Minha mãe sempre me ensinou que eu não deveria usar a palavra 'detestar' para falar de pessoas. Ela dizia que não podia criar esse tipo de sentimento para com o outros. Eu a respeitava e entendia, mas certamente eu detestava muita gente. Muita mesmo! Mas ninguém conseguiu atiçar meu 'detestômetro' o tanto que aquela garota havia atiçado.

Logo após o harmonioso diálogo de 1 minuto com Alice, Jonas apareceu por trás perguntando quem estava na porta. A garota, com sua "charmosa naturalidade", simplesmente saltou no pescoço do menino como se fosse um macaco que reencontrou a mãe.

Fiquei furiosa. Tremendamente furiosa. Meu peito parecia que estava pegando fogo por dentro e que a qualquer hora fosse explodir. Por algum momento pensei no que poderia ser aquilo. Sim, era ciúmes. E ciúmes significava que estava admitindo gostar de Jonas. Foi naquele momento, em que eu confessei para mim mesma o quanto ele era importante.

Mas isso não era suficiente, afinal Alice continuava lá, agarrada no pescoço do garoto que estava de olhos arregalados com o susto.

"A cara dela te assustou Jonas?"

Fiz um bico do tamanho de uma montanha e fui pisando forte até o quarto de Tomas. Podem me chamar do que quiserem: Infantil, birrenta, idiota etc. Mas eu não estava ligando muito para meu nível de maturidade naquela hora. Não estava mesmo, tanto que coloquei a cabeça pra fora da porta do quarto para espiar o que os dois conversavam.

Não consegui ouvir muita coisa pela distância, mas o que escutei já animou os mais profundos demônios da trollagem que existiam em mim.

__ A-Alice? __ Jonas gaguejava __ O que diabos você está fazendo aqui?

__ Não posso vir visitar o meu par? __ Ela respondeu com uma 'voizinha' irritante

__ Seu par? Tá maluca?!

__ Você esqueceu que será meu par na minha festa de 15 anos?

__ O-oh! Ah, tem essa droga de festa.

__ O QUE?

__ N-nada. Mas por que você veio a minha casa? Falamos disso outra hora.

__ Não bebê __ "Quem essa criança tá chamando de bebê?!" __ Nós precisamos ensaiar a dança

__ M-mas...

__ Jonas, você quer que a mãe Helena venha aqui lhe dizer o motivo disso?

"ESPERA! Quem ela chamou de mãe?!"

__ N-não! Ok, vamos fazer isso logo.

" Não acredito que ela acabou de chantagear ele. Jonas você é um cara forte viu! Pelo amor."

Ele certamente não ia agir. Só pela voz já parecia um franguinho assustado esperando para correr para baixo das asas da mãe. Como eu nunca foi boba nem nada, sempre conquistei as coisas por mim mesma e não esperava que os outros fizessem algo por mim. Então eu decidi, que não deixaria ele saltar das minhas mãos.

Talvez Alice realmente tenha sido útil, afinal, sem ela eu não teria aceitado e decidido lutar por Jonas.

Sim, foi naquele momento em que decidi isso. Eu nunca havia realmente gostado de alguém. Isso pode parecer estranho, dramático e clichê, mas era verdade. Estava muito ocupada cuidando dos meus estudos, das minhas irmãs e da minha mãe. Passei aqueles anos anteriores culpando meu pai por nos abandonar em uma situação difícil, mas acabei esquecendo isso e segui em frente. Nunca pude ter o que realmente queria, porém dessa vez seria diferente. Pelo menos eu achava isso.

Enquanto pensava em um plano demoníaco para expulsar Alice do apartamento, uma música de valsa começou a tocar na sala e minha cabeça começou a rodar cenas terríveis dos dois dançando.

"ONDE É QUE ESTÁ AQUELA GAIVOTA QUANDO A GENTE PRECISA?!!"

Se a ave demoníaca não ia aparecer, eu ia! Com certeza ia!

Imitando o Agente 007, fui me esgueirando pelo corredor com um chocalho do Tom na mão até a sala. Ao chegar tive a enorme decepção de ver a cena dos dois dançando coladinhos juntos. Felizmente, Jonas parecia estar com uma cara de que iria vomitar a qualquer momento.

Sem pensar duas vezes joguei o chocalho no chão, atrás do pé de Alice e daí em diante você pode imaginar, não é mesmo? Primeiro foi um tropeço, depois um grito seguido de um tombo e por último minha gargalhada. Não aguentei. Ri igual uma diaba e não foi só eu. O próprio Jonas ficou sem saber o que fazer, tentava ajudar a garota, mas ficava sem forças para levantá-la, até que a menina decidiu agir por si só.

Só faltou voar no meu pescoço e me matar asfixiada, o que ela não fez, mas quase. Pegou o chocalho no chão e me ameaçou com ele.

__ SAI DAQUI! SAIA JÁ DAQUI!

Como eu não queria ir embora para casa com um calo na testa, saí do apartamento. Mas ai está! Saí vitoriosa, rindo até a barriga doer.

Entrei no elevador e me deparei com a cara fechada de Jasmim, mas quem disse que parei de rir? JAMAIS! E isso provavelmente deve ter atiçado alguma coisa na mente dela.

__ Do que é que você está rindo? __ Ela parecia nervosa __ Por acaso tenho cara de palhaço?

__ N-não é você __ Respirei fundo e me acalmei __ Eu não estou rindo de você

__ Para você ficar gargalhando desse modo deve ser alguma coisa muita engraçada.

__ É...

__ O que? __ Seus olhos brilharam.

__ Eu acabei com a raça da inimiga. __ Apenas em pensar na cena, comecei a rir de novo batendo freneticamente na parede do elevador.

__ Você fumou maconha menina? Que doida.

__É sério, tem uma patricinha interessada no Jonas.

__ A-alguém e-e-está interessada no Jonas? __ Sua expressão ficou aterrorizante.

__ Aham

__ E o que você fez?

__ Ela foi no apartamento para ensaiar valsa com ele, mas então, como mágica, um chocalho se teletransportou até a sala e a garota, PUFT no chão.

__ Mágica é? __ A loira me fitou com uma expressão irônica

__ É... __ falei de novo __ Mágica

__ Então quer dizer que você sente ciúmes do Jonas, hein.

__ E-eu? N-n-não, que isso... Ah quer saber, eu gosto dele sim! Pronto. Mas quem é você para falar? Não disse que não conseguia entender o amor? Que não conseguia amar?

__ Calma, você está muito exaltada. E sobre o amor... __ A voz dela baixou a um nível em que quase não pude escultar __ Eu talvez estava errada sobre isso.

Foi um choque. Um enorme choque para mim. Jasmim certamente não era uma pessoa que voltava atrás ou que admitia ter cometido um erro, principalmente na minha frente. Mas lá estava ela, totalmente vermelha me confessando aquilo. Toda a graça que me enchia antes foi trocada por angústia e por medo. Angústia pela confissão e medo pelo motivo daquela mudança. De repente, veio a minha mente um ideia assustadora de qual poderia ser esse motivo.

E pelo restante do dia, eu não consegui falar ou pensar em mais nada. Minha mente estava tomada por ideias assustadoras.