– Como que... – Sam se aproxima – Benson, não tem graça. Se não parar com essas brincadeiras idiotas eu vou acender esse fósforo na sua cara.

– Não sou eu. Eu juro. – Freddie se apoia nos ombros da amiga que se aproxima pra apagar o fogo.

– Só pode ser o Tyler. Aquele... – Neste momento a chama reacende.

– Sam, eu acho que não é o Tyler. – Freddie diz já apavorado.

– O que? Mas então...

–Carly. – Freddie ilumina lentamente todos os cantos da cozinha.

– Carly é você?

– Gente, o que foi isso? – Gibby se levanta e começa andar até a sala de estar.

–Isso o que? – Tasha pergunta – Gibby? Aonde você vai?

–Só um minuto.

Gibby anda pela sala, olhando curioso para cada canto, algo dizia que tinha alguma coisa estranha ali. Ele se aproxima do espelho que cobria toda uma parte da parede, quando seu corpo se choca contra a parede fazendo milhares de vidro se espalhar ao chão.

– Ai meu Deus, o que será que foi isso? – ao escutar o barulho, Sam acompanhada de Freddie, corre até a sala. –Gibby, o que aconteceu? – Ela chega perto do garoto.

– Amor, o que houve? Você está bem? – Tasha se aproxima junto a Tyler.

– Eu vi um reflexo no espelho, de repente alguém me empurrou – Gibby olha assustado para todos – por trás.

– Vamos sair daqui agora, por favor. – Grita Tasha.

– Vamos. – Sam consente.

– Tem certeza que não quer ficar lá em casa? – Tyler diz acompanhando Sam até a porta do Bushwell.

–Não, eu prefiro ficar aqui. Sei lá me sentir mais perto dela, afinal passávamos a maior parte tempo aqui. E também, vou ficar de vigia caso um espertinho tente fazer uma visitinha não permitida. – Sam diz.

– Tudo bem. – Tyler olha preocupado para a garota.

–O que foi?– Sam percebe o olhar do garoto.

– É que, você queria muito que fosse a Carly e talvez essa vontade de ser ela te fez acreditar que ela estava realmente falando com você através desse jogo.

– Você estava lá Tyler, viu tudo que aconteceu. Foi estranho não foi? – Diz Sam em um tom inconformado.

–É, foi estranho sim, mas não sei se significa alguma coisa.

– Quando eu estava na cozinha, procurando o fósforo, uma chama no fogão se acendeu, assim do nada.

–O Benson foi com você, ele pode ter acendido pra te assustar, sei lá.

– Eu até pensei isso, mas logo depois que a apaguei se acendeu de novo, sozinha. Pergunta pro Freddie.

– Acho que vocês estão tão paranoicos com isso, que já estão até vendo coisas. – Diz o garoto já impaciente com a história.

– Você não acredita né? – diz Sam olhando fixamente para o garoto – Ta. Tudo bem que está história toda pode parecer meio maluca, mas o que justifica o Gibby ter batido no espelho? Você estava lá com ele e viu que não foi a Tasha quem o empurrou.

– Sam. Você sabe como é o Gibby, ele pode ter tropeçado e imaginado que alguém o empurrou.

– Por que está agindo como se tudo o que aconteceu tivesse sido uma brincadeira boba? Acho que de todos você é o único que está fazendo questão de jogar na minha cara que tudo isso foi uma idiotice. Olha, eu sei parece tudo tão besta e confesso que as vezes nem eu acredito nesses coisas, mas você nem se quer me apoiou. – Sam diz com olhar um olhar desanimado.

– Como pode dizer que eu não te apoiei? – Tyler diz inconformado – Nós jogamos por você, mesmo sabendo que era loucura. Agora por favor, esquece isso.

– Como pode dizer pra esquecer assim, sabendo que não estou pronta? Esta sendo difícil pra mim sabia?

–E acha que pra mim não? Carly era minha amiga também. Mas a vida continua, bola pra frente, não podemos ficar pensando e batendo na mesma tecla pra sempre.

–Pode ser, mas é que... – Tyler a interrompe.

–Olha,– ele pega na mão da garota – o que acha de a gente sair amanhã, só nós dois para comer alguma coisa e depois ver um filme lá em casa?

– Seria otímo. Mas, eu não estou muito no clima.

–Mas que droga hein Sam! - Diz Tyler nervoso.

– Como?

–Você nunca está no clima pra mim não é? Sempre que te chamo pra fazer algo você diz que não está afim. Qual é? Cadê aquela Sam determinada que topava qualquer parada?

– Essa Sam agora está totalmente perdida e magoada, precisando de alguém que a aceite de todas as formas, inclusive esta. - A loira se vira e passa pela portaria, deixando Tyler com milhares de palavras pendentes.

Sam estava perdida. Perdida no caminho onde se dizia: siga em frente. Nunca se sentiu assim antes, nunca se quer pensou em sentir algo do tipo. É claro que ela sabia que um dia as duas seguiram rumos diferentes e teriam que se separar para viver sua vida, mas ainda sim saberia que a qualquer momento uma poderia ligar para a outra para contar as novidades ou se falar em uma chamada de vídeo para matar a saudade. Sim, matar a saudade, algo que agora será impossível. Nada será a mesma coisa sem ela, a patricinha que adora balas de corações e se embonecar toda para um encontro, aquela com quem dividiu grandes momentos durante anos.

A vida é feita de momentos.

Momentos feitos de verbos.

Verbos que também se julga no passado.

– Sam? - O moreno ao sair de seu apartamento percebe a presença da amiga que já se encontra com as chaves do apartamento vizinho.

– Ah, oi Benson. - A garota se vira para olha-lo, mas logo se volta para a porta.

– O que está fazendo aqui?

– Bom, o Spencer me deixou a chave e minha mãe está com o novo namorado dela lá em casa e se sabe né? Então eu vim pra cá. - Diz a loira já abrindo a porta cabisbaixa.

– Está tudo bem? - Pergunta Freddie ao perceber o estado da amiga.

–Estou, porque a pergunta?

– Sei lá, você me parece preocupada. É por causa do que aconteceu lá na casa? Saiba que... - Sam o interrompe.

– Olha nerd, primeiro, eu não preciso de mais alguém dizendo que tudo aquilo é loucura, ou coisa da minha cabeça e blá blá blá. Já ouvi muito isso. Segundo, eu não estou a fim de papo saco? Então me deixa. - Ela se vira para entrar, mas antes que pudesse fechar a porta Freddie se coloca entre ela. - O que foi?

– É... Será que eu posso te fazer companhia? - O garoto pergunta já com medo da resposta.

– Como? Quer dizer, ficar aqui comigo? - Sam diz em meio a risos.

–Sim, minha mãe teve que viajar e vai ficar fora por umas duas semanas.

– Oh, então a mamãe deixou seu precioso filhinho sozinho? É já é um grande avanço a liberdade. - Ela diz ainda rindo.

– Muito engraçado Sam. Mas então, posso ficar ai com você? Assim nenhum fica sozinho.

–E o que te faz pensar que quero sua companhia? - Diz Sam com um olhar desafiador.

– Talvez pelo fato de estarmos passando pela mesma situação?

– Tá bom, tanto faz. - A loira revira os olhos e logo entra no apartamento sendo seguida por Freddie.

– Mas e ai, não vai me contar o que aconteceu? – Diz Freddie já ligando a televisão.

– Já te falei que não te interessa e se insistir mais uma vez te expulso daqui a ponta pés. – Sam diz enquanto procurava algo na geladeira.

– Tá legal. Eu só queria ajudar. – O garoto se joga no sofá apoiando seus pés na mesinha de centro.

O silêncio é a única coisa que se preenche o ar neste momento, Sam faz sanduíches enquanto Freddie assiste o tão famoso Celebridades em baixo d’água.

– Tyler. – Sam quebra o silêncio.

– Eu já sabia. – Diz o moreno.

– Como assim já sabia?

– Eu o vi saindo lá de baixo todo nervosinho e batendo a porta do carro.

– Você estava me espionando? – Sam diz do balcão.

– Não. Eu estava na janela, quando vi. Vou imaginar que você viria pra cá.

– Sei. – Diz a loira mordendo seu lanche.

– Então, o que ele fez afinal?

– Ah, disse que tudo o que aconteceu lá na casa foi loucura, que eu devia esquecer tudo isso . Mas sei lá, eu não estou pronta pra esquecer ainda.

– Sabe, aquilo foi muito sinistro. Eu meio que nem tava acreditando no começo, mas depois daquilo na cozinha já passei a duvidar se aquilo era realmente só um jogo. – Freddie diz enquanto caminhava até o balcão onde estava o computador.

–É eu também. Mas e se ele estiver certo? Talvez eu quisesse tanto que fosse a Carly e imaginei tudo?

– Eu estou pesquisando aqui sobre isso e olha o que achei – Sam vai até o lado do garoto, ver a tela do computador. – Cientistas céticos atribuem o funcionamento do tabuleiro Ouija ao efeito ideomotor. As pessoas participantes da sessão involuntariamente exercem uma força imperceptível sobre o indicador utilizado, e a conjunção da força exercida por várias pessoas faz o objeto se mover. – Lê Freddie.

– Traduzindo... – Sam olha para Freddie querendo dizer que não entendera nada do que acabou de ler.

– Que dizer que pode ser quê nós mesmos empurramos o indicador sem ao menos perceber.

– Pode fazer até algum sentido, mas tudo aquilo continua sendo muito estranho.

– Pois é... – Diz o moreno fechando a página da web.

– Bom, agora pode ir vazando daqui que eu preciso dormir. – Sam diz levando Freddie até a porta.

– Não quer mesmo que eu fique?

– Não, valeu, cansei de ver sua cara. – Freddie passa pela porta revirando os olhos.

– Ei – Ele segura a porta antes de Sam fecha-la.

– O que foi? – Diz a garota já impaciente.

– Saiba que, mesmo que fosse a Carly, e acredito que realmente era você teve a oportunidade de dizer adeus a ela – seus olhos se encaixam um no outro - sei que vai chegar a hora que vai estar pronta, mas acho que já deve tentar seguir em frente.

Sam apenas sorri e sussurra um “valeu” antes de finalmente fechar a porta.