Anti Sociedade - Interativa escrita por AceMe


Capítulo 1
A Descoberta Proibida


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem. Fichas no final do capítulo, podem mandar tanto por MP, tanto por comentários:



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Em Niterói tudo está calmo, como todo dia. Estou me preparando para a escola com minha mãe, como todo dia. Não temos folga aqui, pelo menos não mais. O meu quarto não tem muita coisa, só uma cama, um armário e uma prateleira com uma escrivaninha para as coisas de aula, mais nada. Minha mãe está penteando meu cabelo antes de ir para o trabalho, como todas as manhãs.

Ela tem olhos pretos bem escuros, assim como os meus, sua pele é morena como a minha e seu cabelo tão escuro quanto, mas não me sinto famirializada com ela, tem algo estranho em como ela me olha ou fala comigo, não é como as mães das outras pessoas. Ela para de me pentear por um tempo e finalmente diz:

– Seu cabelo está caindo de novo - Fala de um jeito ríspido, como se estivesse cuspindo as palavras - O que houve dessa vez?

– Nada - Respondo rápido demais - Só estou preocupada em me atrasar, só isso. - Ela solta um suspiro e volta a pentear :

– Não é minha culpa se você acordou mais tarde hoje, meu doce. - O tom dela soa um pouco falso. Ela amarra o meu cabelo -Está pronto.

Me levanto da cadeira e vou para o banheiro me olhar no espelho. Está tudo certo. Estou com um rabo de cavalo e o uniforme, que é apenas uma bermuda cinza e uma blusa branca com o nome da cidade em retalhos da mesma cor. O uniforme de trabalho da minha mãe e de todas as outras pessoas dessa região é igual. A única coisa com o que me incomodo é por ser tão baixinha, tenho 14 anos e não demora muito para fazer 15, mas tenho altura que pessoas normalmente tem quando acaba de completar os 14.

Minha mãe e eu andamos juntas até a porta, onde cada uma vai para um lado sem dar tchau. No caminho até a escola há outras crianças pela rua toda indo até lá também, algumas estão de bicicleta e uns mais velhos preguiçosos estão causando trânsito por quererem dirigir. Só há outras casas por este lado e a escola no final de tudo, do outro lado, o para onde minha mãe foi só há mais algumas casas e locais de trabalho. Só fui lá algumas vezes em excursão. O mundo é realmente muito estranho, não tem nada pra fazer, além de estudar, trabalhar, casar e ter filhos. Simplesmente não me conformo com isso, mas parece que o resto das pessoas sim.

. . .

–O segredo para ter uma boa administração em suas futuras lojas e empreendimento é... - O professor está explicando, mas me perco. Sempre acontece isso. Não consigo prestar atenção por muito tempo, principalmente na escola. Parece que estão jogando um gás sonífero invisível. Só temos aula desse tipo e a gente vem para a escola todo dia, então depois das primeiras horas do primeiro dia de aula ficou chato. Aprendemos sobre trabalho, administração, como montar o próprio negócio, empreendimento,... é a única coisa que fazemos na vida, estudar sobre trabalho para crescer e trabalhar, casar, ter filhos para ensinar-lhes sobre isso e morrer. Tudo é muito chato.

Estou tão perdida em meus pensamentos que não percebo que o sinal tocou. Hora do recreio. Basicamente o recreio aqui é 10 minutos antes de nos expulsarem para casa. Os professores estão do alto nos observando no pátio com caras ameaçadoras, mas ninguém parece notar. O pátio não é grande, um pouco maior que a portaria de um prédio pequeno, mas com tanta pessoa junta fica desagradável, preferiria ficar no andar de cima, mas não deixam. Não sei como é em outras escolas. Você escolhe para que tipo de escola quer ir: Escritóriante, em que ensina sobre trabalhos em escritório, políticante, em que se aprende sobre política e afins, mas para essa só os melhores passam, e os empresariante, onde você se prepara para cuidar de lojas de qualquer coisa, roupas, comida, remédio, etc… Eu escolhi a empresariante por que me parece a que acontece mais coisas interesantes.

Não gosto de falar com pessoas que não gosto ou que não gostam de mim, o que me impede de falar com a maior parte das pessoas do universo. A maioria das outras pessoas também não parecem se gostar, mas se forçam ficar juntos por causa das amizades da família. Posso dizer que é muito chato, já que também faço parte disso.

– Oi, Helen - Ouço delicadamente do meu lado esquerdo. É Agnelus, e do outro lado tem Fabio. Os dois filhos dos dois amigos da minha família. Eu não sei o que deu nos pais do Agnelus para pôr esse nome nele, eu até hoje acho que eles se odeiam e quiseram descontar a raiva no filho. Se fosse Angelo ou Argélio, pelo menos, até Aguinaldo seria mais normal, mas Agnelus, não sei.

– Oi - respondo tão suavemente quanto.

– Prestou atenção na aula? - Fabio pergunta.

– Sim - Minto, afinal o pai dele é o professor.

Nós ficamos nos encarando por um bom tempo, realmente não temos muito assunto entre nós. Não que eu me importe em ficar em silêncio, olhando o nada, mas é difícil me concentrar no meus próprios pensamentos com os gritos exaltados. Normalmente consigo ouvir tudo de muito longe, mas não estou agora. Apenas parte de conversas chegam até mim. Ouço ao longe buzinas de carro, os mais velhos sempre saem escondidos antes, mas não podemos contar. Todos tem medo deles e dos cabelos tingidos, piercings e tatuagens que fazem para mostrar liberdade. Como eles fazem isso, não tenho certeza, já que nunca encontrei um lugar que faz algo desse tipo, deve ser algum tipo de associação secreta. Eles são grande minoria entre todos os adolescentes da cidade, mas um dia quero ser como eles, livre e fugitiva, mas por enquanto sou só mais uma certinha no meio de tantos outros. E além disso, meus pais me matariam se eu fizesse isso.

– Delinquentes - Agnelus diz. - Só mais um peso para a sociedade. Não contribuem em exatamente nada.

– Bem, - Começo - Eles deixam a cidade mais movimentada. - “Ou menos desinteressante”, penso

– Para com isso. - Fabio se vira para Agnelus - Só por que seus pais são os líderes e representantes de Niterói não deve agir como tal.

Agnelus se levanta e vai embora com passos bem largos para longe de nós dois em direção ao portão. Ele nunca, jamais, aceitou uma advertência. Se acha um máximo com seu “nome estiloso”. Ele nunca realmente ouve os outros, apenas escuta. Fabio bufa do meu lado. Ele nunca fala isso quando o Agnelus está, mas o acha muito sensível para o mundo. Imagino o que eles falam de mim quando eu não estou por perto. Mas como a humanidade é sincera. Sinto que ela esconde vários outros segredos, como o que há fora das barreiras. Não acredito que seja só um mundo verde sem fim.

O sinal definitivo de ir embora toca. Nas tardes em que todos agem como se tudo isso fosse perfeito são as que me dão mais vontade de fugir e deixar tudo isso para trás, para sempre.

. . .

O céu está cheio de nuvens brandas e cinzentas e o vento está cada vez mais forte. Estou em casa, observando da janela da sala. Sempre quis saber o que é a chuva, para que serve e coisas do tipo, mas nínguem sabe. Não tenho tempo de pensar nisso agora, tenho que aproveitar que só tem eu em casa e ir para o lugar secreto.

Descobri ele ontem. Fica debaixo da cama dos meus pais. Estava varrendo a casa quando senti um negócio estranho e vi que era um alçapão. Infelizmente, não tive tempo de explorar por que meus pais chegaram. Corro até lá e desço para o subsolo. Por incrível que pareça, consegue ser maior que o pátio da escola. Qualquer coisa é maior do que aquilo. As paredes e o chão são de pedra e sinto um cheiro forte de terra úmida nos arredores. Estou usando botas, luvas, calça comprida e camisa com manga longa, acompanhados com uma lanterna do meu pai. O local está cheio de coisas estranhas feitas de papel. Nelas estava escrito “Jornal”. Nunca ouvi falar. Havia também na ponta escrito alguma coisa que estava manchada, mas se dava para ler “2x/x7/x786.

Ou seja, aquela coisa era de algum dia 20, de julho de algum ano que terminava com 786. E estamos no ano de 3115, isso deve ser muito velho.

Estava escrito lá bem grande: Bombardeios, ataques e desconfiança entre países aumentam em 78% “O que são países, e bombardeios?”. Em outro daqueles, datado de 2891 estava escrito: Todos os jornais pararão de ser publicados desse momento em diante. Peguei outro de algum ano que terminava com 90: Livros, televisões e outros meios de comunicação extintos. “Não faço a menor ideia do que são livros ou televisões.” Outro jornal de dezembro 2628: Não existem mais final de semana, feriados e férias. Peguei um no final da pilha que não tinha data e dizia: Ataques rebeldes contra novo regime aumentam cada vez mais. “O que seriam rebeldes?”

Não pude ver mais nada. Ouvi a porta se abrir. “Meus pais já chegaram? Quando tempo passei aqui dentro?”. Voltei para cima, retirei as botas e as luvas e coloquei meu chinelo, guardei a lanterna devolda na cômoda de meu pai. Andei silenciosamente até meu quarto e abri meu caderno e começei a responder as perguntas do dever de casa, fingindo que nada aconteceu.

. . .

–Querida, o jantar está pronto!-Meu pai avisou.

Fui até a sala de jantar. As paredes eram amarelo claro e o chão preto e branco, como o da cozinha, que somente um arco separa os dois. A mesa de madeira clara, era um pouco longa, contando com as cadeiras das cabiçeiras dava para por seis cadeiras lá, apesar de quase nunca recebermos ninguém para o jantar, além de nós três. Os dois já estavam sentados me esperando. Já falei como era minha mãe, meu pai tinha cor de torrão de café, cabelo bem raspado, mas quando está cheio, é negro, e os olhos eram castanho claro e uma barbixa pequena, e não tem muito mais o que dizer. Eles estavam de pijama assim como eu, minha mãe de camisola azul claro, meu pai camiseta verde e shortinho preto, eu um conjunto vermelho escuro.

Me sentei na mesa, o jantar hoje era mingau de aveia. Eu odeio mingau de aveia. Mas, deveria imaginar que seria isso. Ontem foi granola, e anteontem berinjela. Mas não importa se gosto ou não, não precisamos de comida boa, apenas de comida que nos mantenha em pé e vivos.

–Como foi o seu dia de aula hoje?

–Foi normal. E o de trabalho de vocês?

–Lá no escritório foi tudo bem.

–No meu também.

As palavras do tal de jornal ficaram na minha cabeça, principalmente as que eu não sabia. Resolvi perguntar então:

–Mãe, pai, o que é rebelde?

Eles pararam de comer e me encararam.

–O que você disse, filha?

–O que é rebelde?-repeti

Eles se entreolharam.

–Onde você viu isso?

Eu tinha certeza que se contasse, estaria frita:

–Eu vi por aí no caminho de casa.

–Vá para seu quarto, e saia de lá apenas para ir para a escola até a segunda ordem.-Meu pai disse.

Que ótimo! Castigo! Caminho para meu quarto pensando se rebelde seria uma coisa tão ruim assim.

. . .

Estou com minha mochila com apenas alguns itens básicos para sobrevivência, pulando pela janela por volta de 19:00, o horário de recolher. Eu fiquei pensando no quarto, que tem alguma coisa mais estranha do que o normal nessa história toda. E só sei que não quero mais ficar aqui. Não aguento mais ficar nesse sufoco. Irei fugir.

Corro pelos cantos escuros, perto da praia. Passo até pelo MAC-Ministério da Autoridade Completa. Dou a volta para Maricá e saio pelo campo aberto. Hora de confimar se o mundo é verde e sem fim mesmo como me ensinaram,

Estou indo muito rápido, com medo de algum policial fazer ronda por ali e me ver. Mas, acabo me esbarrando em alguma coisa e vou para trás. Meus olhos fecharam com a pancada, e já estava me preparando para fugir do guarda que eu deveria ter esbarrado, mas abri os olhos antes disso e percebi que não tinha nada em minha frente, então tento continuar, mas dou de cara no nada de novo. Tento tatear o local e percebo que é algo invisível. Continuo esfregando a mão no negócio, até que apareceu um painel, em que eu sem querer coloquei a minha mão, e ele começou a piscar, então surgiu um tipo de scaner e iluminou meus olhos.

Uma voz robótica disse “Processando...” e depois de alguns segundos disse: “Identidade confirmada. Helen Nogueira Monteiro. Seja bem vinda à base.” E então o negócio invisível aparece para mim. É imenso. Se estendia a muitos metros acima de mim, era branco com alguns detalhes azuis ou verdes, e parecia um prédio redondo, mas sem janela, tirando por cima, que parece ser um telhado de vidro. Isso era tão estranho e assustador e ao mesmo tempo lindo. Eu quero continuar para outro lado, mas algo me puxa para tentar entrar, afinal a coisa me reconheceu e disse que era bem vinda, não?

Nem precisei decidir o que faria, pois uma porta se abriu para cima e sairam de lá umas três pessoas. Eu dei um grito de susto e eles se alarmaram com isso, me seguraram e colocaram em minha boca e nariz um sonífero para eu respirar, e apaguei.


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Notas finais do capítulo

Não aceito mais fichas.