Harukaze escrita por With


Capítulo 48
Capítulo 48


Notas iniciais do capítulo

Dedico essa fanfic a Helga, que me encorajou a continuar essa história. Muito obrigada por todo o apoio, espero que continue gostando de "Harukaze"!



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Harukaze

Capítulo 48

 

Não é como se eu quisesse retornar aqueles dias
Eu estou procurando pelo céu que eu perdi
Não faça essa cara de triste
como se tivesse se tornado uma vítima
como se você quisesse que pessoas tenham dó de você

E sua rotina seguiu daquele mesmo jeito por um mês. Tsuhime abastecia chakra e o impulsionava nos corpos inertes como se eles fossem responder aos seus chamados incessantes e desesperados. Encontrava-se no limite, implorando para que a busca pelo resquício que sentira emanar de Seiji formigasse seu chakra, mas nada aconteceu. E para tentar acelerar os procedimentos Tsuhime gastava duas horas nos três corpos, vasculhando-os alternadamente. E isso consumia rapidamente seu chakra. Cambaleou, a visão escurecendo, e teria caído no chão se Emi não a tivesse amparado.

— Descanse um pouco, senhora. — Emi sugeriu, preocupada.

Nesse curto espaço de tempo Emi e Tsuhime se tornaram muito próximas, como uma amiga que Tsuhime nunca tivera a chance de ter. Claro que ainda não se sentia tentada a contar sobre suas condições shinobis, mas às vezes compartilhava com ela assuntos pessoais de seu passado e de como sua vida mudara drasticamente após vir para Konoha. Emi era uma boa ouvinte e comentava sempre de bom humor sobre as coisas que Tsuhime ficava depressiva. Com apenas dezoito anos Emi tinha a maturidade completa e lidava melhor com situações inesperadas do que ela. Por isso Tsuhime confiava em Emi, não se preocupando quando ela estava por perto.

— Já disse que não precisa me tratar com tanta formalidade, Emi-chan. — Tsuhime sorriu cansada, vendo que o rosto dela assumira um tom avermelhado. — Não somos amigas?

— C-Claro que somos, s-senhora. — Emi gaguejara, atrapalhando-se nas palavras. Buscou um copo com água e entregou a Tsuhime com mãos trêmulas.

— Obrigada. — A Yatsuki sorveu um generoso gole, sentindo-se gradativamente melhor. — Vamos começar com coisas simples, consegue me chamar de Tsuhime-san?

— T-Tsu-Tsuhime-s-san? — A garota parecia que a qualquer momento sofreria um infarto. Tsuhime era a pessoa que ela mais admirava e ficara honrada quando Tsunade a designou para dar suporte a ela, que chamá-la tão informalmente a deixava extremamente nervosa. Como se tivesse faltando com respeito a sua pessoa. — Yatsuki-san?

Tsuhime suspirou, resignada. Tinham intimidade suficiente para ampliar a forma de se dirigir a outra, mas compreendeu que essa era a personalidade de Emi. Terminou de beber a água e abandonou o copo sobre a mesa, erguendo-se e voltando a ter com o corpo de Seiji. Tivera que criar uma barreira de suspensão revitalizadora antes que ele entrasse em estado se decomposição. A barreira estagnava o avanço do corpo sem vida, deixando-o com uma aparência um pouco melhor e, quem os olhasse, pensava que os homens apenas dormiam profundamente. E caso a Técnica não surtisse efeito significaria que perderia tudo o que conseguiram extrair. E isso Tsuhime não podia permitir.

A autópsia minuciosa que Emi realizara mostrava altos índices de morte de tecidos e células, o cérebro morria aos poucos devido ao ferimento na cabeça onde pedaços de rochas alojadas foram retirados e mandados para a análise. Poderia ser pouca coisa em um mês, mas cada procedimento levava tempo e tinham que dosar o cuidado com os corpos tanto pelo material quanto pelo respeito à vida daqueles ninjas.

— Yatsuki-san... — Emi a chamou, instigando-a a se aproximar do microscópio. — Dê uma olhada nisso.

Tsuhime assumiu posição e observou que à medida que a rocha se desfazia a areia imediatamente desaparecia. Como se nunca houvesse existido. Ajustando a lente, Tsuhime visualizou algo a mais. Com um pinça começou a manipular a rocha, separando seus pedaços e lá estava: Parecia uma espécie de grão de pérola amassado até assumir tamanho pequeno que a olho nu seria impossível enxergar.

— Prepare Seiji, Emi. — Tsuhime tinha alguns palpites, aquela era a pista mais evidente que haviam encontrado. — Vamos dar uma olhada na cabeça dele.

Assim Emi o fez e Tsuhime se empenhou em manter a massa cefálica longe para que pudesse vasculhar a estrutura a procura do mesmo material. O buraco que o ataque deixara estava cedendo, podendo caber as suas duas mãos, e pensar que antes não passava de um mero furo quase imperceptível. Emi virou o rosto para lado, impedindo o vômito de escapar, como Tsuhime fizera há anos.

Um ponto brilhante perto do hipotálamo foi sua grande descoberta e cuidadosamente ela o removeu, fazendo o sangue escapar. Emi conteve a hemorragia, cauterizando os vasos e artérias enquanto Tsuhime enrolava uma faixa grossa em volta da cabeça dele.

— Mande pro laboratório, diga que é urgente.

— Sim.

— Quem fez isso com você? — Ela perguntou, olhando Seiji com pesar. Dentre os três ele era o mais acometido. — Se eu pudesse fazer você falar...

— Mas não precisa. — Uma voz ecoou pelo cômodo com divertimento e ansiedade. Seguindo-a, ela viu um homem de cabelos assimétricos e sorriso bonito. — Estamos te dando muito trabalho?

— Quem é você? — Tsuhime perguntou, adotando uma postura defensiva.

— Não me olhe assim. — O homem saltou pela janela, colocando-se junto com ela dentro da sala de autópsia, nos lábios um sorriso sem calor. — Recebi ordens de não machucá-la.

 — Você fez isso com eles?

Daichi inclinou-se para o lado, vendo três corpos em suspensão. Aquela mulher era boa, e se o que Kabuto dissera fosse verdade deveria tomar cuidado. Os olhos dela brilhavam agressivos e reparou que Tsuhime era, de fato, muito bonita. Em uma fração de segundos Daichi se prostrou atrás dela, rondando-a, tocando nos cabelos cumpridos e macios, e ela não se afastou.

— Pode ser. Por que o interesse?

— As perguntas são minhas. — Tsuhime rosnou, irritada. Projetou a perna para trás, com a intenção de acertá-lo, porém ele foi rápido em se distanciar. — Quem te mandou aqui?

— Eu sei que sabe de quem se trata. — Daichi comentou, solicito. — Agora vejo porque ele se preocupa com você, é muito bonita.

— Kabuto?

— É muito boa com palpites também. — Daichi analisou os corpos, ela não chegara perto de descobrir nada sobre as habilidades de Kuro.

— Yatsuki-san! — Emi exclamou eufórica, adentrando a sala e retesou os passos assim que viu que ela não estava sozinha. — O quê?

— Ah, parece que fomos interrompidos. — Daichi aparentou tristeza, dramatizando. — Nos encontraremos de novo, Hime.

— Ei! — Tsuhime chamou ao vê-lo desaparecer, levando com ele todas as respostas. Contudo ela não podia deixar que ele se fosse, por isso tirou o jaleco e desafiou a altura de onde estava.

Se tinha uma coisa que Tsuhime precisava aperfeiçoar era o seu rastreamento. Seguir frequência de chakra não soava tão prático quanto Kakashi descrevia e, até porque, como explicara a Haru, ela não era um soldado de campo. Então o conhecimento que possuía se voltava exclusivamente para suporte médico. A situação avisava que chegara o momento de sair de sua zona de conforto.

Contudo ela fez o melhor para se concentrar. Primeiro ela se obrigou a parar e respirar calmamente, se aquele homem aparecera agora não iria embora antes de ter mais alguns minutos a sós consigo, ele deixaria que o encontrasse. Sentiu as folhas das árvores, o ritmo do vento e quantas pessoas alcançavam a distância de cinco quilômetros. Por estar em um local relativamente pouco habitado, pois Tsunade isolara a área de autópsia, o silêncio ajudava e muito a captar outras presenças. A frequência do chakra do homem apunhalou sua consciência e ela avançou, pulando o muro de divisão e se viu cercada de árvores.

As copas deixavam os raios solares transpassarem parcialmente, tornando o local sombrio. Um pio de águia soou ao longe, e uma kunai passou raspando por seu ombro. Como sempre usava blusas de alças finas, o material afiado da arma abriu um corte na pele clara. O sangue escorreu pela extensão do braço e Tsuhime retirou a kunai do tronco, voltando-se para frente.

O homem a encarava com fascínio e aquilo a incomodou. Era como se ele a conhecesse e a tornara uma espécie de objetivo. E ela não estava errada. Desde que concordara em trabalhar para Kabuto, a figura de Tsuhime significou uma linha a ser atingida. Aquela mulher deveria ser deveras especial por fazer crescer em Kabuto o desejo de possuí-la. E Daichi queria ser o primeiro a entrar em contato com ela, a inspecioná-la antes de colocar o plano em prática junto com seus companheiros. Além de tudo dependeria do avanço deles também ou tudo não teria sentido. E o que menos queria era irritar aquele médico.

— Aqui estamos, enfim sós. — Daichi dialogou, caminhando para ela. Os cabelos assimétricos e os olhos castanhos necessariamente não a assustavam. — Aquela sua assistente... Emi, não é? Ela não deveria ter entrado naquele momento, eu poderia tê-la matado.

— Há quanto tempo nos observa? — Tsuhime abriu o jogo, vendo-o sorrir. Duas semanas atrás, sempre que ficava depois do horário fechando relatórios, se sentia observada, com aquela sensação de perigo descendo por sua espinha. E o fato de não ver ninguém a deixava nervosa.

— Pare de gastar palavras desnecessárias, Hime. — Daichi fez um gesto displicente, apoiando uma das mãos na cintura. — Me diga uma coisa, Hime... Você tinha tudo em Otogakure, poderia ter sido tudo que quisesse e conquistado o seu lugar no mundo shinobi, então por que largou esse futuro para viver aqui? — Gesticulou desdenhosamente, abrindo os braços, indicando tudo ao seu redor. — Você tem a genética perfeita.

  Tsuhime ouvia o relato dele com temor. Desde quando a sua genética era perfeita e que espécie de inveja ressentira era aquela? Ninguém deveria se sentir assim em relação as suas condições limitadas, se submeter à absorção de chakra para que não secasse, para que mantivesse as linhas sempre cheias. Definitivamente ela não desejaria tal mal a ninguém. Kabuto, no mínimo, envenenara a cabeça daquele homem de uma forma minuciosa.

  — Minha genética não é perfeita, a sua é. — Ela disse com sinceridade. Precisava sondá-lo e saber à hora certa para abrir-lhe os olhos vendados pela ambição. Se ele tivesse se apresentado voluntariamente aos experimentos de seu pai, Orochimaru não teria pensado duas vezes, e ele logo saberia o quão ruim era se sentir presa. Acorrentada. A sensação que tinha era que aquelas mesmas correntes estavam serpenteando o homem a sua frente, seduzindo-o. — Não sabe do que está falando.

  — O que eu sei é que em suas veias corre um sangue poderoso, o sangue que todo shinobi almeja. — Novamente Daichi brincou com ela, sumindo de sua consciência por breves segundos e aparecendo a sua frente. No lugar que ele estivera restava apenas uma fraca brisa.

  — Então é isso. — Tsuhime não se moveu, temendo dar a impressão de um ato agressivo. — Kabuto está te prometendo experimentos. Por que quer isso...?

  — Ah, é mesmo... Nós não fomos apresentados. — Dramatizando, fingindo ser um perfeito cavalheiro, Daichi se curvou perante ela, segurando-lhe uma das mãos e depositou um beijo suave. — Meu nome é Daichi, Hime-sama. É um prazer finalmente conhecê-la.

  — Você... — Tsuhime deu um passo para trás, desconfiada do tratamento que recebia. — Daichi, não deixe que Kabuto te influencie. Não sabe do que ele é capaz, na primeira oportunidade você será o primeiro a ser descartado.

  — Seu tom tem tristeza. — As sobrancelhas negras dele se franziram, achando que tal teor não combinava com a imagem daquela mulher. E, além do mais, ela parecia saber do que falava como se tivesse... — Vivido. — Daichi completou a frase em um sussurro, sua mente trabalhando em hipóteses.

  — É porque, durante um longo tempo da minha vida, eu apenas a sentia. — Ela não compreendia ao certo o motivo de estar se expondo daquela maneira para um desconhecido, mas o desespero que residia dentro dela alertava para fazê-lo enxergar a verdade. — Kabuto é tão sádico quanto Orochimaru, acredite em mim. O que ele vai te dar, a possibilidade de um poder maior... Isso é mentira.

  Ela via perfeitamente a confusão nos olhos castanhos de Daichi, a luta interna que ele travava e que ela conhecia tão bem. Houve um tempo em que Tsuhime pensara que seu único propósito na vida fosse servir a Orochimaru e Kabuto e aceitou tudo o que eles tinham a oferecer, mas agora, olhando aquele homem iludido, ela não podia simplesmente aceitar que aquilo estivesse acontecendo com outras pessoas. Quantos Kabuto já enganara até agora?

  — No fundo você sabe que é verdade. — Tsuhime alfinetou, temendo estar o perdendo. — Daichi... — Aprendera que chamar as pessoas pelo nome causava um impacto maior. — Você pode se livrar antes que seja tarde demais, então, por favor...

  — Não! — Ele esbravejou, resoluto. Afastou da cabeça tais pensamentos, aquela mulher quase o vez desistir. Mascarou o seu sorriso mais falso, tirando da bolsa ninja outra kunai. — Não vim aqui para deixar que me seduza, Hime-sama, embora fosse divertido e eu adoraria.

  Tsuhime segurou com mais firmeza a kunai em suas mãos, porém algo naquele cenário não estava mais fazendo sentido. O vento as suas costas era mais palpável e, era impressão sua, ou havia fios flutuando diante de seus olhos. Atônita, ela levou a mão direita aos cabelos e seu coração se descontrolou. Os movimentos seguiram aflitos, constando o que ela não queria acreditar. Voltando a atenção a Daichi ela o viu segurar o comprimento de seus cabelos, e algo dentro dela se quebrou.

  Havia uma razão para ter deixado os cabelos tão longos: Eles eram a prova de que ela superara cada obstáculo de sua vida, sua fonte de força... E agora que ele se fora se sentia desprotegida. Sabia o quanto soava infantil se lamentando daquele jeito, afinal, eles cresceriam novamente, mas o choque veio forte e irredutível.

  — O-O que você...?

  — O que eu fiz? — Daichi completou, sorrindo. Mesmo que aquele fosse o último ato pensado, nos cabelos também se encontrava o DNA. O Futon que manipulara servira como uma tesoura afiada, trazendo-o direto para suas mãos. O perfume que exalava deles era realmente bom, uma mistura cítrica que propagaria mesmo após a passagem de Tsuhime. Como uma marca. — Usei um método mais evasivo com você, afinal, recebi ordens para não feri-la, mas vejo que não fui feliz em minha missão.

  Tsuhime tremia, ainda sem entender se aquilo era mesmo real. Foi cedendo devagar, até que seus joelhos tocassem o chão e a suportassem. Daichi agachou-se, erguendo o rosto abalado da mulher com as mãos. Seu gesto tinha um ritmo carinhoso, como se Tsuhime fosse apenas uma criança que perdera seu brinquedo favorito.

  — Me desculpe, Hime-sama, mas é por uma causa maior. — Aqueles olhos amarelos tornaram-se opacos, o ínfimo brilho de antes se apagara. — Mas não se preocupe, eles crescem de novo.

  Ela abaixou a cabeça, ocultando sua falta de reação, e logo se viu sozinha naquele espaço amplo e que tentava engoli-la. Os minutos se transformaram em horas e o céu da tarde deu lugar a noite. A escuridão a abraçou, mantendo-a isenta de tomar qualquer atitude, entretanto ela sabia que logo teria que se levantar e voltar para casa. Lágrimas que derramara há muito secaram, deixando apenas uma marca pouco perceptível. E ainda existia o fato de que deixara um inimigo fugir sem obter informações significativas.

  Lentamente ela se colocou de pé e iniciou sua caminhada de volta ao laboratório. Emi já deveria ter terminado com as tarefas, perguntando-se onde estava, e agradeceria muito se todos já tivessem retornado as suas casas. Subiu as escadas e girou a maçaneta da porta, espiando antes de entrar. A sala escura denunciava apenas a sua presença ali e, se arrastando para dentro, Tsuhime sentou-se em sua mesa e cobriu o rosto com as mãos. O vidro da janela denunciava o seu reflexo e ela se negava a erguer a cabeça. Seria um insulto, não se reconheceria.

  — Yatsuki-san? — Emi chegara sorrateira, ela nem mesmo escutara a porta abrir. — Graças a Kami-sama, pensei que a senhora tivesse...

  — O que faz aqui há essa hora, Emi-chan? — Tsuhime odiou-se por deixar transparecer em sua voz o teor choroso e magoado. Ainda não tivera coragem para olhá-la, mas sentia claramente a aproximação da mais jovem.

  — Vim buscar um relatório, a Godaime-sama pediu para... — E aquela pausa no monólogo de Emi comprimiu ainda mais o seu peito, dificultando as batidas do coração. — O que aconteceu, senhora?

  — Não acenda a luz, por favor.

  — Como quiser. — Emi sentou-se ao lado de Tsuhime, reparando na forma assimétrica dos cabelos. Queria muito saber o que ocorrera, porém, invadir os sentimentos das pessoas não era de seu feitio. Não sem ser convidada. — Quer que eu os arrume?

  Tsuhime ergueu os olhos, mirando à jovem. Emi possuía uma expressão condoída, como se compartilhasse a sua dor, e apenas assentiu. Os dedos dela eram habilidosos, raspando de leve em seus ombros. O comprimento agora alcançava um pouco acima deles, formando um Chanel charmoso que recaiu muito bem sobre o formato de seu rosto. Em todo o processo Emi não perguntou nada e Tsuhime agradeceu infinitamente por aquele silêncio.

  — Abra os olhos.

  A Yatsuki sequer percebeu que havia os fechado, até Emi dizer. Hesitou, mas por fim ela obedeceu ao pedido e olhou para seu reflexo na janela. Ali, translúcida, encontrava uma mulher diferente a encarando, imitando seus movimentos e que nem nada soava como a antiga Tsuhime. Kabuto, mesmo longe, conseguia quebrá-la. Cobriu a distância, olhando-se mais de perto e uma lágrimas escorreu, selando a sua realidade.

  A mão pequena e quente de Emi pousou timidamente sobre seu ombro ferido, onde o sangue seco coagulara e iniciou o Ninjutsu Médico. A pele se ligava, reconhecendo-se, tornando-se íntegra novamente.

  — Quando quiser desabafar eu vou estar aqui. — Emi sorriu doce, enxugando mais uma lágrima teimosa. Tsuhime ainda não via, mas sua beleza natural não seria denegrida por um corte de cabelo. Queria muito dizer isso a ela, contudo fragilizá-la ainda mais apenas a faria se fechar. Portanto afastou-se, recolheu o relatório e se retirou desejando um “boa noite”.

  — Obrigada, Emi-chan... — Tsuhime soprou a resposta, que não foi captada por ninguém mais além de si mesma. Passara da hora de voltar para casa.

(...)

 As luzes ainda estavam acessas, indicando que Kakashi e Haru aguardavam por ela. Antes de anunciar sua presença, que ela desconfiava que o marido já tivesse percebido, Tsuhime inspirou e expirou diversas vezes, recapitulando a desculpa que daria. Principalmente em relação ao filho, que desde que começara a dar os primeiros passos mostrava uma paixão singular para com seus cabelos. Vamos, Tsuhime, apenas diga o que ensaiou.

  — Tadaima!

  — Mamãe! — Os passos de Haru retumbavam apressados e ela sentia a cada segundo a respiração falhar. — Okaeri!

  E Tsuhime não julgou Haru ao vê-lo refrear os passos e franzir as sobrancelhas finas, como se indicasse que não reconhecia a mulher a sua frente. Recuperando-se do susto, o menino se concentrou em colocar um pé na frente do outro, mirando a mãe com curiosidade. Primeiro foi à mudança na cor dos olhos e agora os cabelos? Será que tinha alguma coisa acontecendo que ele não sabia? Lembrava-se de elogiar os cabelos da mãe, ainda mais quando ela os deixava soltos, então estava sendo meio difícil assimilar aquela nova imagem.

  — O que... O que aconteceu, mãe?

  — Isso? — Tsuhime tocou os fios, sem graça. Os olhos ameaçavam transbordar, porém ela manteve as lágrimas quietas. — Achei que estava na hora de mudar.

  — Mas por quê? — Haru estendeu a mão em um claro sinal para que ela se abaixasse e assim Tsuhime o fez. — Eles estão...

  — Me desculpe, querido. — E novamente lá estava o seu esforço para se conter.

  Haru dedilhou os fios, insatisfeito com aquele comprimento. Entretanto, analisando melhor não havia nada que deixava sua mãe feia. Ela sempre seria linda, independentemente daquele mero detalhe. Pegando-a de surpresa ele sorriu afável, acariciando-lhe o rosto.

  — Você está bonita. — Os braços infantis se fecharam em torno do pescoço dela, e Haru depositou um beijo na bochecha da mãe. — Aliás, você sempre está. Certo, papai?

  E, como destinara total atenção ao filho, Tsuhime não percebeu que Kakashi também estava ali, observando-a em um misto de curiosidade e entendimento. Como adulto ele sabia que alguma coisa mais profunda acontecera, mas Haru não precisava tomar parte. O difícil seria fazê-la se abrir consigo.

  — É claro que sim. — Ele bagunçou os cabelos do filho. — Está na hora de ir para cama, Haru.

  Aquela era uma ordem clara de que “Sua mãe e eu precisamos conversar” e Haru não rebateu, apenas beijou novamente Tsuhime e se retirou, deixando-os sozinhos.

  Carinhoso, Kakashi a segurou pela mão e a conduziu até o quarto. Precisava induzi-la ao conforto, pois os ombros baixos e os olhos marejados imploravam por um cuidado maior. Tomaram banho juntos, e Tsuhime manteve-se absorta a qualquer diálogo e concentrou-se no calor de Kakashi, buscando a estabilidade. Quando, enfim, se deitaram ele não teve coragem para interrogá-la. As lágrimas quentes molhavam sua camisa, instigando-lhe a desistir.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por tudo e espero que tenha gostado!
Até o próximo,
Beijos!



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