"O destino é uma questão de escolha."

– Augusto Cury

Um cutucão. Eu senti meu braço sem incomodado por um maldito dedo, como se isso não bastasse ainda tinha a luz que vinha da janela depois das cortinas serem abertas, eu sentia como se fosse ficar cega, era horrível.

– Vamos levantar,Caroline, não me obrigue a jogar água na sua cara.- A “adorável” voz de Enzo combinadas com aquela “linda” frase foram quase como um tapa na minha cara, eu resmunguei, o gosto horrível na minha boca já me deixava quase enjoada, se juntando a toda aquela animação de Enzo me fazia querer cuspir meus olhos fora. Mas ele não desistiu.

– Eu não vou deixar você perder nosso último dia na fazenda, ficando deitada igual uma velha na cama.- Dessa vez ele simplesmente não me cutucou, acho que finalmente tinha usado a inteligência porque no instante seguinte ele segurava minhas cobertas quentinhas no braço, me deixando completamente sozinha na cama.

– Ah não! Eu quero dormir! Me deixe dormir, Enzo.- Resmungo, escondendo minha cara com as mãos, mas o inferno do sol parecia querer brilhar muito hoje, porque luz era o que não faltava naquele quarto.

– Não me obrigue a te arrastar, Caroline.- Ele me ameaçou bufando, jogando as cobertas no chão atrás de si. Longe é claro do meu alcance.

– Mas me diga o porque de acordar tão cedo ?- Eu manhei, me enrolando de alguma forma no lençol da cama. Enzo passou a mão nos cabelos, frustrado talvez.

– Tenho que te mostrar um lugar.- Ele diz, a voz animada deu uma tremida e isso com certeza não podia ser um bom sinal.

– Mas a essa hora ?

– Já são quase dez horas, Caroline.- Enzo me respondeu, parecendo sério. E então com as mãos nos bolsos se balançou pra frente e pra trás.

– Ah meu Deus! Eu perdi o café.- Eu podia estar com sono, mas a comida vem em primeiro lugar. Fome eu tinha de sobra, principalmente depois de ontem. Então de uma maneira inacreditável me desenrolei do lençol e corri até o armário pegando qualquer roupa ali.

– Na verdade a dona Elise, foi muito gentil e guardou um pedaço de bolo pra você.- Apenas deu tempo de Enzo dizer isso, pois logo em seguida eu já estava empurrando ele e qualquer coisa na minha frente pra fora do quarto, corri até o banheiro quase perdendo um par de meia no caminho.

O banheiro da casa era um pequeno cubículo nem tão cheiroso assim, enquanto colocava o short quase cai duas vezes, meus pés sempre escorregavam naquela arma branca que eles chamavam de chão. Depois de colocar o short não foi difícil terminar de colocar a roupa, hoje estava calor então a blusa salmão que usava era bem soltinha, tive que colocar botas, Por mais quente que estivesse eu amava botas.

Lavei o rosto e recolhi meu pijama, depois de jogá-lo dentro do quarto, desci as escadas para o primeiro andar, encontrando Elise recolhendo a louça suja de cima da mesa, assim que me viu parou o que estava fazendo, indo até a cozinha para buscar um pedaço de bolo e um copo de café pra mim.

– Obrigada.- Eu agradeci baixinho, tomando um gole do café, já não estava tão quente, mas dava pro gasto.

– Não foi nada querida.- Ela sorri pra mim, enquanto termina de recolher os restos do café da manhã espalhado pela mesa.

Comi o pedaço de bolo depressa e forcei o café a descer pela minha garganta o mais rápido que consegui, para depois me despedir as pressas de Elise,e seguir Enzo. Encontro ele parado na varanda da casa.

– Ei.- Chamo sua atenção, e posso ver seus olhos brilharem em preocupação.

– Podemos ir ?- Pergunta e eu balanço a cabeça concordando, ele segura minha mão e me leva até a gramado, me arrastando até perto da mata, ele me puxo um pouco mais para perto da floresta até que vislumbro o cabelo loiro de Stefan escondido atrás da mata. E então saco a jogada, não era um simples passeio com a pura intenção de aproveitar nosso último dia no Texas, se tratava de um pedido de desculpas arquitetado pela brilhante mente demoníaca de Stefan. Olho pra Enzo e vejo ele se encolher, me puxando mais em direção a Stefan, mas assim que vejo totalmente o corpo do idiota eu paro no lugar.

– Que palhaçada é essa ?- Eu quase grito enquanto pergunto, e Enzo estremece enquanto Stefan sai de seu esconderijo tentando se aproximar,mas eu me afasto tornando a tentativa totalmente falha.

– Stefan queria se desculpar com você.- Enzo responde por ele, eu até fico feliz, mas a pergunta tinha sido direcionada para Stefan.

– E cadê a desculpa ?- Pergunto impaciente cruzando meus braços,e Stefan balança os seus para espantar os mosquitos.

– Vamos Stefan, eu não perdi o passeio com os cavalos a toa.- Enzo ralha com ele, mas Stef não parece se importar, dessa vez quando ele avança e eu afasto, ele me puxa e avança dois passos me mantendo pressas em seus braços de modo que eu não tinha escolha se não olhar para os seus olhos e prestar atenção exclusivamente nele.

– Me desculpe Car, eu sei que fui um idiota, e olha o Jack não consegue nem falar comigo sem me chamar de puto safado maníaco sexual de merda, e eu sei que eu deveria estar pouco me fodendo pra ele, mas o problema é que eu realmente gosto da Katherine, e se eu quiser ficar com ela, eu vou ter que aturar o Jack pro resto da minha vida, e eu sei que fiz burrada, e que botei vocês dois em uma situação difícil, principalmente você Caroline.- Ele dizia tudo olhando dentro dos meus olhos, os olhos verdes de Stefan brilharam quando citou Katherine, eu sabia que ele gostava dela, mas cara eles tinham se conhecido não fazia nem três, e eu não tinha uma base muito solida quando se tratava de relacionamentos, mas eu entendia o suficiente pra saber que em três dias duas pessoas não podiam ter toda a certeza do mundo que queriam ficar juntas.

Ainda mais quando se irá ter um Jack na família pelo resto da vida.

E eu fiquei esperando igual a uma idiota, porque não podia ser só isso o que ele tinha pra me dizer, simplesmente não podia. Porque isso não era um pedido de desculpa. Isso era uma declaração e o pior era pra pessoa errada.

Então eu calmamente me soltei do aperto de Stefan e me afastei, e fiz a maior força para um sorriso debochado se formar em meus lábios. E Enzo acabou notando, ele tinha experiência de mais nisso para não ter notado.

– É isso que você tem pra me dizer? Que você está apaixonado pela Katherine ? Fala sério Stefan, acho que você está confundindo a garota, ou talvez a declaração. Porque não sei se notou, mas eu NÃO sou a Katherine, não estou esperando uma declaração sua, estou esperando um pedido de desculpa. Sério, isso é a coisa mais egoísta que você já fez. Não preciso que me diga que se importa com ela quando não se importa com ninguém mais, porque eu já sei. E talvez pareça que eu estou exagerando, mas perder o seu melhor amigo pra uma garota que ele conheceu a três dias machuca,e acho que você sabe muito bem como o processo de cicatrização é demorado!.- No final eu já estava gritando, as lágrimas ardiam enquanto teimavam em rolar pelo meu rosto, mas dessa vez eu as limpei, estava cansada de chorar, isso só me deixava com cara de fraca, eu até podia ser isso mesmo, mas deixar os outros perceberem o quando me destroem isso só machuca mais, e no momento eu estava ocupada de mais cicatrizando os meus problemas maiores, para me deixar ser ferida de novo.

Então eu corri, na verdade só percebi que estava correndo, quando meu corpo pegou o embalo da pequena descida que tinha ali, Enzo e Stefan estavam atrás de mim eu podia ver pelas sombras, mas eu não queria que nenhum dos dois fossem atrás de mim, a única pessoa que eu queria comigo agora estava em outro estado, e pela primeira vez na vida esse alguém não era Chris.

Eu corri pra dentro da adega meia boca de Jack , despistando os dois atrás de mim. Agarrei duas garrafas de Whisky e sai pela porta dos fundos minúscula, de fininho observei o movimento em torno do celeiro, demorou uns vinte minutos até estar totalmente abandonado então corri o máximo que pude para dentro dali.

Encontrei Kaleb dormindo no feno, ele cheirava a álcool e cigarro barato, então peguei as chaves das celas com a maior facilidade, achei a chave da cela privada de Charlene e destranquei, invadindo a cela e a trancando por dentro. Charlene estava deitada e então sobrava espaço pra mim, com a chave da cela abri a tampinha inconveniente do Whisky e tomei um gole no gargalo.

Eu precisava me lembrar depois de agradecer ao Jack por ter um Whisky tão bom, cada golada me deixava com mais vontade de beber, e quando dei um uma grande gole percebi que a garrafa já estava quase no final, não era a toa que nesse momento nem o barulho do meu celular parecia certo, tudo girava, mas eu continuava a beber.

Como em um piscar de olhos eu já estava abrindo o lacre da segunda garrafa, e dando o primeiro gole, minha visão já estava torta, mas uma coisa eu tinha certeza Charlene estava se aproximando de mim, deitando ao meu lado.

– Quer um gole garota ?- Eu ofereci, bêbada de mais pra ter vergonha de estar embebedando uma vaca, pra mim Charlene não parecia querer recusar, então segurei a garrafa na boca dela e não é que ela bebeu mesmo ? Porém no instante seguinte eu estava cansada de mais para continuar segurando a garrafa, nem notei, na hora que eu percebi já estava dormindo.

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Um barulho. Uma Voz. Não, era duas. Ou talvez três, eu estava bêbada de mais para diferenciar os números. Só sei que quando minha visão – mesmo estando uma grande merda- voltou, eu avistei um Kaleb neurótico parecendo que iria desmaiar, um Ty desesperado, e um Jack segurando uma vareta, fora a cara impagável de diversão de Enzo.

Então as coisas que eles diziam estavam se tornando mais claras.

– Vamos Jack, segure isso direito minha Charlene precisa ir ao médico.- Kaleb lamentava quase chorando, fazendo a cara feia de Jack ficar cada vez maior. Olhei para o lado, onde da última vez Charlene estava, e encontrei uma vaca quase dopada, mas não parecia que ela tinha tomado remédio, ela estava mesmo é chapada.

Deus eu embebedei uma vaca.

– Eu estou fazendo o que posso, então cale a boca, antes que eu mande você pegar a chave com a boca.- Jack resmungou enquanto com nem um pouco de maestria segurava a graveto ou pau, chame como quiser, aquilo era grande, ou talvez minha visão só estivesse duplicando as coisas, porque eu tinha certeza que Enzo tinha um irmão gêmeo ao lado.

– Vamos Jack eu sei que você consegue, ninguém conduz melhor um pau do que você.- Enzo torcia dando risada da situação, e eu contive uma gargalhada, porque na minha situação qualquer coisa seria motivo de risada. Jack parou o que estava fazendo, pra se virar pra Enzo os olhos quase esbugalhados.

– Que isso, me respeite moleque, sou um homem de família.- Jack se defendeu.

– É mesmo esqueci do seu momento com o Kaleb ontem a noite.- Enzo se lamentou, mas era falso . Jack bateu em seu braço e Kaleb bateu no outro, mas para o cowboy de merda nada é mais importante do que Charlene, então ele voltou a se concentrar.

– Ela está bêbada tadinha.- Kaleb sim se lamentava, olhando com dó para toda aquela cena,claro não pra mim e sim para Charlene.

– Eu devia tirar uma foto dessa cena, o título séria “ vaca Charlene saiu pra boate com as amigas e foi encontrada bêbada em um celeiro”.- Enzo zombou e recebeu uma cara feia de Kaleb, mas eu e nem Jack agüentamos e fomos possuídos por gargalhadas. Acho que no fim perdeu a graça pra Jack, mas eu continuei rindo e foi ai que eles descobriram que eu estava acordada.

– Graças a Deus, Caroline pegue a chave par gente ?- Kaleb pediu, o rosto colado nas grades, Enzo parou de rir na hora e olhou em minha direção par ver se estava tudo bem comigo.

– Hum?- Eu resmunguei, acho que eu não era capaz de falar mais do que isso.

– Ah não, ela também ta bêbada.- Jack diz,e não demora muito pra ele gritar.- Peguei!- Na ponta da vareta a chave estava pendurada, Kaleb a pegou e abriu a cela no mesmo momento, passando reto por mim e indo até sua vaca.

Espero que você morra também com a porra da sua vaca.

Enzo entra logo em seguida, me ajudando a levantar.

– Nossa você está molinha.- Ele diz sorrindo, me apoiando em seu ombro. – Você vai me dizer quanto bebeu ?- Ele me pergunta. Toda paisagem ao redor era familiar pra mim, mas parecia mais um borrão do que um lugar.

– Acho que ...uma ?- Eu não conseguia formular uma resposta coerente, então Enzo deveria estar feliz em conseguir isso de mim.

– Um pouco mais.- Ele sorri, e assim que percebo estou deitada no sofá da sala, com Elise me sentando para beber um suco ou sei lá o que, o gosto era simplesmente horrível tinha gosto de fermentado de couve com beterraba. Como eu disse simplesmente horrível.

– O que ...isso ?- Perguntei com a voz embargada.

– É uma receita caseira para passar a embriaguez.- Elise me responde com a voz doce de sempre, ela sorria pra mim como se eu fosse uma criança. Mas eu desvio o olhar procurando Enzo pela sala, e como se dona Elise soubesse o que eu estava procurando, me disse.- Ele está lá fora na varanda, querida

– Ah.- Murmurei, e ela pareceu um pouco chateada por só dizer isso, mas nas minhas atuais condições não era como se eu pudesse fazer mais do que isso. Vi Karri a neta do meio de Jack - também conhecida por mim como macumbeira dos cavalos - trazer roupas minhas para Elise, as duas me levaram até o banheiro e colocaram um pijama de frio largo em mim.

Katherine não estava ali, e eu nem queria saber onde ela estava, por que eu provavelmente não iria gostar da resposta.

Assim que as duas me acompanharam até a sala, Elise me deixou com o copo do suco do demônio e me mandou ir conversar com Enzo.

E eu fui, porque não tinha ninguém mais pra mim conversar, Klaus a essas horas devia estar no últimos momentos do seu plantão. Sentei ao lado de Enzo no degrau da varanda e ficamos juntos.

Sem nenhuma palavra. Apenas nós dois ali, sentados juntos. Observando tudo juntos.

Até que ele quebrou o gelo.

– Você está melhor ?- Me perguntou e a voz parecia normal, sem nenhuma emoção em especial .

– Um pouco, mas eu sinto meu corpo latejar e ainda estou bêbada, claro não igual quando vocês me acharam, mas mesmo assim estou bêbada.- Respondi soltando um riso nasalado, essas palavras pareceram ser o que tanto Enzo precisava,e eu não entendia o porque. Mas eu fui obrigada a entender.

Quando ele se virou de supetão e me beijou... Sem mais e nem menos, apenas colou seus lábios nos meus, o gosto de whisky e remédio caseiro dançando em minha boca. Mas não durou nem dez segundos, Enzo se afastou e olhando bem para o meu rosto, enquanto se levantava e corria para o mais longe que podia.

Longe de mim.

Me virei pra casa, ainda confusa,e caminhei lentamente em direção da porta. Girei a maçaneta e entrei. A casa parecia silenciosa, mas não porque não tinha barulho de conversas ou qualquer barulho, na verdade tinha. Mas sim porque minha cabeça girava em torno de tudo o que aconteceu, e todos os pensamentos terminavam com os flashes do beijo.

Talvez fosse o choque,ou talvez a falta dele. Mas eu sabia o que tinha que fazer, então subi as escadas com uma rapidez invejável. Entrei no quarto, e liguei pra ele.

Eu finalmente tinha tomado minha decisão.

Eu havia escolhia isso, eu havia escolhido ele.