Dois anos atrás...
Senti-me como um estranho no ninho. Algumas pessoas me encaravam como se eu fosse um idiota, e decidi perguntar o quê estava acontecendo. Um cara me explicou que estava acontecendo um passe de drogas, pra ser mais explícito, passe de crack. E era muitas pessoas para um lugar tão pequeno. Aquele corredor estreito e sombrio não assustava mais. E... Meu Deus. Eram tantas pessoas... Tinha gente do ensino médio, da 8° série, e até do primário. Um internato desse com tráfico de drogas? Se eles fossem pegos, acabariam ganhando uma expulsão, no mínimo. Isabella, diretora na época, era muito rigorosa quando o assunto era disciplina. Sempre falou para ficarmos arrumados, não passar por cima da autoridade dela, não discordar das regras. Afinal, era um internato apesar de tudo. Pena que Isabella não sabe de todo o lado negro da Thallerman.
Dei as costas e ia saindo, quando alguém me barrou, impedindo minha saída. Era um cara forte, bem musculoso, tinha uma pequena cicatriz na testa. Moreno alto, tinha mais ou menos 1,90 de altura. Cabelos black power, olhos escuros. Era do terceirão. Admito que ele dava um pouco de medo.
– Tá com o 25? - Perguntou o cara me olhando de baixo a cima.
– O quê? 25? - Respondi confuso.
– Engata na fila e pega o 25. - Ele me empurrou fortemente e eu fui pro fim da tal fila. Quando chegou minha vez, uma mulher , deu-me uma pequena pedra. A garota estava com um pano preto que cobria sua face, mas dava apenas para ver seus olhos. Depois, mandou eu entregar dez dólares. Reconheci-a e puxei ela pelo seu corpete de piriguete. Era Kelly Hensel.
– Kelly? O que faz aqui? Porque você tá vendendo droga? - Perguntei enquanto escondia a pedra de crack dentro da minha calça.
– A Vodka... Ela me envolveu nisso. - Vodka era o apelido da melhor amiga de Kelly, Desiree. - Por favor, não fala isso pra ninguém, o Simon pode pegar e me matar... Por favor não conta isso pra ninguém. Eu vou tentar sair dessa barra. E pode dar isso pra mim, se você quiser. Eu uso. - Ela viu a cara de reprovação do tal segurança e voltou para a bancada.
– Te espero no meu quarto. - Sussurrei para ela, que assentiu. Fui para a porta, levantei um pouco da blusa para o 'segurança' checar a tal '25.', ele sorriu e deixou eu sair.
Devem estar se perguntando... Quem é Kelly, Vodka (Desiree), Simon... Tudo bem, irei explicar tudo.
Kelly Hensel é minha atual namorada. Comecei a ficar com ela depois das aulas de biologia, ela manjava na matéria e eu precisava de ajuda. Aí acabei gostando dela, e até hoje estamos. Têm cara de menina meiga, mas não se enganem, ela é uma completa piriguete. Só usa roupas apertadas e três tamanhos a menos de short. Nunca está com o uniforme da Thallerman, e já repetiu o ano duas vezes. Só é boa em biologia graças a seu pai, que é professor da tal matéria. É loira, e têm umas mechas verdes e azuis no cabelo. Ele vai na altura do pescoço. Olhos castanhos escuros, branca. Por causa de sua nacionalidade. Era portuguesa, mas foi criada aqui mesmo no Texas, então, fala muito pouco de português... E isso lembra muito de minha mãe...
Desiree, melhor amiga de Kelly. É pior que a loira e só vive se metendo em encrenca. Têm o apelido de Vodka porque parcialmente, ama a bebida.
Simon é o chefe do tal tráfico. Não têm aliados e não confia em ninguém. Seu nome é esquisito e prefere ser chamado de Simon mesmo.

* * *
Andei até o setor masculino e uma moça gentil me perguntou onde ficava o quarto 14D. A orientei e ela se apresentou como Jade West. Logo, agradeceu e fui para meu quarto. Frankilin não estava lá, ainda bem. Tirei a pedra de crack da minha calça e a fiquei encarando até que me sentei na cama. Decidi por tirar o plástico filme e começei a sentir o doce e o ' perfumado' cheiro da droga. Me sentia mais confortável com ela. Agora podia entender o porquê de tantas pessoas naquela fila: Isso era viciante e realmente Simon podia enriquecer com mais e mais pessoas que se viciavam naquilo. Não fumei a droga, apenas a exalei... Não tinha nenhum isqueiro para a fumar, então esperei que Kelly chegasse. Não demorou muito para que ela vinhesse e se sentou ao meu lado, com o medo aparente em seu rosto. Talvez não quissesse me envolver naquilo, mas era inevitável. O crack estava começando a me consumir...
– Dei-me isto, Beck. Não queira se viciar nisso, você vai acabar com sua vida. - Ela puxou a pedra para si, e tentei intervir.
– Não vou. Fique tranquila. - Puxei a pedra de volta, e ela cedeu. Se levantou, e ajeitou seu corpete amarelo.
– Desculpa por você me achar lá... Quero matar a Vodka. Por favor... Não vá mais lá. Simon vai acabar com você, e comigo também. - Kelly falou com a voz trêmula.
– Será que pode me explicar isso direito? - Perguntei confuso.
– Olha... Simon consegue muita droga por fontes que nem eu sei... E vende cada pedra por dez pratas. A Vodka tava nisso por ser namorada dele, e fui metida no meio porquê tava devendo algo que ela me fez. Mas foi só por hoje. Não vou mais ficar naquele lugar. Me dá enjoo e arrepios. - Ela realmente se arrepiou, e sorri levemente.
– Tudo bem, apenas não se meta com esses caras. Não vou entrar lá mais nunca. Prometo. - Jurei com o dedinho e abraçei-a.
– Saiba que quem entra nesse mundo, não sai mais nunca... E se sair, têm muitos problemas depois. - Kelly falou com rancor e dei um selinho nela.
– Isso não vai acontecer comigo. Nunca ... - Falei com firmeza na voz. Sim, nunca irei para este mundo... Vou começando jogando esta pedra fora. Kelly foi embora e fiquei lá, apenas vendo aquela pedra que realmente, poderia mudar toda a minha vida...