Harukaze escrita por With


Capítulo 42
Capítulo 42


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Harukaze

Capítulo 42

Agora, nosso sonho apenas nos separa mais e mais

As pequenas mentiras se mesclam à brisa branca

Impedindo que o meu coração esqueça

O que significou perder você.

Já era de madrugada e o sono não lhe agraciara. Tsuhime abraçou o travesseiro, nada surpresa por notar que Kakashi não estava ali. Seria até esperado aquela atitude dele, contudo a insegurança que se apossava dela aos poucos fazia com que não imaginasse sequer um futuro longo com Kakashi.

E como se arrependida do que fizera, do que sentiu e do rosto que estava preso no vácuo de seus pensamentos. Será que aquele sentimento de antes ainda existia? Ela, sinceramente, não fazia à menor ideia da resposta. A confusão lhe deixava a mercê de dúvidas, via novamente que sua vida estava prestes a mudar. E não sabia se estava preparada para isso.

Superara muitos obstáculos para chegar naquele ponto e perder tudo. Não, ela se negava a abrir mão de seu casamento, de sua família, de Kakashi. Se por ventura o relacionamento se rompesse, como Haru reagiria? O filho era deveras esperto e captava sinais facilmente, então se tornava quase impossível não envolvê-lo em seus problemas.

A questão era que Tsuhime estava cansada de lutar.

Olhando o seu presente e o comparando com o passado, sua vida parecia uma página apagada várias vezes. Tudo que restava eram restos soltos, mesclando-se com uma concretização improvável. Poderia aparentar fraqueza pensando dessa forma, mas ela não podia fechar os olhos para os fatos. Como Kabuto dissera: Ela jamais teria sua liberdade, sempre seria atraída pelo seu passado, pelos assuntos inacabados. Estava presa a situações como aquela, onde se via prestes a perder tudo para um destino cruel.

Lágrimas vieram aos seus olhos e ela os fechou, tentando reprimi-las. Contudo o esforço fora em vão e ela cedeu a um choro contido. Não queria que Haru ou Kakashi a vissem daquele jeito, em prantos feita uma adolescente. O coração pesado denunciava que aquela tristeza se instalaria por algum tempo, engolindo toda a felicidade que ela sentiu durante esses seis anos. Gostaria de ter o poder de criar a sua própria realidade, assim não teria dúvidas de que só existiriam momentos felizes em sua vida, entretanto, somando sua culpa, ela não detinha tal façanha.

Batidas na porta a assustaram, tirando-a daqueles devaneios e Tsuhime limpou o rosto.

— Mamãe? — Haru colocou a cabeça para dentro do quarto, cauteloso. A imagem da mãe sendo visível parcialmente. — Posso entrar?

— Claro, amor, venha. — Tsuhime afastou as cobertas, dando espaço para que o filho se deitasse. — O que foi?

— Tem alguma coisa errada com a gente? — Os olhos ônix buscaram a Yatsuki, tão firmes e atrevidos como um adulto exigindo explicações.

— Por que pergunta?

— Porque já faz alguns dias que o papai tem dormido no sofá e no jantar vocês mal se olham.

Tsuhime umedeceu os lábios, constrangida. Então seu filho percebera? Nada lhe desgastava mais do que ter que fingir que tudo ia bem quando na verdade ela não possuía certeza de absolutamente nada. Por que os problemas sempre a encontravam?

— Me desculpe, Haru, mas seu pai e eu não estamos em um momento muito bom. — Ela optou por responder ressentida.

— É por causa da guerra? Já acabou, mãe. — Haru comentou inocente.

— Queria que fosse, querido. — Tsuhime aconchegou o filho nos braços, abraçou-o e beijou-lhe a testa. — Mas não precisa se preocupar, certo? Pode demorar um pouco, mas as coisas vão se ajeitar.

Haru nada disse, apenas ergueu os olhos e, mesmo na penumbra, era possível distinguir a vermelhidão cobrindo os olhos amarelos. Não explicara para a mãe, mas adorava ver como eles desafiavam a claridade do ambiente ao redor, hipnotizando a todos a encará-los. Gostaria de ter herdado aquela cor, porém a genética de Tobi influenciara sua formação. Ao menos tinha a certeza de que se parecia com Tsuhime, ainda que fosse mínima essa parcela de familiaridade.

E devido à correria que fora após Tsuhime sair do coma, ele mal tivera tranquilidade para pensar em tudo que acontecera em sua vida. Tobi despejara sobre ele uma verdade que, ele gostando não, era sua sina; Kabuto, que a todo instante lhe pareceu alguém de confiança, se mostrava totalmente ao contrário e ele não conseguia deixar de gostar dele, afinal, fora a única companhia amigável que tivera nos meses que passara com Tobi; Depois sua rivalidade com Kakashi em não aceitar que ele buscasse a ajuda do inimigo e arriscara-se sozinho e agora que a mãe finalmente havia voltado para ele uma invasão assolara Konoha, forçando-o a assumir um papel que, desanimado, admitia ainda não ser o seu.

Existia um caminho longo a ser percorrido e ele começaria a encará-lo o mais rápido possível. Queria se tornar um ninja tão bom quanto o pai, dono de suas habilidades e ciente de seus deveres, despertando o respeito que Kakashi possuía. Todos confiavam nele e desejava que os cidadãos de Konoha compartilhassem esse sentimento com ele no futuro. Sorriu se imaginando adulto e bonito, recebendo o carinho dos moradores e tendo o seu próprio time. E, claro, tudo isso com Saiyuri ao seu lado.

Lógico que Haru não se esquecera de Hideki e Souma, até mesmo Saga se encaixava no quadro de amigo em um futuro, contudo ele não conseguia negar que a menina lhe chamava muito a atenção. Saiyuri era bonita e inteligente, muito participativa das aulas e sempre amistosa com todos estava cercada de pessoas, com seu sorriso fácil atraía amizades e o conquistou. Não da forma como os homens conquistam as mulheres, mas de uma forma inocente e sincera, e quando dera por si mantinha-se mais tempo a observando do que conversando com os amigos.

— Lá vem você de novo com essa cara de bobo. — Souma comentou com ele ao ver seu olhar para Saiyuri e Haru mal formulou uma resposta, apenas ficou envergonhado. — Mas ela é bem legal, não é?

— Do que você ta falando? Não sabe nada dessas coisas. — Hideki afrontou, fazendo o irmão gêmeo emburrar.

— Como se você fosse o espertalhão! — Souma apontou o dedo em riste para o mais velho, totalmente irritado. Hideki sempre se achava o sábio, com os pensamentos elevados e jeito sério. Nem parecia ter sete anos. — Já te peguei olhando paras as meninas.

— Isso é crime? — Hideki se levantou, postando-se na frente do irmão. Aquele baixinho irritante não tinha o direito de recriminá-lo.

Souma aceitou o desafio, pronto para qualquer coisa que o irmão apostasse, contudo Haru interferiu colocando-se entre os dois e os afastando antes que ambos começassem a brigar. Suspirou frustrado, esperando que os dois se acalmassem e não percebeu que um par de olhos rosáceos os observava. Imediatamente, assim que tomou conhecimento de quem se tratava, sentiu o rosto esquentar. Por Deus, não era daquela forma que esperou que fosse notado por Saiyuri.

Contudo, a menina apenas sorriu e seguiu para fora da sala com as amigas. Depois desse dia passaram a se cumprimentar e os laços que ele tanto ansiava fortalecer foram se solidificaram com a invasão. Saiyuri, Hideki, Souma e Saga faziam parte de seu círculo social, embora ele não soubesse muito bem o que concluir de Aburame Saga. O primeiro contato que tivera com ele foi ao acampamento proposto por Iruka-sensei e mesmo assim não conversaram mais do que dois minutos. Agora, acostumado com o jeito fechado dele, Haru via nele um companheiro fiel, as pessoas apenas deveriam saber como iniciar um diálogo com Saga e ele podia ser bem legal quando não se sentia desconfortável.

Como todos tinham personalidade extrovertidas, Saga ficava um pouco perdido entre eles e Haru se esforçava para incorporá-lo em todas as conversas e brincadeiras. E embora gostasse da companhia dele sabia que, desde a invasão, Saga também olhava daquela forma para Saiyuri. Então ele também havia visto como ela era incrível. Ótimo, era tudo que eu precisava, ele pensara consigo incomodado.

E se a mãe não tivesse dormido talvez se abrisse com ela, mesmo que ela pegasse no seu pé por tempo indeterminado. Apesar de Tsuhime ser sua mãe, Haru a enxergava como uma pessoa além disso. Ela era também sua amiga, aquela que sempre estaria ao seu lado em qualquer situação e que poderia lhe confidenciar seus medos mais profundos. Entretanto suas opiniões particulares poderiam esperar, afinal, os pais pareciam estar enfrentando problemas e ele não queria atrapalhar.

Portanto passou o braço pela cintura da mãe e aconchegou-se mais a ela, seus olhos cedendo vagarosamente ao sono.

(...)

A casa silenciosa lhe dava a ideia de estar sozinho, contudo Hatake Kakashi sabia que isso era apenas uma sensação. Sentia o chakra de Tsuhime e Haru vindo do quarto que há um ano era também seu. Não que o desconsiderasse, mas o estado de seu casamento não lhe permitia pensar muito daquela maneira.

Deparar-se com Tsuhime beijando outro homem o abalou, a raiva corroia seu coração sempre que aquela imagem predominava em seus pensamentos, e ainda agora ele não conseguia domar as próprias emoções. A conversa que tivera com Tsuhime apenas confirmou suas suspeitas: Ela ainda amava Shino.

Desde o início sabia que Tsuhime tivera alguém em sua vida antes de conhecê-lo, que provavelmente se apaixonara e traçara planos para o futuro, esta era uma realidade difícil de contestar, contudo pegou-se pensando se ele fora capaz de abrigar verdadeiramente o coração dela. Um amor verdadeiro era complicado de esquecer.

Na época que a pedira em casamento várias questões formularam internamente e ele evitou cogitá-las por achar desnecessário. Pouco sabia sobre ela anos atrás, aceitara-a como ela se apresentara a ele e a amou cada segundo desde que ela dissera “sim”. Não nitidamente, embora não deixasse de ser. Contudo, agora, ele imaginava se deveria ter levado aquelas questões a sério.

Tsuhime era filha de Orochimaru, o homem que matou o Sandaime e que seduzira seu aluno para um mundo sombrio de ambição, e consequentemente sua inimiga também, e nada disso importou quando ambos se entregavam ao autoconhecimento. Até o dia em que ela partira, deixando apenas um pedido no ar: “Espere-me”. E ele esperou. Ainda esperava.

A gravidez dela não o incomodou — embora não entendesse por quais motivos Tobi a escolhera — e experimentara sensações nunca antes ansiadas. Jamais se imaginou acompanhando uma mulher no pré-natal ou escutando os batimentos cardíacos do pequeno ser que crescia gradativamente dentro dela. Foram únicas tais emoções e ele se lembrava com vigor como se estivesse vivenciando-as novamente. Haru nascera e com ele viera a responsabilidade, além do conceito de pai. Aquela criança agora fazia parte de sua família, embora não tivesse o seu sangue.

— Ele não é lindo? — Tsuhime perguntara cansada, nos lábios um sorriso amoroso e admirado por aquele bebê tão frágil e bonito ser dela.

— Sim. — Kakashi se aproximara sem saber muito bem como se comportar, acabando por sentar-se na cama. — Que nome vamos dar?

— Haru. — Os olhos da esposa debruçaram-se sobre o menino, emocionada. — Eu sempre gostei da primavera, ele é tão doce quanto ela.

— É um belo nome.

— Segure-o. — Tsuhime encorajou, depositando o bebê cuidadosamente nos braços de Kakashi.

E embora desajeitado Kakashi acomodou a criança, que inconscientemente lhe sorriu. Naquele dia um forte laço se criou entre eles, tão sólido e palpável que Kakashi sentia-se tonto.

Voltando à realidade, era como se alguém o despertasse do transe. Haru tinha seis anos e Tsuhime e ele não compartilhavam uma boa fase. A imagem de família estava se esvaindo, como uma nuvem de fumaça densa soprada pelo vento. Todas as chances para capturá-la se mostravam inúteis já que a fumaça escapava de seu toque, fugidia.

Afinal, Tsuhime era como a brisa de primavera: Incapaz de se prender em apenas um único lugar ou alguém.

Abriu os olhos, mirando o teto escuro. Onde foi que ele errara? Sabia que a vida possuía altos e baixos e, depois que Kabuto incorporara-se a vida de Tsuhime após tantos nos, caminhavam entre baixos e mais baixos. Ele tinha suas dúvidas e debatia-as sozinho, tentando encontrar qualquer resposta que o confortasse, o que o deixava ainda mais confuso. Já não sabia em que sinal se agarrar, se valia a pena salvar o que se mostrava perdido.

Por mais que as intenções de Tsuhime tenham sido nobres, era inaceitável que ela tivesse tentado aquela técnica com outra pessoa. Além de qualquer coisa havia seu orgulho como homem e marido, que a cada minuto murchava. Pouco se sentia ligado a Tsuhime e tudo piorou quando ela não lhe respondera se ainda amava Aburame Shino.

Talvez lá no fundo sua mente se recusava a descobrir a resposta. Contudo ele não podia ignorar o olhar dela sob Shino quando vinha buscar Saga, que por sinal acabou se tornando amigo de Haru. Parecia que o destino lhe punia, obrigando-o aceitar uma parte de Shino. Não chegava ao ponto de odiá-lo, embora também não morresse de simpatia por ele. Shino era o homem das maiores lembranças de Tsuhime, foi com ele que ela desejou um futuro, e Kakashi não passava de um invasor.

Uma fissura entre aquele sonho.

Diminuir-se daquela forma não ajudava a lidar com o turbilhão de confusão e dúvidas, que arrastavam seu raciocínio como uma onda furiosa. Ele precisava se manter equilibrado, pois querendo ou não a conversa com Tsuhime ainda não acabara, pelo contrário. Por hora manter distância dela deveria ser suficiente. Ambos necessitavam de espaço para respirar, desafogarem-se.

Os primeiros raios de sol surgiram, dando as boas vindas a um novo dia. Contudo Kakashi não se moveu. Ele detinha o direito de permanecer pensando, ignorando o mundo lá fora e importando-se com seus sentimentos. Devia-se isso, apesar de tudo.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ter lido, espero que tenha gostado.
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