Harukaze escrita por With


Capítulo 45
Capítulo 45


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Harukaze

Capítulo 45

Tivemos que ter a tristeza

Para termos certeza do nosso amor.

Nossas lágrimas, certamente, vão desaparecer

No amanhã

Adentrou em casa mancando, o tornozelo inchado por ter se forçado a percorrer todo o caminho da floresta até em casa. Talvez a ideia de fazer tudo sozinho soasse como orgulho, contudo ninguém entenderia seus motivos. Afinal, Haru pouco os compreendia. Tobi vinha se instalando em sua mente, recitando palavras encorajadoras e depreciativas em um misto de mudanças de colocações. O teor abafado pela máscara não o deixava captar o verdadeiro tom, levando-o a cogitar que Tobi estaria brincando com seu inconsciente.

Nos dois meses que ficara sob a proteção de Tobi escutara histórias de amor intenso, ódio e poder — elementos básicos que regiam os Uchiha — e, embora naquela época não aceitasse, o sangue amaldiçoado instigava especulações de que, querendo ou não, fazia parte daquele grupo e, portanto, era de sua natureza enxergar o mundo de forma individualista.

Haru sabia que ainda era demasiado novo para se aventurar por aquele caminho, mas algo dentro de si não estava certo. A faísca de raiva de transformara em chamas e consumiam a personalidade que ele pensava possuir. Sempre fora cortês e gentil com as pessoas, e agora retribuía os sorrisos com impaciência. Ele não poderia afirmar que o clima em casa alavancou aqueles sentimentos dentro dele, porém era a única corda na qual se agarrar.

Culpar os pais em vez de procurar um motivo plausível se tornou muito mais fácil. Não ter mais a aura alegre que irradiava o lar deixava um rastro de saudade assim como ver o rosto da mãe menos suave e pouco trocar palavras com Kakashi. Sua família estava se deteriorando. E, somando a tudo, existia a promessa de que a Akatsuki voltaria. Ter poder para proteger sua família era essencial e não se sentia culpado por procurá-lo longe de casa. Talvez ser um Gennin possibilitasse seu avanço.

Rumou para o quarto e tirou as roupas. O espelho refletia sua imagem e era possível ver marcas de queimaduras nos braços, costas e pescoço. Os cabelos tinham um tom opaco pela sujeira e olheiras cobriam os olhos. Faltava-lhe muito treino.

“Somente um Uchiha pode obter sucesso”, a voz de Tobi inundou seus pensamentos e Haru se viu concordando. Apesar de Kakashi possuir o Sharingan ele não fazia parte do Clã Uchiha, então consequentemente suas habilidades, a forma como deveria de fato usufruir de seus poderes, se tornava limitada. Odiava dar vazão aquela voz, mas não poderia continuar fingindo que a realidade se modificaria pelo simples fato de querer. O chamado dos Uchiha retumbava em cada célula de seu corpo.

A água eliminou as sujeiras, mas as marcas da luta ainda se encontravam nítidas. A dor em seu tornozelo não aliviara e ele fez uma careta ao movê-lo. A mãe não poderia suspeitar de que estava machucado. Vestiu-se e dirigiu-se a cozinha, estancando os passos ao ver uma silhueta se movendo com destreza. Piscou os olhos, habituando-se a presença.

— Mãe.

— Oi, amor. — Tsuhime virou-se para ele e sorriu.

— Quando foi que você chegou? — Haru questionou, afinal não sentira a ressonância do chakra da mãe.

— Há alguns minutos.

O perfume, o corpo, os cabelos e o sorriso eram idênticos ao de Tsuhime, contudo Haru não confiava completamente naquela mulher que se esforçava para aparentar autenticidade. Será que o inimigo o seguira? Devagar, ele tocou em mãos a faca sobre o balcão e escondeu atrás das costas, aproximando-se da mulher. Ele não iria permitir que outra pessoa assumisse aquele papel.

— Quem é você? — Ele retrucou, agarrando com força os cabelos compridos e encostando o material gélido nas costas dela. — Você não é a minha mãe.

— Como esperado de você, Haru. — A mulher sorriu, virando parcialmente o rosto para ele. Aquele sorriso permanecia nos lábios, provocando-o.

As sobrancelhas do garoto se franziram descontentes de tamanha presunção, e antes que fizesse qualquer movimento o jutsu fora desfeito. Diante de seus olhos a imagem de Saiyuri surgiu, juntamente com a sua risada. Ainda sem compreender Haru não se afastou, deixando claro que a brincadeira deveria terminar.

— Seu bobo, sou eu. — Saiyuri o obrigou a abrir espaço, temendo que Haru fizesse algo impulsivo. Ela sempre gostou de surpreender as pessoas, pregara muitas peças nos meninos e decidiu que seria divertido tentar com Haru, no entanto a alegria começou a esvair perante o olhar sério dele. — Vamos lá, abaixe isso. — Ela indicou a faca, levantando as mãos em sinal de paz.

Haru andava estranho, preferindo ficar sozinho a desfrutar da companhia dos amigos e Saiyuri não aprovava aquela atitude. O Haru de seu conhecimento havia se perdido e ela não sabia lidar direito com o garoto a sua frente, que minutos depois recolocou a faca no devido lugar. Mesmo que ele tivesse suavizado a expressão, o modo indiferente que a tratava causava-lhe arrepios. Será que ele estava bravo com ela por causa daquele beijo idiota?

— O que está fazendo aqui? Eu poderia ter te machucado. — A noção de perigo recaiu sobre Haru, desaprovando-a totalmente.

— O que aconteceu? — Saiyuri retrucou, aproximando de Haru para analisar os ferimentos dele. A pele do pescoço e dos braços tinha um tom avermelhado.

— Eu me machuquei treinando. — Ele espantou a mão dela, que se encaminhava para tocá-lo. Aquilo gerou constrangimento na menina. — O que está fazendo aqui? — Haru repetiu, impaciente. — E se eu tivesse machucado você?

— Você seria capaz? — Saiyuri deu um passo para trás, o coração acelerado. A fala de Haru tinha um tom verdadeiro. Contudo ele não a respondeu, apenas virou o rosto para o outro lado. — Estou preocupada com você.

— Comigo? Por quê?

— Bom, é que... — Nervosa a menina escondeu uma mecha de cabelo atrás da orelha, mantendo seus olhos fixos nos próprios pés. — Você tem agido estranho com a gente. Por acaso não gosta mais de nós?

Haru ergueu os olhos para a menina, mirando a face de expressões condoídas e amedrontadas. Ele jamais pensara que suas ações influenciariam os seus amigos, ele apenas não queria envolve-los nisso. Era um assunto particular, direcionado somente a ele.

— Não é isso. — Respondeu por fim, sem entusiasmo. — Eu só não sinto vontade de conversar.

— Ah... Entendo. — Ela disse desapontada, tentando ocultar ao máximo o quanto a incomodava aquela distância que Haru insistia em disponibilizar entre eles. — Mas, sabe, a gente sente a sua falta nos treinos, nas brincadeiras... Então, talvez você não queira ficar com a gente agora, mas não nos afaste de você. A gente pode ajudar.

— Como? — Haru piscou confuso. — Do que está falando?

— Eu sei que alguma coisa te perturba, mas não vai chegar a lugar algum guardando elas para você. — Saiyuri tentou sorrir, resultando em uma careta. — Sei que há coisas que a gente acha que pode resolver sozinho, quando na verdade não consegue. É por isso que existem os amigos. Como eu, Saga, Hideki e Souma.

Saiyuri oferecia ajuda a ele? Era isso mesmo que Haru entendia? Mas como ela poderia saber de seus planos? Em uma fração de segundos a ficha caiu e ele passou a compreender que, desde que ele se distanciara, Saiyuri zelava por ele. Seguia-o, preocupada consigo. No entanto ele não recriminou a atitude dela, apenas sorriu. Ela era uma menina legal, mas que não valia a pena arriscá-la.

— Não se preocupe, está tudo bem.

— Verdade? Porque você não está me convencendo. — Saiyuri estreitou os olhos, desconfiada.

— Você pode me fazer um favor? — Haru usou o tom mais suave possível, acentuando as feições da garota. Ela era mesmo incrível. — Eu agradeço a preocupação, mas não preciso dela.

— Ei, qual é o seu problema, Haru?! — Saiyuri gritou, o rosto assumindo uma coloração avermelhada.

— Vocês são os meus problemas! Não entendem que eu não quero mais a companhia de vocês?!

— O que está falando? — Saiyuri nunca o vira levantar a voz, aquela era a primeira vez. — Como pode descartar a gente?

— Eu não tenho que te explicar nada. — O Yatsuki virou o rosto, olhar para Saiyuri jogando todas aquelas interrogações acabariam com sua determinação. — Fique longe do meu caminho, ou não vou te perdoar.

— Haru... — Saiyuri sentia os olhos arderem pelas lágrimas. Deveria estar acostumadas com palavras rudes, de pessoas que pediam para ela cuidar da própria vida, mas ouvi-las de Haru machucava mais. — Certo, me desculpe. Eu... É melhor eu ir embora.

— Sim.

Saiyuri não fez questão em se despedir e acreditava que Haru também não queria, portanto passou rapidamente por ele e saiu sem olhar para trás. Os olhos ônix a acompanharam, tendo como a última imagem a porta se fechando.

Todavia o tempo para se sentir arrependido avançava, deixando-o sem opções. No fundo ele sabia que Saiyuri não desistiria dele, mesmo ele tentando cortar aqueles laços. Respirando fundo ele se dirigiu a uma área que o pai montara apenas para treinamento. O boneco de palha lhe sorria com a língua para fora, enquanto tinha pintado na barriga um alvo. Vários outros se dispunham pelo local pendurados nas paredes e a sua direita um lago, cujo principal objetivo era aperfeiçoar seu controle de chakra já que não tinha afinidade com outro elemento. Pelo menos que ele soubesse.

Expulsando todos os pensamentos negativos e guardando no fundo da mente o semblante de Saiyuri, ele iniciou o treino. Socou, chutou, atirou kunais e shurikens embora o tornozelo latejasse. Não se importava, ele precisava engolir o formigamento que irradiava para sua perna. Plantou armadilhas e lutou contra elas, desviando dos ataques com o auxílio do Sharingan. Os olhos doíam pelo esforço de antes, mesmo assim ele não cessou. Treinou arduamente até que a respiração faltou e desabou exausto no gramado marcado pelo seu poder.

O céu estrelado de primavera lhe servia de cobertor e ele fechou os olhos, apreciando a sensação de tranquilidade. Ao longe o som da porta se abrindo, todavia ele não fez menção de se mexer.

— Haru? — Tsuhime alcançou a varanda, vendo o filho deitado no meio do jardim. — O que está fazendo?

— Só descansando. — O menino replicou, percebendo a mãe ir até ele. — Você demorou.

— Desculpe, querido, a mamãe ficou presa no trabalho. — Tsuhime sentou-se perto dele, acariciando os cabelos úmidos de suor. Então notou a pele de Haru diferente. — Onde conseguiu isso?

“Droga!” Haru maldisse, esquecendo-se completamente das queimaduras. Deveria ter vestido roupas mais compridas, do olhar da mãe não escapava nada.

Entretanto Haru não respondeu, apenas apoiou a cabeça no colo da mãe e aspirou o perfume dela. Não havia no mundo pessoa que ele amasse mais. Ergueu os olhos para ela, vendo-a sorrir docemente. As íris amarelas pareciam luminárias perante o aspecto natural da noite.

— Eu te amo.

— Eu também te amo! — Tsuhime correspondeu, beijando-lhe a testa. — Mas me diga o que aconteceu.

— Exagerei no treino de Katon.

— Tem certeza? — Tsuhime proferiu, sobrepondo a mão revestida em chakra no pescoço do filho. Estava aliviada por poder usar Ninjutsu médico novamente. — Não quero saber de você arrumando confusão.

— Não arrumei. — Haru mentiu, fazendo bico.

— Como foi no teste?

— Eu passei.

— E por que não me disse logo?! Peça o que quiser para o jantar!

— O que eu quiser? — Haru observou a mãe, curioso.

— Isso aí.

— Kare Rice?

— Você gosta mesmo disso, não é? — Curado o pescoço, Tsuhime desceu a mão para os braços. O menino apenas assentiu. — O seu pai chegou?

— Não, só eu e você.

— Haru, eu sei que nós ainda não estamos bem, mas... — Ela iniciou, constrangida.

— Tudo bem, mãe. — Haru entendia claramente a que ela se referia: O casamento. — Não precisa fingir que somos uma família perfeita.

— Ah é? — Tsuhime não escondeu a surpresa por ver o filho falando daquela forma. Haru estava crescendo tão rápido.

— É. Se vocês se amam vai dar tudo certo. Eu sei que o papai é louco por você.

Tsuhime corou violentamente. Teria que se policiar na demonstração de carinho perto do filho.

— Estou com fome. — Haru sorriu percebendo a mudança na postura de Tsuhime.

Satisfeita com o trabalho feito em Haru, ambos adentraram a casa, Tsuhime fugindo do olhar sugestivo do filho enquanto Haru a provocava divertido. Prepararam o jantar juntos e aguardaram pela companhia de Kakashi, que não fazia mais de dez minutos que havia voltado de suas tarefas. O rosto de Tsuhime continuava corado e o jeito que Kakashi a olhava queria dizer que perguntaria o motivo mais tarde. O crescimento de Haru a pegara desprevenida, a partir daquele dia tinha que se preparar para lidar com aquele novo Haru.

— Já montaram os times? — Kakashi perguntou após saber da novidade, afagando os cabelos rebeldes e recebendo um sorriso do menino.

— Não. Iruka-sensei disse que faremos isso amanhã.

— Hm...

— Você sabe, não sabe?! — Haru acusou, apontando o dedo em riste para Kakashi. — Me diz!

— Ah, não quero estragar a surpresa. — Por baixo da máscara o Jounin guardava um sorriso divertido, instigando ainda mais a curiosidade do filho. Na verdade ele não sabia quais eram os times.

— Isso não é justo, pai! — O menino emburrou enquanto aceitava a refeição. — Eu vou jantar no quarto, cansado. — Haru piscou para a mãe e se retirou com o prato, deixando os dois a sós.

Tsuhime sentou-se à mesa. Passara uma semana desde que Kakashi a surpreendera na Academia após a conversa com Shino e ambos não decidiram nada. Ela por sua vez evitava tocar naquele assunto enquanto que Kakashi aguardava por uma atitude dela. Contudo, Tsuhime agia como se o problema já tivesse sido solucionado. Não a culpava, afinal o assunto era delicado e não negaria que se sentia muito bem por tê-la ouvido dizer que ficaria com ele. Parte do medo de perdê-la se dissipara e apenas precisavam de uma confirmação. Embora não fosse de todo crucial.

Era nítido nos olhos dela o quanto ansiava pela aproximação, e ele por ventura se encontrava na mesma posição. Sentia falta do corpo quente dela moldando ao seu nas noites de amor, no sabor doce do beijo dela e no jeito que ela o tocava, transmitindo todo o amor que havia entre eles. As lembranças pareciam distantes, porém lhe davam certeza de que sugeriam outras.

— Eu te amo. — Kakashi formulou a declaração, pegando-a distraída. Adorou testemunhar o quanto ela ficara sem graça.

Receber duas declarações no mesmo dia deixou o emocional de Tsuhime sensível, tanto que ela estagnou o hashi na metade do caminho. Mostrando desinteresse na comida, ela se levantou e deu a volta na mesa até que Kakashi estivesse ao seu alcance. Sorriu para ele, os olhos marejados, e sentou-se no colo dele tendo as mãos em sua cintura. Como ela poderia trocá-lo por outra pessoa? Apenas ele sabia como tocá-la, o que dizer e quando dizer para deixá-la confortável e, acima de tudo, habitava o maior espaço em seu coração. Abaixou a máscara dele com extrema delicadeza, ansiando poder ver o rosto bonito e simétrico de Kakashi, em seguida segurou-o entre as mãos.

— Eu também te amo, Kakashi. Obrigada por não desistir de nós.

— Mesmo que eu quisesse não poderia. — Ele subiu uma das mãos pelas costas dela, acariciando-a com carinho. — Você é minha, lembra-se?

— Sim. — Tsuhime o beijou, entregando-se às carícias de Kakashi, que a fazia gemer entre o beijo.

Quando deu por si estavam no quarto, as roupas no chão e corpo dele cobria o seu. Aquela noite fora uma das mais lindas que já tivera.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler, espero que tenha gostado.
Deixe sua crítica construtiva, sugestões, dúvidas, será bem recebido.
Beijos!



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