Mestra Gallia sumiu a noite inteira e durante a manhã não pode me ver. Imagino o que ela andou fazendo, mas não importa. Vou ter que encontrar respostas sozinha se for assim! Riley veio me visitar mais cedo e disse que ouviu vozes no corredor, diziam que a última rainha voltou. Tenho certeza que ela é Lyubov. Alguém bateu na porta do meu quarto, escondi o diário de baixo do meu travesseiro e ajeitei meu vestido. Um guarda abriu a porta e fez um sinal para eu sair. Quando fui ao corredor percebi que estavam todos fora do quarto também. Um guarda apareceu com a garota de no máximo 20 anos e outra de no máximo 25 anos. A primeira garota usava um medalhão de coruja preto e a segunda usava um medalhão igual ao da outra cinza.

– Atenção, vocês provavelmente devem estar se perguntando o que está acontecendo. Eu, Mestra Gallia e minha irmã Mestra Lilian estamos aqui para esclarecer.

– Mestra? É você? - Sarah, assim como eu, estava confusa. - Como você mudou?

– Sarah... - Ela riu. - Eu sempre fui assim! O mundo humano que me mudou. Um efeito colateral de ter 200 anos e ir para o mundo humano.

– Mestra Lilian, gostaria de conversar com você. - Uma garota nova usando um vestido preto e uma capa laranja surgiu da última porta do quarto. - Urgente.

– Mas é claro, Lyra. Venha ao meu quarto esta tarde.

– Não, venha ao meu quarto agora. - Lyra cruzou os braços e encarou Lilian com desafio.

– Certo. - Lilian trincou os dentes e seguiu Lyra para o último quarto.

Troquei um olhar com Riley que deu de ombros. Mestra Gallia olhou com raiva para o quarto de Lyra e depois nos dispensou. Riley foi direto para o meu quarto e se jogou na minha cama. Peguei o diário de baixo do meu travesseiro e fui até a foto. Lyra é Lyubov. Riley apoiou a cabeça no meu ombro e olhou para a foto.

– Como você acha que eu e a Emily éramos juntas? Brigávamos ou éramos amigas?

– De acordo com o diário, vocês brigavam e eram amigas, coisas de gêmeos.

– Não imagino o por que iríamos brigar.

– Não? - Sorri, coloquei o diário no criado mundo e me virei para ela, nossos rostos a poucos centímetros. - Pelo que eu li, vocês brigavam por mim.

– Você está se achando não é? - Ela riu e me puxou para perto. - Sabe que você não é tudo isso, Lucy.

– Não? Então acho que vou voltar para a Lilly. - Me virei para a porta, logo uma placa de gelo apareceu na frente da porta. Olhei de volta para Riley, que estava de costas para mim abrindo o corpete. Eu sorri e fui até ela.

–------------------------------------

Assim que entramos no meu quarto, tirei a capa e sentei na minha poltrona favorita.

– O aconteceu com os meus irmãos?

– Lyra... Eles não se lembram de nada.

– Conte-me o que aconteceu.

– Eu não sei o que aconteceu, eu sou nova sabe? Não estava viva.

– E sua irmã? Mestra Gallia. Ela que trouxe eles, chame ela aqui.

– Vou tentar.

Gallia demorou para chegar, mas eu não tinha pressa. Só queria saber o que aconteceu depois que eu morri.

– O que aconteceu com os meus irmãos?

– Eles morreram. - Gallia foi direta. Gostei. - Eles morreram, um a um. Reilly até chorou no enterro da Emiliya. Luce foi a última, coitada. Eles voltaram, se já não percebeu. Luce é Lucy, Reilly e Emiliya são Riley, Loagh é Logan, Sára é Sarah e Lillie é Lilly.

– Eles não se lembram de nada? - Comecei a brincar com o meu colar. - Lilie e Loagh não se lembram de nada?

– Lilly e Logan. Não, eles não lembram.

– Então eu posso começar tudo de novo com o Logan!

– Logan é gay. - Gallia sorriu maliciosamente. - O coitado morreu por causa disso.

– E...

– Lucy e Riley são um casal, nem tente. Lilie é lésbica e solteira, se você quiser se divertir. Sarah é hetero.

– E você... Não se importa em ter tantos homossexuais? - Arrisquei.

– Não ligo. - Ela cruzou os braços. - Desde que isso não interfira o trabalho deles como Reis. Eu estou pouco me ligando.

– Interessante... - Olhei pelo canto do olho para Lilian, que estava quieta e não olhava diretamente para a irmã.

– Eu já vou, Lucy está me esperando com perguntas não muito diferentes das suas.

Ela saiu do quarto e fechou a porta. Levantei da poltrona e fui até Lilian, que ficou corada e se afastou.

– Você não tem mais nenhuma desculpa, Lilian. Sua irmã acabou de confirmar que não liga.

– Lyra... - Ela gaguejou.

– Você pode me chamar de Lyubov, a senhora da morte. - Sorri e me aproximei dela, prendendo-a contra a parede. Beijei seus lábios e quando fechei os olhos, uma voz ecoou na minha cabeça. "Não. Lyubov, a senhora dos Outros".

–-----------------------------------

Saí do quarto de Lyra com um pouco de raiva. Não pelo fato de ela ter uma história amorosa com minha irmã, como eu disse, eu não me importo desde que isso não afete o trabalho. Estava com raiva porque a primeira coisa que ela pensou foi em brincar com os sentimentos dos irmãos.

Me acalmei e tentei abrir a porta do quarto de Lucy, mas uma placa de gelo estava bloqueando a porta. Suspirei. "É assim como elas trancam a porta? Gelo? ". Tentei forçar o gelo, mas ele não se mexeu. Bufei e encarei o gelo. Foi quando as vozes chegaram até mim.

– Você acha mesmo? - Riley estava apreensiva.

– Sim. Você não viu o jeito que a Lilly olhou para ela?

– Não. - Lucy riu. Ouve um tempo de silêncio.

– Mas onde será que a Mestra Gallia se meteu? - Lucy estava impaciente.

– Calma, cabeça quente. - Riley riu. - Ah. Acho que eu deveria derreter esse gelo.

– Deixa que eu faço isso.

– E molhar todo o chão? Não, obrigada.

O bloco de gelo foi sumindo. Fechei a porta e esperei alguns segundos antes de abrir de novo. Riley rapidamente se escondeu debaixo do cobertor. Lucy riu e se levantou, ela usava apenas sua camisola branca. Ela tirou um diário de debaixo do travesseiro. Demorou um pouco até eu perceber que era o diário de Luce, ela abriu o diário, pegou uma foto e me entregou. Na foto estavam Luce, Emiliya, Reilly, Loagh, Sára, Lilie e Lyubov.

– O que é isso? - Ela cruzou os braços. - Como pode Emily e Riley estarem juntas nessa foto?

– Essa foto foi tirada no ano de 850, ou algo assim. - Passei a mão pelo papel. - Eu não estava viva ainda. Nasci quando Loagh morreu.

– Loagh? Você quer dizer Logan?

– Quase. É difícil explicar. Creio que você já leu o diário, não é?

– Metade, mas ainda não entendendo. Como assim 850?

– Atlântida era conhecida como Cidade das Promessas. Apenas pessoas com sangue mágico podiam entrar. Seu pai, ou melhor, o pai de Luce era imortal e se casou com uma feiticeira. Juntos tiveram sete filhos, essas pessoas na foto. Eles eram imortais, mas graças a uma maldição de Lyubov, que criou os Outros, eles morreram.

– Nós somos a reencarnação dos filhos daquele homem imortal?

– Vocês são filhos do rei.

– O quê!? - Lucy e Riley gritaram ao mesmo tempo.

– Nós somos... Princesas? - Riley saiu de baixo do cobertor, usando sua camisola. - Meu Deus eu não sirvo para isso.

– Eu me recuso a ficar responsável por outro reino! - Lucy sentou na cama. Riley passou a mão pelas costas dela e a olhou com um outro olhar, quase congelei, era Emily quem estava passando a mão nas costas da Lucy.

– Lucy... - Ela não me deixou terminar, apenas levantou a mão, me calando. Riley olhou para mim com um olhar que dizia "Apenas saia, eu cuido disso".

Saí do quarto, mas fiquei na porta. Podia ouvir apenas sussurros, e então Lucy começou a chorar. Fiquei encostada na porta, suspirei. Estou começando a questionar a minha decisão de trazer eles. Pensei muito em apenas salvar o reino que ignorei a história da Lucy, seu trauma. Lembro quando a monarquia terminou no mundo humano, ela ficou tão feliz e sempre criticou a família real do país Inglaterra. Seu medo é tão grande... Espero que ela esqueça isso. Espero que eles queiram ajudar o reino. Lilly precisa fazer um feitiço para proteger Atlântida da água, praias estão se formando em certas partes da cidade. É necessário refazer o feitiço. E rápido.