Vinte minutos depois e muita chuva tomada, o mecânico chegou e nos deu a notícia que todos nós sabíamos que viria algum dia - A Chevy morreu.
– E agora? o que eu faço sem carro? - perguntei, andando de um lado para o outro da oficina.
– Você primeiramente deveria ligar para os seus pais, pedir para eles virem te buscar e depois cogitar um carro mais novo - o mecânico disse, cruzando os braços - como sua chevy é bem antiga, nem vou cobrar o reboque. Fica como um favor. - ele disse dando de ombros.
– Mason, meus pais não chegam antes das onze hoje. Eles têm pelo menos três cirurgias hoje, vou ficar presa aqui pra sempre - cochichei pra ele assustada, o fazendo rir.
– Vamos embora a pé - ele disse tranquilamente, e eu arregalei o olho.
– Mason, nessa chuva? - disse arqueando uma sobrancelha.
– Você não é assim tão doce - ele riu tirando um cabelo que estava grudado na minha bochecha - vamos a pé - completou, autoritário.
Não sei como, mas ele conseguiu me convencer à encarar aquela tempestade à pé pelas ruas, até chegarmos na casa dele, que era mais perto da oficina.
Atravessamos o saguão, e então Madison veio correndo em nossa direção.
– Vocês estão encrencados - ela ria da nossa cara - tipo, MUITO encrencados - a garotinha loira de olhos azuis chorava de rir da nossa cara, e eu olhei curiosa para Mason, que era a versão masculina e adolescente da garotinha.
Nos entreolhamos e antes que Mason perguntasse alguma coisa, Judith chegou à sala limpando as mãos no avental, e então arregalou os olhos quando nos viu.
– Sr Mason! O que aconteceu? o que o Sr. e a Srta.Hayes estão fazendo no meio da sala completamente molhados? - ela gritou avermelhando instantaneamente, e Madison ria.
– Me desculpe Judith, a culpa foi toda minha, meu carro quebrou e acabamos tendo que vir da oficina até aqui a pé - disse e ela balançou a cabeça em negação
– Não estou brava com vocês crianças, somente preocupada! Está chovendo muito forte e vocês podem ficar doentes, rápido, os dois pro banho! Bárbara, eu separo algumas roupas da Sra.Dye para você e você se troca - ela disse subindo às escadas.
Quando já não éramos mais audíveis, me dirigi ao Mason.
– Diga à ela que não precisa, eu vou pra casa -
– Você não vai sair daqui - ele disse cerrando os punhos - não nessa chuva Bárbie!
– Mason, eu vou sim. Eu tenho que ir pra casa, aliás, eu tenho que estar lá quando meus pais chegarem - disse, e então me virei pra porta;
– Nada está saindo como eu planejei hoje, eu só queria um tempo pra poder conversar com você - ele disse e então eu me virei.
– O que? - perguntei sem entender muito bem o que ele queria dizer com "planejei".
– Eu só queria passar um tempo com você, disse à Dylan que poderia sair com a Faith e então vim embora com você. Aí a caminhonete quebra, começa a chover... - e então eu o interrompi.
– Espera, você armou um encontro entre o Dylan e a Faith pra poder sair sozinho comigo? - perguntei.
– Não Barbie, você está entendendo errado... - ele começou e eu fui embora batendo a porta.

Não podia acreditar que o Mason podia ter feito aquilo. Uma coisa era querer ficar comigo, e outra completamente diferente era organizar um encontrinho entre a garota que eu odiava e meu melhor amigo. Quem ele pensa que era pra brincar assim com a minha vida?
Após algumas quadras debaixo de chuva forte, cheguei em casa e logo que entrei tirei a roupa para não molhar muito o chão. Mesmo que somente os andares de cima fossem de carpete, eu não queria molhar todo o taco do andar debaixo e depois ter que secar. Eu estava exausta pela caminhada e nervosa por causa do Mason, a única coisa que eu queria fazer era tomar um banho e dormir direto até amanhã.
Meus planos não foram concretizados porque logo depois que me deitei embaixo das cobertas, comecei a me sentir febril. Ótimo, eu ia pegar um resfriado gigante em plena temporada de jogos, e ainda por cima sendo capitã das líderes de torcida.
Desci até a cozinha e tomei alguns analgésicos, e me deitei no sofá. Cochilei e acordei com o barulho dos meus pais chegando do trabalho.
– Marcos, vem cá, eu acho que a Bárbara tá com febre - minha mãe disse e então percebi que ela colocava a mão na minha testa.
– Vou pegar um termômetro - escutei meu pai falando e subindo as escadas.
– Querida, você tá bem?- minha mãe perguntou e eu resmunguei.
– A caminhonete quebrou quando estava levando o Mason embora, e tive que vir a pé. A chevy definitivamente morreu - funguei e ri um pouco, e então tossi.
– Você não podia ter esperado a chuva passar na casa do Mason? - ela perguntou preocupada passando a mão pelos meus cabelos.
– Ah mãe...- resmunguei e então ela parou.
– Tudo bem, quando você quiser você me conta - ela disse e eu acenti com a cabeça.
Logo meu pai chegou com o termômetro e me examinou, como um bom médico faria; Tomei algum anti-térmico e minha mãe fez uma sopa, que depois de terminar de comer fui direto pra cama. Meus pais, embora passassem muito tempo fora, faziam tudo o que podiam quando estávamos juntos para que eu não sentisse tanta falta deles.
A noite passou muito rápido, em parte porque eu estava doente e em parte também porque eu não queria que a manhã chegasse. Era incrível como eu conseguia brigar todo dia com Mason, e então ficar receosa de como agir com ele no dia seguinte. E ele ainda queria que formássemos um casal, como se isso algum dia fosse ser possível.
Me arrumei, e então notei que tinha começado a nevar. Que ótimo, além de não ter mais carro eu teria que ir completamente empacotada para a escola. Se tem uma coisa que eu não gosto é o frio.
Depois do café da manhã tomado, e de vários suéteres colocados um sobre o outro, minha mãe me deixou na escola e, mais do que depressa, entrei na escola ajeitando a toca na cabeça.
– Bom dia melhor amiga mais linda! - Dylan disse pulando ao meu lado e plantando um beijo na minha bochecha. O nariz dele estava vermelho e no cabelo ainda havia um pouco de neve.
– Bom dia Dylan - respondi fanha, e ele riu.
– Parece que alguém já está doente - ele disse, segurando meus livros e me acompanhando até o armário.
– Acabei tomando chuva ontem - respondi enquanto guardava algumas blusas e separava o material para o primeiro tempo.
– Mason comentou comigo que seu carro quebrou, sinto muito - ele disse se sentando no chão embaixo do armário vizinho do meu, e me entregando os livros que segurava.
– já estava na hora, coitadinha da chevy, era idosa - disse e então terminando de separar o material fechei o armário e ele levantou - falando no Mason, você não viu ele hoje viu? - perguntei e ele negou com a cabeça.
E de fato : Mason não apareceu na aula. Após os períodos normais, estava no vestiário me aprontando para treinar com as líderes de torcida no ginásio (o campo estava coberto de neve) e, quando saí me deparei com Mason falando animadamente com os amigos se aquecendo para o treino de futebol. Ele fingiu não me ver, mas era óbvio que tinha visto, porque tinha enrijecido o corpo visivelmente.
Comecei o treino com algumas voltar pela quadra, e depois alguns treinos físicos. A formação não era definitiva, e então eu precisava ver quem aguentava a rotina de exercícios antes de começar a montar a coreografia da temporada.
Os garotos começaram a treinar, e estava bem difícil a coexistência na quadra. Após a terceira vez que um dos jogadores jogou a bola na direção de uma das calouras, resolvi interromper o treino.
– Quem é o capitão esse ano? - gritei e então eles pararam de jogar.
– Sou eu - Sebastian disse levantando a mão, e vi Mason revirar os olhos. Dylan me olhava curioso.
– Sebastian, posso falar com você um minuto? - perguntei, e ele acentiu.
– Tempo pessoal! - ele gritou, e então metade dos garotos sentaram na quadra, e outra metade pegou a bola e começou a brincar.
Fui até a porta do vestiário, e Sebastian me seguiu.
– Desculpa atrapalhar o treino de vocês, mas não tem como você pedir para que seu time tenha um pouco mais de mira? - disse sem graça - se algum desses chutes acertar uma caloura, terei que levá-la à enfermaria e eu realmente não gosto de lá -
– Me desculpe Bárbara, mas tem alguma coisa errada com o Mason hoje, ele está completamente fora do ar e só dá passes errados - ele disse chateado - não sei o que fazer.
– Não sou capitã do time de futebol Sebastian - ri - você que deve pensar sobre o que fazer com o time - completei - só peço que controle seus garotos certo? - disse e então sai.
Terminamos o treino juntos como sempre, e então Dylan veio correndo até mim.
– O que foi isso? - ele perguntou esbaforido.
– Isso o que? - perguntei pegando minha mochila.
– Essa interrupção do treino - continuou - você interrompeu o treino do nada.
– Não foi do nada Dylan - falei - vocês estavam totalmente sem mira e iam acabar acertando alguma das meninas.
– Como se uma bolada fosse matar alguém - ele disse mostrando a língua.
– Qual é ein Dylan? Qual é o problema realmente? - perguntei cruzando os braços e ficando de frente com ele, brava.
– O problema é que você não colocou a Faith na equipe - ele disse finalmente rolando os olhos - eu vi o treino e ela é realmente boa, a não ser pela rixa de vocês, ela tinha de tudo para estar na equipe - terminou de falar com a cara fechada.
– Você não está realmente brigando comigo por causa da Faith tá? - disse sem acreditar.
– Não estou brigando com você Barbie - ele grunhiu - só acho que você não foi justa - completou acusador.
– Dylan, cuida do seu time que da minha equipe cuido eu - disse me virando para sair, e então gritei em sua direção - Ah, e quando precisar de uma amiga, chama a FAITH - e sai esbarrando em pelo menos duas meninas da equipe.
Não era possível que esse ano fosse piorar, tudo o que podia acontecer estava acontecendo. Eu, Dylan e Mason estávamos mais afastados do que nunca, e a relação estremecida até a raiz. Sentia como se tudo estivesse saindo do meu controle, e eu gostava disso tanto quanto gostava de frio.
Cheguei em casa depois de alguns minutos e não estava com a mínima vontade de comer. Fiz um chá, e depois de me trocar sentei em frente à tevê para fazer dever de casa e aproveitei para me esquentar com ele. Os trabalhos estavam andando mais depressa do que o normal, já que eu não conseguia me concentrar direito em nenhuma pergunta das lições. A tevê me incomodava tanto quanto meus pensamentos.
Após duas horas, consegui concluir todas as tarefas. Não podia deixar que problemas pessoais interferissem nos meus estudos, principalmente se eu queria ir para harvard. Não conquistei a vaga de capitã das líderes de torcida logo no primeiro ano para jogar fora tanto estudo e dedicação por conta de dois garotos.
Logo meus pais chegaram e então o dia estava terminado.
Após uma noite bem dormida, todos os problemas parecem menores.

– Anda logo Bárbara, você vai perder hora! - meu pai gritou e acordei "catando cavaco". Após alguns minutos de afobação, olhei para o relógio e percebi que estava adiantada duas horas. Sim, meu pai estava me chamando duas horas mais cedo que o horário habitual.
Desci as escadas mau-humorada e então encontrei meu pai sentado no sofá assistindo à tv.
– Até que enfim você desceu, achei que teria que te trazer no colo até aqui embaixo - ele disse e eu mostrei a língua.
– Pai, você me acordou duas horas antes - disse brava - vou voltar à dormir - resmunguei e ele levantou com um salto.
– Não vai não, eu e a sua mãe temos uma surpresa pra você! considere como um presente de aniversário adiantado - ele disse balançando uma chave nos dedos e meu queixo caiu.
– Você não tá falando sério! - gritei pegando a chave e correndo para fora, dando de cara com meu novo carro. Era um Jeep Wrangler - e era novo.
– Obrigada, obrigada, obrigada! - gritei abrindo a porta e pulando para dar partida no veículo.
– Juízo ein - meu pai disse e eu ri.
– Papai, se eu não bati a chevy, pode ter certeza que não vou bater o jeep - gargalhei - não acredito! Não estou mais a pé!
– Para de drama que você ficou só umas horas sem carro - ele disse rindo, e então falou - vamos entrar que mais tarde você tem aula e está frio aqui fora.
Entramos e então ele preparou o café.
– Cadê a mamãe? - perguntei.
– Chamaram ela no bip, alguma emergência com uma das grávidas - ele disse. Concordei com a cabeça enquanto sentava para comer à bancada da cozinha.
– Mas será que está tudo bem papai? - perguntei bocejando.
– Acredito que sim, sua mãe é uma ótima profissional - ele disse me servindo waffles com calda - agora chega de papo, come e depois vai se aprontar porque o dia hoje é longo e eu daqui a pouco tenho que ir para o hospital também.
– Ok papai - disse, e então terminamos o café da manhã em silêncio.
Depois de comer, subi e fui tomar um banho e me arrumar para mais um dia de aula. Arrumei minha mochila e coloquei meu uniforme de líder de torcida em outra, e então comecei a arrumar os cabelos e fazer maquiagem. É claro que não ia muito arrumada, mas não sou daquelas garotas que ficam bonita sem fazer nada. Eu sempre fui acostumada à passar o básico e pelo menos prender o cabelo, ou fazer uma trança.
Depois de me vestir com algumas camadas de roupa quente, dei tchau para o meu pai e fui para a escola com meu carro novo, me sentindo realmente feliz em dias.
Quando parei o carro, pensei que Dylan viria correndo para me perguntar sobre o veículo, porém ele apenas pegou a mão de Faith e entrou na escola. Ótimo, agora ele estava realmente junto com aquela piranha.
Peguei minha mochila e entrei na escola, e logo percebi alguém em meu encalso.
– Sebastian - disse enquanto guardava os livros no armário.
– Oi Bárbara - ele disse, e eu o corrigi - pode me chamar de Barbie.
– Então Barbie, eu sei que como líder de torcida você vai ao jogo, mas queria te chamar para ir na festa que eu vou fazer em casa, caso ganharmos - ele disse passando a mão pelos cabelos castanhos.
– A é, o jogo, sexta não é? -perguntei.
– Isso mesmo, logo depois do jogo a galera já vai pra minha casa- ele concordou.
– Tudo bem então, eu vou sim. Só me manda o endereço certinho - disse.
– Não precisa, você vai como minha convidada de honra, eu te levo - e quando ele terminou de falar foi a primeira vez que olhei pra ele durante aquela conversa. Uau, ele estava me chamando pra sair, e por mais popular que eu fosse eu não era acostumada com pessoas me chamando pra sair. Muito menos com caras gatos e confiantes igual o Sebastian.
– A, tudo bem - disse corando - então depois do jogo - disse sorrindo e dando um aceno discreto, indo para a sala assistir ao primeiro tempo.
Mason, como de costume se sentou à minha frente porém Dylan sentou-se ao fundo ao lado de Faith. Eu nunca aprovaria aquele namoro, e estava especialmente brava com o Mason por ter dado o aval para isso acontecer. Até o final do ano eu ia matar eles dois.
Começando a aula, não conseguia me concentrar e a única coisa que fez com que eu acordasse dos meus pensamentos foi a última frase da aula. "Peguem as autorizações para a viagem até o acampamento, vai ser no próximo final de semana, e os trabalhos desenvolvidos lá valerão nota."