Apenas Uma Noite escrita por Bia


Capítulo 1
One-Shot




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Ela movia-se de um lado ao outro da cama contorcendo-se e gemendo, o lençol desarrumando e enroscando-se em seu corpo. Sua pele clara transpirando cada vez mais, fazendo com que alguns de seus fios sedosos, agora bagunçados devido ao movimento, ficassem molhados e presos em seu pescoço e rosto. Os pesadelos para Katniss, já não eram tão estranhos, pelo contrário, eles se tornaram rotina. Porém, eles a visitam com mais frequência do que habitual, e lhe proporcionam sonhos cada vez piores e mais terríveis.

Dentro de sua cabeça, a tortura apenas piorava. Ela já não gemia, agora berrava com toda a força de seus pulmões. Parou de mexer-se de um lado para o outro e passou a mover os braços e pernas freneticamente, não demorou muito para que acordasse com a própria voz.

Ao abrir os olhos, se deu conta de que não estava sozinha em seu aposento, havia um garoto loiro á poucos metros de sua cama. Estava correndo para o local onde ela se encontrava, mas interrompeu-se ao perceber que ela parara de gritar e estava consciente.

O garoto loiro, Peeta, com o cabelo cheio de fios rebeldes que não hesitaram em elevar-se. Provavelmente, Peeta também recebia a visita de pesadelos. Sua expressão, iluminada apenas pela luz da lua que entrava livremente no quarto por uma janela, uma mistura de preocupação, surpresa e alívio. Katniss não soube bem identificar a razão da expressão do garoto. Mas não perdeu muito tempo com isso, com a voz meio constrangida e baixa, falou:

– Tive um pesadelo – sussurrou.

– É. Eu também tenho. – Peeta respondeu um pouco indignado por ela não parecer ter dado a mínima pelo fato de que o acordou, mesmo que seus sonhos não eram nada bons, ainda assim não a culpava totalmente, afinal, como ele, ela também deveria estar sendo torturada durante a noite, recebendo a amarga visita dos pesadelos. Virou-se e caminhou em direção á porta, quando escutou Katniss sussurrar seu nome, ele olhou para ela em tempo de vê-la formular o pedido.

– Fica aqui comigo. – Peeta hesitou por um momento.

– Claro. – decidiu-se. Andou novamente em direção á ela e neste momento, Katniss afastou-se um pouco da borda de sua cama para que Peeta pudesse ocupar o espaço.

Ele deitou-se na cama e Katniss colocou os braços em volta de sua barriga enquanto ele pousava os braços delicadamente sob ela, abraçando-a. Ela aconchegou-se em seus braços e teve a leve impressão de Peeta ter falado algo. Algo como “sempre”, ela pensou. Mas resolveu não perguntar nada. Horas passaram-se e ela estava ali, nos braços dele, dormindo tranquilamente, Peeta fazia um tipo de carinho nela, afastando os fios molhados de suor do rosto, que agora, está sem a carranca que costuma ter quando está acordada. Mas por fim, acaba arriscando dormir um pouco, torcendo para que a proximidade de Katniss afaste seus pesadelos.

Estavam no meio da madrugada, deveria ser duas ou três horas quando Katniss, que estivera dormindo tranquilamente acordou. Não por pesadelos, mas porque, mesmo que isto houvesse acontecido na arena, em pleno Jogos Vorazes, ainda era estranho para ela dormir abraçando um cara, mesmo que o cara seja Peeta. Porém, agora possuía uma novidade: além de estar em uma confortável cama, sem qualquer tipo de dor física, nenhum dos dois precisava se preocupar em ficar acordado montando guarda.

Mas, a mente de Katniss discordava completamente disso. Para ela, eles não estão seguros, e nunca estarão. Pois agora, teriam de enfrentar uma ameaça ainda mais perigosa: a Capital. Ela tinha consciência de que eles jamais a deixarão em paz, até o dia de sua morte, que provavelmente estava sendo planejado, o que levava ela a acreditar que está próximo. Ela temia que a qualquer momento, eles aparecessem e a matassem, ou pior, matassem Peeta e todos os outros que ela ama, deixando-a viva, para conviver com isso.

De repente, ela pareceu se dar conta de seu último pensamento: “Peeta e todos os outros que ama”. Essa frase ecoava em sua mente. O que ela quis dizer ao pensar isso? Será que foi apenas uma peça pregada por seus próprios pensamentos? Ou que ela estava tão preocupada em deixar as pessoas que já amava vivos, que nem parou para pensar no que ela sente por Peeta? Não. Com certeza ela já parou para pensar no que sente por Peeta. Mas era tudo tão novo e confuso, que resolveu não perder muito tempo pensando nisso, afinal, ela teria de ficar com ele, independentemente que o ame ou não.

Mas agora, a opção de fazer isso pareceu melhor. Ela provavelmente é apaixonada pelo garoto do pão, mas com tantas coisas acontecendo, com a Capital mandando e controlando cada movimento e sentimento dela, ela acabou achando que sua paixão por Peeta, não passa de mais outra coisa planejada pela Capital. Considerou a possibilidade de pensar mais no assunto, e provavelmente ser mais feliz. Acabou decidindo que iria pensar no assunto assim que a turnê terminasse.

Com o estranhamento por estar dormindo com Peeta, acabou movendo a cabeça alguns centímetros para olhar seu rosto, e o movimento acabou despertando o lindo garoto que dormia, podendo ser comparado com um anjo. Ele a olhou com o par de olhos azuis por um momento antes de perguntar:

– Outro pesadelo? – Segurou-a nos braços com mais firmeza.

Ela balançou negativamente a cabeça para que ele soubesse que está tudo bem.

A firmeza dos braços de Peeta, a fez pensar o quanto deve ser doloroso para ele, podendo tratá-la como realmente gostaria apenas na frente das câmeras e em público, e mesmo assim, sabendo que ela apenas fingia ser recíproco. Como deve ser doloroso para ele, estar deitado ali com ela, apenas porque ela pediu, e saber que mesmo realizando qualquer desejo dela que estivesse ao seu alcance, mesmo demonstrando todo o seu amor, ela jamais sentiria o mesmo por ele. Mesmo ele tendo entregado seu coração com todo o cuidado e carinho, e ela, recebendo-o com indiferença e frieza.

Com esse pensamento fixo em sua mente, percebeu que o rosto de Peeta, apenas demonstrava ser indiferente, porque ele sabia, que se ela desconfiasse sobre a quantidade de dor que ele sentia, também ficaria magoada, ela se sentiria uma pessoa horrível. E ele não estava errado. A partir do momento que Katniss deu-se conta disso, sentiu como a pessoa mais diabólica e fria que já existira. Sentiu-se pior do que até mesmo a Capital, do que Snow.

Isso fez com que involuntariamente, lágrimas jorrassem de seus olhos cinzentos. Não costumava ser tão sentimental assim, mas depois dos Jogos, depois de toda a dor que sentiu e depois de toda a dor que deixou de sentir por causa de Peeta, ela se sentia eternamente responsável pela felicidade dele, ele a salvara, ele fez com que ela voltasse para casa, para Prim, para Gale, e sem pedir nada em troca. Estava tão preocupada em manter quem ama vivos, que esqueceu que Peeta também fazia parte dessas pessoas, esqueceu que deveria demonstrar que sentia o mesmo por ele, e não fazê-lo sofrer. Ouviu uma pequena voz em sua cabeça: “Seu jeito de demonstrar que o ama é bem estranho e não convincente. Por que ele é a única pessoa que você ama e trata dessa forma?”. Sentiu repugnância dessa voz, principalmente por saber que ela estava certa.

No momento que a primeira lágrima de muitas outras, caiu, o rosto de Peeta rapidamente tomou a expressão de preocupação:

– Katniss, o que houve? Está tudo bem? – Isso fez com que ela chorasse ainda mais, seu rosto ficando vermelho. Ele sempre demonstrava como a ama, e sempre tenta não demonstrar quando estão sozinhos. Ás vezes chegava a ser convincente, mas no fundo ela sabia os verdadeiros sentimentos dele. Isso a fez repensar, que não importasse quantas pessoas a Capital mata e manipula, ela agora, é bem pior que eles.

Sua vontade era de declarar-se para Peeta, fazê-lo entender que ela o ama de verdade. Mas a ideia pareceu cruel de mais, pois depois de todo esse tempo, depois de torturá-lo, que ela contava isso a ele? Depois de toda a indiferença que demonstrou, depois de tudo, ela falasse isso, na expectativa de que ele a perdoasse. Ela sabia que ele iria perdoa-la, mas porque a ama de verdade, porque a deseja. Mas principalmente, porque ele sabia que isso a tornaria mais feliz, e nesses últimos tempos, ele fazia qualquer coisa que desconfiasse que a fizesse feliz.

Ela sentou-se na cama com as mãos no rosto, ainda chorando. Peeta sentou-se ao lado dela e a abraçou. Ela desvencilhou-se de seus braços e continuou chorando, ele a olhava com tristeza e culpa, imaginando o que teria feito para ela chorar dessa maneira, que afinal, o pegou de surpresa, já que nunca tinha a visto chorar, muito menos dessa forma. Ele hesitou por um momento, pensando que foi algo que teria feito, mas depois considerou a possibilidade de que poderia ter sido um sonho muito ruim ou um sonho bom até que acordou e se deu conta da realidade. Ou se deu conta de que estava com ele e se arrependeu de ter pedido para que ele ficasse ali com ela.

– Tudo bem. – disse ele gentilmente – Eu posso sair, se você quiser.

Katniss o olhou como se ele tivesse dito que estava tendo um caso com Effie, porém seus olhos inchados faziam com que ele demorasse a ler sua expressão, por fim, concluiu que ela deveria estar grata por ele ter compreendido o que ela queria sem precisar explicar e o olhasse com a expressão de esperança e perspectiva. Ele moveu-se e colocou os pés para fora da cama, muito triste e pesaroso, mas como sempre, disfarçando seus sentimentos com uma expressão de indiferença. Nesse momento, Katniss agarrou seu pulso, impedindo-o de se levantar. Ele achou que ela ia dizer algo como “obrigada”, e até tinha esperanças que ela falasse “fica”, mas ela apenas disse:

– Desculpa – disse soltando o ar que prendeu no momento que ele começou a se levantar.

Provavelmente ela deve estar pedindo desculpas porque eu não disfarcei o pesar suficientemente bem para que ela não notasse, minha cara de indiferença deve estar pouco convincente” pensou ele. Então se esforçou ao máximo para ser indiferente, colocando toda a frieza enquanto dizia:

– Não há problema – O que fez com que ela sentisse uma forte dor onde se localiza o coração, ele nunca havia falado com ela dessa forma, ela sequer o ouviu falar assim em qualquer momento. Ele começou a se levantar.

– Peeta, por favor... – sussurrou – Fica – Moveu os lábios formando a palavra, mas não saiu som algum. Porém, ele estava olhando diretamente para ela e compreendeu, então sentou ao seu lado novamente.

– O que está acontecendo? Foi um pesadelo? – perguntou gentilmente, acariciando seu cabelo e sua nuca.

Ela respondeu balançando a cabeça negativamente. Continuaram em silêncio, até que ela finalmente olhou para ele e tomou fôlego suficiente para formular a frase:

– Eu sou uma pessoa horrível. Um monstro. – a frase não passou de um sussurro e ela estava dizendo isso para si mesma, para que ela aceitasse que é uma pessoa horrível, não importando o quão ruim isso fosse e soasse em voz alta. Ele a olhou sem compreender, mas discordou apenas mentalmente.

– Por que está dizendo isso? – questionou.

– Por que... Porque é a verdade.

– Não, não é. – disse dando-lhe um leve beijo na bochecha. Ela voltou a chorar.

– Não percebe, Peeta? – falou sem conseguir parar de chorar – Eu demonstro não dar a mínima para você.

E você dá?” questionou-se mentalmente.

– Eu fico tão preocupada pensando em proteger as pessoas que eu amo... Que... Que... – Ele esperou, mas ela não completou a frase, pois as lágrimas a atingiram como uma bomba. Então ele resolveu tirar suas próprias conclusões. Ela está tão ocupada protegendo as pessoas que ela ama que não pensou em proteger a si mesma, e agora, ela finalmente foi atingida de alguma forma e está arrependendo-se por não ser mais cuidadosa com si mesma, agora que é tarde demais. Essa foi a conclusão dele.

– Katniss, está tudo bem. Eu estou aqui. Eu protejo você.

Está aí de novo, mais uma vez ele demonstrando o quanto me ama, enquanto isso, o que eu faço? Ando de mãos dadas à indiferença” pensou. Mas até que ele estava certo até certo ponto. Ela estava tão preocupada em proteger os outros, que se esqueceu de si mesma, isso realmente era verdade. E que a tornava uma pessoa fácil de destruir. Ela não possuía armadura alguma, e seria ótimo se alguém tivesse a bondade de protegê-la, o ruim, é que essa pessoa é logo o Peeta.

O que ela mais desejava no momento, era poder parar de chorar, para ter uma conversa civilizada com Peeta, para poder explicá-lo que tinha decidido pensar no assunto, mas agora não precisa mais, pois ela foi esperta o suficiente para descobrir que o que ela sente por Peeta não é só simpatia, e sim amor. Ela o comparou a Prim, e notou que em certo ponto, não são tão diferentes. Ela dedicava-se ao máximo para proteger os dois e para fazer os dois felizes. A diferença é que Peeta ficava feliz fazendo-a feliz, então ela não se preocupou muito nesse ponto.

Poder explicar a ele que o ama, e isso bastaria, bastaria para fazê-la parar de chorar, para controlar o choro e esperar por sua reação. Abriu a boca para falar, mas som nenhum saiu, então, antes que se desse conta, ela subiu em seu colo, colocando uma perna ao lado da cintura de Peeta, e a outra perna, do lado oposto da cintura, ela estava beijando-o freneticamente. Com os braços enroscados ao redor de seu pescoço e empurrando-o lentamente, até que ela estivesse deitada sob ele.

Peeta por sua vez, correspondia a todos os beijos de forma igualmente apaixonada, porém ele sentia uma dor enorme, pois no fundo, ele sabia que isso é apenas um momento de prazer, não tem a menor ideia do por que dela fazer isso, mas sabia que isso acabaria e que depois ela voltaria a ser indiferente e fingiria que nada aconteceu. A não ser na frente do público e das câmeras.

Assim que Katniss se deu conta do que estava fazendo, abriu os olhos, mas sem interromper os beijos. Notou as sobrancelhas e testa franzidas numa expressão de dúvida e dor. Rapidamente ela separou-se dele e sentou-se em seu colo novamente, nesse momento, seus olhos azuis abriram-se. Ele acompanhou o movimento, sentando-se com ela e os braços que se recusavam a soltar a cintura dela. Ela colou a testa na dele.

– Desculpa. – ela sussurrou.

– Mas o que foi isso? – Ela permaneceu calada. Depois de um momento de hesitação ele continuou – O que significa isso, Katniss? – perguntou docemente.

Depois de um tempo ela finalmente resolveu responder:

– Significa que eu te amo, só não sabia como dizer.

Ele a olhou surpreso.

– Eu te amo, Peeta Mellark.

Um sorriso resolveu brincar em seus lábios, até que por fim, ele disse:

– Eu te amo, Katniss Mellark.


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