Legolas só poderia estar brincando comigo. Eu não queria ficar no palácio forçada por ele, ainda mais pra ajudar a tirar sua fama de príncipe mal-humorado. Mas ele estava tão cabisbaixo que tive certa dó. Em parte era minha culpa por meter os pés pelas mãos e sair dizendo tudo o que se passava em minha mente sem pensar nas consequências. Na verdade, para mim as consequências seriam dar o fora dali o mais rápido possível.

– Meu pai já me alertou sobre não estar levando isso a sério como deveria. – Légolas recomeçava a falar depois de minutos calado. – Eu realmente estava apavorado demais, e ainda me sinto assim. Sai com quinze garotas já e foi um completo desastre.

– O que exatamente aconteceu? – perguntei. Se eu tinha a nova função de limpar a barra do príncipe, deveria saber de tudo.

– Tudo bem. Do início? Naquela noite quando te vi na sacada do seu quarto, e a primeira garota foi embora?

– Você me viu? Como sabia que era eu? – a situação parecia ainda mais curiosa.

– Você se surpreenderia com a minha visão. – Légolas disse, rindo. – Pois bem. Naquela noite a senhorita, que no momento não recordo o seu nome, andava pelo castelo distraída quando eu a vi. Fiquei muito perturbado com a presença dela ali tão perto, mas fui falar com ela assim mesmo. Quando cheguei perto a primeira coisa que ela me pediu foi para sair. Não entendi, mal havia chegado, e nem me conhecido ainda, e ela já estava desesperada para ir embora. Disse à ela que poderia ir, então ela me pediu que parecesse que eu a expulsei. Ela tinha alguém, estava apaixonada, mas os pais insistiram para ela participar da seleção assim mesmo. Então, chamei os guardas e fingi que eu não queria ser perturbado por ninguém, e pedi para levarem-na de volta, pois estava expulsa.

“Quando finalmente conheci as outras, disse que não tolerava ser incomodado para que fosse claro que era eu o culpado por ela ter deixado o palácio. Mas não deveria ter dito aquilo, muito menos escondido de vocês. Tive um encontro com uma segunda elfa depois disso, mas essa chorou tanto, que tive que perguntar se ela gostaria de ir para casa, e ela foi. A terceira, dessa vez humana, atirou-se para cima de mim, tentou beijar-me e quase arrancou minhas roupas, e eu não tolerei aquilo. Acho falta de respeito consigo mesmo, e não desejo me casar com uma mulher assim. Quatro garotas depois dessa fizeram a mesma coisa, ditando as regras de meu pai, como se fosse algo perfeitamente normal e liberal. Algumas eu até quis beijar, confesso, mas não num primeiro encontro. Quando enviei uma carta a uma delas, dizendo que não tinha clima o suficiente no primeiro encontro, não significava que eu queria mandá-la embora, pelo contrário. Acho que muitas se confundiram, e muitas delas foram embora por vontade própria. E eu sou um fracassado, você tem toda razão de achar isso.”

Légolas terminou de dizer, e parecia emocionalmente abalado. A situação dele era ainda mais crítica do que eu imaginava, e sabia que ele estava falando a verdade. Tudo foi um péssimo mal-entendido, e ele não sabia lidar com aquilo de jeito nenhum.

– Você precisa mesmo de ajuda. – Disse, encarando Légolas como se fosse alguém que precisasse de mim o mais urgente possível.

Ele riu. E percebi que gostava quando ele fazia aquilo.

– Eu vou consertar isso. – prometi. - Vou contar a todas amanhã, no salão que passamos as tardes, tudo o que aconteceu exatamente como você disse. Mas tenho uma condição.

– E qual é?

– Você... quer dizer, vossa alteza, terá que passar mais tempo observando-nos, e tendo encontros com as garotas. Não expulse nenhuma mais, a menos que tire toda a sua roupa em sua frente – isso realmente é demais. – Faça apenas quando tiver certeza que aquela garota não é o que você está procurando. Você pode ter mandado o amor de sua vida embora já por causa disso.

– Eu prometo que vou tentar. Mas não sei exatamente como começar. Na verdade, o meu começo era com você.

Senti certa pena dele, eu realmente não era o melhor começo para ele. Mas a partir daqui, meu propósito era arrumar alguém que Légolas amasse completamente, e que valesse a pena.

– Bom, então eu vou ter que te arrumar outra garota. Prometo que amanhã mesmo eu te indico uma, e digo o que tem que fazer para que ela goste de sua companhia.

– Como assim goste de minha companhia? Não sou suficientemente agradável? – Légolas rebateu, e pareceu não gostar nada do que eu disse.

– Claro que você é. Vossa alteza é simplesmente magnífico. Atraente, bonito, um pouco arrogante, confesso, mas as garotas até gostam desse seu lado parecido com Thranduil. Tem bom porte, é cavalheiro...

– Muito obrigado.

–... Mas não sabe se comportar perto de uma mulher que gosta de você. – concluí, rindo um pouco da expressão do príncipe depois dessa conclusão que mais parecia dar-lhe um tapa em sua belíssima face.

Légolas respirou fundo, parecia controlar-se para não me mandar um palavrão grosseiro.

– Tudo bem, eu realmente não sou bom nisso. Passo a maior parte do meu tempo treinando arco e flecha, espada e caçando o que tiver que caçar. Estou mais para guarda real do que príncipe, e por mais que eu seja filho de Thranduil e tenha herdado suas habilidades, acho que não me pareço com ele quando o assunto é outras pessoas. Ele leva tudo do jeito que ele quer e mesmo sendo rude, muitas mulheres já se declararam apaixonadas por ele.

– Vossa Majestade tem um jeito especial de ser. – Disse, lembrando de quando ele havia me pego tocando piano essa tarde. – Talvez seja hora de você descobrir qual é o seu. Quer dizer, encarar as coisas de frente.

Légolas levantou-se e segurou uma de minhas mãos. Deu um beijo delicado nela e sorriu gradativamente.

– Obrigada, senhorita Luzziel. E espero ansioso por notícias suas amanhã. Espero que não tenha a assustado muito logo nesse início, mas eu realmente preciso de sua ajuda.

– Está tudo bem. Eu farei o máximo para o senhor conseguir.

– Por favor, não me chame de senhor, me faz sentir-me muito velho.

– E por acaso tem quantos anos? – perguntei curiosa. Acho que ninguém além dele saberia responder isso ao certo, talvez Thranduil.

– Isso é um segredo muito bem guardado, mas talvez lhe conte algum dia.

Légolas fez uma reverência e saiu, me deixando completamente só no jardim.

Saí de lá quando percebi que estava ficando muito tarde, e provavelmente minhas criadas estavam se matando para saber o porque de tanta demora. Fui andando calmamente pro meu quarto, o tanto que eu deveria contar para as outras garotas sobre tudo o que aconteceu já era exaustivo só de pensar.

Quando cheguei, a chuva de perguntas foi dada toda de uma vez, mal dando tempo de tentar explicar. Percebi que Ang e Vell estavam preparadas para juntar todas as minhas coisas e me mandarem para casa no dia seguinte.

Gritei um pouco pra elas se calarem. Era exaustivo depois de tanta conversa com Légolas ter que ouvi-las perguntarem-me até se eu o beijei.

Contei detalhe por detalhe depois que ambas se calaram, e tamanha foi a surpresa. Em parte, estavam felizes por saberem que eu permaneceria no palácio até o fim da seleção, em parte pareciam sentir tanta dó do príncipe quanto eu.

Deixaram-me descansar depois disso. Eu precisava começar a caça à noiva perfeita de Légolas no dia seguinte, e só de pensar nisso me dava dor de cabeça. Eu nunca conseguia ter amizade com nenhuma garota, e agora tinha que conversar com todas elas, fingindo ser sua amiga para ditar à ele o que em cada garota era positivo ou negativo, para ele tirar suas próprias conclusões depois.

Dormi quase que imediatamente quando apaguei as luzes do quarto.

~***~

As garotas me esperavam no salão. Uma semana depois de tudo o que Légolas me disse, elas pareciam ainda mais empolgadas, e a maioria contava sobre seus passeios com o príncipe. Ninguém foi expulsa, e as aconselhava sempre que dar em cima dele não era o apropriado. Não contei tudo sobre o que ele me disse naquela noite, mas eu era a porta de entrada pro encontro perfeito. Eu observava a garota, conversava com ela durante o dia, e antes do jantar encontrava-me com Légolas para dizer o que a garota tinha de melhor, e sempre sugeria algo para eles fazerem, o que o ajudava muito. No fim, sete dias depois eu já era mais do que bajulada pelas garotas, já que a maioria percebeu que tudo o que dizia dava certo. A esperança entre elas renasceu grandemente, e pude perceber que o clima estava muito melhor naqueles dias.

Não pude sequer ir até a sala de música tocar, e o rei ás vezes fazia-nos companhia no almoço, mas não me perguntava sobre isso. Talvez soubesse o que eu estava tentando fazer pelo seu filho, e que não tinha mais tempo nem para mim mesma.

No final da segunda semana, todas as garotas finalmente haviam tido a chance de ter um encontro no mínimo agradável ao lado do príncipe, e eu até julgava quem seriam suas preferidas.

Ao contrário do que eu achava, Légolas tinha mais intimidade com as humanas, e me dizia que éramos mais flexíveis, talvez não mais adoráveis, mas com certeza mais animadas com relação à tudo aquilo.

Ele parecia finalmente encaixar-se naquilo tudo, e me agradecia todas as noites por isso.

Podia dizer que, no mínimo, nessa altura da competição, havia encontrado nele um novo amigo.