuidado.

– Certo, certo. Tchau.

– Tchau. – Desligo o telefone, minha mãe para de mexer no notebook e me observa colocar o telefone de volta no lugar.

– Quem era?

– Logan. Ele vai dormir na casa daquele amigo de novo. – Sento no sofá e volto a assistir o programa de culinária. Sem que perceba, já está na hora do jantar, comemos macarrão com molho vermelho, feito por mim, uma receita que vi na televisão. São quase duas horas da manhã quando vou dormir.

Sonho que estou em casa, estou um ano mais nova, tenho agora 17 anos e estou lendo em meu quarto. Meu irmão e seu amigo estão no quarto dele. Minha mãe avisa que o jantar está pronto e manda eu avisar o meu irmão. Entro no quarto dele sem bater na porta, pois nunca fui educada a fazer esse tipo de coisa. Vejo meu irmão e o amigo dele abraçados, meu irmão está contra a parede e o amigo dele o beija nos lábios. Observo a cena e saio do quarto, sem fazer nenhum barulho. Volto para o meu quarto e respiro fundo. “Como... Como eu nunca percebi...?”. Volto para a porta do quarto do meu irmão e bato antes de entrar. Eles estão agora separados, meu irmão no computador e o amigo dele na cama dele fazendo lição de casa.

– O jantar está pronto. – Digo.

– Oh, valeu. – Meu irmão faz um sinal para eu sair do quarto dele.

Saio do quarto e vou para a sala de jantar. Jantamos normalmente, não digo nada e evito olhar para os dois. Na mesma noite, estou na cozinha fazendo um lanche e meu irmão chega e fecha a porta, nossos pais estão dormindo, mas não gostam de ser acordados pelos barulhos da cozinha.

– Eu sei que você viu. – Meu irmão está de costas para mim, mexendo no armário. – E agradeço pelo seu silêncio, você sabe como o pai e a mãe são.

– Eu sempre vou estar com você. – Me viro para ele e o abraço. – Mas poderia ter me dito antes, somos gêmeos, sempre vou estar aqui por você. Sempre.

Ele fica de frente para mim, alguns poucos centímetros mais alto que eu, e me abraça.

– Obrigada. – Ele beija o topo de minha cabeça.

– Não precisa.

Acordo com o barulho da televisão. Vou até a sala e vejo que meu irmão já chegou em casa, ele assiste um seriado e toma café com leite. Sento ao lado dele e tomo um gole de seu café, faço uma careta, nunca gostei de café.

– Este parece pior do que os outros que você toma.

– Ah... Este não é tão ruim, é melhor que o seu chá “English Breakfast”.

– Não é. Posso te garantir.

Ficamos em silêncio. Ele aponta para o meu PlayStation.

– Andou jogando muito?

– Sim, lançou um jogo novo dia 26, e já estou quase na metade... Acho. Não quero assistir nenhum Gameplay no YouTube antes de terminar, o que é um saco porque todos os youtubers estão jogando agora.

– Imagino.

– E como foi ontem? – Olho para o corredor, mas sei que é idiotice, pois meus pais saíram novamente.

– Ruim.

– Por quê!?

– Ele terminou comigo. – Meu irmão segurou a caneca com as duas mãos.

– O quê!? – Olho para ele. – Ele vai ver só o que acontece quando se termina com o meu irmão!

– Não precisa. Eu também estava pensando em terminar com ele.

– Mas o que aconteceu?

– Eu não sei, acho que cansamos um do outro.

– Entendo... Quer dizer, vocês se conhecem a bastante tempo...

Ficamos assistindo televisão e logan não parecia triste, o que me deixou mais calma, não queria ver meu irmão triste por causa de um garoto qualquer, nunca tinha realmente gostado daquele garoto, sempre fazendo piadas idiotas. Estávamos assistindo um filme quando alguém tocou a campainha, eu fui atender e dei de cara com o EX do meu irmão. Ele me empurrou para o lado e entrou marchando em casa.

– Logan cuidado!

Meu irmão teve tempo de desviar do taco de baseball. Eu assisti enquanto Logan desviava dos ataques do ex dele e quando conseguia dar um soco nele. Fio quando o ex dele conseguiu acertar a lateral de sua cabeça, meu irmão caiu no chão e o ex-namorado dele começou a chutar seu abdômen e cabeça que resolvi interferir. Ele veio se meter com o irmão da garota errada. Peguei uma faca de cozinha que também servia como adaga e joguei na sua direção, a faca acertou o ombro direito do garoto, que se virou para mim, sangue escorrendo de seu nariz. Peguei outras duas facas e fiquei em posição de ataque, imitando a pose de um personagem de vídeo game. O garoto sorriu e foi para cima de mim. Apesar do que as pessoas pensam, eu não sou tão sedentária e gosto de correr, por isso desvio rapidamente do garoto e fico atrás dele. Ele se vira para mim com raiva e levanta o taco na minha direção, deixando o braço exposto, enfio a faca em seu antebraço. Ele solta o taco de beisebol e me encara com raiva.

– Como ousa!?

– Com ousa você invadir minha casa!? – Soco seu abdômen, ele se contorce e assim posso dar uma joelhada em seu rosto. Ele cambaleia para trás, com a mão em seu nariz. Ele Sai correndo de casa. Vou até meu irmão, ele está caio no chão e quando vou socorrê-lo, ouço nossos pais chegando em casa. Minha mão dá um grito de espanto ao ver o estado do meu irmão. – Chame uma ambulância e não encoste no taco de beisebol, tem as digitais do agressor.

– O que aconteceu aqui?

– Um ex-amigo do Logan veio aqui tirar satisfações. Tivemos que lutar contra ele.

– Devo chamar a polícia também?

– Claro que sim! – Minha mãe está nervosa.

Senti meu irmão se mexer.

– Não, não. Pode ficar aí quietinho, não sabemos onde ele acertou o taco, precisamos esperar a ambulância.

– Eu que terminei com ele... – Logan sussurrou. – Eu menti para você, Sarah. Me desculpe.

–Shhh... Não importa agora. O que importa é que aquelas câmeras que eu instalei finalmente terão uma utilidade além de gravar nossas bobeiras.

– Verdade. – Nós rimos.

– Você terminou com ele!? – Meu pai estava atrás de mim. – Como assim!? Você estava namorando aquele moleque!? Quer dizer que você é... É...

A ambulância chegou junto da polícia. Os enfermeiros colocaram meu irmão em uma maca, enquanto os policias recolhiam provas e entrevistavam meus pais, que lógico não tinham nada para contar. Fui obrigada a admitir que o agressor era ex do meu irmão, o que deixou meu pai ainda mais nervoso. Minha mãe não ligou muito, mas se sentiu mal por não saber. Eu a consolei, enquanto tentava acalmar meu pai.

No dia seguinte, fui a primeira a entrar no quarto do meu irmão. Ele tinha vários curativos, mas estava bem, sem nenhum ferimento grave além de ficar vomitando. Apertei a mão dele e respirei fundo.

– Ele foi preso. Minhas gravações foram muito úteis.

– O pai, sabe não é?

– Sim. Eu tive que contar a verdade ou ele contaria de um jeito muito pior.

– Não quero nem imaginar o que ele vai falar...

Meu pai entrou no quarto, seguido por minha mãe. Ele respirou fundo e olhou para Logan, quase com dó.

– Logan... Eu soube da sua... Condição. Mas olha, nós estamos aqui para te ajudar, soube de um lugar com uma ótima terapia que pode te ajudar a passar por essa fase. Quer dizer, é apenas uma fase, uma doença. Podemos achar uma cura talvez...

– Pai, cala a boca. – Eu e meu irmão dissemos ao mesmo tempo.

– Você não entende nada, sai daqui.

– Eu nasci assim, pai. Não há uma cura e eu não ligo! Você pode ir para a puta que pariu e eu não dou a mínima! Já comprei uma casa nova mesmo. Eu ia me mudar e não ligo para você. Realmente.

– O quê? – Meu pai não sabia o que falar. – Você pertence mais a essa família, Logan. Vamos amor, Sarah.

– Não pai. Eu vou ficar. E foda-se o que você pensa, vou ficar do lado do meu irmão, para sempre. Ao contrário de você, eu escuto as pessoas.

– Amor... Acho que vou ficar também. – Minha mãe deu um passo para trás, ficando mais perto de mim e meu irmão, meu pai estava com a mão na maçaneta, nos encarando.

– Vocês estão todos loucos, todos! – Ele saiu do hospital.

Passou-se uma semana, eu estava na sala do novo apartamento meu, do meu irmão e de minha mãe. Meus pais estavam se divorciando. Minha mãe estava ensinando meu irmão a rechear um frango, quando ouvi um barulho na porta dos fundos. Todos nós trocamos olhares, sem saber o que fazer. Peguei uma faca na cozinha e fui ver o que havia acontecido.

Encontrei a porta escancarada no chão. Olhei em volta e não vi nada, ninguém do lado de fora. Isso queria dizer que... A pessoa já havia entrado. Não tive tempo de me virar, meu pai atirou no meu peito. Caí no chão dura, meu sangue manchando o chão branco.

Alguns minutos depois, acordei. Ainda deitada naquele mesmo lugar. Levantei rapidamente e fui até a cozinha, onde pude ver o corpo de minha mãe e meu pai. Meu pai? Escutei um barulho na escada que levava até a cobertura do prédio e corri escadas acima, Vi meu irmão em pé no batente do prédio, observando a rua, e com a arma de meu pai nas mãos.

– Logan! – Ele se virou para mim, mas já era tarde demais. Corri até ele e pulei, não me importei, apenas pulei. Eu o abracei no ar, chorando.

– Eu pensei...

– Calma... Calma... – Abracei ele. “Queria poder criar um portal no chão e evitar essa queda...”. – Eu te amo, Logan.

– Eu também te amo, irmã.

Posicionei meu corpo em baixo do dele, não queria que ele fosse antes de mim. Chegamos no chão, mas em volta do meu corpo uma cratera se formou e tudo ao nosso redor congelou. Logan abriu os olhos e se levantou, seu rosto branco e espanto.

– O que aconteceu?

– E-Eu não sei...

Uma velhinha usando roupas simples se aproximou, ela carregava sua capas cinzas. Ela olhou para mim e para meu irmão.

– Sarah? – Ela olhou para mim.

– Sou eu.

– E você deve ser o Logan. – Ela olhou para o meu irmão.

– Isso mesmo.

– Ah. Perfeito. – Ela sorriu. – Bom, devo dizer para vocês, a primeira regra é não usar os poderes em público. Aqui, essas são para vocês.

Ela me entregou uma capa cinza clara, com um círculo e uma coisa parecida com fumaça ao redor do círculo nas costas. E a capa de Logan era cinza escura com uma bala de arma com alguns detalhes nas costas. Eu vesti a capa e a velhinha a prendeu com um pingente em forma de “S” com o mesmo círculo que havia nas costas da capa. E prendeu a capa de Logan com um pingente em forma de “L” com a mesma bala que havia nas costas da capa. A velhinha estalou os dedos e tudo voltou ao normal, até mesmo a cratera sumiu.

– Venham comigo.

Ela nos guiou até um beco escuro, que ligava com o estacionamento de um shopping. Ela foi até um carro preto em estilo antigo, duas garotas estavam casualmente encostadas no carro. Uma era ruiva e a outra era morena.

– Meu nome é Lucy. – A ruiva se apresentou primeiro. – E esta é Lilly. Ela é muda, sem se importem em aprender a linguagem dos mudos, ela não diz coisa com coisa.

Lilly deu um soco no braço de Lucy, que riu. Então ela se endireitou e me encarou nos olhos.

“Não leve Lucy a sério, ela é um pouco idiota”. Pude ouvir sua voz em minha cabeça, ela era tímida e fraca, como um sussurro, se ela gritasse, sua voz seria em um tom normal.

– Eu ouvi isso! E quem são vocês?

– Sou Sarah, e este é meu irmão gêmeo Logan.

– Outra pessoa com “L”!? – Lucy estava impressionada. – Lilly você me deve 20 dólares e um refrigerante.

“O quê? Por quê?”.

– 20 por que um deles tem o nome com “L” e o refrigerante por que um deles é uma garota.

“Ok. No próximo século, talvez?”. Ela cruzou os braços e encarou Lucy.

– Não. Eu estou com sede agora.

– Muito bem. É melhor irmos logo ou vamos ficar presas no trânsito, parece que ele piora a cada década! É horrível.

– Sim, eu percebi isso também! – Lucy abriu o carro e entrou.

“Parabéns, Logan e Sarah. Vocês são Outros”.

Todos nós entramos no carro e partimos.

UM ANO DEPOIS

Assistíamos de longe a velhinha acordar Riley. Lucy havia insistido em acordar ela mesma a nova garota, mas a velhinha apenas concordou em nos deixar assistir. Lucy estava estranhamente calada e encarava a novata quase sem piscar. Riley olhou em volta e observou os corpos de seus pais serem levados. Lucy se aproximou de mim.

– Leve-a até o enterro dos pais dela.

– Mas a Mestra disse...

– Só faça isso.

Faço uma brecha no tempo e logo estamos no funeral dos pais dela. A mestra – ou velhinha – entrega o pingente em “R” com um floco de neve de Riley para uma idosa e vem até nós.

– Eu mandei vocês ficarem quietos. Mas gostei de sua atitude, Sarah. Muito bem, isso vai ajudar a Riley.

– Na verdade... Foi idéia da Lucy...

– Ah eu sei, mas você concordou em fazer, não é? Poderia ter negado. – Ela se aproximou de Lucy, que não parava de encarar Riley. – Gostaria de vir para uma caminha comigo, Lucy? Logan, Sarah e Lilly, fiquem de olho em Riley e tragam-na para o carro por favor.

– Sim, senhora. – Digo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu ia matar o Logan, mas não consegui... Eu gostei muito dele, gostaria de dar um abraço nele! Argh



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Os Outros" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.