O sol estava se pondo quando o grupo Fogo retornou ao acampamento. Mosca estava se sentindo um herói e ao mesmo tempo mantinha uma certa preocupação quanto a força física de seu grupo.

"Binho, a gente precisa se manter forte. O nosso grupo é o mais fraco de todos. A desvantagem é muito grande."

"Pelo menos, se a gente perder, qualquer um que sair ta bom, desde que não seja nós dois." - Falou Binho com um sorriso no rosto.

"É, mas se a gente perder as provas, a gente vai ficar desfalcado e os outros grupos vão vir com tudo." - Completou Mosca, observando se não havia ninguém por perto.

Dentro da barraca, Maria e Neco conversavam sobre a prova que acabaram de participar. Neco ainda estava um pouco tenso com os combates e se imaginou tendo que duelar com alguém nas próximas provas. Maria tentava acalmá-lo.

"Calma, Neco. As próximas provas vão ser diferentes. Tem que ter alguma em que os menores possam participar."

"De vez em quando, eu queria provar pra todo mundo que eu também sou capaz de vencer as provas. Mas não sei se vou ficar muito tempo nesse jogo não." - Neco agarrava os joelhos em sinal de apreensão.

"Você esqueceu que tem as votações? Se o nosso grupo perder, é só a gente se manter unido, eu e você, e votar na mesma pessoa. Assim temos mais chances de continuar aqui." - Maria brincava com Laurinha enquanto falava e parecia estar muito mais tranquila do que deveria. Já fazia algum tempo que desejava estar a sós com a boneca, para que pudessem discutir alguma estratégia juntas, mas as oportunidades eram raras. No fundo, a menina queria vencer tanto quanto qualquer um ali.

Samuca e Vivi conversavam um pouco mais afastados do acampamento. A menina havia conquistado Samuca há algum tempo atrás, mas tudo o que queria era flertar com ele o suficiente para obter sua confiança. Assim teria mais vantagens no jogo. Já Samuca passava horas pensando em Vivi e, depois dos beijos que recebeu, não conseguia organizar seus pensamentos como antes. Todas as táticas de jogo foram substituídas por uma única regra: aproveitar aquele momento ao lado da garota que amava.

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No grupo Água, Janu e Janjão marcaram um encontro às escondidas para discutir questões do estratégia.

"Cara, o Tatu ta ferrado. Eu tenho certeza que ele vai ser o primeiro a dançar daquele grupo." - Falou Janjão em um tom de decepção.

"A gente precisa assegurar que a Bel e o André fiquem bem até os grupos se juntarem. Eu não acho que essa divisão em quatro equipes dure por muito tempo." - Janu parecia saber exatamente como funcionava o tipo de jogo em que estava se metendo. De fato, se Tatu saísse, era um a menos em quem podia confiar. Estava chegando a hora de dar um passo à frente.

"E quanto à Marian? Você já falou com ela?" - Perguntou Janjão.

"Vou fazer isso amanhã, quando a gente acordar. Não quero que os outros percebam o que a gente ta tentando fazer. Por enquanto, acho melhor a gente ir se aproximando pra mostrar que não somos os monstros que eles imaginam." - Concluiu Janu dando uma risada abafada.

Um pouco mais adiante, as meninas também se reuniam para conversar sobre a competição.

"Você viu como a gente arrebentou hoje? O nosso grupo é muito mais forte que os outros." - Começou Bia, sem se preocupar em mostrar o quanto estava empolgada.

"É, o japonês até que é bem forte pro tamanho dele." - Marian estava pensando nas diferentes formas de usar Fábio à seu favor - "Mas e quanto aos vizinho? Será que a gente pode confiar neles?"

"Eles me pareceram estar do nosso lado hoje. Acho que a gente só não deu espaço pra eles conversarem direito. É bom ficarmos o mais unido possível. O grupo do Duda só perdeu hoje porque estavam discutindo o tempo todo" - Falou Mili enquanto dividia a comida que tinham conseguido com a Bárbara mais cedo.

Além de suprimentos, também lhes foi entregue uma caixa de fósforos para fazerem fogo. Fábio estava na floresta procurando lenha e, quando voltou, se deparou com todos juntos conversando, como se fossem uma linda família. O sorriso de Marian era quase imperceptível, e escondia consigo um desejo intenso de vitória.

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Dani e Teca ainda estavam sem se falar e Ana não sabia como reagir em meio à tanta discussão. Desde que chegara, Ana teve que mostrar serviço bem mais que todo mundo, para provar que merecia fazer parte do grupo.

Dani se sentia bem melhor agora por ter provado que possuía força suficiente para vencer os desafios. Teca insistia em chamá-la de covarde por ter empurrado Tati no momento em que a outra estava se recompondo.

André estava sempre à espreita das discussões. Sua meta era encontrar o ponto fraco do grupo, caso perdessem alguma prova e tivessem que eliminar alguém. Enquanto prestava atenção nas garotas menores, não percebeu a ausência de Rafa e Bel.

"Será que o André não vai perceber que você sumiu?" - Perguntou Rafa com medo.

"Relaxa Rafa. Qualquer coisa a gente dá um jeito. O André é muito tapado às vezes. Prefiro muito mais a sua companhia. Pena que os meus amigos nunca aceitariam a nossa amizade." - Refletiu Bel, segurando nas mãos de Rafa.

Os dois estavam há um tempo de mãos dadas e ambas estavam completamente encharcadas. "Se eu soltar a mão dela agora, ela pode perceber que eu tô suando de nervoso. Melhor continuar segurando firme." - Pensou Rafa.

"O Rafa ta ficando gelado. Eu será que sou eu? O que é isso que eu sinto quando tô do lado dele? Será que eu tô apaix… credo, melhor nem pensar nisso." - Bel confabulava sem deixar Rafa perceber que seus pensamentos iam longe. A preocupação maior de Bel era saber que seu amigo André iria querer eliminar Rafa em algum momento do jogo, e que ela não estava preparada para isso.

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O grupo Ar ficou em silêncio na maior parte do caminho de volta para o acampamento. Pata sonhava com a eliminação de Duda e vice-versa. Cris seguia imaginando um momento romântico onde ela e o garoto que gostava passavam a noite juntos na floresta, à luz da lua. Seu coração estava batendo muito forte e não conseguia parar de pensar em seu amor não correspondido.

Pata puxou Thiago para trás da barraca e sussurrou com medo de que a ouvissem.

"Você ta comigo nessa, né?"

"Claro que tô. Eu não engulo esse Tatu desde a primeira vez que o vi na vida. Vai ser ótimo mandar ele embora daqui." - Falou Thiago sem fazer muito barulho.

Cris surpreendeu a conversa dos dois no exato momento em que Thiago confessava em quem ele e Pata votariam.

"Ah, então vai ser o Tatu mesmo né? Achei que você iria querer tirar o Duda, Pata." - Cris parecia estar atenta ao jogo mais do que aparentava esse tempo todo.

"Acontece, Cris, que o nosso grupo é fraco demais e não podemos tirar o Duda logo de cara. Vamo deixar ele pensar que é o nosso líder e na próxima a gente vota nele. Mas não conta pra ninguém, nem pra Tati, ok?" - Segredou Pata, ainda sussurrando.

Duda estava concentrado tentando acender o fogo e sua cabeça parecia estar maquinando alguma coisa. Perto dali, Tatu tentava se aproximar de Tati para tentar se salvar.

"Tati, vocês todos vão votar em mim essa noite?" - Perguntou o garoto, um pouco temeroso.

"Acho que sim. Mas, por favor, não pensa que eu não gosto de você, ta? Na verdade, de todos aqui você é o único que me dá atenção. Eles me acham pequena demais pra compartilhar alguma estratégia de jogo comigo." - Respondeu Tati, olhando no fundo dos olhos de Tatu.

Com essa resposta, Tatu obteve a deixa perfeita para apresentar sua causa.

"Mas Tati, se eu sair, você vai ser a próxima. E não é justo que os seus amigos te tratem como se você fosse uma inútil. A gente pode crescer junto nesse jogo. É só você me dar uma oportunidade. Eu também gosto muito de você." - O garoto estava falando a verdade, apesar de que, naquele momento específico, a ambição de permanecer na competição falava bem mais alto que os seus sentimentos.

Duda estava quieto ouvindo a conversa dos dois. O que acabara de ouvir serviria perfeitamente para pôr seu plano em prática. "Logo logo a Pata vai saber quem é que manda aqui" - Pensou, enquanto fingia estar terminando de preparar o fogo que já estava aceso há algum tempo.

"Gente, ta na hora de ir pro tal Conselho." - Alertou Pata, seguindo caminho levando consigo o mapa. Para ajudá-la, Thiago ia iluminando a indicação do local no papel, sempre atento para não se perderem na trilha.

Duda e Cris ficaram para trás por alguns segundos. O suficiente para que Duda explicasse seu plano. Cris se assustou à princípio, mas não conseguiu ir contra o garoto. Mesmo em seu blog, Cris não conseguia mencionar que estava a fim de Duda. O garoto com quem sonhava acordada era também aquele que acabara de propô-la uma grande jogada. Algo que poderia comprometer seu jogo dali pra frente.

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O Conselho dos Desbravadores era um ambiente hostil e amedrontador. Decorado com algumas tochas ardendo em chamas e uns galhos de árvore secos. Era o clima perfeito para o que estava por vir.

"Podem se sentar, crianças" - Falou Bárbara, já sentada em um banquinho de frente para a estrutura que comportaria os convidados da noite.

Era uma arquibancada velha e desconfortável, onde todos tinham de sentar e encarar a coordenadora do jogo.

"Nós vamos ter uma pequena conversinha antes da votação. Depois disso, cada um irá se dirigir àquela urna e escrever o nome da pessoa que desejam eliminar" - Bárbara apontava para uma caixinha que ficava um pouco mais longe de onde estavam.

"Primeiro eu gostaria de saber da Pata, o que você acha que causou a derrota do grupo."

"Olha, Bárbara. Com certeza foi o Duda querendo dar uma de líder e colocar os menores pra competir. O nosso grupo poderia ter se dado bem melhor se ao invés do Duda, a gente tivesse alguém que soubesse ouvir os outros." - As palavras de Pata eram tão afiadas que acabou de vez com o tratado de paz da equipe.

"Cala essa boca Pata. Você só veio pra cá pra encher o saco, foi? Não adianta ficar falando que a culpa é minha porque se você fosse tão boa assim, teria vencido todo mundo sozinha." - Contestou Duda.

"Acontece que eu não podia participar de todos os combates sozinha. E você bem que poderia ter me deixado ir no primeiro!" - Pata estava falando cada vez mais alto.

Cris tentou explicar que o problema do grupo era a falta de comunicação e que, após essa primeira eliminação, eles iriam começar a trabalhar em cima disso. Thiago se mantinha ao lado de Pata o tempo todo, mesmo quando Duda usava seus argumentos contra ela.

"E quanto a vocês dois, o que acham que deveria mudar no grupo?" - Perguntou Bárbara bastante interessada no que os menores tinham a dizer.

"Se a gente fosse ouvido nessa equipe, poderíamos até tentar ajudar da melhor forma. Mas nem ao menos me perguntaram em quem eu iria votar hoje à noite. Como se o meu voto não fosse mudar nada." - Falou Tati completamente revoltada com seus colegas.

"É verdade, ta todo mundo certo de que eu vou sair e por isso ninguém falou com a gente. Depois de mim, provavelmente a Tati vai ser a próxima da lista." - Completou Tatu.

"Nada a ver o que você disse Tatu. Acontece que a gente não gosta mesmo de você, e ninguém saiu por aí comentando em quem ia votar. Vocês é que não sabem jogar e ficam descontando na gente." - Defendeu Pata.

Depois desse bate-boca, chegou a hora da votação. Cada um se dirigiu para a urna e escreveu o nome daquele que gostariam que saísse do grupo. Após o último retornar ao banco, Bárbara recuperou a caixa e começou a contagem dos votos. Mas antes lembrou a todos:

"Se alguém aqui tiver encontrado o colar da imunidade e quiser usá-lo, essa é a hora certa. Pra quem não lembra, o colar serve para anular todos os votos contra quem estiver usando."

Ninguém se manifestou e os votos começaram a ser lidos:

"Primeiro voto: ...Tatu. Segundo voto: ...Tatu”

Duda olhou para Cris nesse momento. A menina estava com cara de arrependimento. Tati e Tatu estavam de mãos dadas. Bárbara seguia na contagem:

"Terceiro voto: ...Thiago"

Thiago mirou os olhos em Tatu. "Só pode ter sido esse otário" - Pensou.

"Quarto voto: ...Thiago"

Pata arregalou os olhos e os dirigiu a Duda. Alguma coisa estava muito errada.

“Quinto voto: ...Thiago. Sexto e último voto: ...Thiago."

Pata e Thiago ficaram sem saber o que acabara de acontecer. De repente todos estavam contra eles, sem mais nem menos.

"Thiago, com quatro votos você é o primeiro eliminado da competição e terá que sair imediatamente por esse caminho." - Falou Bárbara apontando para uma passagem escura.

Thiago levantou com os olhos cheios d'água. Jamais passou pela sua cabeça que seria o primeiro eliminado do jogo. Seguiu em frente sem entender o que tinha acontecido e, antes de sumir na escuridão, deu uma última olhada para o grupo que deixava para trás.

"Traidores…" - Foi tudo que conseguiu pronunciar.

"Bem crianças, espero que isso tenha servido de lição para que vocês não cometam os mesmos erros. Comunicação é a chave para tudo nesse jogo. Podem voltar para o acampamento. Tenham uma boa noite." - Alguma coisa na voz de Bárbara parecia ter mudado. Como se até ela estivesse surpresa com a votação.

O grupo Ar saiu do conselho com a certeza de que ninguém estava cem por cento seguro. Até porque somente um, dentre todos os participantes, iria se tornar o Último Desbravador do Leste.