Quietly bleeding escrita por Clarinha


Capítulo 2
Onde está você agora?


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem do segundo capítulo. Recomendo que escutem com essas músicas, https://www.youtube.com/watch?v=T6r5bo_D9QY, mas nada impede que escutem com a que acharem melhor. (:



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/584642/chapter/2

Aleks {narra}

No dia seguinte, acordei com meu celular despertando às 08:00am. Eu havia combinado com Sylwia de a encontrar no parque central, perto do lago. Me troquei rapidamente e lembrei de por uma blusa comprida. Estava frio naquela manhã.

Chegando lá, vejo de longe uma menina toda de preto, sentada na beirada do lago com a cabeça baixa.

– Sylwia? - Chamei-a.

A mesma levantou a cabeça. Eu podia ver os borrões de sua maquiagem, estampados em seu rosto. O preto do lápis escorrido em suas bochechas, se formando único no pescoço.

– Eu não aguento Aleksander. - Disse, fazendo cara de choro.

– O que Sylwia?

– A falta dele! Ele, de certa forma, me fazia querer estar viva.

Apenas assenti com a cabeça. Sentei em seu lado, e a abracei. Pude sentir sua respiração ofegante, e lágrimas quentes escorrendo de meus olhos. Eu estava vulnerável. Fraco de mais para segurar, então me rendi. Sylwia levantou o rosto.

– Está chorando?

– Não. - Respondi enquanto enxugava, disfarçadamente, meus sentimentos escorridos. - Bem, vamos!

Levantei-me e puxei-a. Íamos para a sorveteria ali ao lado. Talvez conversar mais sobre Dominik, que era o que todos que eu conhecia fazia ultimamente.

Ficamos a tarde inteira lá, mas para minha surpresa, não tocamos no assunto.

– Ah... - Exitou. - Sobre a cor do meu cabelo; sim, ele era rosa. Mas, era vivo de mais e alegre de mais para tal ocasião.

– Então você virou uma versão "emo"?

– Digamos que sim. - Respondeu rindo.

Aquela tarde foi a mais maravilhosa dentro desse um mês. Um mês escuro, silencioso, morto. Morto, assim como Dominik Santorski. Por fim, tivemos de nos separar. Era hora de ir para casa!

Chegando em tal, avistei minha mãe lendo um livro. Ela estava calma, com um olhar de quietude em sua alma.

– Oi mãe. O que está lendo?

Mamãe apenas mostrou-me a capa. Era o de sempre, 'O pequeno príncipe'.

– A senhora realmente gosta desde, não?!

Entrei em casa e pude sentir o cheiro de chocolate. Olhei no forno, e lá estava. Cookies! Mamãe e suas artes.

Subi então ao meu quarto. Estava extremamente abafado, então abri a janela. Uma brisa entrou. Sentei-me na cadeira que estava perto da escrivaninha. Peguei uma folha e então comecei.

"Caro Dominik,

Hoje encontrei Sylwia no parque onde costumávamos jogar pedras no lago. Foi um dia bom, comparado aos outros. Syl estava chorando quando cheguei lá. Ela não tinha medo de mostrar o que sentia. Não mesmo! E eu?! Bem, eu não consegui, então me libertei da angústia que eu segurava aqui dentro de mim.

Depois fomos na sorveteria do Sr. Bendik. Escolhi seu favorito, chocolate com menta. Espero que não sinta ciúmes; mas estava uma delícia! Ah, e eu e Sylwia somos amigos agora. Legal não?!

Ela me falou muitas coisas sobre você. Coisas que ninguém jamais poderia saber, se não te conhecesse bem. Pelo visto, confiava mesmo nela.

Sinto sua falta. Espero que me perdoe!

Beijos,

Seu Aleks."

Todos os dias, eu escrevia para ele. Para poder me lembrar de seu rosto e de sua feição. Não queria esquecê-lo; torná-lo apenas um borrão em minha memória. Aquilo era o máximo que eu podia fazer, pra senti-lo perto de mim novamente.

Sylwia {narra}

Depois de ver Aleksander chorando, resolvemos ir à sorveteria ali perto. Escolhemos nossos sabores, e nos sentamos em uma mesa perto da janela.

– Dom adorava este sabor. - Reparei.

– Sim, eu sei.

– Sente muita falta dele também...

O mesmo olhou para baixo. Pude ver sua expressão de desânimo. Logo, respondeu friamente.

– Sim.

Começamos a conversar de coisas como o meu cabelo, suas roupas, o que fazíamos para nos divertirmos. Enfim, coisas sem muito valor. Passamos boa parte da tarde assim, apenas falando e falando. Quando nos demos conta, já passava das 16:00pm. Nos despedimos e então nos direcionamos às nossas casas. Quando cheguei na minha, meu pai estava sentado no sofá. Várias latinhas de cerveja espalhadas pelo chão.

– Menina! - Gritou. - Onde estava tão cedo?

– Fui me encontrar com uma pessoa, pai.

– Então é assim? Não saía do quarto à três anos. Agora que sai, vai se encontrando com qualquer um. Inútil!

Papai era assim. Sempre foi. Olhei para ele, e me lembrei porque havia me trancado por três longos anos, em meu quarto. Simplesmente o ignorei, e fui para meu cômodo. Tranquei. Lá, ele não entrava.

Aquilo era uma tortura. Ter um pai assim; uma tia que às vezes aparece em casa; uma prima anoréxica. Que bela família Sylwia!

Sentei-me na cadeira, e liguei o computador. Entrando no jogo, Aleks me chamou numa sala.

– Não é calmo aqui? - Perguntou.

– Sim...

Havia um céu estrelado; uma árvore e, debaixo dela, uma toalha estendida no chão. Tudo não passava de pixels. Nos deitamos. Aleks puxou assunto.

– Como está?

– Bem. E você?

– Sem fome.

– Hm. Entendo...

Nossa conversa parou por aí. Não tínhamos mais assunto. Era como se o jogo tivesse travado para os dois. De repente, 'Aleks_Lobo se desconectou'.

Me joguei em minha cama e pensei:

"Onde está você agora, Dom?"

Eu podia senti-lo, todas as vezes que ousava dizer seu nome. Lembrava-me de umas das vezes que estávamos falando por webcam, e aquela psicóloga veio até a casa dele. Percebi que ele disse a verdade. Jogou-a em meu rosto.

"Na verdade, não entendo pessoas que se matam. Tem que ter coragem para viver. Eles são covardes! Narcisistas egoístas, que pensam que todo o mundo gira ao redor deles. Como você pode abrir mão do presente mais precioso que tem? Como pode fazer isso consigo mesmo e aos que o amam?... Você vive para dar aos outros o máximo que pode."

– Por quê fez isso então, Dominik?! - Eu gritava aos céus. - Por quê não deixou aquelas malditas pílulas para mim? Você ainda via sentido aqui!! Você queria estar aqui. Me fez sentir viva, quando eu já achava estar morta. E agora, olhe só! Você é que está Dominik! Você tinha sentimentos... Diferente da maioria hoje em dia. Você era diferente, e eu sinto sua falta seu desgraçado! Volte... Volte... - Comecei a chorar.

Meu pai bateu à porta. Pude ver que estava bravo. Então, resmungou.

– Pare de gritar! Você me acordou. Aliás, saia daí!

Destranquei a porta. Lá estava meu pai, parado estaticamente em minha frente.

– Por quê trancastes? Para ficar sozinha novamente?

– Eu vivo sozinha. Então, morrerei sozinha.

Meu pai começou a espancar-me. E, como em todas as outras vezes que me lembro, ele não parava. Era como se fosse um vício ao seu cérebro. Quando finalmente acabou seu serviço sujo, eu permaneci lá no chão. Jogada.

Havia tempo que ele não fazia isso. Talvez, me trancar de novo era uma boa ideia. Peguei o máximo de comida que consegui, e entrei no quarto. Me tranquei.

Pensei diversas vezes em fazer "aquilo" de novo. Eu estava triste, machucada por dentro e por fora. Aquelas vozes em minha cabeça voltaram à tona, mas dessa vez, mais alto e mais forte. Eu só queria me livrar delas!! Peguei uma lâmina que estava guardada no armário do meu banheiro, posicionei em meu braço e quando fui começar, parei. Aleks!

"Aleks? Aleks? Tenho que conversar com alguém... Rápido! Estou com medo. Eu me sinto sozinha. Onde está você?

Abraços,

Sylwia."

Me sentei num canto de meu quarto. Meu braço esquerdo jogado ao lado, e a lâmina em minha mão. A direita, limpando as lágrimas que derrubei. Tudo estava escuro, sem sequer uma luz de fora para iluminar meu quarto que, antes em silêncio, agora já estava tomado pelo som de meu soluçar.

"Onde está você agora?"


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que acharam? Espero que tenham gostado. Deixem reviews. Beijos.