Capítulo 35 – Híbridos

POV do Edward

Bella ficou parada em frente à janela, sentindo os novos aromas e vendo o que seus olhos, antes, não conseguiam enxergar. Notei seu corpo arrepiando levemente, recebendo pequenos espasmos com cada novo aroma que seu corpo descobria. Era muita informação para um simples corpo humano assimilar. O sistema nervoso, sensitivo e – por incrível que pareça – o muscular, não estavam acostumados a tantas novas sensações, por isso dei a ela um tempo para poder tentar aceitar.

- Me diga. O que está sentindo? Quais os cheiros? – Perguntei curioso.

Estudei cada mínimo movimento que ela fazia. Eu precisava saber em que grau os efeitos estavam surtindo, se seriam lentos, ou rápidos. Ela ficou um tempo de olhos fechados, inspirando e expirando, até que finalmente falou:

- Madeira. Tecidos diferentes. Orvalho. – Ela disse baixo.

- Está muito bom. Está sentindo mais a fundo o cheiro das coisas. Mas ainda não sabe distinguir exatamente. O que mais? – perguntei.

- Sinto um aroma diferente. – Nesse instante, fiquei estático. Bella procurava de onde o cheiro que, para ela era diferente, estava vindo. – Não sei o que é.

- Te agrada? – Perguntei a ela, afastando-me e indo em direção a cama. Ela assentiu. – Vamos, me diga, ainda o sente?

Bella tinha uma capacidade incrível, além do normal, sobre-humana, de perder-se em seus próprios pensamentos. Ela ficou de olhos fechados, inspirando e expirando, mas ainda sim, perdida em seus devaneios. Sua mente, apesar de às vezes – na maior parte do tempo – ficar oculta para mim, conseguia ser um pouco legível. Esse tipo de coisa acontecia por causa do laço que agora tínhamos um com o outro. Não que eu sempre pudesse lê-la, mas na maior parte do tempo, eu conseguia pegar algumas palavras.

Agora, ela estava terrivelmente perdida. Eu conseguia sentir cada mínimo sentimento, sensação que invadia sua mente e seu corpo. Confusão. Nostalgia. Calma. Pigarreei, esperando que ela me notasse e então respondesse minha pergunta.

- Que cheiro é esse, Edward? – Ela perguntou novamente, conseguindo sentir o aroma.

- Venha. - estendi a mão a ela.

“O que está havendo? Não se pode nem dar uns pegas em paz!” Emmett xingou-me mentalmente, mas o porquê, eu já não sabia.

- Que reboliço é esse aqui? – Emmett abriu a porta de seu quarto e saiu com Rosalie ao seu lado.

- O que houve? – Amy e Christine subiram as escadas.

- Bella, me diga, sente aquele aroma ainda? – Perguntei a ela, incentivando-a a procurar pelo cheiro.

Ela ficou parada, fechou os olhos e voltou a procurá-lo. Eu sabia que levaria um pouco de tempo até que ela conseguisse distingui-lo dentre os outros, mas mesmo assim esperei.

“Não saiam daí.” Pedi a todos mentalmente.

“O que está havendo? Eu odeio quando não consigo ver o que está acontecendo.” Alice murmurou mentalmente.

- Eu sinto vários cheiros. Sinto aquele e sinto outros parecidos com aquele. – Bella finalmente abriu os olhos e virou-se em minha direção. – Me diga, que cheiro é esse. Eu não consigo saber. – Ela exigiu.

- Amor... – fui em sua direção.

- Omg! – Alice, Rosalie, Christine e Amy exclamaram.

- O que foi? As quatro resolveram ter visões? Vamos, odeio ser o último a saber das coisas! – Emmett resmungou.

- Emmett, todos nós entendemos, a única que ainda não entendeu é a Bella. – Jasper disse rindo.

- Então me conte, estou ficando agoniada! – Bella exclamou.

- Quais as sensações que você, Bella, sente quando sente esse aroma? – Amy fez a pergunta que eu iria fazer. Ela encarou-me, curiosa.

- Hum, isso está ficando interessante. – Emmett finalmente havia entendido.

- Ouvimos lá de baixo. – Damen apareceu junto a Demetri. – Estamos dentro!

“O fato é que estamos apostando, brother.” Emmett murmurou.

“Qual a aposta?” Alice perguntou.

“Quando ela descobrir qual é o cheiro, se ela vai ou não querer experimentar.” Jasper disse mentalmente.

“Edward vai oferecer, estou vendo. Ande, Ed, mostre a eles!” Alice dizia empolgada.

Todos sabiam que eu era um telepata, muitos consideravam as minhas formas de telepatia muita avançadas. Mas isso era só algo que fui adquirindo mesmo quando não era um vampiro completo. Suspirei, em derrota claro, entrei na mente de Alice e vi a visão que ela tinha tido sobre mim e Bella. Mostrei a eles o que eu via na mente dela. Emmett vibrava.

“Ok, ela vai sair do transe dela em poucos segundos.” Alice murmurou.

“Façam suas apostas!” Rosalie exclamou.

“Bem, Alice, guarde os resultados para si.” Demetri riu baixo. “Amy e Christine estão duvidando que ela aceite.”

“Eu e Demetri estamos a favor.” Damen falou.

“Jasper e Emmett estão a favor.” Rosalie murmurou. “Eu duvido.”

- Bella? – Chamei-a. Não havia se passado tanto tempo desde de que Amy pediu a ela que prestasse atenção no que ela sentia com aquele novo cheiro, mas pareceu passar um bom tempo desde então.

- Então, má cherry, o que sente? – Christine perguntou.

- É um cheiro que... não sei explicar bem. Eu sinto muitas coisas. – Bella disse de cabeça baixa. Ela já estava entendendo.

- Te agrada, não é? – Jasper perguntou. Ela assentiu.

- Um cheiro que faz você querer procurar por ele... – Rosalie murmurou.

- Que faz você ficar com água na boca. – Amy dissera o que faltava.

- Sinta. – Eu estendi meu pulso a ela.

Bella aproximou-o, com certo receio, de seu nariz, então inspirou. Ninguém – nem Emmett – ousava dizer qualquer coisa naquele momento, porque, por mais que ela não fosse – ainda – uma vampira, aquele era um momento somente dela e todos nós entendíamos isso.

- Sangue. – Ela disse por fim. – É assim que o sangue cheira para vocês?

- Não. – Amy murmurou. – Cheira mil vezes melhor. Você está sentindo só uma parte do cheiro. Quando você se tornar uma vampira completa, vai sentir.

- Vampira completa... – Bella murmurou baixo, quase inaudivelmente.

- Ed. – Damen encarou-me.

- Agora é com você, Cullen. – Amy disse virando as costas.

Estendi minha mão para Bella, que a segurou. Voltei ao quarto e fechei a porta. Bella sentou-se na beirada da cama e ficou olhando para o chão. Eu não entendia o motivo dessa aparente decepção.

- O que foi? – Ergui seu queixo delicadamente.

- Parece que vai acontecer tão rápido. – Ela disse baixo.

- É só essa parte que é rápida. Os dons vêm aos poucos.

- Quais eram os dons da Dominique?

- Controle. – Murmurei. – Ela tinha uma habilidade exímia de controlar a mente e o corpo das pessoas. Como ela era uma híbrida, conseguia fazer isso com somente uma pessoa por vez. Mas ainda não sendo uma vampira completa, conseguia ler mentes muito bem.

- Como fantoches. – Bella esboçou um sorriso com o canto da boca. – Quando era uma híbrida, ela caçava? Como era?

- Ela sempre ia acompanhada de seu pai ou sua mãe. Ela nunca era deixada sozinha. Ela comia comida como os humanos, mas às vezes a comida não era suficiente, então ela tinha que caçar. – Contei a ela.

- De quanto em quanto tempo?

- A cada dois dias, às vezes todos os dias... depende de quanto ela usava seus dons, ou se ficava muito tempo exposta ao sol, dependia do desgaste. – eu disse a ela. – Quer experimentar?

- Mas eu sei o gosto. – Bella murmurou. – E, não sei... algo em mim me impede.

- Isso é só um receio, Bella. Entenda, para nós, alimentar nossos companheiros é completamente normal. – Eu aninhei Bella em meu colo. – Emmett alimenta Rosalie, Jazz alimenta a baixinha.

- O Damen alimenta a Chris.

- Sim. Às vezes o Demetri alimenta a Amy. – Eu ri. – É completamente normal. Além do mais, você sentiu o gosto quando era completamente humana, não um... projeto de híbrida. Então?

- Tudo bem. – Ela sorriu fraco.

- Eu garanto. Você vai gostar. – Assegurei a ela.

Assim que ela assentiu novamente, deixei que meus caninos aparecessem e então levei meu pulso a boca. Fiz um corte na pele e esperei que o sangue começasse a gotejar lentamente. Ergui meu pulso em direção a boca de Bella. Ela ficou meio receosa no início, mas mesmo assim, segurou-o com as duas mãos e o levou a boca. Seus lábios quentes tocaram a pele fria do meu braço, então eu pude sentir a pequena pressão que seus lábios faziam ali, juntamente com o sangue que era sorvido pouco a pouco.

Alguns instantes depois, ela parou. Passei meu dedo no canto de sua boca, limpando a gota que escorria. Ela sorriu.

- Qual o veredicto? – Eu disse sorrindo. – O que está sentindo?

- É...

- Bom?

- Sim. – Ela disse sorrindo. – Parece que agora me sinto satisfeita. Parece ser adocicado... me deixa mais forte. Não sei. Porque você disse que Dominique se alimentava quase todos os dias?

- Os híbridos são um ponto falho da nossa espécie. Eles têm... como posso dizer... um metabolismo mais rápido, justamente porque seus órgãos funcionam.

- Mas você disse que quando se alimenta os seus órgãos funcionam.

- Exato, mas eu não sinto fome, além da sede claro, não tenho vontades fisiológicas. – Expliquei-lhe. – Você, por exemplo. Vai continuar comendo, bebendo, fazendo suas necessidades, tendo que se exercitar e tomar sol. Tudo isso gasta energia, então, você acaba tendo que se alimentar, falo do sangue, sempre. Sua recuperação é mais rápida também, tudo isso gasta a energia que o sangue lhe dá.

- Agora entendi. – Ela respondeu. – Eu não vou sentir uma sede louca e sair atrás dos humanos, não é?

- Não, fique tranqüila. Até porque você não consegue rasgar a pele como nós conseguimos. – eu ri.- Então agora, assim como meus irmãos, vou ter o prazer de lhe alimentar.