Confissões de uma adolescente vestibulanda escrita por TamirisJ


Capítulo 1
Capítulo único




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Lágrimas caem.

Saem de meus olhos, passam pelas pálpebras e cílios, correm por minhas bochechas, repousam em meu pescoço ou caem em direção ao chão.

Minha cabeça dói.

Dói pela confusão de profissões (dinheiro versus status versus família versus satisfação), pela lembrança de amizades perdidas ("vamos marcar um encontro!", todos dizem, mas ninguém nunca marca), pelos amores passados, pela incerteza do presente e medo do futuro.

Minhas mãos estão cansadas.

Cansadas de tanto digitar no meu computador e celular, de arrumar o quarto, de passar caderno a limpo.

Meus pés trombam um no outro.

Trombam por serem comandados a tantas direções, mas nunca de fato seguirem alguma.

Minha boca espera.

Espera a comida, os trabalhos, as palavras que estão sendo revistas constantemente no cérebro para serem ditas (ou então palavras impensadas), o seu beijo desconhecido.

Meus ouvidos estão atentos.

Atentos às notícias, aos sons novos, aos sons velhos; aos sons dos fogos que simbolizam o Ano Novo, aos sons de uma cerveja bebida que leva à desgraça.

Meu estômago reclama.

Reclama fome (de comida e de justiça), de tanto revirar por amores que nunca são os meus, e sim os de livros e filmes.

Minha caixa está cheia.

Cheia de velharias (brinquedos, canções, histórias, amores, fotos, sentimentos, livros, cheiros, inocência, o mais sincero perdão) e de coisas novas tentando ser colocadas (e-mails, músicas, aventuras, outros amores, fotos de câmeras novas, sentimentos, livros, cheiros, amizade, saudade).

Minha caixa está prestes a explodir com tanta informação nova e velha. Tenta intercalar os dois, e está ficando cansada de tentar.

Logo, as velharias deverão ser empurradas para o cantinho de memórias, para as novas experiências entrarem.

Mas a adolescente, eu, dono desse coração, tem medo.

Medo das incertezas, das escolhas erradas, dos caminhos tortuosos que levarão ao sofrimento e arrependimento.

Medo das novas responsabilidades e de não conseguir arcar com elas.

Quer se esconder na caixa e ir para o cantinho das memórias, brincar de bonecas e se tornar feliz sem se preocupar com o futuro ou o que o mundo pensa e pensará de você de novo.

Estou confusa.

Quero ser criança, quero crescer.

Quero ser inocente, quero entender.

Quero ignorar o mau, quero entender o ser humano.

Quero mudar o mundo, quero não ser julgada nas minhas tentativas.

Quero fazer o que quero, quero ter dinheiro.

Quero um amor, quero sucesso profissional.

Quero ter esperanças, quero ser realista.

Quero concessões, quero concordar.

Eu quero.

Mas tenho medo.

Olho para a caixa enquanto minhas lágrimas caem, minhas mãos tateiam, meus ouvidos escutam, minha boca espera, meus pés tropeçam e meu estômago reclama; quero que continue cheia, quero esvaziá-la.

E o tempo não para.

Sigo, sem um rumo certo (aqui, pelo menos).

Sigo para o lugar em que não sei onde é, nem como se chega lá.

Apesar disso, eu sigo.

E vivo. E sobrevivo. E inspiro.

Inspiro ar e inspiro sonhos.

Inspiro o real e o invisível.

E vivo. E sobrevivo.

E sigo.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha se identificado com o texto, ou ao menos gostado de lê-lo hahaha
Obrigada por ler! :D



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