No final da estrada escrita por Carolina Carvalho


Capítulo 6
Seis


Notas iniciais do capítulo

MIL E UMA DESCULPAS PELA DEMORA! Eu já tinha o capítulo TODO planejado na minha mente, eu só não conseguia passar a ideia para o papel! Ele também está um pouco maior do que o normal, caso contrário, eu não conseguiria colocar tudo o que eu tinha planejado. Enfim, sem mais delongas,o capítulo o/



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A porta de entrada da casa de Leigh dava para um largo corredor com uma escada no canto direito. Lauren seguiu Rosalya pelo cômodo até entrarem em uma sala onde havia um grande painel branco com dois holofotes do lado para iluminar. Em frente, não muito afastado, havia um tripé com uma câmera profissional já posicionada. Do outro lado do local tinham, colocados de qualquer maneira, uma estante de livros, uma mesinha de centro, um tapete e dois sofás. Leigh estava sentado em um destes últimos, lendo.

– Olha quem chegou – disse Rosalya fazendo o rapaz levantar os olhos.

– Olá, Lauren – ele cumprimentou fechando o livro e colocando-o em cima do sofá. Enquanto se levantava, analisou rapidamente a aparência da jovem, que ficou com as bochechas levemente vermelhas.

– Oi, Leigh – ela retribuiu. – Me desculpa mesmo pelo atraso, aconteceu um imprevisto e eu não pude vir mais cedo.

– Não tem problema – ele disse de forma simpática. – Rosa estava bastante preocupada com você, então supus que algo grave poderia ter acontecido. Mas, pelo jeito, não aconteceu nada. Fico feliz que esteja bem.

Lauren ficou ainda mais constrangida por ter feito Rosalya pensar que algo tinha ocorrido com ela, fazendo com que Leigh também ficasse receoso.

– O importante é que ela tá aqui e a gente precisa se apressar – Rosalya disse enquanto pegava uma sacola de cima da mesinha e um cabide com uma muda de roupas.

– Mas a gente precisa acertar o cachê dela – Leigh disse.

– Vocês fazem isso depois, a gente tem bastante coisa pra fazer – Rosalya falou enquanto puxava a amiga pela mão e a arrastava até o banheiro que ficava ao lado da escada, no corredor.

O cômodo tinha um vaso sanitário, um chuveiro, um pequeno espelho e uma pia simples embaixo. Em frente, havia uma cadeira de plástico na qual Rosalya mandou Lauren se sentar ao mesmo tempo em que pendurava as roupas e colocava a sacola em cima da pia. Começou a procurar alguma coisa dentro dela.

– Me conta como foi – a platinada pediu enquanto pegava um pente de madeira e soltava o cabelo da outra.

– Ah, foi legal. Ele toca muito bem e eu gostei bastante das músicas da banda dele.

– Você sabe que eu não tô falando disso – Rosalya falou enquanto umedecia o cabelo da loira.

– Rosa, o que eu faço entre quatro paredes, fica entre quatro paredes – Lauren disse com uma expressão séria.

– Não quero detalhes. Quero saber se você gostou, se ele foi gentil ou um troglodita, se vocês pretendem ter alguma coisa séria...

Lauren prendeu a respiração ao ouvir a última parte. Não conseguia se imaginar em um relacionamento considerando o fato de que estava com câncer. Ninguém gostaria de estar com alguém que poderia morrer a qualquer minuto, nem ela mesma. A loira só tornou a respirar quando Rosalya praticamente deu um banho nela.

– Eu nunca vi ninguém com tanto cabelo, é até difícil de molhar – a platinada reclamou.

– Castiel parece até um cavalheiro – Lauren finalmente falou. – Meio desleixado, mas isso não vem ao caso. Eu gostei de tudo e ele quer sair de novo, mas não sei se devo.

Rosalya, agora penteando o cabelo da amiga, franziu o cenho – Por que não?

– Rosa, eu não preciso te explicar o porquê. E quando ele descobrir que eu tenho câncer? Vai me largar sem nem pensar duas vezes.

– Para de pensar nisso, Lauren! Eu já falei pra você que você tem que fazer tudo que tem vontade. E outra, se ele gostar mesmo de você, ele vai ficar contigo até o final.

– Mas isso é egoísmo.

– A gente tem que ser egoísta de vez em quando, é saudável. E outra, quando vocês se conheceram, você nem sabia que tava doente. Ele não pode falar nada.

Lauren parou para pensar um pouco. Concordava com Rosalya em partes. Era verdade que, às vezes, ser egoísta é bom, mas não nessa situação. Só o fato de eles terem se conhecido antes do acidente não justificava o que ela estava fazendo, afinal, ela aceitou seu convite para sair depois de saber de tudo. Mas não era só isso que estava incomodando a loira.

– O problema não é só esse. Eu não sei se gostaria de namorar com ele.

– Por quê? Pelo que você falou, você parece gostar dele.

– Gosto, mas não a ponto de querer namorar. Acho ele muito gostoso, é verdade, fora que ele tem outras qualidades, mas nós não temos química, entende? Acho que, no máximo, gostaria que fôssemos amigos coloridos.

Rosalya ficou quieta por alguns instantes.

– Então seja sincera. – falou ela finalmente. – Eu conheço Castiel há um bom tempo e, quando ele gosta mesmo de alguém, se entrega totalmente. Ele teve uma namorada e, nossa, como ele era apaixonado por ela! Mas ela foi muito filha da puta com ele, e eu lembro como ele ficou depressivo na época. Depois que ele superou ela, sempre que ficava a fim de alguma garota, fazia joguinhos para conquistá-la. Ainda bem que ele amadureceu e parou com isso. Mas de qualquer forma, é bom você falar pra ele o que quer realmente.

– É, também acho – Lauren concordou. – Mas duvido que ele goste tanto assim de mim.

Rosalya parou de pentear o cabelo da outra e pegou uma escova giratória que secava e modelava o cabelo de dentro da sacola e a conectou em uma tomada. Logo depois, começou a definir os cachos da loira.

– Eu vou ter contar uma coisa – disse a platinada -, mas você não pode falar pra ninguém que eu te disse isso.

– O que é? – Lauren perguntou curiosa.

– O Lys-fofo contou pro Leigh que o Castiel tava a fim de ter um relacionamento sério. Ele tá solteiro faz um tempo e tá sentindo falta de ter uma namorada. Mas toda garota que aparece, ou se joga com tudo pra cima dele, ou simplesmente o rejeita. Ele sempre prefere essas últimas, mas acaba se decepcionando depois porque descobre que elas não são lá essas coisas. E o Lys-fofo disse que você foi diferente; Castiel contou pra ele que, quando você saiu de perto dele na boate, ele achou que você fosse mais uma com quem ele iria se decepcionar, por isso não insistiu. Mas você surpreendeu ele quando o procurou de novo. E, pelo o que Lys-fofo falou, vocês também têm muito em comum. Sinceramente? Não vejo porquê o Castiel não se apaixonaria por você. Não digo isso só pelo que aconteceu, mas também porque eu te conheço.

Lauren refletiu durante alguns instantes sobre o que a amiga disse.

– Acho isso tudo um pouco estranho, sei lá – ela disse. – Mas, de qualquer forma, vou conversar com ele. Serei franca; direi que não quero nada sério.

Rosalya assentiu com a cabeça e, assim que terminou o cabelo da loira, fez uma maquiagem suave nela. Logo após, saiu do banheiro para que ela pudesse trocar de roupa. Lauren teve que vestir um vestido preto simples, uma meia-calça vinho, um casaco de couro vermelho e calçar um par de botas preto sem salto. Saiu do local e se dirigiu à sala em que estava anteriormente, onde o casal lhe esperava.

– Você tá linda, Lauren! – elogiou a platinada.

– Obrigada – agradeceu Lauren, sentindo-se um pouco envergonhada sem saber direito o porquê.

Leigh começou a negociar sobre quanto ela iria receber pelas fotografias, mas a loira não estava muito interessada em dinheiro. Ela só estava fazendo aquilo para ajudar o moreno. Portanto, acabou propondo uma quantia relativamente baixa.

– Tem certeza de que você quer só isso, Lauren? – perguntou ele. – Eu posso te pagar mais.

– Leigh, eu não estou fazendo isso por causa do pagamento – Lauren disse. – Estou fazendo isso porque quero te ajudar a fazer propaganda da loja. Além disso, estou adorando vestir essa roupa. – Ela passou as mãos pelo casaco e pelo vestido sorrindo, fazendo o rapaz rir levemente.

– Está bem, então. Mas é sério, se achar que é pouco, não hesite em falar.

Lauren assentiu com a cabeça e, assim que Leigh foi apagar as luzes da sala para ter as luzes dos holofotes como única iluminação do cômodo, o celular de Rosalya tocou e ela atendeu.

– Oi, mãe – ela respondeu fazendo Leigh e Lauren se entreolharem. Normalmente, quando a mãe da platinava ligava, elas sempre acabavam brigando.

– Mãe, antes de sair de casa, eu deixei um bilhete em cima da mesa da cozinha avisando aonde eu viria, você não viu?... Mas como eu ia adivinhar?... Não, você não disse nada!... Mãe, eu não posso sair daqui agora... Eu também estou fazendo um negócio importante... Está escrito no bilhete...

Rosalya demorou, pelo menos, uns cinco minutos discutindo no telefone. Leigh já havia apagado as luzes da sala há algum tempo e estava fingindo ajeitar a câmera, um pouco encabulado com a situação. Lauren não se sentia muito diferente; se encontrava em pé debaixo dos holofotes e em frente a câmera, encarando as próprias unhas e, de vez em quando, dava uma rápida olhada para a platinada, torcendo pra ela desligar logo o celular até que, finalmente, seu desejo se concretizou: Rosalya apertou com tanta agressividade a tela do aparelho que a loira achou que ela fosse quebrá-lo.

– Desculpa, gente, mas eu tenho que ir – disse a platinada, pegando a bolsa e a sacola, claramente furiosa.

– Por quê? – perguntou Lauren. Não gostava da ideia de ficar sozinha com Leigh, principalmente pelo fato de que mal o conhecia.

– Porque minha mãe acha que a vida dela é mais importante que a minha e que eu posso anular todos os meus compromissos em função dela.

Rosalya deu um rápido abraço em Lauren, um selinho em Leigh e saiu batendo a porta da frente.

– Então – começou o rapaz, ainda tão sem graça quanto a loira ali presente -, vamos começar?

A jovem fez que sim com a cabeça – Como você quer que eu fique?

– Faça algumas poses que você acha que fique melhor, só isso.

Lauren balançou novamente a cabeça, respirou fundo e colocou as mãos na cintura. Leigh começou a tirar algumas fotos enquanto a loira vez ou outra mudava a expressão do rosto. De repente, o moreno parou de fotografar.

– Você está um pouco travada... Espera um pouco, eu já volto – disse e saiu do cômodo.

Lauren pode ouvi-lo subindo as escadas e se perguntou o que ele iria fazer. Começou a olhar em volta, entediada, até que se lembrou de que estava com sono. Olhou o sofá do outro lado da sala e ficou imaginando se daria tempo de tirar um cochilo ali enquanto Leigh não vinha. Entretanto, logo ouviu o barulho de alguém descendo os degraus e o rapaz surgiu no local com um celular na mão.

– Eu pensei que você poderia se soltar mais com música. Tudo bem pra você? – ele perguntou, fazendo a loira franzir o cenho.

– Eu não acho que isso vai funcionar...

– Por favor, tente.

Lauren pensou durante alguns instantes e, no final, concordou. Leigh começou a procurar alguma música no aparelho.

– Gosta de Cherry Bomb da The Runaways?

A jovem assentiu e o outro botou a música pra tocar. Lauren não sabia muito bem o que fazer, então começou dançar timidamente.

– Se solte – pediu Leigh. – Pode cantar também, se quiser.

– Eu sou uma péssima cantora – ela respondeu.

– Eu também, então, qual o problema?

A loira respirou fundo, se encheu de coragem e fez uma pose como se estivesse segurando um microfone.

– Olá, papai! Olá, mamãe! Eu sou sua ch-ch-ch-ch-ch-bomba de cereja! Olá, mundo, eu sou sua garota selvagem! Eu sou sua ch-ch-ch-ch-ch-bomba de cereja!

Leigh rapidamente começou a tirar diversas fotos. Lauren dançava e, aos poucos, ia perdendo a inibição. Logo a música acabou e a jovem foi trocar de roupa. Dessa vez, trajava um casaco comprido branco, calça legging preta e botas marrons. Quando voltou, o rapaz colocou pra tocar I Don’t Care da banda Fall Out Boy. A loira dançava e cantava a plenos pulmões, completamente à vontade, enquanto o outro continuava a fotografá-la.

– Hmmm, eu disse “eu não ligo para o que você pensa, contanto que seja sobre mim”, você disse “eu não ligo para o que você pensa, contanto que seja sobre mim”, eu disse “EU NÃO LIGO” – Imediatamente, ela colocou o microfone imaginário perto à boca de Leigh para ele cantar a próxima parte.

– Desculpa, mas eu não canto – o moreno respondeu.

– E daí? Eu também não, mas tô cantando, não tô?

Ele sorriu sem jeito e balançou a cabeça negativamente.

– Ah, é? – Lauren disse com um olhar desafiador. – Pois você vai cantar a próxima música.

Ela voltou ao banheiro para trocar de roupa pela última vez. Desta vez, vestiu um vestido verde-musgo de manga comprida e gola rolê, meia-calça preta e botas brancas. Voltou para a sala e fez questão de escolher a música: Don’t Go Away da banda Oasis.

– Por que escolheu essa? – perguntou Leigh.

– Porque você disse que era a sua preferida do Oasis. Se é sua preferida, você deve saber a letra.

– Eu já disse que não canto...

– Eu já disse que também não, mas mesmo assim já cantei duas músicas. Eu vou cantar uma parte pra você tirar as fotos e depois você vem, ok?

Leigh suspirou, derrotado, e concordou. Por ser uma canção mais lenta que as anteriores, Lauren não dançou tanto e tampouco cantou entusiasmadamente. Era uma música melancólica, daquelas que te faz querer chorar por horas a fio. A letra, para Lauren, era a parte mais entristecedora dela.

– Então não vá embora. Diga o que disser, diga que você ficará para sempre e mais um dia durante o tempo da minha vida porque eu preciso de mais tempo; sim, eu preciso de mais tempo apenas pra acertar as coisas.

Ela parou e apontou para Leigh, pedindo-o para cantar a próxima parte. Ele engoliu em seco, deixou a câmera em cima do tripé e começou, meio envergonhado:

– Dane-se a minha situação e os jogos que eu tenho que jogar com todas as coisas na minha mente. Dane-se a minha educação, eu não consigo achar as palavras para falar sobre as coisas na minha mente. – Ele foi se aproximando da loira, ganhando confiança em si mesmo. – Eu não quero estar lá quando você estiver caindo. Eu não quero estar lá quando você atingir o chão, então não vá embora...

Lauren sorriu e os dois cantaram juntos o resto da música, até dançaram um pouco. No final dela, quando só restava aquela bela melodia, a loira encarou o rapaz, feliz. Pela primeira vez em dias, não tinha pensado em doença. Havia dançado, cantado e, principalmente, se divertido. De bônus, sentia que estava ganhando um amigo. Um amigo que, ela agora notava, tinha olhos acinzentados. Não se lembrava da última vez que havia visto essa cor em olhos – aliás, não se lembrava sequer se já tinha tido uma última vez. Achou-os tão lindos que nem percebeu que já estava os admirando há alguns instantes e que seus lábios estavam entreabertos, indo de encontro aos dele. Quando as pálpebras do outro começaram a se fechar, a loira se deu conta de que ambos iriam se beijar. Na verdade, ela iria beijar o namorado da melhor amiga, e essa era a pior traição que ela poderia imaginar. Rapidamente se afastou dele, deixando-o atordoado.

– Eu... – Lauren tentou falar, mas não sabia o que. – Eu... Acho que eu vou indo, é. Eu só... Sabe, tenho que ir no banheiro pra...

Leigh fez um gesto com a mão, indicando que já havia entendido o que ela queria dizer e fingiu ir ver alguma coisa na câmera. Lauren saiu correndo em direção ao banheiro, trocou de roupa o mais depressa que conseguiu, pegou as próprias coisas e foi embora da casa sem nem ao menos se despedir do moreno. Andava nervosa pela calçada tentando entender o que quase tinha acontecido lá dentro. “Eu dormi com Castiel noite passada”, pensou. “Eu dormi com ele no primeiro encontro. Agora, eu quase beijei Leigh, namorado da minha melhor amiga. Parabéns, Lauren, você é uma vadia completa.”

Parou subitamente de andar, respirou fundo e finalmente decidiu que o melhor a fazer naquele momento era ir para casa. Estava exausta, precisava dormir e arranjar tempo para estudar um pouco. Pegou o celular e discou o número do táxi. Enquanto aguardava, os olhos de Leigh apareceram em sua mente. Ficou pensando neles durante alguns instantes, mas, assim que se deu conta disso, xingou a si mesma e tentou focar em qualquer outra coisa – de preferência, em Castiel. Foi então que se deu conta: não sabia qual a cor dos olhos de Castiel.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Podem me xingar também, eu deixo KK '



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