Sua surpresa fora tão grande quanto a minha , mas não tão grande quanto o constrangimento . Meus olhos pesaram por alguns segundos até caírem em Patrick , o seu sorriso era tão grande que me fez desejar profundamente soca-lo novamente . Suspirei , colocando tudo em ordem , pensando em uma maneira de resolver aquele estranho momento .

– Cada um tem o garçom que merece - disse o idiota ao meu lado se divertindo profundamente . - Garoto trabalhador - completou ele apenas deixando Oliver ainda mais constrangido . Me levantei da mesa colocando o meu guardanapo de lado .

– Tem razão querido irmão , volto em alguns segundos . - Disse sorrindo e então puxando Oliver comigo . - Não precisa nos servir .

– Preciso sim , é uma das minhas mesas ... E não é como se fosse vergonha , é um trabalho - disse ele dando de ombros . - Servir você será um prazer - disse ele piscando e então saindo . Revirei os olhos e me encostei na parede . Uma garçonete passava com uma bandeja vazia e eu apenas a puxei pelo braço .

– Preciso de um favor .

Patrick

Aquela seria de fato uma noite extremamente divertida . Claro que a maneira como Alice havia saído da mesa deixava claro que ela não deixaria quieto e se rateando dela , pelo pouco que me permitira ver , ela pode simplesmente fazer até a água pegar fogo . Demorou tanto tempo que simplesmente decidi preparar o meu pedido , ter seu adorado defensor nos servindo me renderia boas piadas e irritá-la simplesmente não possuía preço . O olhar de fúria em seus olhos , me excitava .

– Prontos para pedir ? - Abri um sorriso me preparando para encarar novamente o bolsista mas minha cara fora ao chão . Eu esperava tudo dela, tudo, menos isso. Vestida como uma das garçonetes, ela trazia em seu rosto um sorriso enorme e completamente descarado, incrivelmente perigosa .

– Alice - disse meu pai alarmado . Bem , ninguém ali estava mais surpreso do que eu .

– É uma noite lotada , decidi ajudar um amigo - disse ela sorrindo . - Sei que o senhor entenderá - a maneira que ela dissera aquilo o fizera derreter . Qualquer um que tivesse a olhado nos olhos enquanto bancava a gentil teria derretido , mas eu conhecia muito bem a garota que mais de uma vez tinha chutado as minhas bolas e me feito perder os grilhões .

– Não seja ridícula , você não é como ele - dissera minha mãe .

– Prefere que eu seja como você ? - disse ela cuspindo o seu veneno . - Prefiro mil vezes isso do que ao menos carregar o seu sobrenome - isso fizera com que meu pai a repreendesse e minha mãe permanecesse estática . A sua ousadia me atraía , a maneira como nada aparentava assusta-la , a maneira como esconde a sua verdadeira personalidade .

– A bastarda ainda é você - Não, eu tinha pesado minhas palavras antes de as dizer,pois se tivesse feito, não teria dito nada. Não fui repreendido ou coisa do tipo, foram os olhos dela, fitando o vazio por alguns segundos como se vivesse uma lembrança amarga, que me fizeram perceber o quão idiota eu tinha sido.

– Tem razão - disse ela abrindo um sorriso .Um milhão de vezes um novo chuto do que ver aquele sorriso.

– Alice , o que está fazendo ? - Perguntou Oliver, tão surpreso quanto qualquer um de nós.

– Eu não sei . - Ela o olhou por alguns segundos com grande confusão, levou a mão ao pulso retirando o bracelete de couro e o colocou sobre a mesa a minha frente - Eu sinceramente não sei - disse ela por fim levando a mão ao rosto e saindo .

Meu pai repreendeu a mim e a minha mãe, porém suas palavras eu mal consegui escutar. Vaguei pelo salão, meus olhos a procura dela, deixando-me cada vez mais preocupado. Não a encontrei e aquilo apenas despertou em mim um medo sufocante, ela havia sumido, poderia estar sozinha e longe dos meus olhos eu não poderia a proteger.

Desde que descobrimos que meu pai possuía outra família muita coisa mudou . Eu não era muito esperto mas claramente pude ver o que tudo causou em minha mãe e depois de muito vê-la chorar , eu tinha decidido odiar a outra parte da família . Me tornei o filho perfeito , o suficiente para que meu pai jamais tornasse a se lembrar da bastarda e depois de tanto tempo , depois de tantas discussões a respeito dela morar conosco , eu estava ali preocupado com ela . Me odiando por ter sido tão rude .

Eu a odiei tanto que me interessei por ela no momento em que a vi .

Alice

Aquilo jamais me afetara . Quando todos da minha cidade descobriram sobre minha família aquele passara a ser o meu novo apelido , no começo me machucou profundamente , perdi a cabeça várias vezes , mas então aprendi a me virar . Eu já tinha até me esquecido do verdadeiro significado de tal palavra , mas o vê-lo falar daquela maneira ... Foi como se tivesse sido chamada disso pela primeira vez , seus olhos cheios de desprezo , dilacerando-me por completo .

– Não sei o que ele disse, mas o conheço o suficiente para saber que ele é um idiota - Oliver disse, puxando-me para perto de si - Não deixe que ela a machuque Alice, você é muito mais do que qualquer um deles .

– Eu sei ,mas ele ...

– Não - cortou-me - Ele não compreende a metade do que faz- disse ele segurando minhas mãos .

– O que eu devo fazer ? - perguntei me contendo .

– Você sabe exatamente o que fazer ... Ovelha negra - disse ele sorrindo . Ele tinha razão , eu sabia exatamente o que deveria ser feito . Soltei o cabelo e voltei antes mesmo que pudesse pensar no que e em como deveria ser feito .

Servi todos aqueles que haviam sido convidados pelo meu pai, fazendo questão de me apresentar com um sorriso , dando um certo destaque em meu doce sobrenome postiço . Os olhares de minha família sobre mim apenas faziam-me queimar ainda mais . Depois de terminar apenas me sentei a mesa e suspirei tentando aparentar cansaço .

– Divertido , porém cansativo - deitei minha cabeça na mesa e apenas me deliciei com a raiva no rosto da minha madrasta - Se continuar franzindo a testa terá rugas ... Bem , ainda mais rugas - sorri abertamente vendo-a mudar sua postura .

– Coma algo filha - disse meu pai . O seu tom me demonstrava que ele não havia se irritado nem um pouco , bem , o homem que eu conhecia não teria de fato ficado bravo com algo do tipo .

– Eu comi , na cozinha - Me levantei e endireitei minha postura - Vou embora agora que já dei minha cara a todos , se não se importam vou sozinha mesmo - Me levantei e sai antes que pudessem contestar minha decisão .

Era uma noite fria , porém extremamente bela para uma caminhada . Eu não sabia o caminho para casa , mas não me importaria de andar , apenas para colocar os pensamentos novamente em ordem . Levei a mão ao meu pulso onde antes eu trazia um bracelete , apenas sentindo as pequenas cicatrizes que eu mesma causei a um certo tempo atrás , elas sempre me proporcionavam um choque de realidade .

– Andar sozinha num lugar como esse - Revirei os olhos me virando assim que o ouvi gritar . Estava ofegante porém contente por ter me alcançado . Eu simplesmente não o compreendia , seus pontos sem nó e suas mudanças de personalidade me deixavam mais do que confusa . - Hey - completou por fim passando a caminhar ao meu lado . - Me desculpe por ...

– Falar a verdade ? Não é necessário - o cortei antes mesmo que desse a entender que aquilo era uma conversa .

– Sabe ... Eu não sou o idiota que pensa - disse ele me parando e obrigando-me a o encarar .

– Eu não penso - dei de ombros . - Eu vejo - completei .

– Alice ...

– É divertido para você ? Brincar com tudo aquilo que o cerca , ser ignorante , grosso ... Um idiota ?

– Eu não brinquei com você - disse ele prendendo-me .

– Você dormiu comigo , sabendo exatamente quem eu era, sabendo que eu sou sua irmã e em seguida insinuou que eu o provoquei. - Aparentemente ele não conseguia ver o quão grave aquilo era . Olhou para o céu suspirando , levou a mão ao rosto e bufou , partiu para cima de mim e me pressionou contra o muro que cobria a rua por completo .

– Não pense que eu não tentei evitar - disse ele olhando-me profundamente nos olhos . Não importava o quanto eu o olhasse , jamais conseguia chegar ao fundo de sua imensidão azul .

– Se me contasse ... Eu teria evitado por nós dois - disse suspirando enquanto temia pelos seus próximos movimentos .

– Se eu tivesse teria ficado lá ? - disse ele me soltando e tornando a caminhar .

– Provavelmente ... Não - Passei a caminhar ao seu lado .

– Eu tentei contar , mas ver você mudar aos poucos ... Confiar em mim , não me deixou dizer sequer uma palavra - disse ele suspirando enquanto fitava o chão .

– Confiado em você ... - murmurei me lembrando do quão ridícula eu havia sido , apenas provando que eu não estava tão preparada para encarar o mundo como eu imaginara .

– Se me der pelo menos mais uma chance ... De provar que eu não desejo o seu mal - disse ele parando e então me fitando fixamente .

– Uma chance ? - Aquilo me parecia uma das coisas mais ridículas que eu já o ouvira dizer .

– Uma chance para remediar o que fiz ... Posso ter a odiado no passado , mas me aproximar de você fez nascer um sentimento único ... Eu ainda não sei como o nomear , mas sei que apenas quero o seu bem ... Cuidar de você . - Seus olhos cintilando contra a luz fraca do luar fizeram-me desmanchar por um segundo , mas então me recordei do que ele havia feito da última vez em que eu facilitei .

– Quer uma chance ? - Disse enquanto fechava a expressão . - Me convença - cuspi as palavras e em seguida caminhei em disparada . Não , não será tão fácil dessa vez ... Pudinzinho .