Lety não podia acreditar na imagem que via no espelho. Aquela mulher não era ela. Aquela mulher que via era uma moça bonita. Tinha uma beleza rara, como dito pela senhora, não era algo extravagante como a da Alice, era algo simples, mas ao mesmo tempo encantador. Com os cabelos soltos, sobrancelhas feitas, bigodinho depilado, um suave batom e um leve blush, Lety havia se tornado a mulher mais bela que já havia visto.

–Sabe, mesmo sem maquiagem você é bonita. -Comentou a senhora.

–Essa não sou eu, não pode ser eu. Eu não sou bonita. - Lety continuava negando sua beleza.

A senhora preferiu não falar mais nada. Apenas deixou-a só para ela fazer as pazes com o espelho.

Longe dali, Fernando não podia acreditar. Ele dirigiu até o litoral e, do meio da praia gritou, implorou ao mar para ele devolver sua amada Lety. Se fosse possível, ele daria sua vida em troca da dela.

Os dias foram passando, Lety pediu ao casal de pescadores se poderia passar uns dias com eles. Precisava se reencontrar, se afastar de tudo. Eles aceitaram e enquanto Atílio, o pescador ia para o mar pescar, Lety e Maria, sua esposa, ficavam em casa e pelas ruas vendendo peixes. Lety começou a mudar, começou a usar uns vestidos floridos que os moradores dali vendiam e a deixar seu cabelo solto. Seu óculos havia se perdido no mar, mas ela conseguiu outro com um morador local em troca de alguns peixes. Seu aparelho dentário estava soltando e, com um pouco de custo, ela acabou por remove-lô. A nova Lety estava irreconhecível. Até mesmo ganhava cantadas pelas ruas que passava.

Os pais da Lety, Tomás e o quartel seguiam inconsoláveis. Ainda não acreditavam que não veriam mais a Lety com seu doce sorriso metálico.

Fernando estava mal, desde que soube da suposta morte da Lety, andava de bar em bar. Era difícil encontra-lo sobrio . Márcia temia por sua vida e tentava, em vão, consola-lo. Fernando queria morrer. Vivia apenas bebendo e olhando uma foto da Lety que levava na carteira consigo. Uma de suas bebedeiras lhe dei a coragem que lhe faltava para fazer o que vinha planejando: se matar.

Fernando não tinha dúvidas de como faria, assim como sua adorada Lety, ele se mataria no mar. Escreveu uma carta aos seus pais se desculpando por tudo que fez, a deixou junto ao seu paletó na areia e se lançou ao mar. Nadou o quanto pôde até não aguentar mais. Agora já bem afastado da praia, esperava que o mar fizesse o favor de lhe matar.

Continua.