Meu Trabalho é um Amor escrita por HAM


Capítulo 24
O Dia da Estrela


Notas iniciais do capítulo

Não me matem, não foi culpa minha.
Agora estamos entrando na reta final. Espero que tenham gostado :)



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Enquanto esperava na recepção do hospital, além do choro que não cessava, comecei a pensar em
quantas pessoas sempre passavam por dificuldades de saúde nas suas famílias e em como o governo
ou a sociedade nunca se interessava por seus problemas. Até mesmo eu não ligava muito para isso,
pois para mim, coisas do tipo nunca aconteceriam em meu lar.
Mas aconteceram.
Peguei no sono lentamente. Nem sei como consegui dormir naquelas condições. Mas não
importava, o dia 24 estava no fim e nenhum milagre havia vindo, foi assim então que cheguei à
conclusão de que ninguém viria me ajudar.
Felizmente eu estava errada.
O que veio pode não ser considerado um milagre, mas já era algo a se comemorar.
Enquanto meus sonhos se tornavam mais fortes e intensos, uma enfermeira se aproximou e me
chamou.
__ Senhorita? Senhorita?
Mais lentamente do que quando adormeci foi acordar. Cocei meus olhos e lhe lancei um olhar de
extrema preguiça.
__ O-oi...
__ Sua mãe está sendo transferida para uma clínica e realizará a cirurgia, pensei que a senhorita
queria acompanhá-la.
__ Ela está sendo transferida?! __ saltei energicamente da cadeira.
__ Sim, peço que prepare todos os pertences da senhora Diana.
__ Oh meu Deus! Muito obrigada! Obrigada Deus!
__ Você vai lá?
__ Sim, sim! __ Comecei a andar sorrindo de orelha a orelha, porém, parei subitamente__ Mas…
__ Sim?
__ Quem assinou os papéis?
__ Fui eu
Uma senhora de rosto conhecido apareceu repentinamente atrás da enfermeira com a sua postura
perfeita, sua roupa de grife, seu cabelo arrumado e penteado, seu chapéu de penas e com um
perfume extremamente familiar.
__ Helena?
__ Sim __ Ela suspirou em cansaço __ Eu posso não querer mais te ver em minha frente, mas Diana
continua sendo minha amiga, acho que devia ajudar.
__ O-oh, M-muito obrigada, obrigada mesmo, de coração!
__ Tá tá __ Helena abanava as mãos __ vamos logo, não podemos atrasar mais a cirurgia.
Ainda extasiada pela ajuda da senhora, quase não reparei a clínica, mas isso foi um tanto
impossível.
O lugar cheirava a riqueza. Não que nós pobres não podemos ter um aroma agradável, mas quando
entramos em um lugar como aquele, o ar é diferente.
Tudo era tão impecavelmente ajustado que andei com as mãos cruzadas no peito para não ter risco
de encostar ou quebrar nada, nem mesmo um copo, vai saber do que era feito não é mesmo?
Até hoje quando entro nesse tipo de lugar me sinto um tanto deslocada. Deve ser falta de costume.
Ou de dinheiro.
Enfim, só de estar ali minha aura se alegrou imediatamente. Até mamãe, em plena situação de quase
coma, parecia estar mais sorridente.
O tempo da cirurgia foi estranhamente rápido. Fiquei com angústia e esperei impaciente, mas tudo
acabou tão rapidamente que fiquei até com medo de que haviam perdido as esperanças.
Não foi por isso.
O sorriso do médico que veio nos atender pessoalmente já denunciava tudo. Mamãe estava bem e a
cirurgia ocorrera bem. Mas ela ainda não podia deixar a clínica, deveria ficar lá por mais algum
tempo.
– - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
__ Sim, sim __ repetia ao telefone enquanto enchia um copo de água __ mamãe está muito bem e
provavelmente terá alta no dia 27.
__ Dia 27!? __ Melissa gritou do outro lado da linha e até afastei o telefone __ Mas e o Natal?!
Hoje é Natal!
__ Pelo amor de Deus. Quer presente melhor do que esse?
__ Mas se mamãe foi curada, por que não liberam ela logo? Que coisa!
__ Não é assim que as coisas funcionam, e mamãe não está totalmente curada.
__ Hã? __ O ânimo na voz de minha irmã acabou __ Como assim? O que você está dizendo?
__ Ahh __ suspirei __ O caso dela era muito grave, fizeram a cirurgia e diminuíram a possibilidade
de… er… de óbito. Mas ainda assim ela precisará ser mantida em repouso e em constante
monitoração.
__ Eu… eu… __ Através do telefone, percebi que a voz de Melissa estava falhando dando início a
um choro __ Mas eu pensava que tudo já tinha ficado bem, que mamãe voltaria pra casa e tudo seria
normal como antes.
__ Não chore, mas é assim Mel. É melhor do que ver ela em um caixão.
__ Nem diga isso!
__ Calma __ deixei minha voz o mais alegre que conseguia __ tudo ficará bem, você vai ver.
__ Você promete?
__ Sim.
__ Ah... Que bom....
Logo, minha irmã desligou e eu pude sentir o remorso da mentira.


– - - - - - - - - - - - - - - - - - -


O estranho foi que no dia 25, Helena também apareceu na clínica. Acho que apesar de ser uma
pessoa da alta sociedade, cheia de frescuras e rodeada de pessoas falsas, ela levava a amizade com
minha mãe muito a sério, e isso me deixava feliz. Ah como deixava! Naquele Natal especial,
retornei a ter esperança na humanidade. Talvez ainda existisse e exista uma luz no fim do túnel,
meio apagada, esperando para trocar-lhe as pilhas e acender-lhe novamente. Uma luz chamada
amor.
E existe.
Quando a senhora passou, em seus saltos vermelhos e seu conjunto salmão, nem mesmo ousou a
retornar meu olhar piedoso, apenas virou os olhos de canto e voltou a andar como se eu fosse
invisível.
Não reclamei, até por que menti para ela e, mesmo com boas intenções, se eu tivesse filhos e a babá
mentisse sobre levar gente estranha e colocar eles em perigo, agiria da mesma forma.
Mas ainda assim, foi uma evolução. Se conheço bem Helena, ela não teria nem mesmo me olhado.
Bem, dizem que esse dia faz milagres.
Eu gostaria de dizer que não fui oportunista naquela situação. Ou que o destino resolveu agir
normalmente, mas era Natal, melhor, era eu. E quando se trata dessas duas coisas, nada,
absolutamente nada, sairia da forma planejada.
E também já não aguentava mais.
As pessoas normalmente dizem que a gente não manda no coração e todas essas baboseiras. O
negócio é que, me chamem de implicante se quiserem, mas o coração é só um órgão que bombeia
sangue para o restante do corpo e não tem nada a ver com sentimentos. O coitado acaba levando a
culpa que não tem. O problema está mais acima, no cérebro. Vai me dizer que não existe coisa mais
confusa do que esse monte de massa que a gente leva na cabeça? O negócio tem quase o mesmo
tamanho de quaisquer outros órgão e é responsável por todas as alegrias e burradas da sua vida
inteira. E ainda não contente com isso, resolveu se dividir em dois criando a parte da razão e a parte
das emoções. E advinha quem ganha? Poisé, para seres que devem ter feito um mestrado em
trouxice no céu antes de descer para a Terra, como eu, é claro que as emoções ganham.
E nesse vai e vem de hormônios da adolescência, Natal, minha personalidade e massa cinzenta que
não ajuda em nada, me vi procurando por Jonas em toda a clínica.
Sim, eu posso ser um pouco tonta as vezes, mas não sou completamente idiota. Meu coração, digo,
meu cérebro, minha intuição e até mesmo a outra parte do meu cérebro me diziam que ele estava
ali. Até por que era óbvio. Se eu fosse um cara e estivesse apaixonado por uma garota como eu, é
claro que não perderia uma chance dessas não é mesmo? Sua mãe indo visitar a amiga, que por
acaso é a mãe da sua paixão… Há! Não ficaria em casa nem que me obrigassem.
Nem demorou muito. A criatura também parecia estar me procurando e quando nos vimos quase
saímos correndo com um sorriso de orelha a orelha pelo corredor em direção ao outro, mas
convenhamos, não era um filme.
A aproximação foi lenta. De passinho em passinho. Olhando para outro lado e desviando o olhar,
fomos naquela lentidão, quebrada pela enfermeira rabugenta com seu direto e grosso “sai da frente,
quero passar”.
Jonas começou a rir como um idiota. Melhor, como ele mesmo.
Dei-lhe pequenos tapinhas como repreensão.
__ Para de rir, isso não tem graça.
Ele ainda dava suas risadinhas, mas logo fiquei vidrada naqueles olhos azuis e não consegui desviar.
Sabe quando você se apaixona por uma pessoa e, por mais que saiba que ela é uma completa idiota,
ainda assim não consegue passar muito tempo sem estar próximo de seu olhar, seu cheiro, sua
presença? Quando um simples “oi” já faz toda a diferença e que a ausência de diálogo entre vocês é
quase insuportável? Era assim que eu estava me sentindo.
Sem mais risadas, apenas com nossos olhares que já denunciavam tudo.
__ Nós… __ Jonas encorajou-se a falar __ Nós precisamos conversar


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