A lâmina o perfurou com precisão e o grunhido da fera ecoou por seus ouvidos quando ele fora largado no chão, como um saco de batatas. Kili não soube bem o porquê, mas ele fitou o horizonte, queria ver um último por do sol em Erebor, em seu lar... Ao lado da elfa que amava.

Não queria ter um vislumbre do rosto dela, molhado de lágrimas de dor, queria se lembrar daquela elfa da floresta que o olhava de cima com curiosidade. De seu sorriso jovial que nunca veio para ele... Das palavras breves que trocaram antes de seus caminhos se separarem.

E de sua declaração. Ela não precisava entender a língua dos anões para sentir a intensidade daquela pequena frase e Kili sabia que ela entendera.

Que quando se lembrasse, entenderia mais do que nunca.

Kili abriu os olhos devagar, sentindo-os estranhamente úmidos quando fitou o teto branco. O jovem suspirou, passando a mão pelo rosto molhado, notando alguém se aninhar próximo a ele, o que o fez sorrir minimamente, observando as feições belas e relaxadas de Tauriel.

Os cabelos acobreados estavam presos, escorridos pelo travesseiro e ela parecia tão serena que ele temeu acordá-la. Não faria sentido acordá-la por causa daquele sonho tão... Irreal.

Aquilo era real. O amor que sentia por ela.

Tauriel abriu os olhos e sorriu. — Está me encarando faz quanto tempo?

— Não o suficiente. — Kili deu um meio sorriso antes de beijá-la, como se fosse a primeira vez que se viam, que iriam se amar entre aqueles lençóis.

Tauriel correspondeu, confusa e o observou. — O que houve, Kili?

Ele negou de leve com a cabeça. — Não é nada, eu só...

— Mamãe, papai!

O casal riu, observando aquela pequena criança subir de pijama em sua cama, trazendo consigo um urso de pelúcia. Era a mistura perfeita entre Kili e Tauriel. Os cabelos eram castanhos, como os dele e os olhos eram verdes, com os dela e o rosto inquisidor da pequena era adorável.

— O que foi, querida? — Perguntou Tauriel.

— Tio Fili disse que as panquecas estão prontas. — Comentou a pequena com um sorriso. — E tio Thorin perguntou onde você escondeu o... O... Uísquer?

Tauriel rira alto e Kili também, rolando os olhos antes de se levantarem.

— Uísque, querida. Uísque. Vou atender seu tio bebum, vamos. — A mulher rira, pegando a filha no colo antes de seguir até a sala.

Kili ainda ria, parado diante da janela, fitando o horizonte cortado por prédios. Desejava, por um momento, aquela paisagem límpida de seu sonho, a colossal montanha, o céu de várias cores... Mas, ao mesmo tempo, tal beleza entrava em conflito com os acontecimentos daquele sonho.

Não trocaria o amor de Tauriel e de sua família por um vislumbre do horizonte, por uma morte honrosa... Aquilo não era real.

O que sentia por eles, no entanto, era real.