Fada do dente escrita por Gato Cinza


Capítulo 1
Meu amado guardião


Notas iniciais do capítulo

Desculpem os erros ortográficos e boa leitura



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Entro em casa com o belo loiro de olhos cor de safira ao meu lado. Naruto o nome dele, não sei Naruto de quê e nem de onde, não me importa saber. Ele me abraça assim que fecho a porta beijando meu pescoço sua mão quente começa a arrancar minha roupa. O interrompo. Enrolo meu bolero rendado com florzinhas desfiadas em volta do pescoço dele simulando uma dança ridícula e sensual. Ele sorri. Tem um sorriso lindo, sincero.

O levo para meu quarto. O jogo na cama e começo a dançar lentamente retirando minha roupa de modo provocante, não quero deixa-lo mais excitado que já está, quero apenas atrasa-lo. Queria que ele parasse de sorrir, os dentes dele prende minha atenção enquanto seus olhos brilhantes roubam toda pouca luz que há no quarto. Ele se levanta vindo me beijar novamente. Quero chorar em antecipação pelo que vai acontecer, mas precisa ser assim. Tem que ser assim.

Já estou quase nua quando vislumbro a sombra dele, sinto o ar frio que o envolve dominar o quarto, vejo os pelos dos braços de Naruto se arrepiarem, ouço sua respiração falhar, sinto seu coração pulsando mais forte ainda e desta vez sei que não é por mim. Os passos quase inexistentes se aproximando por trás de mim. Naruto me aperta contra seu corpo, fecho meus olhos com força, não quero ver, não quero sentir.

“Agradeço”. escuto aquele de olhos de rubis sussurrando em meu ouvido, meu coração falha duas batidas.

Congelo.

Volto no tempo.

Como se fosse uma propaganda ruim que vejo todos os dias.

Me lembro quando o conheci aos sete anos. Eu tinha perdido meu primeiro dente de leite. Minha mãe ficou eufórica com aquilo, ela mal via a hora de mandar colocar aparelhos em meus dentes para que eles ficassem retos e perfeitos, em sua euforia ela me deu uma espécie de boneco-mochila. O zíper na boca do boneco se abria todo, ele tinha um emaranhado de fios escuros tipo dreadlocks acima de dois botões vermelho-vermelhos costurados á mão onde deveriam ser os olhos.

– Posso dar um nome para ele mamãe? – perguntei animada enfiando lápis de colorir dentro de meu boneco-mochila

– Ele? – minha mãe estranhava o fato de eu sempre classificar tudo por um gênero.

Ele, ela, gay, hermafrodita. Mamãe ainda tentava saber de onde eu tinha tirado o significado de hermafrodita aos sete anos e como eu podia pronunciar aquilo melhor que pronunciava “pizza á bolonhesa

– Sim mamãe, bonecas meninas não tem cabelo assim – informei a ela puxando os dreadlocks embaraçados – E eu quero que seja ele, já tenho muito elas. Vou chama-lo de Itachi. Posso chama-lo de Itachi mamãe?

Sim, eu podia chamar meus brinquedos do que quisesse. Mamãe havia me mandado colocar o dente dentro de um saquinho e deixar debaixo do travesseiro para que a fada-do-dente viesse coletar e deixar uma moeda no lugar. Mas tinha um problema naquilo. Fadas...

Não fiz o que mamãe mandou, coloquei o saquinho vazio debaixo do travesseiro e o dente guardei na minha caixinha de musica. Também não dormi na minha cama. Se as fadas viesses elas iam me levar para a Terra do Nunca e eu ia ser como Peter Pan, nunca ia crescer, nunca mais ia ver minha família. Me agarrei á meu Itachi e me escondi debaixo da cama, por que os monstros estavam trancados dentro do armário.

– Não deixe as fadas me pegarem, Itachi... – repeti aquilo tanto que peguei no sono e sonhei que Itachi ganhava vida e me defendia de milhares de fadas que tentavam pegar meus dentes.

Na manhã seguinte estava tudo bem, mamãe me perguntou sobre meu dente. Eu menti, disse que as fadas malvadas deviam ter roubado e nem deixaram minha moeda. Ela não acreditou, claro, disse que eu devia ter perdido. Então eu peguei meu dente e dei á Itachi. Prometi que daria meus dentes para ele para que ele me protegesse das fadas.

Sonhei que Itachi aceitava meus dentes e que jurava me proteger para sempre se eu lhe desse dentes. Eu cresci, meus dentes pararam de cair e eu passei a achar aquilo tudo muita tolice, já não acreditava mais nas fadas e Itachi era apenas um brinquedo velho que joguei em um baú com muitas tralhas. Abandonei Itachi, mas ele não me abandonou.

Eu o via, em todos lugares. Vestindo uma capa negra me olhando na aula de história, caminhando ao lado de algumas crianças em uma tarde de domingo, encostado em um poste na frente de minha casa em uma noite de chuva. E me salvando quando um grupo me encurralou em um beco. Então eu tive certeza, era real, meu Itachi era real, não era imaginação minha. Mas ele estava enfraquecendo, precisava de dentes e eu não tinha mais para dar...

Um gato morto em um beco, um cachorro de um vizinho que escapou e veio parar em meu quintal, um corpo desconhecido saqueado no cemitério em uma madrugada, um mendigo em uma rua escura. Estava se tornando uma obsessão, uma paranoia. Itachi precisava de dentes e eu tinha que arrumar dentes para ele. Ele me protegia e eu o protegia. Mas então tudo mudou.

Quando meu namorado foi para minha casa, Itachi não gostou dele. Ele achava que estava sendo traído, nunca permitiria que me tocassem por que eu pertencia a ele e só a ele. Vi meu namorado ser sugado. Virando algo menos que fibras rejeitadas.

Meu corpo ainda não havia sido tocado por completo por ninguém. Itachi me fez sua, me fez mulher. Seus beijos, usas caricias. Aquilo me fazia querem mais e mais, mas para ter Itachi eu precisava dar vida para ele.

Uma morena de olhos perolados com quem eu estudava. Uma tagarela de olhos de esmeralda que conheci em uma boate. Um ruivo sensual de sorriso malicioso e mais uma porção de pessoas que eu atraia para meu apartamento. Suas vidas não eram mais importantes que á de Itachi, não para mim.

Volto ao presente.

Ainda estou no quarto.

Está frio, tudo está frio.

Itachi está atrás de mim, ele espera. Sempre me espera.

Naruto ainda está encostado em meu ombro solto de mim.

As duas safiras estão congeladas olhando o vazio, estão sem brilho, há um filete de sangue escorrendo de sua boca. Seus lindos dentes não estão mais ali, nenhum deles. Saio do quarto correndo. Não quero vê-lo se alimentar, ele vai sugar o loiro até restar apenas uma fina casca inútil e vazia de nada. Não gosto de ver aquilo, mas é necessário que seja assim. Não posso perder Itachi. Para ele ser real precisa se alimentar e dentes não são mais o bastante. Ele se tornou dependente de vida tanto quanto me tornei dependente dele.

Eu tinha medo, mas agora entendo. Pertenço á Itachi e Itachi pertence apenas á mim. Me chamo Tenten Mitsashi e vago pelas noites, buscando vida para dar á meu amado guardião.


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Notas finais do capítulo

Hã... tchau?



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