White Is The New Black escrita por Vitor Matheus, Chery Melo


Capítulo 8
A Verdade Sempre Vem à Tona


Notas iniciais do capítulo

Explicação alguma que eu venha a dar aqui irá fazer vocês me perdoarem por esse hiatus de quase sete meses (!) em White Is The New Black. A enrolação já durou tempo demais, então... nos falamos nas notas finais e vamos logo ao capítulo que todos esperavam! Boa leitura!



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ㅡ Mandou me chamar, Finn?

Rachel adentrou o quarto do paciente em observação, pois Will a chamara quando saiu.

ㅡ Sim. Por favor, só continue em pé ㅡ ela estranhou o pedido, mas continuou andando até o pé da cama ㅡ aí mesmo.

ㅡ Por que me quer tão afastada?

ㅡ Porque você mentiu para mim.

A garota não precisava se fingir de desavisada. Só mantinha um segredo longe do grandão, e ele já o havia descoberto, pelo jeito. Seus lábios tremeram, ela já não conseguia mais se segurar firme no ferro da cama de Finn.

ㅡ Eu ia te cont-ㅡ foi interrompida por um inesperado surto do homem à sua frente.

ㅡ Não ia me contar coisa nenhuma! Nem venha com esse papo porque ele jamais vai colar comigo ㅡ as veias pareciam saltar do pescoço do Hudson, enquanto ele gritava ㅡ eu só vou te perguntar uma coisa e eu quero que seja sincera, por favor. Já não me basta eu estar de observação nesta cama por causa daquela reitora filha de uma Bruna Surfistinha da vida, não quero ir preso por gritar com outra mulher… só… me diz uma coisa.

ㅡ O que quiser.

ㅡ Por que não me contou que você mesma é paciente deste hospital tanto como eu?

Chegou a hora. Ela precisava contar tudo ou ele nunca a perdoaria por mentir daquela forma. E a verdade sempre vem à tona, independente dela contar naquele momento ou não. Então era melhor que fosse do seu jeito.

ㅡ Hey, Rach ㅡ Jesse, seu irmão, adentrou o quarto que a garota ocupava no momento ㅡ como você está?

ㅡ Eu tô numa cama de hospital, como você acha que estou? ㅡ Respondeu de forma ríspida uma jovem Rachel Berry com quase 19 anos de idade.

ㅡ Só quis perguntar e ver se você fazia como nos filmes ㅡ ele tentou dar leveza ao assunto ㅡ você sabe, aqueles bem depressivos que a gente vê e uns perguntam aos outros “você está bem?”, “como você está?” como se realmente importasse a resposta.

ㅡ E no final as pessoas só respondem que estão bem pra não prolongar o assunto e cair na choradeira ㅡ ela completou o comentário do mais velho ㅡ onde estão nossos pais?

ㅡ Ainda conversando com o médico ㅡ o quase loiro coçou a cabeça ㅡ não saem daquele consultório já tem um tempinho.

ㅡ Mas você não tinha ido com eles?

ㅡ Saí depois da primeira frase que a doutora Torres falou… não aguentei o tranco.

ㅡ Então você sabe o que eu tenho ㅡ Rachel se endireitou na cama para que Jesse se sentasse próximo a ela ㅡ não é?

ㅡ Olha, é melhor deixar que a médica te diga… você nunca vai me perdoar se eu disser o que você tem.

ㅡ Jesse Saint-James Berry, me responde essa pergunta: tem coisa pior do que ingerir cálcio todos os dias por conta dos esportes e ainda assim fraturar a região do joelho sem fazer um grande esforço? Tem?

ㅡ Primeiramente: você pulou de um carro em movimento porque nossos pais não queriam te levar ao McDonald’s e você acha isso um pequeno esforço?

ㅡ Acho!

ㅡ Garota, vamos ter de revisar seus conceitos ㅡ ironizou, levando um tapa da irmã em seguida ㅡ então tá, você quer que eu fale?

ㅡ Quero!

ㅡ Não tem volta.

ㅡ Não sou de arregar.

ㅡ Você vai começar a chorar porque o bagulho é sério.

ㅡ Agora eu estou com medo, J.

ㅡ Então não vou contar.

ㅡ Conta ㅡ a baixinha segurou o antebraço dele o mais forte que conseguia ㅡ o que eu tenho?

ㅡ É osteossarcoma, tá bem? ㅡ O jovem de 21 anos soltou a bomba em cima da garota devido à pressão.

ㅡ Traduza.

ㅡ Um câncer ósseo.

ㅡ C-como é? ㅡ Sem mais nem menos, lágrimas tomaram o lugar de seus olhos. ㅡ Eu tenho… câncer?

ㅡ É, eles tiraram raio-x da região fraturada e viram um tumor maligno por lá… sinto muito, irmãzinha.

Jesse a abraçou como se não houvesse amanhã, enquanto Rachel continuava a se debater em lágrimas ao passo em que estava envolvida pelos braços do irmão. Ela não conseguia mais raciocinar direito.

ㅡ Minha vida acabou, né?

ㅡ Nunca diga isso ㅡ o outro respondeu ㅡ você ainda pode fazer muitas coisas, Rach.

ㅡ Mas… se esse câncer for grave, eu vou ter que parar com tudo o que me faz viver de verdade! Eu sei!

ㅡ Eu fiquei mal depois daquela notícia ㅡ as emoções do fatídico dia pareceram retornar ao corpo de Rachel, que começou a tremer novamente e precisou puxar uma cadeira ali perto para se sentar ㅡ de repente não quis mais ver ninguém, nem mesmo meu irmão ou meus pais… eu me isolei do mundo todo porque eu pensei que seria uma nova Hazel Grace. Pensei que eu era exatamente como ela… uma granada que explodiria e atingiria a todos em minha volta.

ㅡ E você quis se isolar para que eles não se machucassem.

ㅡ Isso mesmo.

A Berry ficou aliviada por Finn ainda não ter gritado com ela sobre aquela história de não ter contado a ele que era paciente do hospital há um bom tempo, mas em compensação ficou nervosa porque não sabia como ele reagiria à verdadeira razão de ela não ter feito isso.

ㅡ A doutora Torres fez tudo que podia pra que eu não fosse amputada, e graças a Deus e a ela, conseguiram fazer um enxerto ósseo na minha perna esquerda ㅡ ergueu a calça jeans que vestia, mostrando ao Hudson as cicatrizes da cirurgia ㅡ você sabe, não é recomendável fazer radioterapia porque é arriscado, então ressecaram a região e fizeram o enxerto.

ㅡ Sente alguma diferença?

ㅡ No início eu mancava bastante na hora de andar porque tinha medo de que fraturasse de novo e acabassem amputando a minha perna, o que eu secretamente desejava bastante pra que o sofrimento acabasse… mas fui me acostumando e hoje consigo andar tão bem que você nem percebeu nesse tempo todo, não é mesmo?

ㅡ Sempre me disseram que eu devia usar óculos de grau ㅡ o maior se permitiu fazer uma piada, o que causou risos tímidos não só dele como dela também ㅡ mas… você ainda não respondeu o que eu perguntei.

A seriedade voltou ao ambiente, e se não fosse pelo sol adentrando pela janela e afetando diretamente o rosto de Rachel, ela teria continuado imóvel.

“Não está na hora, caramba, é cedo demais pra contar.” “Pondere bastante a respeito disso, Rachel… não tem mais volta.”

ㅡ Não sei se você quer saber disso, Finny ㅡ ela o chamou pelo apelido.

ㅡ É macabro? Porque, se for, nem precisa começar ㅡ ele riu em seguida.

ㅡ Não é nada monstruoso ㅡ a jovem sentiu suas bochechas tomarem a cor vermelha para si ㅡ é que eu tenho vergonha de admitir isso nesse tão pouco tempo que a gente se conhece.

ㅡ Deixa de enrolação e fala logo. Agora eu tô curioso, de um modo positivo.

ㅡ Então tá… quando eu vim cantar pra você naquele dia, eu pensava que seria só mais um paciente anormal desse hospital para quem eu cantaria, você agradeceria e fim de papo, eu partiria pra outro quarto ㅡ ela falava lentamente, como se estivesse medindo as próximas palavras ㅡ mas eu mesma senti uma energia diferente quando seus olhos abriram ao fim da música… e na semana que se passou eu só tive mais certeza ainda do quanto eu já gostava de você em tão poucas horas de contato, sabe?

Finn deixou um pequeno sorriso de canto se abrir enquanto seus olhos continuavam focados no que ela contava.

ㅡ E eu não quis te contar sobre meu osteossarcoma porque eu tinha medo de que você se afastasse de mim, de te machucar por dentro e de nunca mais nos vermos novamente. E eu queria te ver mais uma vez. Todos os dias. Todas as semanas possíveis. E com o tempo eu ganhei outra razão pra não te contar sobre isso… não quis te magoar. Você é legal demais pra eu fazer isso contigo, Finny. ㅡ E finalmente ganhou coragem para falar o que já escondia há dias. ㅡ Eu definitivamente gosto muito de você.

ㅡ Vem cá, Little Rach ㅡ mais surpreendente ainda foi a atitude do grandão em chamá-la para se deitar ao seu lado naquela cama estreita… mas assim ela fez e logo estavam juntinhos e aconchegados em meio aos fios que mantinham as taxas de saúde do Finn normais e perfeitas ㅡ eu realmente aprecio sua razão para não ter me contado da sua doença… mas eu não deixaria de te ouvir cantar só por isso. Jamais. Eu te pediria para voltar todos os dias e cantar algo comigo, mesmo que você passasse mal. Eu te chamaria sim porque não aguento mais passar um dia sem ouvir sua doce voz cantar as mais lindas canções.

ㅡ Já te chamaram de fofo ou de cavalheiro?

ㅡ Holly já me chamou do segundo nome, mas claramente ela não é um exemplo a ser mencionado ㅡ riram da piada de mau gosto, mesmo sabendo que Will ficaria chateado com tal ironia ㅡ quer saber de uma coisa?

ㅡ O quê?

ㅡ Eu também definitivamente e realmente gosto muito de você, Rachel Berry.

–-/--

ㅡ Por que me trouxe para o seu quarto? Sabia que eu tenho um?

Depois de Blaine Anderson pagar sua fiança, Rory pediu para que o mesmo o levasse de volta aos aposentos da universidade, já que a escolta da polícia certamente não faria isso. Só que o moreno americano levou o carro até uma outra unidade de quartos - dentre os quais estava o seu próprio.

ㅡ Está tarde e provavelmente a reitora July deve ter feito um mandado de busca e apreensão rumo ao seu quarto pra conferir se não há armas lá que possam matá-la depois.

ㅡ Como sabe que ela seria capaz disso? ㅡ Perguntou novamente o irlandês, adentrando o quarto de Blaine logo atrás do mesmo.

ㅡ Sou veterano, lembra? Segundo ano de Ciências Contábeis.

ㅡ Eu estava completamente bêbado naquela noite e só lembro de você porque acordamos juntos ㅡ respondeu rispidamente, e logo percebeu o erro ㅡ desculpe.

ㅡ Não é a primeira vez que sou menosprezado por outros caras, tudo bem.

ㅡ Assumido?

ㅡ Desde a última série do Ensino Médio.

ㅡ Não teve medo?

ㅡ Se eu não tivesse medo, teria me assumido desde a primeira série do high school ㅡ Blaine continuou ㅡ ou seja, tive receio, sim. Todos temos em algum ponto dessa história. Mas se não fizermos nada, o mundo fará por nós ㅡ deitou-se na sua cama, e indicou uma cadeira próxima para que o Flanagan se sentasse ㅡ e você? Há quanto tempo?

ㅡ Não muito. Desde as férias de verão, na verdade ㅡ coçou a cabeça ㅡ mas não acho que você queira saber da minha chata e entediante história de vida que só ganhou força quando eu viajei pra Las Vegas e tive um tórrido caso com um cara que no final das contas preferiu continuar no armário.

ㅡ Meu colega Joe Hart não vai dormir aqui hoje ㅡ o Anderson deu de ombros ㅡ pode se deitar aí na cama dele e teremos uma longa conversa.

ㅡ Se eu te conhecesse bem, diria que isso pode ser classificado como um encontro. Mas eu não sei muito da sua vida, então não posso afirmar nada.

ㅡ Isso seria um encontro se eu pusesse uma música da Taylor Swift no meu iPod?

ㅡ Eu não acredito ㅡ Rory se levantou da cadeira onde estava até então ㅡ pagou minha fiança só pra me conhecer melhor em um encontro que definitivamente não tem cara de encontro?

ㅡ Não, claro que não ㅡ o veterano se virou de lado para escolher alguma música em seu aparelho ㅡ estaria mentindo se dissesse que não tinha intenção alguma ao te tirar da cadeia, é óbvio, mas eu não planejava que a noite chegasse a esse ponto.

ㅡ Então por que chegamos até aqui?

ㅡ Porque eu mudei de ideia no meio da viagem ㅡ seu sorriso rente ao iPod deu a entender que achara uma canção ㅡ de um instante para outro, você se tornou uma pessoa que eu gostaria de conhecer e ajudar.

ㅡ Ajudar?

“Out of the Woods” começou a tocar no ambiente. Rory conhecia aquela canção muito bem, é claro, pelo simples fato de ser uma das suas favoritas. Seus dedos começaram a batucar no vento, como se ele estivesse imaginando uma bateria à sua frente. Blaine continuou a encará-lo, sem saber o que dizer em seguida porque aquela história começou de um modo nada convencional e ele não pensava em uma forma de consertar isso.

Danem-se as anormalidades, pensou.

ㅡ Conhece essa música?

ㅡ Vai me bater se eu te contar que amo as músicas da Taylor Swift e ainda assim não sou completamente um “fora do armário”?

ㅡ Te bater, não ㅡ coçou a cabeça ㅡ só te perguntar uma coisa.

ㅡ Manda.

ㅡ Por que você não se assumiu para todos se na primeira festa de faculdade que encarou, já foi dormindo com um cara como eu?

ㅡ Imagino que com “como eu”, você queira dizer “um veterano” ㅡ completou o sentido ㅡ não sei por que vou responder à sua pergunta sendo que eu admito estar bem desconfortável com ela, mas lá vai ㅡ a madeira da cama ralhou quando o irlandês se jogou nela ㅡ pra ser sincero, Blaine Anderson, eu nunca parei pra pensar no que exatamente me impediu de não contar ao meu círculo social que eu não gostava daquelas comissões de frente… primeiro pode ter sido porque eles com certeza não me aprovariam, digo, os meus pais.

ㅡ O clássico.

ㅡ Sempre tem os pais envolvidos nesse tipo de segredo, não é incrível isso? ㅡ Disse o Flanagan ㅡ Mas enfim, tive outros motivos também e no final das contas cheguei aqui e me senti livre para pegar quem eu quisesse e não ter de dar satisfação à família sobre isso… e eu sei que a verdade sempre vem à tona independente de como ela venha, porém eu decidi não contar mais e assim fiquei. Dá pra entender mais ou menos o meu caso?

ㅡ Seria clichê se eu dissesse que entendo?

ㅡ Não necessariamente… o quanto você entende?

ㅡ Quero te dar um abraço.

ㅡ Então você entende bastante.

ㅡ Sério, eu quero te dar um abraço e um conselho.

ㅡ Oi? ㅡ Rory se sentou na cama, ficando de frente para a cama do outro.

ㅡ Nós já fizemos coisa pior ㅡ abriu um sorriso maroto e arqueou as sobrancelhas de um jeito que fez as bases do irlandês tremerem ㅡ só finja que não há segundas intenções aqui.

ㅡ Tem segundas intenções com isso?

ㅡ Só se você pensar que tem.

Poucos segundos depois, Rory já estava na cama de Blaine, abraçado de lado com o moreno de cabelos encaracolados - de dia disfarçados com um quilograma de gel, à noite soltos e balançando ao vento livres e leves - e ambos se encaravam com ternura.

ㅡ Por que isso tudo? Sabe, nem em meus sonhos mais selvagens uma noite como essa aconteceria.

ㅡ Você não teria ido preso se a reitora July soubesse da sua sexualidade, vai por mim. E eu achei que talvez você precisasse de alguém que te dissesse as palavras certas para te ajudar a lidar com seja lá como for a revolução de sentimentos dentro de você, Rory. A questão é ㅡ involuntariamente, passou os dedos entre os fios de cabelo do irlandês ㅡ você quer essa ajuda?


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Notas finais do capítulo

OI OI GENTE! Tanto tempo depois, WITNB está de volta e dessa vez não vai entrar em hiatus... até porque eu decidi cortar a ordem de episódios pra não haverem mais enrolações: teremos mais quatro e aí digam adeus a essa fic. CHOREM QUE EU CHORO JUNTO!
Enfim, o que acharam do capítulo de hoje? Todo o passado de Rachel sendo revelado e Finn sendo mó fofo boy magia compreendendo tudo; Rory entrando em crise existencial e Blaine (numa aparição que nem eu mesmo esperava escrever) demonstrando um carinho especial pelo irlandês barraqueiro... tiros e mais tiros, não? Espero que ainda possam comentar dizendo o que acharam, por favor ;)

PS. A Chery Melo definitivamente SUMIU e por isso não foi ela quem escreveu esse capítulo. Quem sabe ela não retorna dos mortos para o episódio final?
PS.2: Capítulos inéditos todas as quartas-feiras a partir de agora. Get ready.



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