Harukaze escrita por With
Notas iniciais do capítulo
Boa leitura!
Harukaze
Capítulo 16
O que estão aqui são as respostas das escolhas que você fez
Aqui, está tudo bem enquanto você tiver confiança de seguir em frente
E o arco-íris vai esticar-se sobre o asfalto
Naturalmente como no fim da chuva
Sua vida tomava um caminho que Tsuhime nunca imaginou que um dia estaria, embora seus sentimentos estivessem completamente destruídos. Possuía um emprego, o que ela não sabia se poderia considerá-lo assim, e trabalharia suprindo o que ela mais gostava. Com certeza, tinha muito que agradecer a Tsunade por tudo que vinha fazendo por ela. Entretanto devia um pouco de crédito a si, mesmo que não fizesse o menor sentido.
Porém, algo dentro dela a fazia ficar inquieta. Um sentimento ruim crescia dentro dela, como se alertasse que alguma coisa estava prestes a acontecer. Inconscientemente pegou-se olhando fixamente para a caixa de madeira, era como se o objeto a instruísse a ir visitar Taki. Levou a mão ao local que se alojava o coração em uma tentativa falha de conter aquele sentimento. Você está bem, não é mesmo, Taki?
Como na outra vez, não tomou café da manhã e dirigiu-se de imediato ao hospital, mais precisamente ao laboratório. Os pensamentos conturbados a impediam de prestar atenção no que os técnicos falavam, levando-a a repetir as perguntas irritantemente. E, em um dado momento, Tsuhime abandonou o que estava fazendo e desligou-se de sua equipe, alegando não se sentir bem. Ótimo, logo no primeiro dia... Lamentou-se consigo.
Se havia algo que não mudara ao longo dos anos fora suas premonições. Ela sentia o perigo tanto dela quanto das pessoas que a rodeavam, então aquilo não poderia ser um bom sinal. Andava apressada pelas ruas de Konoha, forçando seus pés a levarem o mais rápido que conseguiam até a Hokage. Agora, como cidadã de Konoha, não poderia ir e vir quando bem entendesse.
— Tsunade-hime! — Ela abriu a porta angustiada, os olhos captando uma mulher de curtos cabelos negros e com um porquinho nos braços ao lado da Hokage. Entretanto, esquecera-se de toda a formalidade. — Por favor, permita-me que eu vá a uma vila nos arredores de Konoha. É muito importante!
— O quê? — Tsunade não estava compreendendo. — Explique devagar.
— E estou com um pressentimento ruim. Temo que tenha acontecido alguma coisa a Taki. — Os olhos suplicantes eram o bastante para revelar a Tsunade seu desespero. — Por favor...
A Hokage não fazia à mínima ideia de quem era Taki, entretanto, se perguntasse Tsuhime não lhe detalharia. Disse algo a Shizune e esta saiu da sala para cumprir com suas ordens.
— Tudo bem, mas você não irá sozinha. — Pela sua expressão, a mulher loira recusava qualquer objeção. — Mandei Shizune chamar alguém para acompanhá-la, caso algo aconteça.
— Obrigada.
Os dez minutos que se passaram para Tsuhime pareceram milhares de horas. O tique-taque do relógio mostrava a ela quanto tempo perdia por esperar quem quer que fosse acompanhá-la. Seja rápido! Ela implorou em pensamentos, andado de um lado para o outro na sala. O que, consequentemente, causava um estado de alerta a Hokage que a seguia com os olhos. Seja o que for que Tsuhime sentia, começava a afetá-la também.
— Mandou me chamar, Hokage-sama? — Kakashi apareceu na porta com sua costumeira expressão entediada. Porém, Tsuhime não permitiu que Tsunade a fizesse permanecer ali muito mais tempo. Segurou o ninja copiador pela mão e saiu arrastando-o para fora da sala. — Oe, por que a pressa?
— Você vai me acompanhar até aquela vila que lhe falei antes, lembra-se? — Tsuhime foi breve, ainda segurando-o pela mão. — Tenho um mau pressentimento, então, por favor, mais rápido.
Quando Kakashi percebeu havia guardado o livro em sua bolsa ninja e corria no mesmo ritmo acelerado que a jovem mulher, um pouco mais atrás. Ela não lhe dera detalhes do que estava sentindo ou acontecendo, pelo contrário, o silêncio e preocupação nos olhos foram a única coisa que ela lhe presenteava como resposta. Os cabelos dela eram açoitados pelo vento e Kakashi teve que se manter ao lado de Tsuhime para que os fios não o atrapalhassem.
Já haviam se afastado bastante da vila, o que indicava que deveriam estar se aproximando da tal vila que Tsuhime desejava desesperadamente alcançar. E quando mais encurtavam a distância mais Tsuhime sentia o peito apertar de aflição.
— Pode me dizer por que estamos correndo tanto? — Kakashi desejou saber, olhando diretamente para ela. Visualizou o rosto coberto de lágrimas. — Eu não sei o que está te machucando desse jeito, mas vai ficar tudo bem.
— Não vai, não enquanto esse sentimento não passar. — Ela limpou as lágrimas com as costas da mão. — Eu não deveria ter saído da vila. Não deveria ter deixado Taki sozinho com a mãe doente. Se tiver acontecido o pior, eu vou me culpar pelo resto da minha vida.
A entrada da vila os esperava, e quando colocaram os pés no solo de terra, os olhos de Tsuhime transbordaram mais lágrimas. Tudo havia sido queimado. As casas, as plantações, o comércio... E o mais estranho era que não encontraram nenhum morador durante a curta busca que Kakashi e Tsuhime fizeram.
— Taki! — Ela gritou o mais forte que seus pulmões permitiam. — Taki, sou eu, a Hime. Vamos, apareça! — Levantou alguns escombros, jogando-os para o outro lado. — Não faça isso comigo, pequeno.
Kakashi não sabia a quem procurar, então apenas seguia a garota atento ao que ela dizia. Todavia, a nitidez com que ela se entregava as emoções, ele pensou, na certa a prejudicaria em alguma missão real. E, de repente, ele desejou curar aquela tristeza. Não condizia com a mulher que ele conhecera há dois dias.
— Ele não pode ter sumido... — Ela dizia, esmagando as cinzas debaixo dos pés. — Para onde ele iria?
Enquanto se juntava a ela, Kakashi tropeçou em algo maciço. Redirecionou os olhos para os pés, e havia um par de olhos grandes fitando-o com vazio. Sem brilho, sem vida.
— Acho que ele não chegou a sair daqui, Tsuhime. — O ninja copiador receou as palavras, não queria ser ele a decepcioná-la.
— O que quer dizer? — E no momento em que ela seguiu os olhos de Kakashi, seu corpo fraquejou. Afastou-se muitos passos, como se não acreditasse que aquela pessoa quase irreconhecível fosse o garoto doce que conhecera. — Não... Não pode ser... Impossível...
— Ei, ei, olhe para mim. — Kakashi tapou o campo de visão de Tsuhime, impedindo que ela visse Taki. Segurou-lhe o rosto com mãos enluvadas, e fixou os olhos nos dela, atraindo-lhe a atenção. — Melhor irmos embora, não acha?
— Sim, sim, tem razão. Desculpe-me, Kakashi. — Tsuhime pediu constrangida, as bochechas coradas. Ela só não sabia se era por causa do choro ou pelo contato repentino e próximo do ninja copiador. — Você gastou o seu tempo para nada e eu atrapalhei todos do laboratório. Mas quando eu tenho esses pressentimentos, não consigo me controlar. É como se o perigo me atraísse. Eu não consigo definir bem.
— Não se preocupe com isso agora. — Kakashi afastou-se, estranhando sua impetuosidade. — Gostaria de dar a Taki um funeral?
— Sim, eu acho que ele gostaria bastante. — Tsuhime tentou sorrir, o que lhe resultou em uma careta. — Pode me ajudar?
(...)
Adentraram Konoha, ambos cansados. Tsuhime carregava o semblante condoído e Kakashi não havia muitas diferenças a ressaltar. Perder Taki fora um impacto, e nesses dias o que não faltava eram provas que a vida colocava em seu caminho cada vez que pensava que sua sorte iria mudar. Contudo, quem teria sido o responsável pelo massacre daquela vila que nada tinha de valor? Mercenários ou alguém que sabia de seu paradeiro desde sempre e tentava atingi-la? Conseguiu, com êxito.
Despediu-se de Kakashi, desculpando-se e agradecendo tudo que ele fez por ela. Ele a convidou para uma conversa mais tarde, entretanto, Tsuhime prometera que em outra ocasião ela aceitaria com prazer. Regressando ao laboratório, o que já passava da hora do almoço, a Yatsuki redimiu-se com a equipe oferecendo-se para continuar com o trabalho depois do horário. Não era muito, porém tudo que ela podia fazer no momento.
Vestiu o jaleco e sentou-se em sua mesa, concentrada no que teria que fazer a partir de agora. Avaliou as receitas e seguiu-as, compenetrada. As doses do que se exigia não poderia passar um milímetro sequer e Tsuhime media tudo com extremo cuidado. Já bastava o erro de antes, não queria cometer outros. Que imagem ela daria se continuasse agindo por impulsos? Você tem vinte anos, Tsuhime, e vive no mundo shinobi. Perder pessoas é inevitável. Entretanto, Taki realmente fora importante em sua formação pessoal. Ele a presenteava com doçura, oferecia o que ele tinha de melhor: Seu carinho. Eu sinto tanto, Taki, tanto... Desculpe-me por ter deixado você sozinho.
— Pelo visto, não foi uma posição adequada ter ido até lá. — A voz da Hogake soou pelo laboratório, fazendo Tsuhime parar o trabalho. — Kakashi me contou.
— Sim, não foi mesmo uma boa ideia. Por favor, da próxima vez me impeça, mesmo que eu implore. — Os olhos da jovem encheram-se de lágrimas novamente. — Você não sabe como foi horrível. Eu cresci na presença daquele garoto, ele era importante para mim. Ao menos fico feliz sabendo que ele deve estar em um mundo melhor.
— A morte é inevitável, Tsuhime-chan. Não temos como impedi-la, mesmo que a sintamos. É impossível. — Tsunade aproximou-se, colocando as mãos nos ombros da mulher mais nova em um gesto de conforto. — Não digo que irá se acostumar, mas irá sofrer menos. Estamos investigando o massacre.
— Obrigada pelas palavras. — Tsuhime sorriu, forçando os olhos a conter as lágrimas. — Estão quase prontos os remédios para aqueles em coma. Como não sabemos a forma que reagirão, diminuí a quantidade de componentes.
— Com quem aprendeu tudo isso? — Era uma curiosidade que Tsunade desejava sanar. Até o momento, ela teve muitas oportunidades de perguntar como foram os últimos quatro anos de Tsuhime, porém sempre que estava prestes a fazê-lo, desistia.
— É uma ironia, mas eu observava Kabuto e acabei por aprender. Não é algo extraordinário, pelo menos para alguma coisa ele me foi útil na vida. — Tsuhime riu mais composta, deixando-se levar por aqueles tempos. — Posso ensinar os técnicos, se a senhora quiser.
— Sim, seria ótimo. Forme sua equipe e divida com eles seu conhecimento, por favor. — Tsunade andou um pouco pelo espaço amplo, tocando alguns objetos que foram esquecidos nas mesas. — É muito bom vê-la bem, Tsuhime. Eu esperava por noticias suas, realmente me preocupei. Sei do que Orochimaru é capaz e...?
— Isso são águas passadas. Não me agrada relembrar aqueles anos, afinal, foram inconvenientes. — Tsuhime cortou a fala da mulher mais velha, assumindo um tom de voz mais sério. Levantou-se, carregando nas mãos a bandeja com os remédios que acabara de preparar. — Mas se quer saber, apesar de tudo o que sofri, eu não consigo odiá-lo.
— Refere-se a seu pai? — Tornava-se cada vez mais difícil compreender os diálogos de Tsuhime. De uma hora para outra ela mudava drasticamente, sem dá-la a chance de se acostumar.
— Sim. — Ela cobriu com um pano as medicações. — Talvez se eu tivesse crescido como uma criança normal, não seria quem sou hoje. Ele me ensinou muitas coisas, claro, à maneira dele. De alguma forma, sinto que ele gostava de mim. Estou conformada com meu passado.
Tsunade silenciou-se, observando em como as feições de Tsuhime adquiriam uma face mais tranquila e vívida. Tudo que ela dissera era verdade, podia-se confirmar. Em outros tempos, a Hokage não se sentiria aliviada por isso. Teria que apagar a imagem que tinha da jovem quando chegou a Konoha.
— Preciso que me ajude na obstetria. — Tsunade encerrou aquela conversa. Sorriu imediatamente ao ver que Tsuhime olhara para ela em um misto de incredulidade e impulso. — As enfermeiras que cuidavam da ala foram ajudar outras vilas e...?
— Quando começamos? — A jovem atropelou a frase da Hokage, eufórica. Nada a gratificaria mais do que aquele pedido.
— Não se alegre, é só por alguns dias. — Tsunade fez questão de dizer, mas as palavras não foram o suficiente para desanimar a jovem.
— Vou ser tão boa que você nem vai sentir a falta das suas enfermeiras! — E mesmo que a Hokage devesse guiá-la, Tsuhime se encontrava dois passos à frente.
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Beijos!