O Último Desbravador do Leste escrita por Jel Cavalcante


Capítulo 8
Pra vencer esse jogo, você vai precisar de muito mais que isso


Notas iniciais do capítulo

Enquanto a segunda votação está à caminho uma ideia arriscada surge prometendo mudar completamente o rumo do jogo.



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O grupo Água se encontrava bastante abalado com a derrota. Bia continuava desconfiada de que Marian não havia se dedicado totalmente para vencer a prova. O desentendimento entre as duas era recorrente e se dava pelo fato de que Marian já havia ferrado com a vida das meninas várias vezes no orfanato. Mas, por outro lado, naquele acampamento todas as atitudes mal pensadas trariam consequências graves para o jogo e Bia não conseguia pensar em algum motivo plausível que levasse Marian a querer perder a prova de propósito.

Enquanto as meninas se acomodavam de volta ao acampamento, Fábio resolveu ir atrás de algumas frutas. A única preocupação do garoto era estar bem alimentado para os desafios. O pequeno chinês se sentia um pouco indignado com o grupo por não ter sido escolhido para correr na última prova, já que de todos ali era o mais preparado para os testes físicos. Contudo, não se sentia ameaçado de forma alguma em relação ao Conselho dos Desbravadores. Seu objetivo era continuar alimentando a equipe e se fazer necessário para a vitória, assim ninguém ousaria pensar em eliminá-lo.

No momento em que as meninas descansavam na barraca, Janjão e Janu se afastaram do acampamento para discutirem o que deveria ser feito no conselho e, pela cara dos dois, alguma coisa parecia estar errada.

"O que essa Marian tem na cabeça? Ela só pode ter perdido aquela prova de propósito. O tempo que tinha pra montar aquele troço dava muito bem pra ela ter conseguido!" - Janu começava a sentir um certo arrependimento por ter colocado seu jogo nas mãos de Marian.

"Fica fria Janu. Ela pediu pra que eu te levasse no riacho. Acho que ela ta tramando alguma coisa." - Janjão caminhava rapidamente em direção ao local marcado. Em seu bolso, o colar da imunidade lhe garantia um certo conforto.

Enquanto caminhavam, uma dúvida surgia na cabeça de Janjão. Desde que perderam a prova, o garoto se encontrava em uma grande reflexão sobre o jogo, sobretudo sobre o colar que havia encontrado naquela manhã.

"Será que eu devo mesmo mostrar o colar pra Janu? Provavelmente as meninas vão querer tirar ela primeiro, mas se eu gastar o colar com ela, talvez acabe me ferrando na próxima eliminação. O que eu devo fazer?" - O garoto já nem sabia direito se aquele colar significava boa coisa.

Na barraca, as meninas se concentravam em contornar a situação em que se encontravam. As três pareciam muito unidas e dispostas a seguirem juntas na competição. Marian ainda olhava com uma cara triste para as amigas e foi a primeira a falar sobre a votação.

"Ai gente, me deu um branco na hora de montar aquele quebra-cabeça. Foi horrível. Tudo em que eu consigo pensar agora é que vamos ter que eliminar alguém hoje à noite por minha culpa. Eu sinto muito." - Enquanto falava, Marian procurava conforto nos olhos das amigas.

"Ta tudo bem, Marian. A gente viu que não foi sua culpa. Agora só resta decidir quem vamos eliminar hoje. Janjão ou Janu, o que vocês acham?" - Perguntou Mili acariciando o rosto de Marian.

"Com certeza a chata da Janu. Ela é bem capaz de tramar contra a gente se ficar mais um pouco nesse acampamento. E depois dela a gente tira o imbecil do Janjão" - Falou Bia encarando Marian.

Desde que se conheceram, o pessoal do orfanato e os vizinhos travaram várias disputas de território e aquele jogo era mais uma forma de saber qual dos dois grupos era o melhor. Para Marian, os vizinhos eram só mais peças no tabuleiro e a garota ainda não tinha certeza das pessoas com quem gostaria de se unir. Por um lado, Mili e Bia eram de confiança, mas por outro, uma raiva muito grande se escondia em seu coração. "Será que eu devo eliminar uma das duas agora, ou isso vai acabar prejudicando o meu jogo?" - Pensava enquanto descansava junto às amigas.

Ao ver que Mili e Bia dormiam e que Fábio estava ausente, Marian correu para o riacho. Janu e Janjão esperavam há bastante tempo, já preocupados se teriam perdido o apoio da possível aliada.

"Ufa. Ainda bem que você veio. A gente já tava pensando que você tinha amarelado" - Falou Janu ao ver Marian chegando por entre os arbustos.

"E aí? Você ta com a gente ou com aquelas chatas do orfanato?" - Perguntou Janjão.

"Hahaha. Essa cara de preocupação de vocês ta muito engraçada." - Marian deu uma pausa enquanto segurava o riso e depois seguiu com a proposta - "Seguinte, eu não sei ainda se quero seguir com vocês ou com elas. Mas se vocês quiserem sobreviver mais um dia aqui, eu tenho uma ideia que pode ajudar."

"O que é que você ta tramando? Fala de uma vez, garota!" - Janu começava a se descontrolar.

"A Bárbara falou sobre um tal colar de imunidade, lembram? O que vocês têm que fazer é fingir que encontraram esse negócio. Pra isso, é só colocar umas pedras e umas folhas no cadarço do tênis de um de vocês e guardar no bolso como se fosse o tal colar. O resto deixa comigo." - Marian estava bastante empolgada. Seu jogo não podia estar melhor. Possuía todo o poder em suas mãos, fazendo com que todos ali dependessem de sua decisão.

"E como a gente vai saber se você ta com a gente ou não? Porque você pode muito bem correr pra contar pras suas amiguinhas que o colar é falso." - Janjão contestava o plano de Marian mas por dentro estava um pouco mais seguro já que em seu bolso descansava um legítimo colar de imunidade.

"Aí é que ta, vocês só vão saber disso na hora. Essa que é a graça. Hahahah." - Completou Marian com um sorriso de deboche - "Ah! Antes que eu me esqueça, vocês vão ter que votar em quem eu mandar, senão vai tudo por água abaixo." - Ao dizer isso, cochichou baixinho um nome e saiu apressada para que ninguém percebesse sua ausência na barraca.

O sol já havia se posto quando Fábio retornou com a bolsa repleta de bananas e côcos. As meninas estavam à sua espera para decidirem o rumo da votação. Mais uma vez, foi Marian quem começou a falar.

"Gente, vamo aproveitar que eles não tão aqui. Eu preciso falar um negócio pra vocês. Eu tô achando que eles encontraram o tal colar de imunidade que a Bárbara mencionou e isso pode arruinar a votação de hoje. Eles podem acabar tirando um de nós, se a gente não fizer alguma coisa." - Um sorriso ia se formando aos poucos enquanto Marian formulava um plano contra os vizinhos.

Da barraca onde a reunião acontecia ouviram-se alguns passos. Bia pôs a cabeça para fora e viu que Janu e Janjão retornavam de algum lugar. Janjão estava nitidamente tranquilo, segurando alguma coisa nas mãos. Ao ver que Bia o observava, guardou rapidamente o objeto em um de seus bolsos e olhou para Janu sorridente.

"Gente, gente! Eu vi! Eles realmente encontraram o colar. Os dois estavam com um sorriso de orelha à orelha e, quando viram que eu tava olhando, Janjão escondeu alguma coisa no bolso. Deve ser o tal colar da imunidade! E agora? O quê que a gente faz?" - Bia estava bastante aflita pois a hora da votação se aproximava e os quatro ainda não haviam decidido o que fazer.

"Mas a gente vai votar na Janu, não é verdade? Não faz diferença se o Janjão ta com o colar ou não." - Mili tentava acalmar as coisas.

"Mas ele pode muito bem dar o colar pra Janu, Mili. E se nós quatro votarmos na Janu e ela receber o colar, nenhum voto nosso vai contar. Sendo assim, o voto dos dois serão os únicos a valer e provavelmente sairá um de nós." - Marian estava contente ao ver que os dois lá fora haviam feito tudo como combinado.

"Então o que a gente faz?" - Perguntou Fábio sem entender direito o que estava acontecendo.

"Já sei! A gente vai ter que dividir os votos. Eu e o Fábio votamos no Janjão. Bia e Mili, vocês votam na Janu. Eles dois devem votar em um de nós e assim vai ficar empatado. No desempate, pelo que eu entendi quando a Bárbara explicou, somente os que não estão empatados é que votam novamente, ou seja, três de nós iremos votar de novo. E aí a gente vota na Janu. Vocês entenderam?" - Marian havia chegado no auge de sua empolgação. Com aquela estratégia, todos dependeriam totalmente de seu voto e assim teria mais tranquilidade para decidir o que fazer.

"Nossa Marian. Você é muito inteligente. Nem dá pra acreditar que você é a mesma pessoa que não conseguiu montar um simples quebra-cabeça hoje mais cedo" - Bia respirava um pouco mais aliviada ao ouvir o plano da amiga.

"É o mínimo que eu poderia fazer depois de ter metido vocês nessa." - Completou Marian finalizando a reunião. Agora só precisava decidir com qual dos dois grupos preferia seguir no jogo.

_

Todos fizeram silêncio enquanto caminhavam rumo ao Conselho dos Desbravadores. Chegando lá, foram recepcionados por Bárbara, que os conduziu até a arqui-bancada onde deveriam sentar.

"E então, equipe Água. O que vocês acham que ocasionou a derrota de vocês hoje?" - Bárbara foi direto ao ponto.

"Com certeza foi a Marian. Ela se ofereceu pra montar o quebra-cabeça e na hora 'H' mal saiu do canto. Aposto que qualquer um aqui poderia ter se dado melhor do que ela nessa prova" - Proferiu Janu inaugurando o primeiro conselho do grupo Água.

"É verdade. Eu sinto muito por ter feito todos vocês virem parar aqui. É tudo minha culpa, Bárbara. Não sei o que deu em mim. Só espero que o meu grupo consiga enxerga o valor que eu tenho como aliada nesse jogo e que não votem em mim hoje." - Marian fingia estar bastante desapontada consigo mesma.

"O importante é que o grupo se mantenha firme. Esse é só o começo do jogo e a gente vai ter várias chances de provar que somos fortes concorrentes." - Mili tentava equilibrar a conversa. - "Só nos resta eliminar aqueles em quem não confiamos, até porque o mais importante é a união da nossa equipe."

"Você fala isso pra tentar se proteger mas no fundo todo mundo sabe que você não faz nada no acampamento. Com certeza vocês quatro tão armando pra cima de mim e da Janu, mas se eliminarem um de nós, vão se arrepender profundamente. Duvido que consigam vencer uma prova sem a nossa ajuda." - Janjão tentava se defender enquanto pousava a mão no bolso onde estava o colar falso que havia feito com o cadarço do seu tênis e algumas pedras. Do outro lado, estava o colar verdadeiro. Em sua cabeça, uma dúvida surgia: "Se eu sentir que não posso confiar nessa Marian, eu uso o colar na Janu… Mas eu nem sei se eles vão mesmo votar na Janu… E se eles votarem em mim? O que é que eu faço? Uso esse maldito colar ou não?"

"Eu acho que muita coisa vai ficar clara nessa votação. Só espero que ninguém aqui esteja mentindo descaradamente." - Bia mirou em Marian insinuando uma certa desconfiança.

"Essa é a hora de separar os que vieram jogar dos que vieram se divertir" - Concluiu Marian com um sorriso confiante. Naquele momento uma decisão muito importante acabava de ser tomada.

"Ok, então. O próximo passo é se dirigir, um por um, até aquela urna e escrever o nome da pessoa que vocês desejam eliminar." - Bárbara deu início ao ritual.

Um a um, os integrantes do grupo água se dirigiram para a urna, sem saber exatamente o que iria acontecer. A ameaça de haver um colar de imunidade em jogo causou um grande tormento na cabeça de cada um, tornando aquele momento o mais tenso possível. Quando o último retornou, Bárbara se dirigiu até a urna e a trouxe para o centro do conselho.

"Se alguém tiver o colar da imunidade e quiser usá-lo, essa é a hora certa. Após isso os votos serão lidos e a decisão será definitiva." - Bárbara olhava atenciosamente para as expressões das crianças à sua frente.

Janjão estava com a mão em um dos bolsos. Neste momento, todos olharam para ele e um frio repentino tomou conta do ambiente. Seu braço estava visivelmente trêmulo. Marian e Janu olhavam curiosas para o garoto. Foi então que Janjão tirou a mão vazia do bolso e encarou Bárbara com um semblante mais pálido que o de qualquer um ali. Após minutos de tensão e silêncio, Bárbara começou a ler os votos.

"Bem, já que ninguém se pronunciou, vou começar a leitura dos votos…"

Mili estava muito confiante até segurar as mãos de Bia e ver que a amiga estava suando frio. Neste momento percebeu que alguma coisa poderia dar errado.

"Primeiro voto… Janu."

"Sabia que eu não devia ter confiado nessa idiota." - Janu olhou para Marian sentindo que havia sido traída.

"Segundo voto… Janjão. Terceiro voto… Mili. Até agora temos: Um voto para Janu, um voto para Janjão e um voto para Mili."

Janjão estava de olhos fechados e bem apertados. Não conseguia encarar a leitura dos votos pois estava com medo de ser eliminado com o colar de imunidade no bolso - "Se eu for eliminado com essa droga no meu bolso, serei o jogador mais burro de todos os tempos."- Pensou apertando ainda mais os olhos.

Mili estava tranquila mesmo após receber um voto, pois compreendia que os vizinhos a achavam fraca demais e que esse era o provável motivo que os fizeram escrever seu nome.

"Quarto voto… Janu."

Até aí tudo estava de acordo com o que havia sido planejado, mas nem por isso Bia conseguia relaxar. Fábio permanecia imóvel, sem medo algum de ser eliminado, enquanto Marian parecia um pouco aflita.

"Quinto voto… Mili. Desse jeito a votação fica assim: Dois votos para Janu, dois votos para Mili e um voto para Janjão. Falta apenas um voto para sabermos quem será o eliminado dessa noite."

Neste momento, o coração de Janjão estava prestes a sair pela boca. Janu e Mili estavam empatadas, ambas com dois votos, porém se o próximo voto fosse nele, haveria um empate triplo e as coisas ficariam muito mais complicadas.

"Ai não! Se o próximo voto for em mim, vai haver um empate triplo! E se isso acontecer, somente os que não estão empatados é que vão para uma segunda votação, ou seja, somente a Bia, a Marian e o Fábio vão votar. Sendo assim, as chances de eu ou a Janu sair são muito altas. Eu devia ter usado a droga do colar!" - Janjão estava completamente inconformado em não ter usado o colar da imunidade.

"Sexto e último voto… Mili. E com três votos, Mili, o grupo decidiu que você deverá deixar a competição. Por favor siga por aquele caminho." - Mais uma vez, Bárbara estava chocada com a eliminação, mudando o seu semblante de preocupada para satisfeita. Era a primeira vez que uma turma jogava de uma forma tão imprevisível quanto aquela.

Mili levantou segurando fortemente o choro. Bia a abraçava sem acreditar que havia perdido a única pessoa em quem confiava totalmente no grupo. Ao ver o sorriso dissimulado de Marian, largou Mili e seguiu furiosa em direção à garota.

"Olha aqui sua falsa! Eu sei muito bem que foi você que eliminou a Mili. Mas claro! Só podia ser a invejosa da Marian! Só não imaginava que você iria se vender por tão pouco. Se esse jogo for para pessoas sem caráter como você, eu prefiro ser eliminada junto com a Mili!" - Bia parecia realmente disposta a sair do jogo de tanto que estava decepcionada com o resultado da votação.

"Não fica assim Bia. Todos nós sabíamos, antes de começar, que seria desse jeito. Agora eu quero que você seja forte e vença esse jogo. Faz isso por mim." - Mili segurava os braços de Bia e a olhava firme nos olhos.

"Mili, eu preciso que você saia imediatamente. São as regras do jogo" - Interrompeu Bárbara.

Mili pegou sua bolsa e saiu de cabeça erguida. Antes de deixar o conselho, olhou para Marian, e disse: "Eu não sei qual é o seu problema comigo, mas espero que você esteja muito certa do caminho que escolheu. Porque pra vencer esse jogo, você vai precisar de muito mais que isso."

Bia assistia a tudo com um grande pesar no coração. Olhava com desprezo para Marian, Janu, Janjão e até mesmo para Fábio. Em sua concepção, não havia mais grupo. Só uma vontade enorme de passar por cima de todo mundo.


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Notas finais do capítulo

Depois de alguns pedidos, resolvi voltar com a fic. O que acharam da segunda eliminação? Não deixem de comentar!
Bjs e até mais :*