Harukaze escrita por With


Capítulo 39
Capítulo 39


Notas iniciais do capítulo

Bom dia!
Postando na terça porque ontem foi muito ocorrido e não consegui.
Boa leitura!



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Harukaze

Capítulo 39

Mil garças minúsculas, por causa do seu desejo elas não me deixam em paz

Sem retornar o seu sorriso, eu conto as lembranças com meu suspiro até o último momento (aparecer)

Eu ouço sua voz no amanhecer quando tudo será nada

O homem possuía cabelos espetados e alaranjados, os olhos eram de uma ondulação estranha, algo que Haru nunca vira antes. E mesmo que a imagem dele lhe despertasse medo, o jovem Yatsuki refreou suas emoções até que conseguisse deixar de tremer. A situação entrou em um ritmo acelerado, e incrivelmente ele era capaz de acompanhar tudo com os seus olhos. Já havia reparado tal habilidade quando treinava com Kakashi no jardim de casa, porém aquilo não era simulação. Konoha estava sendo atacada e como cidadão deveria protegê-la como todos os outros.

Distanciara-se de Tsuhime, encontrando-se só a frente do intruso. A capa negra com desenhos de nuvens vermelhas balançava com o vento empoeirado, dando a Haru uma sensação ora superior, ora extremamente confortável. O semblante do intruso era calmo, não lhe expiava nenhum sentimento vindo dele.

— Oh... Vejo que ainda existem mais Uchihas. — Ele pronunciou, sua voz grave e pautável. — Devo eliminá-los também.

Haru deu um passo para trás, ao mesmo tempo em que apalpava os bolsos atrás de algum instrumento ninja. Como a mãe não gostava que ele andasse carregando tais objetos, ele gastara o último no inimigo de antes. Mamãe! Ele se lembrou, procurando-a com os olhos. Ao longe, entre a nuvem de poeira, ele apenas visualizava as sombras. Mencionou abandonar o inimigo, entretanto algo o mantinha no lugar.

— Você acha mesmo que irá escapar de mim? — O intruso caminhava lentamente em direção ao menino. — Não precisa se preocupar, logo vai se juntar a sua mãe.

— Quem é você? — Haru usou todo o seu controle para perguntar, conseguir informações seria crucial agora.

— Sou aquele que criará um novo mundo através da dor. — Da manga comprida da vestimenta, uma barra de ferro escorregou. E aquilo fez o coração de Haru disparar. — O mundo precisa conhecer a dor se quiser encontrar a paz. Esqueça, é inútil utilizar seu Sharingan.

Então, ele havia percebido suas tentativas. Do que adiantava ter uma herança se outras poderiam neutralizá-las? Sentia o ar esvaindo aos poucos de seus pulmões, causando-lhe uma dor invisível. Haru não se encontrava chateado por não ter protegido a mãe, e sim por não ter mais meios. Aquele homem sabia muito sobre eles, contudo sempre soube que era inteligente para formular alguma estratégia. Muitos anos de amizade com Hideki poderiam ser úteis.

No entanto, parecia que ninguém gostaria de vê-lo em ação. Ao piscar os olhos, viu vários shinobis cercando o inimigo e ele sentiu que eles não seriam suficientes. Teve vontade de gritar para que eles fossem embora, se alguém não tivesse o pegado no colo e o arrastado para longe. Haru vislumbrou apenas um borrão escuro, aquela presença era extremamente nova e, embora não distinguisse amigo de inimigo, a sensação acolhedora que se apossava dele foi o bastante para fazê-lo se agarrar ao casaco de seu salvador.

— Está machucado? — A voz perguntou e Haru negou com a cabeça. — Ótimo. Vou levá-lo para o abrigo.

— Mas eu não posso deixar a minha mãe. — Erguendo o rosto, o menino deparou-se com um homem de pele alva, roupas pesadas e óculos escuros bloqueando-lhe os olhos. Onde vira imagem semelhante?

— Tsuhime está bem, não se preocupe. — Eles adentraram os becos dos escombros, ocultando o máximo suas presenças.

— Que bom... — Haru suspirou aliviado. — Você... Você é o pai de Saga, não é? Aburame Shino. Foi você que ajudou minha mãe?

— Sim. — Shino saltou a montanha de rostos de pedra, sentindo que o menino agarrou-se fortemente a ele.

— E o meu pai?

— Lutando. — Com cuidado, Shino seguiu pelo caminho que foi ordenado para abrigar os civis e crianças, mesmo àquelas que poderiam lutar.

O caminho era iluminado apenas por velas, cujas estavam quase se findando. As paredes rachadas mostravam que a estrutura ainda aguentava outros ataques, desde que não a estremecesse demais. Ali era uma fortaleza, o segundo local mais seguro para a população civil durante um ataque. E o espaço lhe causava grande nostalgia.

Shino nunca imaginou que voltaria a proteger Tsuhime algum dia ou alguém diretamente ligado a ela. A mente povoada por lembranças, repletas de carinho. Seis anos se passou e ele ainda continuava perdidamente apaixonado por ela, embora soubesse que seus sentimentos já não eram retribuídos. Talvez, ele cogitou várias vezes, sua vida pudesse ter alguma cor se tivesse a aceitado.

Ambos haviam seguido caminhos diferentes, casaram-se com pessoas diferentes, constituíram família e enterraram o passado, contudo a ressonância daqueles tempos ainda estava presente em sua mente. Evidente que era realizado por ter dois filhos, o destino foi bastante generoso enviando-lhe uma mulher amorosa e gentil, porém quando dizia que a amava as emoções lhe faltavam. Havia se tornado um homem de fases e aparências, e mesmo que não fosse de seu feitio se arrepender, ele sabia que as consequências seriam dolorosas.

— Obrigado por proteger a minha mãe. — Haru quebrou o silêncio, ainda abraçado a Shino. — Eu não sei onde meu pai está, fiquei preocupado. Ela já não pode mais usar o chakra, eu deveria ter ficado com ela.

— Apenas pense que sua mãe está bem, isso deveria ser o bastante. — Shino passou por um chunnin e aproximou-se de uma porta, abrindo-a instantaneamente.

Assim que conseguiu enxergar o interior, Haru procurou avidamente por Tsuhime. Uma movimentação ao canto prendeu-lhe a atenção e ele viu que uma mulher amparava alguém. Um nó formou-se em sua garganta, porém Shino o levou a outra extensão do abrigo. A iluminação ali também queria se extinguir, e mesmo que não houvesse luz Haru sempre acharia aqueles olhos amarelados, brilhando na escuridão como um farol. Abriu um sorriso amplo quando sua mãe correu em sua direção, atraindo-lhe para os braços carinhosos.

— Estou tão feliz por ver você. — Ela beijou o rosto do filho, logo o colocando no chão e voltando-se para o homem que aguardava tudo pacientemente.

Ainda envolvida pela emoção, Tsuhime envolveu o pescoço de Shino com os braços, o corpo contraindo-se ao senti-lo tão perto. E mesmo assim, ela se ligava aos sinais: Seu coração estava em paz, alterado apenas pela felicidade de o pior não ter acontecido com seu filho. Shino era uma pessoa especial para ela, o primeiro que abrira seus horizontes, contudo surpreendeu-se ao constar que a euforia ainda pertencia a Kakashi.

— Obrigada por ter trazido meu filho. — Tsuhime sussurrou, sentindo a retribuição do gesto. Em outros anos ela teria desejado aquilo. O abraço era sincero, puro e inocente. — Tem notícias de Kakashi?

— Entrou em batalha e isso é tudo que sei. — O brilho preocupado que Shino viu refletido nos olhos amarelados causou-lhe desconforto. — Eu preciso ir agora.

— Claro, tome cuidado. — Ela sorriu, permitindo que o filho a puxasse pela mão e a levasse para longe.

(...)

— Você está sangrando. — Haru comentou com a mãe, colhendo o filete de sangue que escapava por entre os lábios de Tsuhime. — E parece ser interno. — Ele sabia, pois Iruka-sensei dera uma aula completa sobre ferimentos e primeiros socorros.

— Não, está tudo bem. — Ela sorriu, encostando-se a parede. — É apenas um corte. E você?

— Sem nenhum arranhão. — Haru sorriu altivo, rodando no lugar para mostrar a Tsuhime que ele fora demais.

— É mesmo? E como me explica esse esfolado aqui? — Tsuhime segurou o braço dele, evidenciando o ferimento. — Precisa tomar mais cuidado.

Haru sentou-se ao lado da mãe, bufando decepcionado. Era a mesma coisa quando treinava com Kakashi, ele sempre acabava adquirindo alguma marca ou outra. Quando será que começaria a evoluir? Ele possuía uma herança sanguínea incrível e não estava nem a altura para dominá-la.

— Haru, eu preciso que fique aqui, tudo bem? — Tsuhime disse, levantando-se. O gosto de sangue dominando o seu paladar.

— Não, você não vai sair! — Haru colocou-se diante da mãe, abrindo os braços e barrando a passagem. — Eu não quero perder você!

— Vai ficar tudo bem, amor. — Tsuhime sorriu confiante, embora seu corpo tremesse. Ela observou por cima dos ombros do filho e encontrou quem buscava. Segurou a mão do filho e caminhou com ele até Mita, que tentava acalmar o bebê assustado. — Aburame-san, por favor, pode tomar conta de Haru para mim?

— Claro, mas aonde você vai? — Mita inspecionou-a com os olhos dourados e brilhantes, duas luminárias naquele lugar precário de luz. — Estamos em guerra, civis devem ficar aqui.

— Meu marido está lá fora, preciso ter notícias.

— É imprudência de sua parte! — Mita exclamou, tentando fazer a jovem mudar de ideia. — Se for até lá irá preocupar sua família.

— Não posso ficar aqui sem fazer nada. — Mesmo sabendo que não tinha mais chakra, ela queria se livrar daquela sensação de inutilidade. — Haru, você promete que vai ficar aqui? A mamãe precisa saber.

Haru fez uma cara feia diante a teimosia da mãe. Ele também estava preocupado com Kakashi, mas entendia que não tinha força suficiente para enfrentar um adversário muito menos Tsuhime, devido as suas condições atuais. Como um bom filho ele não podia deixá-la ir.

— Foi muita sorte o tio ter encontrado você. Eu fiquei preocupado.

— Eu sei, amor... — Tsuhime abaixou-se na altura dele, afagando-lhe os cabelos. — A mamãe promete que voltará logo, certo?

E com a concordância do menino ela saiu do abrigo. O caminho era escuro, e ouvia vozes entre os corredores. Teria que ter o máximo de cuidado para que os guardas não a vissem. Aquela situação lhe trouxe lembranças e ela quase sorriu ao recordá-las. Ela era boa em fugir e se esconder, então passar silenciosa fora divertido.

A guerra em Konoha havia arrastado tudo. Casas, comércios e civis jaziam destruídos no chão e a cena era um caos. Tsuhime nunca vira tanto sangue em toda sua vida. Ajudou uma menina que ficou presa entre os escombros, logo em seguida se pôs em busca de Kakashi. A poeira que a destruição causara não lhe deixava ver nada a sua frente por isso sentiu o sangue gelar ao esbarrar ao algo sólido.

E seus piores medos se materializaram. Ela ficou cara a cara com uma menina que não deveria ter mais do que treze anos, cabelos longos e alaranjados e trajava o manto da Akatsuki. Então eles realmente existiam. Desejou saber mais sobre eles, talvez assim ela não estivesse tão perdida. Muitas vezes discutiu com Kabuto sobre a organização e sempre teve vontade de acompanhá-lo nas visitas, porém o médico alegara que ela iria apenas atrapalhar. Por isso, seus membros e suas habilidades lhe eram um completo mistério.

Os olhos liláses e de ondulações a encaravam, contudo nunca se firmavam em um único ponto. Era como se ela pudesse olhar para todos os lados e ainda assim conseguiria facilmente atacá-la. Tsuhime levou a mão às costas e tirou de dentre as roupas e kunai que havia roubado do filho quando o abraçou. Embora não possuísse chakra isso não queria dizer que suas técnicas de luta eram um fardo. Aprendera a lutar e se defender, mesmo sem ter qualquer Kekkei Genkai. Com certeza conseguiria aguentar até que alguém chegasse. Se chegar, ela disse em pensamentos.

— Quem é você? — Ela perguntou, armando-se em posição. A kunai na frente do rosto à espera de qualquer movimentação.

E ela veio. Sem lhe responder, a menina apenas realizou selos de mãos, cujos Tsuhime reconhecia e muito bem, pois Kakashi constantemente os realizava quando queria chamar Pakkun.

Kuchiyose no Jutsu!

A nuvem de fumaça cobriu a visão de Tsuhime e ela deu um passo para trás, até que algo alçou voo para os céus. Após a técnica de invocação se dissipar, Tsuhime ergueu os olhos, vendo um pássaro grande em tons de verde e amarelo e possuindo os mesmos olhos de sua dona. Entretanto, para sua surpresa ele descarregava bombas em cada canto da vila, acertando qualquer coisa abaixo de si. E seu coração acelerou como nunca. Um soco por pouco não a acertou, ela precisou ser rápida para se desviar e tentar contra-atacar, mas os olhos de seu inimigo eram realmente muito bons.

Bloqueou um golpe com a kunai, mas não por muito tempo. Logo um chute a acertou no peito e a lançou a alguns metros, desconcertada. Sangue escorria do canto de seus lábios e Tsuhime afastou pedaços de concreto que caíram sobre ela e se levantou, o que lhe rendeu uma boa dor na perna. Parando para analisar, mesmo vendo que sua adversária caminhava em sua direção com uma barra de ferro em mãos, ela não pôde deixar passar que estava ferida. Um vergalhão se infiltrara em sua perna, mas pelos seus conhecimentos não era nada grave. Arrancou-o dali, gemendo.

O segundo golpe veio certeiro e Tsuhime pulou sobre o corpo da menina, deixando-a presa na parede. Mas não por muito tempo. Logo ela já corria em sua direção, pronta para acertar qualquer ponto que a fizesse parar de respirar. E dar a ela esse luxo era algo fora de questão, afinal prometera a Haru que voltaria. O que ele faria se soubesse que não havia cumprido com a promessa? Pensar nisso agora não estava ajudando, então se concentrou em desviar das tentativas de ataque da menina. Contudo ela sabia que não poderia apenas desviar para sempre.

Não teria a menor chance contra uma menina que aparentava ter nascido com um dom e tanto enquanto ela não possuía sequer um resquício de chakra. A maldição levara tudo, entretanto ela não tinha tempo para se lamentar. Ergueu um chute, que teria acertado o rosto da menina se ela não tivesse a jogado para longe com uma rajada de ar invisível. O ar faltou nos pulmões de Tsuhime, porém levantou-se rápido e armou posição.

Tentou extrair qualquer chakra de seu corpo, apenas o suficiente para poder usar o Sarcófago Espelhado ou o Esmagamento de Gelo, mas suas linhas não responderam. Estacionadas e silenciosas, eram assim que elas estavam sendo desde que libertara o Selo por culpa de Kabuto. E isso tinha apenas um ano. Talvez seu Jutsu não surtisse efeito contra a menina, mas que mal havia em tentar? Então, para sua surpresa, a menina invocou mais um monstro, agora um cachorro de duas cabeças de pelagem negra e olhos ondulados.

“Vou morrer”, ela pensou consigo. As mãos trêmulas assim como as pernas, porém era como se a sorte estivesse do seu lado. Dois grupos da ANBU chegaram acompanhados de Morino Ibiki e ela não se fez de rogada ao respirar aliviada. Imediatamente eles assumiram posição e Ibiki a repreendeu com o olhar. Fato que todos os ninjas sabiam suas condições e não estavam felizes em vê-la fora do abrigo, mesmo assim ela sorriu para ele em agradecimento. Guardou a kunai e se retirou antes que fosse tarde demais.

O pássaro ainda descarregava bombas por Konoha, porém de repente ele se foi em uma nuvem de fumaça. Alguma coisa havia acontecido com sua invocadora, disso Tsuhime tinha certeza. Agora ela só precisava encontrar Kakashi e se certificar de que ele estava bem. Embrenhou-se pelas ruas destruídas, vendo casas e pessoas devastadas pela guerra. Nunca Tsuhime tinha visto tanta destruição densa, mas não se rendeu. Ela tinha objetivos a cumprir e precisava tomar cuidado para não enfrentar nenhum inimigo novamente. Algo lhe dizia que não teria a mesma sorte.

Passou por pilhas de comércios até alcançar o centro, onde a situação não era diferente. Na verdade era muito pior comparada as outras áreas de Konoha. Tsuhime levou um tempo assimilando tudo aquilo, seus olhos marejando ao se lembrar que esse, na maioria dos casos, era trabalho de seu pai. Lembrou-se imediatamente de Taki, a forma como eles foram atacados. Seu sangue ferveu. Ela preparou-se para continuar a buscar por Kakashi, porém seu corpo trombou com alguém, o que fez todos seus membros fraquejarem.

“Que não seja um inimigo” ela implorou, lentamente começando a reconhecer as roupas pesadas e a altura do homem. Aburame Shino a encarou surpreso e irritado, achando-a louca por estar ali.

— Não era para estar aqui. — Ele rosnou, mas em nada abalou o semblante dela. — Estamos em guerra.

— Kakashi... Onde ele está?

E como incomodava o Aburame vê-la preocupada com outro homem.

— Não sei, a guerra avançou e muitos se distanciaram. — Ele respondeu seco, os olhos fixos na mulher a sua frente. — Tsuhime, volte para o abrigo.

— Não! Eu já fugi muitas vezes e me recuso a fazer de novo! — Havia lágrimas nos olhos dela. Porém ele não escutou, apenas a tomou nos braços e dirigiu-se para o lugar mais seguro que encontrasse. — Ei, me coloque no chão!

— Vai chamar a atenção dos inimigos desse jeito. — Shino a repreendeu, espremendo-se com ela em um beco escuro. — Imprudente, será que você não mudou nada?

— Pelo visto você se transformou em outro homem. — Tsuhime se afastou dele, irritada. — Não precisa se preocupar comigo, faça o que tem que fazer.

— Infelizmente eu preciso.

— Por quê?

— Porque você é uma civil. — Ele confessou categórico, calando a euforia da jovem. — Seu filho me contou sem querer.

— Não faz mal... — Ela subiu uma pequena escada, os olhos inspecionando o lugar a procura de alguém conhecido. Entretanto só havia o caos da guerra. — Nosso inimigo... É a Akatsuki? O que querem aqui?

— Isso não é assunto para você. — Shino a fez descer. — Para de denunciar nossa posição.

— Eu gostava mais de você quando era um adolescente. — Ela resmungou, porém Shino ouvira perfeitamente. — O que quê...?

O barulho de algo se quebrando a alarmou, logo o beco fora destruído com um poder espantoso. Protegeu-se como podia, sendo lançada a alguns metros. Seu corpo reclamou e Tsuhime apenas conseguia se fixar na imagem do homem a sua frente. Era o mesmo que a sufocara momentos atrás, e ele era assustador com os braços e parte do crânio abertos. Entretanto no lugar de ossos, pareciam metais.

— Bombas! — Ela empurrou Shino, saindo da mira dos minis canhões. A roupa preta de nuvens vermelhas era um tabu que não se permitia falar, aprendera com o pai que aquela organização perigosa não era para ser atraída. Quando se acostumou, Tsuhime percebeu que se lançou com Shino em um barranco, criado por um poder destrutivo poderoso. Levantou-se devagar, vendo-se por cima do Aburame. — Tudo bem?

— Pare de nos arriscar assim. — Shino ralhou, sem qualquer intenção de se distanciar. — Vamos acabar morrendo.

Tsuhime teve ímpetos de rebater, entretanto ela perdeu a fala quando seus olhos se fixaram na imagem além deles: Vários shinobis os cercavam, e seu coração saltou, falhando na tentativa de não denunciar a situação a Shino. “Acho que vou mesmo matar nos dois”, Tsuhime conversou consigo não ousando sequer o mínimo movimento.

— Droga... — Shino disse entre os dentes, tentando não se alarmar caso contrário seria como se gritasse “fogo!”.

Em menos tempo do que puderam contar, uma explosão os assustou e Tsuhime protegeu a cabeça. As pedras soltas voaram em sua direção, porém não a acertaram devido à mudança de posição que Shino assumira. Ele ficara por cima dela e recebeu o impacto, a visão turva e a as imagens rodando a sua frente. Ele tinha que dar um jeito de sair dali antes que acabassem mortos.

— Está sangrando. — A voz preocupada de Tsuhime o trouxe a realidade, juntamente com o toque hesitante no ferimento em sua cabeça. Estava mais do que feliz por não ter deixado que aquilo acontecesse com ela, não se perdoaria. — Me desculpe.

— Não é nada. — E apesar da situação era evidente que Shino não queria se afastar daquele contato. Evitando olhar ao redor, ele passou os braços por baixo do corpo de Tsuhime e em uma velocidade incrível fugiram da confusão, o que não queria dizer que estavam seguros.

Ainda tonto, o Aburame analisava cada caminho a procura de algum lugar onde pudesse deixar Tsuhime. Ela estava lhe dando mais trabalho do que os inimigos. Por fim, uma caverna lhe pareceu extremamente protetora. Colocou-a com cuidado no chão arenoso, não tinha jeito... Ele sempre zelaria por ela, Tsuhime viria em primeiro seja qual fosse à posição que estivesse.

— Me deixe cuidar disso. — Ela retirou o hitaiate dele e rasgou a blusa, o suficiente para que pudesse vedar o ferimento. — Não me olhe assim, sabe que sou instável.

Conformado Shino apenas respirou, aliviado. Aquela sem dúvidas ainda era a mulher por quem ele havia se apaixonado. O toque dela era cauteloso, retirando o sangue de seu rosto. Se ela ao menos pudesse sintetizar uma parcela que fosse de chakra poderia curá-lo. Talvez ela não devesse ter saído do abrigo, contudo não poderia se lamentar agora. Ao final do trabalho, amarrou o pedaço de pano rosado ao redor da cabeça de Shino, reforçando o curativo com o hitaiate.

— Acho que deve resolver. Pelo menos você não está sangrando mais. — Ela disse satisfeita, observando a reação dele um tanto surpresa. Shino encontrava-se mais perto do que ela gostaria e a confirmação fez seu coração e respiração falhar. — O que está fazendo? — Interrogou ao sentir o calor da mão dele repousar em sua cintura.

A resposta veio com um selar de lábios, breve e dominante. E aquilo não deveria ter causado nela um tremor agradável. Agia e respondia de maneira errada, a culpa logo crescendo dentro dela. Firme, Tsuhime o afastou o bastante até que estabelecesse uma distância apropriada. Ela era uma mulher casada e Shino igualmente, então por que apenas ela tinha ciência disso?

— Você...!

— Não vou me desculpar por isso. — Shino foi categórico, os olhos bloqueados pelas lentes escuras vidrados na expressão de Tsuhime. — Por quê? Porque eu não estou arrependido. Eu...

— Não quero ouvir! — Ela se sobressaltou, percebendo a gravidade da situação. Ele quase se confessara e ela não queria mais ouvir tais palavras vindas de outra pessoa se não de seu marido. — Chega de me proteger, eu vou cuidar de mim.

— Vai morrer se sair. — Ele alertou ao vê-la caminhar para a saída. Entretanto, Tsuhime não lhe dera ouvidos e foi engolida pelo cenário calmo do ambiente, dirigindo-se para a guerra. E por alguém que não era ele.

Foi incapaz de deixá-la ir sozinha e grudou-se ao encalço dela. Tsuhime se movia rápida e Shino foi ágil ao segurá-la pelo pulso e puxá-la de encontro a si, apenas para ver raiva estampada nos olhos amarelos. Por um breve instante ele hesitou, incapaz de confirmar o que sua mente alertava aos gritos: Que Tsuhime não sentia mais nada por ele. Entretanto, aquele beijo... Ela o retribuíra, embora tivesse sido apenas por segundos.

— Me solte, Shino! — Ela o empurrou, porém os dedos dele ainda se fechavam em seu pulso. Não havia força e sim um pedido mudo para que ela ficasse. Se tivesse sido há seis anos, Tsuhime teria acatado aquele pedido com muito prazer. Mas agora as coisas eram diferentes. Ela amava Kakashi e jamais brincaria com os sentimentos dele. Aliás, de ninguém.

Contudo, o Aburame permaneceu com os olhos fixos nela, gravando cada detalhe de Tsuhime e se lembrando de como havia se rendido ao amor dela, do quanto se arrependia todas as noites por não ter lutado contra um destino incerto. Claro que amava seus filhos, mas toda vez que olhava para Mita desejava que fosse Tsuhime. E ele jamais havia amado uma mulher daquele jeito. Uma história que começou na juventude e que não existia a menor possibilidade de reaver. Entendendo isso ele a soltou, porém Tsuhime permaneceu ali, de frente para ele, analisando suas feições.

E nesse momento que tudo mudou. Uma grande explosão abalou o chão e Tsuhime, que acabara de sair do coma e exigira mais do que seu corpo podia lhe dar, fraquejou. Mesmo assim ela tentou ver o que acontecia e a nuvem de fumaça foi se condensando no ar, mostrando uma imagem pequena muitos metros acima do chão. Pela forma os braços estavam abertos, como se estivessem prontos para abraçar a humanidade. Uma rajada de vento empurrou seus cabelos para trás e algo lhe cortou o rosto.

Mais destruição em massa e ela só conseguia pensar se Kakashi estava bem. Era uma droga não conseguir sentir chakra. Espera... Sua mente deu um estalo, maquinando planos que talvez pudessem dar certo. Tudo que ela precisava para reproduzir chakra era de outra pessoa e ela o tinha. Encarou Shino, as lentes escuras retratando a imagem da guerra. Ela sabia que era errado, mas aquela parte de seu ser sempre iria fazê-la se trair.

— Não tenho escolha... — Ela sussurrou apenas para si mesma e se lançou contra Shino, buscando os lábios dele. Por favor, funcione! Ela rogou antes de fechar os olhos e esquecer os barulhos ao redor.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ter lido, espero que tenha gostado.
O capítulo saiu bem grandinho, mas não tinha como quebrar o que eu tinha preparado.
Deixe sua opinião, crítica construtiva, sugestões, dúvidas... Receberei com muito carinho.
Beijos!



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