Gelo e Calor, Negação e Atração escrita por Blue Butterfly


Capítulo 3
III




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Dezesseis. Esse é o número total de pessoas que conto quando todos saem do carro e entram na casa que escolhemos passar a noite. Não tenho idéia de como vamos nos acomodar, mas sem dúvida nenhuma foi a melhor escolha. Quanto mais gente junta, mais calor.

Fazemos uma varredura no lugar. É uma casa grande, com uma sala de estar razoável, mobília nova. Os quartos são grandes, banheiros limpos e organizados. Seria um bom lugar para se viver.

Assim que terminamos de verificá-la, arrastamos colchões e cobertas para a sala. Passaremos a noite ali, todos juntos ao pé da lareira. Eu sento em uma ponta do sofá e observo os rostos a minha volta. Todos cansados, todos assustados. A cada rajada de vento lá fora, um a cabeça é erguida com olhos bem abertos, como se tivesse esperando que o telhado despencasse a qualquer momento. Respiro fundo e entrelaço meus dedos.

Não era para estarmos aqui. Por que atrasamos tanto a saída? Sinto uma pontada de raiva. Talvez se as pessoas fossem mais organizadas, agissem mais racionalmente na hora do caos... Talvez estivéssemos longe daqui. Mas agora estamos todos presos dentro de uma tempestade sem previsão de saída. Me encosto no sofá, ouvindo os murmúrios das pessoas. A noite lá fora caiu há algumas horas, e daqui consigo ver a neve se acumulando silenciosamente do lado de fora da janela.

Meus pés estão frios. Minhas mãos estão frias. Está tão frio que até o fogo da lareira balanceia de forma preguiçosa. Lenta. Hipnotizante. Ouço um murmúrio de dor e olho para o meu lado. Uma mulher segura o próprio braço e franzi a testa. O homem ao seu lado - o marido, logo percebo - puxa a manga da blusa para cima e vejo um corte ali. Algo me passa pela cabeça.

'Tem alguém machucado aqui?' Me pergunto enquanto me endireito no sofá.

Três ou quatro mãos se levantam. Como não imaginei isso antes? A explosão tinha atingido algumas pessoas. Olho para Angela e ela me entende.

'Vamos ver isso, então.' A enfermeira que existe nela nunca descansa. A mulher mais velha passa examinando um por um, cuidadosamente, dando instruções em voz baixa para não incomodar aqueles que já estão dormindo. Quando ela se aproxima da mulher com o corte no braço, me ajoelho ao lado dela, porque sei que aquele é um ferimento grave. Um corte profundo, que continua sangrando e que continuará até matá-la se algo não for feito.

'O que é?' Eu pergunto para Angela. Ela tira uma mecha de cabelo loiro dos olhos e me olha preocupada.

'Precisamos cuidar disso com antibióticos para não infeccionar, caso esteja... bem, contaminado de alguma forma.' Eu balanço a cabeça em entendimento.

'Vou olhar na casa, ver se encontro algo.' Me levanto e Angela segura minha mão antes de eu sair.

'Jane, se você por um acaso encontrar linha e agulha... Isso vai precisar ser costurado.' Eu arregalo os olhos para ela. Eu sei o que isso quer dizer: quer dizer que não tem a mínima chance de encontrar os suprimentos que ela precisa nessa casa.

Eu balanço a cabeça de novo e dessa vez me afasto e faço um sinal com a mão para Frankie me acompanhar. Ele segue atrás de mim enquanto entro num corredor e sumo da vista das pessoas.

'O que é?' Ele pergunta preocupado, com certeza minha cara não é a das melhores.

'Alguém se machucou feio, Frankie. Precisa dar ponto, entende?'

Ele suspira. 'Droga, Jane.'

'Eu sei...' Continuamos andando e ele me segue até o banheiro.

'Não acho que você vai encontrar isso aqui.'

'Não, mas quem sabe uns antibióticos? Você me ajuda?'

Ele acena com a cabeça e sai a procura de outros quartos. Acho no banheiro um vidro de comprimidos pela metade. Não é antibiótico, é um simples remédio para aliviar a dor. Deve servir para algo. Coloco no bolso. Faço a ronda pelos quartos que Frankie ainda não passou e não encontro nada mais que possa ser útil.

De voltar a sala encontro-me com Angela e entrego o frasco nas mãos dela. 'Foi tudo o que encontrei.' Disse como se fosse um pedido de desculpas.

Ela suspira, preocupada, estudando o frasco de remédio. Frankie chega logo em seguida, balançando a cabeça em negativo.

'Nada. Talvez tenham levado quando partiram.'

'É, talvez.' Eu digo distraidamente. Tudo o que passa na minha cabeça é 'e agora, o que vamos fazer?'

Silêncio. Neve caindo. Frio. O fogo fraco da lareira. O vento forte lá fora.

'Tem um hospital atrás desse quarteirão.' Meu irmão adiciona num sussurro fantasmagórico.


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