"Um jeito de pensar, um caminho no coração

Se eu fracassar, vou desmoronar

Talvez seja tudo um teste

Porque me sinto como a pior, então sempre ajo como se fosse a melhor

Eu sei exatamente o que e quem quero ser

Sei exatamente porque ando e falo como uma maquina

Estou por me tornar minha profecia realizada

Oh, não. Oh, não. Oh, oh, não."

***

Robb aguardava ansiosamente no salão interno de Winterfell com Jon ao seu lado, quase no mesmo estado. Batia, impaciente, o pé no chão num ritmo frenético. Conhecia muito bem a Greyjoy e sabia que ela abominaria a ideia de por um vestido e se enfeitar toda mesmo que fosse durante a visita de um rei.

Jon, no entanto, só estava nervoso por não poder estar ao lado de seus meios-irmãos durante a chegada do rei. Mais ainda por não poder estar ao lado de Ivory. E sabia que assim também o seria durante o banquete. Não era de se enganar. Sabia que Ivy era extremamente bonita e sabia que o rei e rainha tinham filhos.

Se seu pai se atrevesse a promete-la em casamento, não responderia por si, isto era certo.

Sabia que Robb temia a mesma coisa. Noryne era um diamante bruto, mas ate diamantes brutos tinham sua beleza selvagem. Os filhos da rainha podiam não serem seus principais pretendentes, mas haviam outros nobres na comitiva a Winterfell.

– Ela está demorando. - reclamou Robb, interrompendo seus pensamentos - Acha que ela matou alguém?

– Muito provavelmente não. Todas as camareiras saíram de lá correndo.

– Acha que devo ir busca-la?

– Acho que deve parar de se preocupar. - falou um Jon um tanto abobalhado - E, talvez, olhar para cima.

Ambas as meninas desciam de braços dados uma com a outra. Ivy olhou diretamente para Jon, sorrindo abertamente e indicando a reação admirada de Robb. Jon riu internamente, embora estivesse tão maravilhado quanto ao olhar Ivy. A diferença é: Ivy usava vestidos de vez em quando.

Noryne vestia um vestido verde com longo padrões em bronze, quase imperceptíveis, mas que davam um ar reluzente ao vestido.

Seus cabelos estavam presos em um coque frouxo que deixava alguns cachos caírem sobre sua face mal-humorada enquanto bufava, tentando sopra-los para longe da mesma. Resmungava algo sobre saltos altos serem estúpidos, vestidos serem estúpidos, reis estúpidos e algo que soou como loba pulguenta estúpida fazendo-a sentir sentimento estúpido de culpa estúpida.

Ivy riu abertamente quando ela resmungou a última parte, como se compartilhasse uma piada interna só delas que criava um humor no comentário que chegava num nível gigantesco de hilaridade.

Robb adiantou-se alguns passos em direção a morena e estendeu-lhe a mão. Nory olhou incerta dele para Ivy que a empurrou de leve na direção do moreno.

A Greyjoy se desequilibrou, tropeçando em seus saltos e chocando-se contra o peito de Robb. Riu abertamente quando ambos coraram furiosamente.

– Pare de rir ou arranco sua maldita lingua, Snow! - ameaçou, enquanto puxava a saia para cima e se afstava alguns passos de Robb. Abriu um sorriso irônico antes de falar a última frase - Ivy odiaria se isso ocorresse.

Ivy corou e deu uma cotovelada em Nory, o que causou uma careta de dor e uma risada fraca de alguém que conseguiu o que queria. Jon sentiu as bochechas queimarem e viu quando Robb riu de tal fato, em uma vingança prazerosa. Desejou poder lhe dar o soco que ele merecia.

– Certo, minhas amadas ladys. Estamos atrasados,o rei já esta chegando e vocês três já deviam estar na formação. - disse o bastardo.

– NÃO! Me recuso, nego, oponho, contrario! Discordo! Crio motim,qualquer merda! - Noryne declarou gesticulando com as mãos, com uma fúria tão súbita que sobressaltou a todos - Eu já pus um vestido, não serei colocada na "fila de inspeção" do rei!

– Nory, se acal... - ia pedir Jon quando Ivy pulou em cima dele tapando-lhe a boca.

– Jon... Nory é o tipo de pessoa que você nunca, jamais, em hipótese alguma pode pedir para ficar calma ou ela terá um surto - murmurou pausadamente - É assim com a maioria das mulheres, fica a dica. Deixe Robb cuidar disso e vamos sair de fininho, okay?

Jon assentiu, aturdido pela proximidade da face alva de Ivory, sua respiração batendo contra o rosto dele, lutando para conter o impulso de beija-la.

Acenou debilmente para indicar que concordava com os termos da garota antes de perceber que Nory havia subido as escadas e Robb a seguira. Não tinha muita certeza do que o irmão pretendia fazer, mas ele também tinha sua própria garota para cuidar.

– E tem mais, quero você atrás de mim na "fila de inspeção". Exatamente atrás de mim, entendeu? - exigiu.

– Bem sabe que não posso, Ivy. Sou um bastardo.

– Não venha me falar sobre bastardos, Jon. Lembre-se disso, antes de ser uma Stark, eu também sou Snow. Um papel com a assinatura de Benjen não muda tanta cousa assim. E você estará atrás de mim, entendeu? Até porque... - sorriu, como uma criança marota - Eu não te dei escolhas.

Foi arrastado por uma Ivy sorridente, e por alguns segundos sorriu como se ambos fossem apenas duas pessoas comuns vivendo um amor juvenil comum.

***

– Pare de me seguir! - esbravejou a garota Greyjoy.

– Nory, por favor. - implorou - Só quero que me escute. Só isso.

– Robb você sabe muito bem que eu nunca mais quero ver o rosto daquele homem. - gritou, voltando-se raivosa para Robb - Você sabe o que ele fez comigo!

Ela estava furiosa. Furiosa daquele jeito estranho em que ela se mostrava ameaçadora, mortal e irresistível, de uma só vez. Ainda assim o coração do herdeiro Stark se apertou dentro de seu peito ao ver os olhos negros marejados.

– Oh, Nory... - sussurou, aninhando-a em seus braços - Vai ficar tudo bem. Ele não pode te machucar agora que eu estou aqui.

– Ele é o maldito rei, Robb. - murmurou a garota, chorosa - Ele pode fazer a merda que quiser.

– Não, não pode. Fique atrás de mim na formação. Protegerei você. - apertou-a mais forte contra seu peito ao ouvi-la soluçar, como se isso fosse protegê-la do mundo - Eu prometo, se ele tentar toca-la eu corto as mãos dele.

***

A comitiva do rei estava quase chegando, mas a lerdeza daquela casa rolante a irritava profundamente. Montou seu cavalo e avisou que se adiantaria no percurso a cavalo.

Era de certa forma desagradável a formo como o clima frio se embrenhava sob as roupas mais quentes que possuía. Alysson era do Sul e pertencia ao Sul. Não se acostumaria ao Norte.

Viu um caminho na beira da estrada e ficou tentada. Com uma olhadela confirmou que ninguém a seguia e esporou o cavalo com energia. Era uma estradinha pequena, mal cuidada e relativamente dificil de se movimentar, com o que parecia uma pontinha de madeira no final.

Não pode evitar a curiosidade de ver para aonde iria dar a maldita passagem, então empurrou a placa precária de madeira. Ouviu alguém chamando seu nome e, prontamente, ignorou o chamado.

Logo que chegou no final do túnel escutou vozes de duas garotas. Pareciam estar muito animadas, falando de um vestido para uma ocasião especial e algo sobre um príncipe que devia ser maravilhoso.

Revirou os olhos ao pensar que este, provavelmente, na cabecinha deturpada delas devia ser Joffrey, mas, mesmo assim esperou elas saírem do quarto para entrar e dar uma olhada.

Quando, enfim, pode entrar percebeu que era o castelo.

– Oh, então eu vim parar no lugar certo. Isso sim é interessante.

O quarto era lindo, tinha uns doces estranhos, mas pegou alguns caso precisasse. Eram tantos elas não sentiriam falta de um ou dois.

– Quem é você?! - as duas meninas perguntaram, fazendo-a largar os doces e dar um "mini-pulinho".

– Eu... Sou... Sou... Lisy Waters, filha bastarda do rei.

– E... Como você chegou aqui? - a ruiva perguntou.

– Eu... Me adiantei. Me mandaram subir e avisar-lhes que a comitiva logo chegará, miladys. - falou respeitosamente, abaixando a cabeça.

– Oh, claro. Avise que já estamos descendo.

Com uma última reverência, a garota se retirou do cômodo e andou para a "entrada secreta", puxando um doce de dentro da manga de seu vestido.

– O nome é Alyson Lannister, otárias. - murmurou, antes de morder o pequeno bolinho.

***

Noryne bufou novamente, batendo os pés para afastar o frio e esfregando as mãos. Estava irritada por estar amedrontada e aquilo a deixava furiosa e com uma estranha vontade de voltar a chorar.

Olhou pra Jon, que brincava com a corda que amarrava sua capa.

– É entediante na segunda fila, hum? - alfinetou, tentando usar sua ironia como distração.

Jon riu, sem humor, mas entrando no jogo.

– Um bastardo e uma refém, não é bem uma fila ... É mais entediante ser protegido quando se está acostumado a cuidar de si mesmo.

– Nem me diga. - ela murmurou, amargurada. Jon notou como a garota parecia mais acuada e irritadiça que o normal.

– Nory, você está bem?

– Ora essa, óbvio que eu estou bem, Jon. Por que eu...

A fala da garota foi interrompida pelo solar das trompas anunciando a chegada do rei. Os olhos negros se arregalaram, os músculos se travaram e a cor sumiu de seu rosto. Nory podia ouvir seu coração nos ouvidos, como tambores de guerra anunciando sua perdição.

Jon ficou assustado frente à reação da garota mais durona que conhecia. Os olhos desafiadores e irreverentes que tanto encantavam Robb cerderam lugar à olhos perdidos e assustados de uma criança.

– Nory? Nory?! Noryne!

Viu uma das mãos de Robb agarrar outra da garota, o que a fez voltar um pouco a sí.

– Lembre do que eu prometi. Ele não pode feri-la enquanto eu estiver aqui.

– Pelos Deuses, eu espero que você esteja certo.