Gelo e Calor, Negação e Atração escrita por Blue Butterfly


Capítulo 6
VI


Notas iniciais do capítulo

Alguém aí tá com frio? Eu tô!



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Eu devo estar com os olhos arregalados porque aquela menina me olha como se eu estivesse debilitada. Receosa, me aproximo da cama onde ela está. Tubos intravenosos estão colocados no braço dela, e os olhos cor de caramelo não deixam de estudar meu rosto.

'Quem é você?' Ela pergunta e parece que a confiança dela em mim depende da minha resposta.

'Detetive. Jane Rizzoli.' Eu digo quando paro ao lado da cama. 'Qual seu nome?' Eu observo aquela toca de leão na cabeça dela e me pergunto quantos anos ela tem.

'Brenda.' Ela diz e se move em baixo dos cobertores. 'Onde está todo mundo?'

'Eu... Aconteceu muita coisa. Algumas pessoas deixaram a cidade, nós ficamos presos aqui. Por enquanto.' Eu digo gentilmente, e mesmo num tom suave de voz eu sei que não é a melhor notícia a ser ouvida.

'Eu não quero ficar sozinha.' Ela diz assustada.

'Você não vai ficar. Eu vou levar você comigo. Ok?' Eu seguro na mão dela e, Deus, eu nem sei se essa menina deveria deixar o hospital e estou falando de levá-la para aquele inferno gelado lá fora. Mas que escolha eu tenho? A luz pisca mais uma vez e me lembro do que vim fazer aqui. 'Eu só preciso pegar alguns remédios. Tem umas pessoas feridas onde estamos. Você espera por mim.'

'Detetive!' Ela me chama quando viro as costas apresada. Viro meus pés mais uma vez em direção a ela.

'Sim?' Eu pergunto ansiosa. Não sei quanto tempo tenho antes da energia acabar - o que eu suponho que será logo.

'Morfina. Eu vou precisar de morfina.' Ela diz clinicamente.

Um calafrio corre pelas minhas costas. Do que essa menina está falando? 'Ok'. Eu respondo sem saber exatamente o que dizer. 'Eu volto num minuto.' E saio correndo do quarto, e não paro de correr em direção à farmácia do hospital. Desdobro o pedaço de papel com os nomes de remédios que preciso levar antes de entrar no depósito. Em uma sacola de pano eu coloco os primeiros nome que acho. Seringas, agulhas, gaze, fita. Quando completo a lista de remédios que Angela escreveu, passo a olhar rapidamente outros nomes. Analgésicos e antitérmicos caem dentro da bolsa, acompanhados por anestésicos. Morfina. Eu passo o olho em um vidro e agarro imediatamente. Dois deles. Talvez já tenha se passado cinco minutos e tenho a sensação de que poderia levar tanto mais, mas não tenho tempo. Não tenho mais espaço. Faço um nó nas alças da sacola e faço meu caminho de volta para aquele quarto.

Como vou carregar essa menina até lá? Ela visivelmente não conseguiria se movimentar. 'Brenda.' Eu digo enquanto tento achar uma solução.' Eu preciso tirar esses tubos de você, ok?'

'Tudo bem.' Ela estica o braço e eu sei que ela já passou por isso mais do que eu gostaria. 'Ok.' Eu puxo cuidadosamente a agulha da pele e para minha surpresa ela não mexe um músculo do rosto. É como se não sentisse dor, ou já estivesse acostumada com ela. Apressada, eu abro uma porta de um singelo armário no canto do quarto e procuro por agasalho. Pego duas blusas ali - que são na verdade pijamas, mas parecem bem quentes de qualquer jeito. Enfio a menina nos dois e ela colabora com o movimento. Sentada na cama, ela parece ser um tanto mais velha do que imaginei antes.

'Quantos anos você tem?' Pergunto enquanto ajudo com a manga da blusa.

'Quatorze.'

Aceno minha cabeça em compreensão. Ela é nova demais para estar aqui. Ela arruma a toca na cabeça enquanto jogo duas cobertas nas costas dela. Os pés estão balançando para fora da cama, cobertos por meias. Meias! Faço uma busca pelo armário e pego mais três pares. Não é exagero: o frio é extremo. Coloco as meias nos pés dela e, achando que é suficiente, sei que agora vem a parte mais desafiadora. Me viro de costas para ela.

'Brenda, você vai ter que subir nas minhas costas ok? É o único jeito.'

Ela não responde, simplesmente passa os braços em volta de mim e pula.

Ela é leve, muito mais do que eu poderia achar.

'Para onde nós vamos?' A voz macia soa perto do meu ouvido enquanto agarro a sacola com remédios. As pernas se fecham na minha cintura e, bem, nós vamos conseguir chegar até a casa assim. Não vai ser tão difícil como pensei. Eu acho.

'Uma casa aqui perto. Estamos em... Algumas pessoas. Quinze talvez, não cheguei a contar.' Eu me apresso para o corredor e caminho o mais rápido que posso. 'Vai ficar tudo bem.' Eu ofereço. Eu estaria morta de medo no lugar dela.

'Vai.' Ela diz. 'Vai. Nem tudo é ruim o quanto parece.'

Dobro o primeiro corredor e me pergunto se tem mais alguém aqui. É um hospital grande. Infelizmente não tenho tempo para fazer uma busca completa. Quando faço a última dobra para finalmente cair no corredor onde deixei Frankie, o vejo agachado no chão. A luz pisca duas vezes e me assusto.

'Jane!' Ele grita da outra ponta, se levantando. 'Nós temos que ir agora. A tempestade está piorando!' Ele se levanta com a mulher no colo. Atento, ele a embrulhou em uma coberta. Nem mesmo a cabeça está de fora. Eu deveria ter feito o mesmo com Brenda, mas considerando que ela tem uma toca... Assim mesmo, digo para ela puxar a coberta para cima de si. Ela obedece.

Frankie não parece nenhum pouco abalado pelo fato de eu ter voltado com uma carga a mais. Ele olha para a menina e depois para mim. Isso é o que fazemos: nós resgatamos pessoas, salvamos vidas.

Com uma manear de cabeça nós começamos a andar pelo último corredor, aquele pelo qual entramos. Quando faltam poucos metros para alcançarmos a porta principal, a luz vacila, pisca. E não volta se acender.


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