Harukaze escrita por With


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Bom dia!
Trago mais um capítulo, espero que gostem.
Boa leitura!



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Harukaze

Capítulo 7

Não importa

Que tipo de dor

Atinja meu coração.

Eu vou encontrá-la

Do outro lado

Dessas portas fechadas

Acordou no meio da noite e com uma forte dor de cabeça. Sentou-se no chão frio com dificuldade, uma onde furiosa de náusea o pegou de repente, contudo Shino não queria saber o estado que se encontrava. Suas memórias se embaralharam, e tudo o que se recordava era de algumas vozes. Analisou o local mesmo com a visão turva e notou-se sozinho. A presença de Tsuhime fora apagada, e mal tivera tempo de colocar um Kiikai fêmea nela.

— Ei, Shino, o que está fazendo aqui? — Kiba pronunciou-se ao longe, ao seu lado Akamaru o acompanhava.

— Está tudo bem, Shino-kun? — A meiga Hyuuga preocupou-se, ajoelhando-se perto do rapaz. Ajudou-o a se levantar, o que não foi uma boa ideia. A tontura ainda se estava instalada nele.

— Algum de vocês... Viu Tsuhime? — Mesmo não gostando, Shino aceitou a ajuda da Hyuuga e apoiou-se nela. Tentou visualizar o amigo, mas apenas borrões se apresentavam a sua frente.

— Tsuhime? — O Inuzuka pareceu pensar. — Ah, a garota que andava pra cima e pra baixo com você? Não, eu não a vi. E você, Hinata?

A Hyuuga apenas negou com a cabeça, entristecendo-se pela aflição de seu companheiro de time. Poderia imaginar o quão difícil estava sendo para ele se ver naquelas condições, Shino era orgulhoso o suficiente para querer resolver as coisas sozinho, apesar de preocupado. Confiou no amigo quando ele se afastou de sua ajuda e impediu Kiba de segui-lo.

— O que é, Hinata? — Kiba reclamou a se ver detido pela garota de olhos perolados. — Ele não pode andar por aí sozinho!

— Não se preocupe, Shino-kun vai ficar bem.

(...)

A porta da sala da Hokage foi aberta de repente, e as três pessoas que ali ainda estavam se sobressaltaram. Não foram avisados da presença e Shizune colocou-se a frente de sua senhora. Será que depois de tanto tempo a paz em que viviam se esgotava? Uma mão trêmula apoiou-se ao batente da porta, e logo os óculos escuros entraram no campo de visão. Aburame Shino caminhava devagar, o corpo pesado restringia seus movimentos e Shizune correu até ele, porém o rapaz a rejeitou.

— P-Para onde ela foi? — A voz baixa e cansada do Aburame repercutiu pela sala, e Tsunade aproximou-se notando algo muito estranho no rapaz. Pela expressão condoída no rosto dele, era evidente medir a dor que sentia. E se ele havia rompido seu jeito reservado e chegado sem se anunciar à situação merecia atenção maior. — Não consigo mais senti-la.

— Acalme-se e nos explique o que aconteceu. — Jirayia pediu, quase imaginando o que o rapaz contaria. E não estava de todo errado ao começar a escutar o relato de que Tsuhime havia sumido.

A crise de tosse atingiu Shino e com o mero esforço sua cabeça parecia que sustentava um enorme peso. Encostou-se a parede e fechou os olhos, sossegando o desconforto repentino. Permitiu que a Hokage o examinasse, mesmo que para todos ali não fosse surpresa alguma. Então, Tsuhime tinha razão: Havia espiões a sua procura e eles não hesitaram em agir, claro, com a máxima cautela para que ninguém os achasse suspeitos.

— Shizune, leve-o para o hospital e limpe o organismo dele. Não o deixe sair até que tenha certeza de que Shino está bem. — Tsunade ordenou, voltando-se para Jirayia que expressava a mesma conclusão que ela.

Enquanto Shizune obedecia à ordem de sua senhora, Shino foi capaz de escutar: “Ela tinha razão”. Um sentimento de traição o preencheu, ele se negava a crer que fosse o único a não saber da verdade.

(...)

Seus olhos se abriram preguiçosos, proporcionando-lhe um mal estar reconhecível. Ainda sentia o corpo o dormente, porém, mesmo assim, Tsuhime forçou-se a levantar. Um enjôo forte a atingiu e foi obrigada a colocar para fora o que quer que habitasse seu estomago agora. O ácido machucou-lhe a garganta, fazendo-a ingerir toda a água ali presente. Todavia, como um letreiro luminoso, Tsuhime lembrou-se do dia anterior. Por sua causa Shino se ferira, o que lhe dizia claramente que já não estava mais em Konoha.

Sentiu-se vazia por dentro, como se tivesse sido arrancado de si tudo o que a fazia viver. Era evidente que logo voltaria para casa, porém o que a mais importava ficara para trás. A segurança para com ela seria dobrada, e os castigos que estavam por vir não preencheriam o vácuo. Talvez merecesse, talvez essa fosse sua única razão na vida: Servir, submeter-se a coisas mesmo que a machucassem, redimir-se com os problemas e mágoas que havia causado a quem apenas ofereceu-lhe o que ninguém mais foi capaz.

As lágrimas nublaram-lhe a visão, contudo, não as derramaria. Estava na hora de parar. Havia um plano a cumprir, e ignorando a dor Tsuhime arrastou-se até o banheiro. O suor melava-lhe o corpo, e odiava sentir-se suja. Era como se jamais conseguisse se livrar das mudanças repugnantes, das memórias dolorosas que se infiltravam em seus sonhos. Retirou a roupa e recebeu a água morna sobre o corpo. Ficaria ali o tempo que fosse, até que fosse capaz de retirar as marcas invisíveis.

E ao fechar os olhos, tudo se formou na escuridão. O rosto coberto de Shino a encarava inexpressivo, como se também a recriminasse. E duvidava de que ele ainda pensasse nela da forma de antes. Via-o ir embora, assim como ela, porém os olhos dele não se voltaram. Toda a atenção direcionada para frente. Ela cairia no esquecimento e agradecia. Pelo menos essa escolha ela poderia fazer.

Enrolou-se na toalha e rumou para o quarto. Suas roupas dispostas como havia deixado, porém alguém demarcara seu criado-mudo recentemente. “Estiveram aqui”, ela confirmou sozinha, escolhendo uma saia preta e blusa branca. Calçou as botas e olhou-se no espelho sem humor. Seu semblante encontrava-se péssimo, porém possuía um brilho novo. Algo que a agradou profundamente.

Aproximou-se de seu reflexo, encostando a testa contra ele. Tsuhime analisou seus olhos, seus cabelos... E percebeu pela primeira vez que mesmo se fugisse algum dia de seu pai, sua imagem a perseguiria. Parecia-se com ele, não negaria. O que herdara de sua mãe? Apenas o rosto jovial e gentil, nada mais.

— Ao menos alguma coisa você me deixou, mamãe. — Tsuhime reclamou, penteando os cabelos com os dedos.

— Como se sente? — Pelo reflexo do espelho, Tsuhime viu a figura debochada de Kabuto ao batente da porta de braços cruzados.

A garota voltou-se para ele, nos olhos amarelados um brilho irritado. Suas mãos tremiam para acertá-lo, podia-se ver concentrando o chakra nelas sem perceber. Logo, uma espada de gelo surgiu e ela apontou o objeto diretamente para Kabuto.

— Como eu queria congelar todos os seus órgãos. — A ameaça desabafou entre os dentes. — Você não precisava ter feito aquilo com Shino, ele não tem nada a ver.

— Ah, tem sim. — Kabuto adentrou o quarto com um sorriso divertido nos lábios. Aproximou-se dela, mantendo uma pequena distância segura. Ajeitou os óculos da mesma forma irritante de sempre. — O garoto do clã Aburame é importante para você e, na verdade, não teria graça trazê-la para cá sem um drama. Imagina quando seu pai souber disso.

Levada pela afronta Tsuhime atacou-o, cortando-o de leve no peito. Não permitiu que Kabuto se afastasse demais, logo se encontrava tão perto que podia sentir a respiração dele contra seu rosto. O sorriso maldoso do espião ainda adornava-lhe os lábios, e numa forma de apagá-lo golpeou-o com um forte soco. Pego desprevenido, Kabuto foi de encontro ao chão, tendo a garota em cima dele em instantes.

— Você é desprezível! — A garota gritou, estapeando o espião mais uma vez. — Não se atreva, entendeu? Deixe-o fora disso!

— Vamos nos acalmar, por favor. — Kabuto segurou-a pelos pulsos, sentando-se com ela em seu colo. Os rostos tornaram-se próximos, e ele roubou um breve beijo de Tsuhime. — Odeio bagunça. Nós temos hóspede, o que ele irá pensar?

— Hóspede? — Tsuhime relaxou, retalhando com o descaso a arma que projetara. Agora, por consequência e teimosia, sentia os efeitos da perda de chakra desnecessário, mas não se submeteria a Técnica de Absorção. — Quem é?

— Você vai conhecê-lo em breve, agora... — O homem de óculos trouxe a garota para perto, mantendo a boca próxima a sua orelha. — Se fizer isso de novo, não serei paciente.

Sem dar a devida atenção Tsuhime ergueu-se, ocultando o quanto a ameaça abalara-a. Não lhe era novo, sua personalidade passional obrigava que atrevimentos como aquele se repetisse várias vezes ao dia. Talvez tenha ido longe demais, contudo se quisesse segredo por parte de Kabuto teria que colaborar. Ser submissa a Orochimaru era um dever, porém para com Kabuto seria uma troca de favores.

— Avisarei a seu pai que acordou, ele está ansioso para te ver. — O espião abandonou o quarto, porém sua risada permaneceu açoitando Tsuhime.

O tremor foi inevitável, e por mais que já tivesse testado a paciência de Orochimaru diversas vezes, Tsuhime não queria encontrá-lo agora. Temia-o, a presença dele a sufocava. Sem esperar, passou a correr pelos corredores. Não importava para onde iria se isso a afastasse tempo suficiente do que a esperava. O salto da bota chocava-se contra o chão, a forma fantasmagórica de sua sombra na parede desesperava-a. Seu pai era capaz de tudo, não conhecia a extensão de jutsus que aquele homem possuía. Nada lhe acalmava cogitar que ele aparecesse quando menos se esperava.

Iremos começar com isso novamente? Lembra-se da primeira vez? — As palavras formavam-se nítidas em seus pensamentos, e Tsuhime tentava ignorá-los se concentrando em sua corrida. — Ainda não entendo o porquê.

As risadas se faziam altas, contornando todo o psicológico de Tsuhime. A respiração falhava aos poucos, mostrando-lhe que se continuasse seguindo o esforço seria em vão. Naquela casa não havia rotas de fuga, e à medida que se embrenhava ainda mais pelos corredores notava o quão diferentes se tornaram. Dobrando a direita ela teria conseguido avançar para o seu tão conhecido caminho secreto, porém agora só havia portas quebrando as paredes. Desde quando elas existiam? Era frustrante pensar que estava se perdendo.

Papai está com saudades. Preparei brincadeiras divertidas para nós dois.

— Eu não quero! — Acabou por gritar pela segunda vez naquele dia. — Tem mais de mil corpos aqui, porque não os usa?

Porque você é minha preferida, Tsuhime-chan. Você é minha obra-prima. — A ultima frase foi dita perto, e Orochimaru lançou suas cobras para que prendessem a garota. Arrastou-a para perto, substituindo as peçonhentas por seus braços. Abraçou-a, o único contato desde que Tsuhime nascera.

— O que está fazendo? — Tsuhime inquiriu trêmula, desconfiada daquele gesto paternal. Repousou as mãos nos ombros do pai, buscando apoio.

— Eu disse que estava com saudades. — Colocou a cabeça perto do pescoço da garota, sorrindo sádico. A sensação era quase de quatro anos atrás quando fizera a mesma coisa com o Uchiha, porém nesse caso o objetivo principal era punir. — Apesar de ter me desobedecido, vou te dar um presente.

Subitamente, os gritos de Tsuhime açoitaram os ouvidos de Orochimaru. A garota se debatia, porém a força dos braços do Sannin não diminuíra. Os dentes como presas de cobra se enterraram no pescoço de Tsuhime, o corpo queimava por dentro impedindo que o ar chegasse a seus pulmões. Um novo material estava sendo injetado nela, contudo, este vinha diretamente do portador.

Logo, o corpo de Tsuhime entregou-se a dor e desabou nos braços do pai, sendo acometida pela repentina mudança de temperatura. A escuridão envolvia-a convidativa, confortável e silenciosa.

(...)

— Só mais alguns minutos em observação e poderá ir, Shino. — Shizune explicou para o rapaz, porém parecia que ele não prestava atenção em nenhuma de suas palavras.

E não era para menos. A fantasia havia acabado, restando por fim apenas a sensação de que fizera algo de errado. Ele não deveria se culpar sequer pensar que tudo poderia ter sido efetuado de uma maneira diferente, contudo era exatamente assim que se sentia. A garota que fora oferecida a ele como uma simples missão terminou incorporando pesos a mais do que simples deveres. Ele sentia-se responsável por ela.

Todavia, naquele quarto de hospital, Aburame Shino se recriminava por não ter insistido, por não exigir que Tsuhime fosse de todo autêntica com ele. Porém, não era apenas isso que o deixava irritado, e sim o fato de se ver apaixonado por ela. A garota havia ido, deixando para trás todo o calor, todo mistério daquela relação, todas as palavras e todos os beijos com a certeza de que nada iria retornar. Talvez um dia, contudo, Shino não se submeteria àquele sentimento.

— Estamos procurando por ela. — Shizune fez com que imediatamente os olhos de Shino recaíssem sobre ela. — Jirayia-sama não se conforma com a possibilidade de Tsuhime-san ter voltado para casa.

— Por que me conta isso? — Shino perguntou hostil, ajeitando o capuz na cabeça pronto para deixar o hospital. — Não me interessa. Por quê? Porque eu não tenho mais nada a ver com ela. Meu trabalho já terminou.

O Aburame saiu do quarto, suas mãos costumeiramente dentro do bolso do casado. A postura indiferente ocultando o estado de suas verdadeiras emoções. Mesmo que negasse, ele não conseguiria ser tão imparcial. Contudo, apesar de tudo que compartilharam, sentia que o melhor era deixá-la ir.


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Notas finais do capítulo

Agradeço a você que leu.
Qualquer duvida, crítica construtiva, sugestão... Tudo será bem vindo.
Até sexta!
Beijos!



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