Entre Príncipes e Princesas- Interativa escrita por Waterfall


Capítulo 3
Vossa Alteza Real


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus queridos leitores! Sentiram minha falta? Espero que sim!
Aqui está mais um capítulo. Ele apresenta quatro personagens, a feminina da NMEU, o casal da NMO e a feminina da NMA. Espero que tenham gostado.
Ah, LEIAM AS NOTAS FINAIS!



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— Emily, há uma visita para você— disse Lilian Parks ao pé da escada de vidro. Ela hesitava entrar no quarto de sua filha adotiva desde que recebera a terrível notícia, uma semana atrás.

Como de costume, foi ignorada. Sempre que ficava deprimida, sua filha se isolava de todos, como uma borboleta em seu casulo. Sempre fora uma cena de partir o coração, ela mal deixava o quarto e comia menos do que o aceitável.

— Você não pode se esconder nesse quarto para sempre— disse Lilian, a voz beirando o choro. Estava prestes a perder a garotinha que criara por treze anos e esta mal a olhava.

Por fim, suspirou derrotada. Mais cedo ou mais tarde ela desceria as escadas e receberia o representante da Família Real à porta. Talvez pudesse convencê-la a comer durante a visita.

Enquanto isso, no fim da escada, estava um corpo.

Não um ser humano, não uma garota.

Um corpo. Uma carcaça. Uma vaga lembrança da felicidade que um dia chegou a habitar aquele belo cadáver.

Morta.

Emily sentia-se morta, embora soubesse que não estava. Comparava-se a um zumbi, ainda que fosse bonita demais para realmente sê-lo.

Exausta.

Sim, ela estava exausta. Não aguentava o peso do próprio corpo, suas pernas bambeavam como se fossem feitas de barbante e seu coração batia forte como o de um passarinho. Pequeno, frágil e indefeso, assim como a própria.

Furiosa.

A única emoção que lhe sustentava um propósito. Ela fora tirada daqueles que a trouxeram ao mundo, entregue a atrapalhados substitutos e quando finalmente adquirira uma vida para chamar de sua tiravam-lhe tudo novamente.

Ela queria gritar, pular, espernear e se retorcer como um animal cheio de fúria. Se não tivesse bom senso, provavelmente o faria até seus pulmões não aguentarem.

Seus demônios interiores lutavam e brigavam bravamente pare se expressar, debatendo-se em seu interior como um louco em uma camisa de força.

Por que todos queriam tirar sua felicidade?

Por que tirá-la de sua vida em sua melhor fase?

Sem respostas ou esperança, Emily suspirou derrotada e se levantou da cama, sua única confidente no momento. Nem a própria mãe entendia suas mágoas.

Ligou o chuveiro, tomou um longo banho. A sensação da água fria queimando sua pele era tão boa que por um breve momento considerou-se masoquista.

Quando percebeu que estava gastando a água doce do mundo para alimentar sua tristeza, saiu do abraço acolhedor da solidão aquática. Com uma facilidade assustadora, arrumou-se. Sua capacidade de ficar bela e elegante em poucos minutos sempre causou inveja às suas amigas. Seus cabelos loiros naturais também.

Com um esforço maior do que o de Atlas*, Emily desceu as escadas e encontrou o representante da sua futura família.

A terceira até então.

...

Enquanto isso, na chamada Nova Monarquia Oceânica, Aurora tentava se concentrar nas ondas.

Tentava.

O dia estava muito bonito. O sol brilhava intensamente, mas não queimava sua pele, como se zelasse por sua saúde. A areia estava fofa e gelada, refrescando-a, e as ondas quentes quebravam tão lindas e belas que pareciam convidá-la a entrar.

A natureza clamava por sua presença, tentando de todas as formas arrastá-la para fora da realidade e seus problemas. A correnteza era muito mais do que apenas a água puxando-a, o amor pacífico do mar a arrastava de uma maneira muito mais forte. Grande parte de si lutava e berrava para entrar na água sedutora.

Mas ela não podia.

Não podia entrar e esquecer que teria que abandonar sua família e viver com o Rei e a Rainha dentro de vinte e um dias. Não podia esquecer que nunca mais surfaria, jogaria vôlei e faria as temíveis “coisas de menino”, como sua mãe dizia.

Não podia esquecer que teria que embarcar com seu irmão em uma viagem até Sydney e fingir que era sua namorada perante o mundo inteiro.

Como ela poderia aparentar estar apaixonada por Xavier? E se tivesse que beijá-lo? Ou casar com ele? Ele definitivamente não era seu tipo e nem ela o dele.

A simples ideia de receber o próprio irmão no Altar já lhe revirava o estômago. O representante da Família Real que os recebeu dissera que eles se pareciam pouco e tinham uma química impressionante, o único casal que parecia combinar, por isso, escolheram os dois mesmo com os laços de sangue.

Pelo menos não iria embora sozinha.

A jovem ouviu passos na areia, mas não se deu ao trabalho de olhar. Reconhecia o andar atrapalhado do irmão a quilômetros de distância.

— Acabei de brigar com aquele representante estúpido— dizia Xavier enquanto sentava-se na areia ao lado de sua irmã. Seu movimento foi um pouco brusco e espalhou areia para todos os lados, arrancando uma careta de Aurora. Como poderiam ter elegido um jovem tão sem classe como seu irmão para Príncipe?

— Você poderia treinar um pouco de etiqueta— disse a jovem, fechando os olhos com força para tirar um grão de areia que se instalara na região.

— Nós teremos aulas assim que chegarmos no Castelo. Foi por isso que briguei com aquele filho de uma...

Xavier deteve-se ao terminar a frase. Sabia que sua irmã odiava quando ele usava um palavreado chulo, e não queria chateá-la ainda mais. Ela parecia estar sofrendo mais do que qualquer um. Por isso, resolveu mudar de assunto. Infelizmente, ele não era o melhor neste quesito.

— Kate me ligou ontem— disse baixo e com certo pesar. Kate Ordell fora sua namorada alguns anos atrás. Ele a amava muito, até que ela o traiu com um de seus amigos. Por mais que tentasse esquecê-la, era impossível. O amor dela era como um vício, e às vezes ele tinha recaídas.

Aurora soltou um suspiro pesado e fez uma careta. Odiava aquela garota profundamente. A forma como ela controlava seu irmão... Ele sofria tanto. Talvez o único benefício de ir embora fosse se livrar daquela víbora.

— Eu te disse para ficar longe dela— sua voz saiu tão baixa e rude que mal pôde confirmar que era sua.

Em resposta, Xavier baixou a cabeça. Seu coração fraco feria todos ao seu redor, ele sabia disso. Era apenas impossível evitar.

Sentou-se mais perto de sua irmã e pôs seus braços ao redor de seus ombros, puxando-a para um abraço.

— Não se preocupe, mana. Agora somos só nos dois.

...

Enquanto isso, no Chile, Ailin Rojas terminava de arrumar suas coisas em uma pequena mochila puída, que mais parecia um trapo. Ela carregava aquele pedaço de pano desde os tempos do orfanato, e não parecia disposta a livrar-se dele.

Não havia tantas coisas no pequeno, apertado, porém aconchegante quarto de hotel que a abrigava desde que se tornara maior de idade, não muito tempo atrás. Alguns meses antes, ela se lembrava de ter escolhido o lugar por ser barato e perto do centro, onde tudo acontecia. Além disso, era bem confortável para o preço.

Assim que acabou de batalhar com o pequeno e semidestruído fecho da mochila, desceu à recepção para esperar sua carona. Segundo o representante da Família Real, eles chegariam em poucos minutos. Ela não precisava levar nenhuma roupa, maquiagem ou acessório. Tudo que precisasse estaria no Palácio.

Ailin sabia que, se quisesse, poderia desfrutar de seus vinte e um dias restantes no Chile e se despedir das pessoas que considerava importantes, mas preferiu adiantar a despedida. Não conseguia se recordar de ninguém que choraria sua falta, e quanto mais tempo perdesse, mais longe estaria de cumprir sua promessa e honrar a vida de sua irmã.

Tudo por ti, Gabi, lembrou-se da frase que sempre dizia à irmã mais velha quando essa lhe pedia algo. Tudo que ela pedia, Ailin fazia com um sorriso no rosto.

Esse era o poder de Gabriela Rojas: conquistar as pessoas, muitas vezes com um simples olhar.

Quando o belíssimo Bentley preto da Família Real chegou, exatamente às onze e meia, Ailin se levantou em um salto, ignorando a tontura, as pernas bambas e o coração fraquejando em seu peito.

O motorista saltou do carro e entrou na recepção. Era impossível não perceber sua elegância superior e seu estilo. Até os criados da Família Real emanavam poder e adoração. O brasão da Família bordado em seu peito atraiu a atenção de todos, que se curvaram de medo e respeito.

Ailin continuou parada.

O motorista dispensou as pessoas com um simples gesto de mão, levantou o olhar e pareceu procurar pela vasta recepção do hotel barato. Com toda aquela nobreza, a jovem ficou com vergonha de se apresentar em uma moradia tão... caída.

Quando os olhos dele a percorreram, Ailin se encolheu ainda mais. Infelizmente, ele já a reconhecera. Lentamente, arrastou suas longas pernas até a pequena encolhida perto da lareira e tirou a mochila de sua mão com um gesto delicado. Colocou-a nos ombros, ignorando o fecho quebrado.

Quando achou que ele já tinha acabado, Ailin se levantou.

Ele não tinha acabado, porém.

Rapidamente, ele se curvou e colocou a mão no peito.

— Vossa Alteza— disse o motorista, ainda curvado. Os arquejos de surpresa dos presentes representaram suas emoções.

Ele a chamou de Alteza... perante todas aquelas pessoas.

Olhando para os lados, pensando desesperada em sair daquele hotel e nunca mais voltar, Ailin viu o pior.

Cada homem, mulher e criança presentes estavam curvados. Juntos, eles entoaram as três palavras que agora seriam seu chamamento formal:

— Vossa Alteza Real.


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Notas finais do capítulo

* Na mitologia grega, o Titã Atlas foi castigado por Zeus e foi obrigado a carregar o mundo em suas mãos. O esforço dele é, claro, o maior de todos.
E aí, gostaram do cap? Espero que sim!
Antes de ir, eu gostaria de propor algo a vocês.
Eu estava pensando, e percebi que eu deixei vocês no escuro quanto à situação global. Afinal, não podemos pensar que o mundo em 3050 está igual a como deixamos em 2015, né? Claro que não.
Eu pensei em deixar alguns textos aqui explicando a situação em cada monarquia, mas pensei que alguns de vocês não vão querer "estragar a surpresa", por isso deixo a escolha para vocês. Se quiserem saber como estão as Monarquias, mandem uma MP ou avisem nos reviews e eu respondo com toda a disposição. Quem não quiser spoiler algum, pode escolher apenas ler os caps, que com certeza revelarão algo da situação das NM'S
E com isso, me despeço de vocês
Beijos, seus lindos