Batimentos Cardíacos escrita por Enchantriz


Capítulo 1
Capítulo 1: Batimentos Cardíacos




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— Zed? Ei, Zed?

A Soberana Sombria chamava pelos corredores do templo da Ordem das Sombras, procurando o quarto do Mestre das Sombras. Quando finalmente encontrou o cômodo que queria, ela entrou retirando o elmo negro da cabeça, o colocando em cima da cama bagunçada antes de se aproximar do criado mudo. Seus olhos brilharam com o polimento impecável de um conjunto de três espadas com os cabos envolvidos por detalhados dragões em ouro. Impressionada com tamanha obra de arte, ela estendeu a mão para tocar na arma.

— Ei, não toque nisso! 

A voz de Zed imediatamente atraiu os olhos de Syndra, a fazendo se virar para trás deslizando a ponta dos dedos sobre a lâmina da espada.

— Ah! 

— Droga...! – Zed praguejou, reparando no sangue escorrendo pela delicada mão. – Eu mandei afiar hoje cedo. Não era para você ter testado. 

— Vejo que fizeram um ótimo trabalho.

Ela levantou a cabeça para poder observar o rosto dele. O intenso tom âmbar das íris nos olhos dele o deixava ainda mais sério. E só então reparou que ele estava sem a máscara de ferro. A pele dele era clara, pálida, com algumas fracas cicatrizes. O cabelo branco, de lisos fios bagunçados, pingava sobre a toalha pendurada em volta do pescoço, exalando o cheiro do perfume amadeirado.

— Desculpe. – ele envolveu a mão ferida na toalha. 

— Não seja bobo, não tem por que se desculpar. Eu não devia ter tocado. 

— Está ardendo? 

— Não. Minhas pernas estão doendo tanto que eu não consigo sentir mais nada... – reclamou.

Zed abaixou os olhos, reparando na coxa esquerda de Syndra, na marca roxa quase no mesmo tom preto da longa meia.

— Onde conseguiu isso? – perguntou desconfiado. 

— Eu ando meio desastrada ultimamente. – respondeu, puxando a meia mais para cima, tentando esconder a mancha. 

— Hum. 

— Eu estou bem. – sorriu. – Não se preocupe. Foi só um acidente.

Era óbvio que aquilo não foi um acidente. Com certeza, Syndra tinha enfrentado alguém em sua ausência. Mas sem poder reverter o que tinha acontecido, ele apenas arfou dando de ombros. Em seguida, se virou para pegar em cima da cômoda um pequeno vidro com creme e o jogou em direção a jovem.

— O que é isso? 

— Passe onde está doendo e esfregue até esquentar. – explicou. – Vai melhorar a dor. 

— Nesse caso...

Um sorriso malicioso se formou nos lábios avermelhados. Syndra jogou de volta o vidro para Zed e se sentou na cama estendendo a perna.

— Você só pode estar brincando! – a voz dele parecia explodir de seu corpo. 

— Acredito que você seja a pessoa mais qualificada para fazer isso. 

— Tsc! Às vezes você passa dos limites, garota. 

— Se estiver muito ocupado, posso encontrar outra pessoa. – avisou enquanto analisava as unhas. – Quantos soldados tem aqui mesmo? 

— Quer cala a boca! – exclamou mal-humorado, sentindo as têmporas latejarem. – Eu juro que não sei onde estava com a cabeça quando fui te conhecer. – resmungou se agachando. – Onde está doendo?

A longa unha preta apontou para a parte interna da coxa onde estava a mancha. Por um instante, Zed sentiu um arrepiou irradiar por toda a sua coluna. Ele respirou fundo e engoliu seco, tentando manter o controle das batidas de seu coração. Devagar, ele retirou a longa meia sobre a coxa de Syndra. Pegou um pouco do creme e espalhou pela pele fina e macia como a seda, deslizando os seus dedos largos de um lado para o outro, massageando cuidadosamente. Até que ele ouviu ela soltar um breve grito.

— Isso queima! – exclamou Syndra assustada, sentindo a pele começar a arder. – Desse jeito você vai arrancar um pedaço da minha perna com isso, seu imbecil! 

— Eu sempre esqueço o quanto você é fresca.

Zed levantou cruzando os braços, desinteressado das reclamações.

— Ora, você...! – grunhiu. – Sempre com seus truques baratos! Eu tinha certeza de que essa coisa não ia dar certo! 

— Não está doendo mais, ou está?

— Não? – ela se questionou, confusa. – Não. – confirmou surpresa, sem ter reparado que a dor tinha desaparecido. – Impossível! Eu não acredito que esse negócio realmente funciona! – pegou o pote do chão, analisando interessada enquanto o homem revirava os olhos. – Que tipo de magia você colocou nisso aqui?

— Não tem magia, são apenas ervas. Só porque você tem poderes não quer dizer que tudo se resuma a isso, sabia? 

— Olha só quem fala...

Syndra encarou Zed, percebendo que algo em sua perna ainda incomodava ele.

— O que foi agora? Por que continua me olhando tanto? 

— Não. Nada. – ele discordou virando o rosto. 

— Hum... Ah! Não me diga que se sente atraído por mim? – caçoou. 

— Por você!? – gargalhou. – Claro que não! Tem outras mulheres com o corpo muito mais atraente do que o seu. – as palavras escorregaram por sua boca. – Já olhou para a Akali?

De repente, houve um ruído e os estilhaços do vidro da janela se espalharam pelo chão. O vento lá fora trouxa o profundo silencio para dentro do quarto, deixando o ambiente ainda mais hostil. 

— Como é? Repete.

A voz de Syndra soou assustadoramente calma, porém, os seus olhos estavam cheios de raiva, irradiando poder. 

— Você levou mesmo à sério o que eu disse? Foi uma brincadeira. – explicou como se fosse óbvio. – Por que está tão irritada?

Syndra entendeu que Zed tinha usado o nome da Akali para provocá-la. Só que ser comparada com ela esgotou toda a sua sanidade. Pensou o que tinha de tão sedutor naquela garota? Para ele não tirar a droga do nome dela da boca.

Lá no fundo, ela gostava dele. E jamais admitira isso. Que se sentia afobada toda vez que a sua pele era tocada por ele. Que tudo o que ele fazia a deixava muito inquieta. Ele abalava e perturbava a sua paz, mergulhando coisas triviais em sua mente em caos. Aquilo não era amor. Ah, mas não era mesmo!

Os lábios avermelhados emitiram um longo suspiro, deixando esvair toda a sua raiva, reprimindo o poder dentro de si. Agora disposta a se convencer de seus sentimentos, ela puxou Zed pelo braço, o fazendo cair no colchão para que ela pudesse se sentar acima do quadril dele. Séria, ela retirou o sobretudo, o deixando escorregar por seus braços antes de jogá-lo no chão, ficando em seu corpo apenas o justo vestido preto, realçando as curvas da sua cintura.

— Ei! Espera! – ele exclamou aflito. – O que você está fazendo!? 

— Eu devo estar apenas frustrada pelo que disse. – respondeu indiferente, se inclinando, apoiando as mãos nos ombros largos. – Então, vamos deixar isso claro antes que tenha algum desentendimento estranho.

Syndra aproximou o rosto do pescoço de Zed, lhe beijando a pele úmida, traçando um caminho até o queixo. A princípio, receoso, ele tentou gentilmente afastar ela. Era difícil manter a calma com ela ateando fogo no coração dele.

O que Syndra não sabia, era que Zed estava muito ocupado sendo dela para se apaixonar por outra pessoa. Toda vez que ele permanecia ao lado dela, o seu coração ficava estranho. A sua atenção não podia ser tomada quando ela se mantinha por perto. Ele, que raramente demonstrava qualquer interesse em alguém além de si mesmo, não sabia como se expressar. Queria conseguir dizer que gostava dela mais do que a odiava.

Os sentimentos dentro de Zed queimaram como brasa, e eclodiu. Todos os músculos dele se moveram para as suas mãos alcançarem o rosto de Syndra. Imediatamente, os seus lábios foram atraídos em direção aos lábios dela, os pressionando brevemente antes de instigá-la a abrir a boca, esfregando lentamente a sua língua sobre a dela, explorando minuciosamente cada espaço daquela cavidade. Pouco importava o ar abafado que se formava entre eles. Sentia o seu coração pulsar tão forte, tão rápido! Que precisa lembrar constantemente de desacelerar, pois as veias em seu braço direito contraiam ao apertar cada vez mais a mão na cintura da jovem. Até que ele afastou o rosto, levantou as costas e derrubou ela para o outro lado do colchão, rapidamente, se pondo acima dela. Novamente, ele a beijou com todo o seu fôlego. Mas em frenesi, ele afundou os dedos na cocha dela, na parte onde estava machucada, arrancando da garganta dela um sofrido gemido.

— Assim fica difícil eu me concentrar.

Zed arfou, fechando os olhos, arrependido. Ele abaixou a cabeça encostando a testa no ombro de Syndra, tentando arduamente se controlar e esquecer a dor que sentia por entre as suas pernas. Por mais que o desejo gritasse loucamente dentro dele, sabia que ela só estava fazendo tudo aquilo para provar ser melhor do que qualquer outra pessoa que ele a comparasse. Não tinha como tirar da consciência o peso de que se aproveitar da situação era extremamente errado. Portanto, após um longo minuto, ele deslizou suavemente a ponta dos dedos por entre os seios fartos até a barriga, depois, levantou o seu rosto vendo os olhos ansiosos dela esperando por uma atitude sua.

— Você não sabe nem o que está fazendo, sua idiota. – Zed resmungou irritado, pegando um dos travesseiros e jogando em Syndra. – Droga! Você me deixa no limite, garota! Se apresse e vá embora. Eu preciso de um tempo longe de você. – avisou se levantando, indo em direção a porta.

Atordoada, Syndra retirou o travesseiro do rosto e se sentou observando Zed sair do quarto. Outra vez, a raiva lhe ferveu o sangue e subiu à cabeça. A magia contida dentro de si aflorou através dos seus dedos, explodindo o travesseiro igual a um balão. 

— Argh! Eu te odeio!

Bufou se jogando para trás, no meio da chuva de penas brancas. Às vezes, ela pensava como teria sido aceitar os seus verdadeiros sentimentos por ele. Porém, o coração era um fardo pesado, e o amor algo muito imprudente. Ela não poderia ter alguém como ele tão próximo de partir o seu coração. Talvez fosse uma decisão dolorosa e frustrante, mas estaria tudo bem, desde que ele estivesse ao seu lado. 

— Acho que estou ficando maluca...

Syndra se virou de bruços, afundando o rosto na fronha do outro travesseiro, tentando esvaziar a sua mente.

 

Mais tarde, Zed retornou para o seu quarto, vazio, sem a presença de Syndra. Apesar de ter mandado ela ir embora, de alguma forma, esperava ainda encontrá-la ali. Naquele momento, ele se sentiu um tolo pelo que disse a ela mais cedo. Se arrependeu de cada palavra. Porque a reação de Syndra não foi de uma pessoa que não possuía sentimentos. Logo, decidiu ir atrás dela. Era algo inexplicável, aquela sensação que ele tinha de sempre estar sendo arrastado de volta para ela.

Zed foi para a floresta além da cidade de Tuula, onde encontrou Syndra sentada por entre as largas raízes de uma gigantesca árvore, distraída lendo o livro que estava apoiado nas cochas.

— Algum problema? – ela perguntou, incomodada com ele parado à sua frente. 

— Por que foi embora? 

— E por que eu ficaria?

Os serenos olhos prateados de Syndra encararam a profundidade do tom âmbar nos olhos sérios de Zed. Mas sem obter uma resposta rápida, ela voltou a abaixar a cabeça olhando para o livro. 

— Ei, olhe para mim.

A voz de Zed saiu baixa e suave. Ele se agachou estendendo o braço direito, prendendo os dedos nas bochechas de Syndra, a obrigando manter a atenção nele.

— Eu realmente não falei sério. Só queria ver a sua expressão irritada. Não quis te ofender. E naquela hora, – deslizou o polegar pelos lábios dela. – não é como se eu não tivesse pensado em continuar, acredite.

Tão fria quanto a noite de inverno, ela afastou o rosto da mão dele. E ele sentiu que esse era o seu castigo por ter mentido para ela. Procurou em sua mente por uma forma de se redimir, no entanto, algo o distraiu. Ele franziu o cenho e apertou um pouco os olhos, reparando nas páginas envelhecidas do livro, nos ideogramas mudando constantemente de posição como se fossem um quebra-cabeça tentando se encaixar.

— O que está tentando fazer? – ele perguntou curioso. 

— Procurando por uma tradução. 

— E onde você conseguiu esse livro?

— Estava na biblioteca em Fae’lor, na mesa do meu mestre Konigen. Por que o interesse? 

— Você não consegue traduzir porque esse idioma não existe. O meu mestre Kusho foi quem criou esse alfabeto para os Kinkou se comunicarem. – avisou. – E isso... – virou um pouco o livro em sua direção, para conseguir ler melhor as palavras. – Me parece ser apenas um diário velho.

— Ah! Me desculpe. – ela rapidamente estendeu o livro para ele. – Eu não sabia que era algo tão pessoal. 

— Você pode ficar. Não se preocupe. Kusho não guardaria um segredo importante aí dentro.

Afinal, o maior segredo de Kusho estava guardado com Zed, em seu passada frio e sombrio. Quando anos atrás, Zed cometeu o crime que sacrificou a amizade mais valiosa que já tinha feito. Ele descobriu tarde demais que seu mestre Kusho não era o homem mais sábio e honrado daquele mundo. Mas Syndra não precisava saber disso. 

— Você quer que eu te ensine? E leia para você?

Zed viu os olhos de Syndra brilharem como uma estrela cadente. Então, ele se sentou ao lado dela, pegou o livro e abriu na primeira página. Explicou calmamente como funcionava o alfabeto enquanto percorria os dedos sobre os ideogramas. Desta forma, ele passou longas horas em companhia dela, a distraindo com as histórias das viagens e batalhas contidas naquele livro.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. =)



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