Uma das coisas mais estranhas em aniversários é que em um dia você dorme com uma idade e no outro você acorda com outra diferente, sem sentir diferença alguma. Pelo menos EU não nunca senti diferença alguma. Acordei essa manhã como acordo todas as manhãs, desarrumada e sonolenta. O único diferencial é que mamãe, Loreta e Josh levaram café da manhã na cama pra mim, o que achei maravilhoso, já que estava morrendo de preguiça de levantar.

– Bom dia, Jade! – Loreta abriu a porta devagar para ver se eu estava já acordada.

– O que foi? – disse sonolenta.

– Feliz aniversário! – os três gritaram e entraram carregando um bolo de chocolate (um dos meus favoritos).

– Ah, é mesmo... – olhei, ainda meio dormindo, meio acordada.

– E então, como se sente tendo quinze anos? – Josh perguntou.

– Era para eu me sentir diferente...?

– Feliz aniversário, filha! – mamãe me abraçou empolgadamente. – Eu ia te entregar o presente mais tarde na festa, mas acho que você vai querer abrir agora... – ela me deu um embrulho de papel de presente dourado e eu abri. Dentro, tinha um cordãozinho de prata escrito JADE com letras cursivas. Típico.

– Nossa... obrigada mesmo, mãe... - sorri.

– Agora abre o meu e o do papai! Vai! – Loreta me entregou uma sacolinha de pano. Abri e tirei de dentro um casaco de renda roxa. – E então gostou?

– Gostei sim, é muito fofinho... onde conseguiu?

– Fui eu que fiz!

– VOCE que fez???

– Isso mesmo, fico feliz de ter gostado! – ela sorriu.

– Também fico feliz de você ter gostado. – Josh completou.

Nesses últimos dias, Josh e Loreta foram super legais comigo. Eu de certa forma me acostumei a tê-los por perto. E a mamãe também. Ela e Josh estão cada dia mais próximos e eu e Loreta já percebemos isso. Torcemos para que fiquem juntos.

Depois de me arrumar, escovar os dentes, tomar banho e todo o resto da higiene matinal, ouvi a campainha tocar.

– Oi, oi, Jade! – Cassy, minha melhor amiga, foi logo entrando e me abraçando.

– Oi Cassy! Como vai?

– Eu vou ótima, feliz aniversário, flor! Tó seu presente! – Mais uma embalagem bonitinha que abri com cuidado. Um par de brincos com formato de melancia, minha fruta favorita (se não a única). – Sei que você não usa muito brincos, mas quando vi na loja, não resisti, é a sua cara!

– Ah, não precisava me dar nada... – sorri.

– Não se preocupe com isso.

– Ah, oi Cassy! – Loreta desceu as escadas e abraçou minha amiga.

– Oii, nova irmãzinha da Jade! – ela respondeu amigavelmente.

Sim, sim, Loreta e Cassy já se conheceram ao longo da semana. Pra ser mais exata, no dia em que fomos comprar aquele vestido pro meu níver.

Ante ontem, depois de muita insistência de minha mãe, eu Cassy e Loreta fomos escolher vestidos para o meu aniversário, já que éramos jovens adolescentes e tal... foi uma das tarefas mais difíceis que já fiz na minha vida. Como escolher dentre tantos milhares de vestidos? Era praticamente a loja inteira de opções! Experimentei vários deles, de cores e modelos diferentes. Cor de rosa? Não. Laranja? Não. Azul e preto (ou será branco e dourado)? Não. Cassy estava reclamando que nada me agradava, até que então achei um vestido que era a minha cara e me agradou quase que instantaneamente assim que o vi. O problema, é que o MEU gosto é diferente do gosto de minha MAE, por isso, ela meio que não gostou muito, mas quem liga? Pelo menos uma coisa boa vai ter que vir dessa festa...

Voltando para o tempo presente, Cassy estava lá para levar-nos para o salão de beleza. Quando eu falo “nós”, estou falando das mulheres, já que por motivos um tanto óbvios, Josh não quis ir.

– Foi mal, garotas, mas essas coisas não são pra mim... acho que vou ficar em casa mesmo, obrigado pelo convite.

E seguimos eu, mamãe, Cassy e Loreta até o salão de beleza.

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...

É definitivo: Quando se tem muita mulher junta em um lugar só, com certeza em alguma parte da conversa (para não dizer fofoca) o assunto vai ser homens, ou homem que trai mulher ou vice e versa. Não digo isso nem por nós, que estávamos nos aprontando para o aniversário, mas sim pelas outras “tiazinhas” que já estavam no salão antes de nós.

– Mana, sabia que o César traiu a Nicole com a Bruninha? – Cochichava a cabeleireira.

– Pois é, a Nicole pegou ele no flagra e depois foi para a cama com o Tomas... – fofocava a cliente.

Que fique claro que eu não conheço nem César, nem Nicole, nem Bruninha ou muito menos Tomas, mas até que estava curtindo ouvir a fofoquinha dos outros. Era uma forma de me distrair da dor terrível que estava sentindo em meu couro cabeludo.

– AI! – exclamava para a cabeleireira que fazia chapinha em mim. – CUIDADO, ISSO TÁ QUENTE!

– As mulheres têm que sofrer para ficarem bonitas! – dizia na maior poker face do mundo.

– Ficar bonita é uma coisa, ficar com sérias queimaduras na cabeça é outra! Isso é realmente necessário? Meu cabelo já é liso...

– É sim, Jade, para de reclamar! – minha mãe dizia.

– Afff...

Essa nem foi a parte mais dolorida. A pior parte foi, com certeza, a maquiagem:

– NÃO, NÃO!!! EU NÃO VOU PASSAR ISSO, EU ME RECUSO!!! – gritei quando a maquiadora quis passar aquela coisa horrível chamada lápis de olho em mim.

– Mas é só um lápis de olho...

– Não! É um objeto de tortura, isso coça demais! Sem falar que parece que você quer FURAR meus olhos, isso sim... – estava lagrimando só de pensar.

Já eram quase sete horas da noite quando saímos de lá. Passamos uma tarde inteira no salão de beleza. Agora me diz: Precisava de tanto tempo? Sério, realmente precisava????

Bom, apesar de tanto sofrer, eu até que gostei dos resultados. Eu até que parecia mais bonita. PARECIA. Mas eu juro que nunca mais ponho meus pés em um salão de beleza de novo, a não ser que seja de extrema importância.

Minha mãe e minhas amigas também estavam bonitas. Cassy realçou as suas pontas loiras e Loreta, que nunca havia usado maquiagem antes, parecia uma bonequinha de porcelana. Mamãe por sua vez também não estava tão ruim (apesar de eu achar que aquele baton rosa choque não ia combinar com o vestido que ela comprou, mas quem liga pra minha opinião, não é mesmo?).

Voltando para casa, Josh estava sentado, assistindo televisão. A tarde dele parecia ter sido divertida, assistindo futebol e comendo pipoca. Fui para meu quarto me arrumar e colocar meu vestido, que era preto e vermelho.

– Mas por que você escolheu um vestido preto e vermelho? - foi a primeira coisa que mamãe perguntou quando me viu com ele.

“Simplesmente porque eu quis” tive vontade de responder. Mas como era a minha mãe, eu apenas disse:

– Por que eu achei legal.

Um pouco antes de sair, quis ligar para Gaah, mas Cassy achou melhor esperar para encontrá-lo no local onde seria a festa. Gaah havia me contado sobre o problema pelo qual ele e a família estavam passando. Me contou sobre o aborto de Carmem e como teve uma conversa séria com o irmão. Eu não sei se ele havia superado isso, mas o deixei livre para escolher se preferia ir ao aniversário ou ficar em casa. Claro que seria muito chato sem ele, mas eu sei que quando uma pessoa está triste, ela prefere ficar sozinha e longe de outras pessoas. EU, mas do que ninguém, sei disso.

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Logo após alguns minutos, chegamos ao nosso destino. Ao que me parecia, já havia bastante gente no local alugado por meus tios. Era possível ouvir a música eletrônica tocando até do lado de fora.

– Minha nossa, por que esse barulho precisa ser tão alto? – tapei os ouvidos antes de entrar.

– Mana, é uma balada, o que você esperava? – Cassy riu de mim como se eu fosse bobinha.

–Ah, sei lá, talvez algo um pouco mais BAIXO e um pouco menos IRRITANTE?

– Você reclama demais, Jade! Tenta pelo menos uma vez na vida se divertir, não é mesmo?

– Tudo bem...- sorri. – Eu vou tentar.

Mal entrei, um bando de gente “desconhecida” veio me cumprimentar. Aqueles parentes distantes que só te vem uma vez na vida e outra na morte, sabe? E que só aparecem para te dar parabéns porque vai ter comida de graça. Fora esses parentes, também cumprimentei alguns colegas de escola: Sasha, uma garota tímida da minha sala, Tammy, uma patricinha irritante, Gary um moleque muito chato e por ai vai. Por último, Logan, o cara mais bonito do colégio (para mim o segundo, afinal, Gaah é mais bonito) o ex- namorado de Alice, minha ex- melhor amiga.

– Feliz aniversário, Jade! – ele me abraçou.

– E ai, cara, como vai? – perguntei quase gritando, para que ele pudesse me ouvir.

– Bem... apesar de que agora que Alice me chutou eu estou um tanto sozinho... estou muito bem, obrigado por se importar...

– Você gostava mesmo dela, não gostava?

– Sim, mas agora que eu sei quem ela realmente é... acho que nunca mais vou conseguir amar alguém de novo e...

– Calma ai, me poupe dessa lamentação. Acho que tive uma ideia. Já volto! – Deixei Logan falando sozinho e fui procurar uma pessoa.

Em um canto do salão, encontrei Loreta tomando um refrigerante sozinha.

– Hey, Loreta, preciso que me faça um favor.

– Claro, o que? – ela perguntou sorridente.

– Você gosta de ajudar as pessoas, não é verdade?

– É claro, adoro ver as pessoas felizes...

– Então vem comigo! – Puxei ela e a arrastei para onde tinha deixado Logan esperando.

– Está vendo aquele menino? – apontei - Aquele com jaqueta verde, o que achou dele?

– Hm... ele é bonito, por que..?

– Logan! – chamei e Logan olhou direto para mim e minha quase irmãzinha, que corou.

– Jade, você ficou louca...? – sussurrou.

– Logan, essa é a Loreta, Loreta, esse é o Logan meu amigo! Ele está um pouco carente hoje e você pode fazer companhia para ele?

– Ah, mas...

– Não precisam ter vergonha um do outro, agora com licença eu tenho mais o que fazer!

Deixei Logan e Loreta e me dirigi para outras partes do salão, onde mais gente esperava para me parabenizar. Eu sabia que Loreta era um pouco solitária vivendo no sitio da vovó, e que conversava pouco com outros adolescentes da sua idade e que Logan estava mesmo muito carente desde o incidente com Alice, por isso vi neles dois a combinação perfeita para um casal e resolvi ajudar (e também porque Logan queria desabafar e eu não estava afim de ouvir). Está vendo? Fiz uma boa ação.

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Algum tempo depois, Gaah chegou. Atrasado, mas chegou. Ele usava jeans, uma camiseta roxa e eu casaco preto por cima. O cabelo loiro estava um pouco maior do que quando nos conhecemos, quase à altura dos ombros. Na verdade, para mim não importava. O fato de ele aparecer, mesmo com toda aquela dificuldade que estava enfrentando na própria casa já fazia dele um “príncipe” para mim.

– Oi princesa! – disse me dando um selinho. – Desculpe pela demora, estava ajeitando seu presente...

– Eu achei que tivesse preferido ficar em casa...

– E perder a chance de ver você linda desse jeito? Claro que não. – ele me pegou pela cintura e começou a me beijar.

– Não se acostuma com isso... é só uma vez ou outra...

– Não se preocupe, você sempre estará linda para mim...

– Ta bom, ta bom... – disse me afastando um pouco. – Para de me agarrar em público, as pessoas estão olhando...

– Okay... – ele riu. – Trouxe um presente para você.

Ele me deu um pacote lilás com um laço vermelho amarrado.

– Nossa, não precisava comprar nada pra mim... – disse um pouco corada.

– Na verdade, eu não comprei nada, eu só...

– Jade, chegou mais convidados para você receber, querida! – tia Júlia me chamou, cortando totalmente o clima.

– Mas tem que ser agora?

– Sim, vamos logo! – ela me apressava.

– Desculpe, eu vou ter que abrir depois, Gaah... – me virei para ele.

– Tudo bem, não tem problema...

– Não vai embora! Daqui a pouco eu volto...

– Estarei esperando – ele sorriu. Dei-lhe um selinho rápido e fui falar com mais gente desconhecida.

Eu achava que o pior que poderia acontecer nessa noite era que eu não conseguisse ficar perto do meu namorado por muito tempo, mas mal eu sabia que o pior ainda estava por vir... e em dose dupla.