Two Worlds escrita por EdB, Dullg, Apple003


Capítulo 8
Passado. Parte I




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/58111/chapter/8

Há muito tempo atrás, na época conhecida como Idade Média, em uma pequena vila que futuramente seria conhecida como a cidade de Helfen, vivia um casal de camponeses. O homem se chamava Daniel, um homem forte de cabelos curtos e azulados e olhos claros, numa tonalidade acinzentada e a mulher se chamava Alice, uma bela mulher com um longo cabelo castanho e olhos azuis. Eles tinham dois filhos que, naquela época, tinham doze e cinco anos.

Daniel trabalhava na fazenda de um castelo, que ficava próximo de sua vila, junto com outros camponeses e Alice ficava em casa cuidando dos filhos, assim como todas as outras mulheres, enquanto esperava seu marido chegar em casa após um longo dia de trabalho. O filho mais jovem estava brincando nos fundos de sua casa próximo de uma floresta, ele já sabia que tinha habilidades especiais e ficava se divertindo fazendo algumas pequenas pedras levitarem.

-Ei David, o que está fazendo aqui fora?

-Estou apenas brincando mano – dizia ele sorrindo

-Eu sei, mas você sabe que não deveria sair de casa enquanto está doente. Vamos, o almoço já está na mesa.

-Está bem - ambos então adentram a pequena casa e se preparam para comer – Mamãe, o papai não vem almoçar? - pergunta David

-Não, ele chegará apenas de noite, essa é a melhor época para as colheitas e seu pai trabalha bastante.

-Entendi.

Logo eles ouvem uma grande movimentação em frente a sua casa, Alice se levanta e vai até a porta. Ela se depara com uma grande multidão e os cavaleiros do reino passando montados em seus cavalos. Eles traziam consigo alguns prisioneiros acusados de bruxaria, cuja sentença era ser amarrado a um mastro em uma fogueira, onde eram queimados vivos.

-Mamãe, o que está acontecendo?

-Não é nada, entre e termine de comer.

Naquela noite David já estava dormindo e seu irmão estava no estábulo cuidando do cavalo de seu pai, que o mesmo prometera lhe dar quando completasse dezesseis anos. Daniel chega em casa exausto, com as roupas sujas de terra e com alguns calos em suas mãos, mesmo assim ele se mantinha sempre bem humorado.

-Estou em casa.

-Olá amor – dizia Alice o recebendo com um pequeno beijo – Demorou para chegar hoje.

-Pois é, hoje trabalhamos dobrado para não termos que ir amanhã.

-Entendi, quer dizer que amanhã você não vai trabalhar? Que bom.

-É sim, e onde estão os meninos?

-Um deles está no quarto dormindo enquanto o outro está no estábulo cuidando daquele cavalo novamente.

-Papai? - dizia David saindo do quarto e esfregando os olhos – Já chegou?

-Oi filho, desculpa te acordar.

-Não tem problema – dizia ele correndo e dando um grande abraço em Daniel

-Porque não vai chamar o seu irmão?

-Claro, eu já volto. - ele solta o seu pai e vai correndo até o estábulo

-Então, como ele está? - pergunta Daniel

-Está na mesma situação...

-E o que o médico disse?

-Ele não conseguiu dizer o que ele tem, disse que apenas um médico no reino vizinho do Leste saberia como cuidar dele.

-Entendo.

-Mas pelo que ele disse, esse médico cobra muito caro por suas consultas, e não temos tanto dinheiro assim.

-Não se preocupe, eu vou juntar dinheiro suficiente para cuidar de nosso filho, mesmo que eu tenha que passar todas as horas do dia naquela fazenda.

Na manhã seguinte, David estava ajudando sua mãe na arrumação da casa enquanto seu pai estava no quintal ensinando seu irmão o combate com espadas.

-Repita o movimento.

-Como quiser pai... - diz ele um pouco ofegante enquanto retomava o treinamento

-Está segurando errado. Não se esqueça, são espadas duplas. Duas metades da mesma arma... Não as veja separadas, porque não são. São duas partes diferentes de um todo. - diz Daniel pegando as espadas da mão de seu filho – Deixa eu te mostrar...

Daniel começa a se movimentar de uma maneira incrível, as espadas pareciam fazer parte de seu corpo. Seu filho ficava olhando atentamente, maravilhado com a habilidade de seu pai com as espadas.

-Está vendo? Agora tente – diz ao seu filho entregando-lhe as armas

-Sim senhor!

-Querido! Um mensageiro do rei está aqui. - diz Alice - Ele diz ter uma mensagem para você!

-Um mensageiro do rei?

-O que houve pai?

-Não é nada, continue praticando enquanto eu vou lá ver do que se trata.

Daniel entra em sua casa e vai até a porta da frente, onde o mensageiro montado em seu cavalo o aguardava.

-Senhor Daniel, esta aqui é uma carta de nosso rei para você.

-Uma carta do rei para mim? Deixe-me ver isso... - diz ele enquanto pega a carta e começa a ler

-Então. O que é querido?

-Parece que o reino vai entrar em guerra com o reino vizinho do Norte... E o rei está solicitando minha ajuda.

-Sua ajuda?

-Isso mesmo senhor Daniel – interrompe o mensageiro – O rei deseja que o senhor retorne para o seu posto de comandante para auxiliar na guerra.

-Me desculpe, mas deixei o exercito real há muito tempo. Agora sou apenas um simples camponês com sua mulher e dois filhos.

-Ele disse que caso aceite, será muito bem recompensado... - Daniel faz uma cara de pensativo

-Espera um minuto, tenho que conversar com minha mulher.

-Como queira. - Daniel então adentra novamente a casa

-Então... Parece que não tenho escolha.

-Mas, pode ser perigoso.

-Eu sei, mas essa pode ser a única chance que temos de pagar um tratamento adequado para nosso filho

-Entendo...

-Então é isso... - ele retorna até a porta – Diga ao rei que será uma honra ajudá-lo.

-Ótimo, e quando dará ao rei a honra de sua presença?

-Partirei o mais rápido possível.

-Comunicarei o rei. Adeus, lhe desejo sorte na guerra meu bom homem.

-Obrigado.

Naquela tarde Daniel já estava pronto para partir, suas coisas já estavam arrumadas em seu cavalo e ele estava se despedindo de sua família.

-Boa sorte querido, tenha cuidado – dizia Alice lhe dando um forte abraço

-Pode deixar.

-Tchau papai.

-Tchau David – Daniel o pegava no colo – Promete que vai tomar conta da mamãe enquanto o papai está fora?

-Prometo!

-Ótimo

-Aqui estão suas espadas pai.

-Não. - dizia Daniel colocando David no chão – Agora elas são suas

-O que?

-Isso mesmo, você tem talento com espadas e quero que continue praticando. Se continuar assim você logo irá me superar.

-Nossa. Muito obrigado pai

-Não há de quê... Bem, preciso ir...

Ele então monta em seu cavalo e parte em direção ao castelo enquanto David e Alice ficavam acenando para o mesmo. Daniel chega ao castelo no inicio da noite, seu cavalo é guiado até o estabulo e ele vai imediatamente ao salão do rei.

-Olá meu velho amigo, que bom que decidiu me ajudar nessa batalha.

-Eu que agradeço o convite senhor – dizia Daniel se curvando - Será uma honra defender o nosso reino novamente.

-Pois bem – o rei chama um de seus servos – Leve Daniel até seus aposentos, logo iremos começar a reunião para discutirmos a estratégia de combate.

Algumas horas depois Daniel estava em uma reunião no salão principal do castelo para discutir as atuais condições do reino para a guerra.

-Pois bem – iniciou o rei – Estamos em uma situação delicada. Creio que nossas tropas não terão muitas chances de vitória...

-Como assim meu senhor? - dizia um de seus comandantes

-Nosso vizinho do Norte é um dos reinos mais poderosos dessa região. E está expandindo seus territórios em um ritmo muito acelerado.

-Então esse é o motivo da guerra – diz Daniel – Vamos defender nosso reino de uma invasão

-Exatamente, mas com nosso poder atual, não creio que será possível sairmos vitoriosos.

-Eu tenho uma sugestão senhor – diz Bernardo, mais um de seus comandantes – Poderíamos convocar os camponeses para lutarem ao nosso lado.

-Eu não pensei nessa possibilidade...

-Mas meu senhor – interrompe Daniel – Convocar pessoas que não tem nenhuma experiencia em batalhas para lutar em uma guerra? Isso pode resultar em um massacre

-Daremos a eles um treinamento apropriado. - diz Bernardo

-E o que faremos caso formos surpreendidos por um ataque inimigo durante o treinamento dos camponeses, Bernardo?

-Podemos colocar nossas tropas para patrulhar as fronteiras durante esse período. Sem duvida os camponeses estarão prontos em menos de um mês.

-Mas isso é loucura.

-Já basta dessas discussões! - interrompe o rei

-Sim, meu senhor – diz Daniel e Bernardo em uníssono

-Está decidido. Convoque os camponeses, diga que dois homens de cada família devem se unir ao exercito real para defender o nosso reino.

-Dois homens? - pergunta Daniel

-Sim, no caso seria o homem da casa e seu filho mais velho. E não apenas os camponeses. Cada um aqui presente e todos os cavaleiros deverão convocar um homem de suas respectivas famílias.

-Mas senhor, meu filho mais velho tem apenas doze anos de idade.

-Nessa idade ela já deve ser capaz de segurar uma espada e um escudo.

-Mas...

-Já basta. Está decidido.

-Não se preocupe senhor Daniel, deixe seu filho sob meus cuidados – diz um dos cavaleiros presentes.

-E quem é você?

-Esse é um dos cavaleiros da minha divisão mais competentes – diz Bernardo – E também o mais jovem.

-Entendo... Prazer em conhecê-lo. E qual é o seu nome jovem cavaleiro?

-Meu nome é Lucas.

No dia seguinte pela manhã, David estava observando seu irmão treinar com as espadas.

-Mano, você está ficando cada vez melhor.

-Acha mesmo? Obrigado.

-Acho sim – ele sorri – Será que a mamãe vai demorar muito para chegar?

-Não sei...

-Meninos cheguei!

-Nossa, não morre tão cedo... - dizia enquanto guardava as espadas na bainha – Vamos David.

-Está bem – ele logo notava que seu irmão estava de costas e distraído, então aproveita para tentar “dar uma olhada” em suas espadas.

-Nem pense nisso David – dizia enquanto continuava caminhando para dentro de casa sem olhar para trás.

-Tá bom... - David então corre na direção de seu irmão e entra junto com o mesmo em casa.

-Oi meninos. O que estavam fazendo?

-Eu estava vendo o mano treinar mamãe, ele está cada vez melhor.

-Mesmo? Que bom, parabéns.

-Obrigado – responde friamente indo até a porta, saindo em seguida. Enquanto Alice o observava com uma expressão triste no rosto.

-Então meu querido, vai ajudar a mamãe à preparar o almoço?

-Sim! - responde David animado

Durante a tarde Alice e as crianças estavam almoçando, quando escuta batidas na porta. Ela se levanta e vai até à mesma, ao abri-la ela se depara novamente com o mensageiro do rei.

-Trago um comunicado do rei.

-Do que se trata?

-Por ordem de nossa majestade. Dois homens de cada família devem servir ao exercito real para ajudar a defender nosso reino da batalha que se aproxima.

-Dois homens?

-Exatamente. Onde está o seu filho?

-Mamãe o que está acontecendo?

-David, chame seu irmão por favor. - e assim ele o fez.

-Me chamou?

-Sim, esse homem trouxe uma mensagem do rei para você.

-Uma mensagem do rei para mim?

-Exatamente meu jovem – diz o mensageiro – Você está sendo convocado para servir o exercito.

-O que?

-Espere, ele não pode ir para a guerra – diz Alice – Ele é apenas uma criança.

-Me desculpe senhora, mas são ordens de nosso rei.

-Mas...

-Não se preocupe, eu irei.

-O que? - diz Alice espantada – Você não pode ir

-Uma ordem do rei não pode ser questionada. É melhor eu ir agora do que ser levado a força – Alice fica em silêncio.

-Vamos meu jovem, seu pai o aguarda.

-Certo. Só deixe-me pegar uma coisa.

-Pegue o que precisar.

Logo o jovem vai para os fundos da casa e retorna com as espadas em mãos.

-Estou pronto.

-Mano, você vai lutar?

-Vou sim...

-Mas e a mamãe? Ela vai ficar sozinha aqui?

-Não. Afinal ela tem você.

-Mas mano, não quero que você vá – David o abraça forte – Por favor fica.

-Desculpe David. Mas não posso.

-E então criança, está pronta? - diz o mensageiro que parecia estar impaciente.

-Sim... - dizia enquanto se soltava dos braços de seu irmão mais novo – Prometo que eu vou voltar junto com o papai.

-Promete?

-Sim, pode confiar.

David e Alice apenas observaram-no montar no cavalo do mensageiro e partir sem olhas para trás. Alice, que estava com David em seu colo não consegue segurar suas lágrimas.

-Não precisa chorar mamãe, ele prometeu que vai voltar.

Enquanto isso, no castelo, Daniel acaba de sair de outra reunião. Ele vai caminhando pelos corredores do castelo até chegar próximo do portão, onde percebe que os primeiros camponeses acabavam de chegar.

-Olá Daniel. - dizia um homem de óculos com cabelos grisalhos e de estatura baixa que se aproximava

-Olá senhor Rodrigo – dizia se virando – Como vai?

-Vou bem e você? Faz tempo que não o vejo aqui no castelo.

-Realmente faz bastante tempo.

-E como vai o seu filho?

-Continua na mesma...

-Entendo... Desculpe por não poder ajudá-lo, mas a doença do seu filho é desconhecida para mim.

-Não se preocupe, o senhor fez o que pôde. Já tenho que agradecer por um nobre como o senhor, que é responsável por cuidar da saúde de toda a família real, aceitar cuidar de um filho de um camponês.

-Deixe disso, era o mínimo que eu poderia fazer por um antigo amigo da guarda. É uma pena que não pude ser útil como queria.

Os dois continuam conversando por um tempo enquanto mais camponeses chegavam ao castelo, até que Daniel avista o mensageiro chegar juntamente com seu filho.

-Com licença senhor.

-Claro, foi bom revê-lo

-Igualmente.

-Chegamos meu jovem – dizia o mensageiro

-Obrigado – dizia o jovem enquanto descia do cavalo e olhava ao redor – Pai!

-Oi filho – dizia Daniel sendo recebido com um forte abraço de seu filho – Não acredito que você está aqui...

-Eu sei pai, isso não é demais? Vou poder lutar do seu lado.

-É... Me desculpe

-O quê? Por que está se desculpando pai?

-Desculpe por você ter que passar por isso

-Pai...

As horas passam e cada vez mais camponeses chegam ao local, até que finalmente todos os que haviam sido convocados estavam presentes. Eles estavam aglomerados em um grande campo que ficava entre o castelo e o portão, cercados por grandes muralhas.

-Muito bem! - dizia Bernardo sobre um cadafalso (estrutura provisória de madeira, construída nas torres e muralhas dos castelos medievais) acompanhado dos outros comandantes do reino – Como todos vocês já foram informados, vocês estão aqui para batalharem na guerra que se aproxima. Todos nós sabemos que nenhum de vocês têm experiencia em combates, por isso receberão um treinamento apropriado. Estipulamos o limite de um mês até o dia da batalha, mas tentaremos deixá-los preparados o mais rápido possível. Já foram preparados os locais onde poderão dormir, descansem essa noite e amanhã o treinamento de vocês terá inicio.

E assim os camponeses são guiados até os dormitórios improvisados pelos servos do rei.

-Isso não é certo...

-Alguma objeção Daniel? Devo lembrá-lo que essa foi a decisão de nosso rei?

-Não precisa repetir sempre as mesmas palavras Bernardo, afinal eu estava naquela reunião assim como você. O fato de eu não concordar com a decisão não muda o fato de que terei que aceitá-la.

-Porque está agindo assim? São apenas camponeses.

-Apenas camponeses? Eles são pessoas assim como eu e você.

-Como você podem até ser, mas compará-los a mim? Não faça piadas.

-E o que te faz ser superior a eles?

-Eu sou um nobre, eles são apenas plebeus. Isso já é prova suficiente de minha superioridade.

-Não se esqueça de que há um “plebeu” ao seu lado e que esse mesmo “plebeu” salvou a sua vida inúmeras vezes enquanto fazia parte da guarda real e foi nomeado comandante de uma das divisões da guarda em pouco tempo, enquanto você teve que se esforçar por mais alguns anos... É tem razão, você realmente é superior a esse humilde “plebeu”. - Bernardo fica em silêncio enquanto os outros comandantes tentam segurar o riso – Agora se me der licença, meu filho está me esperando.

Daniel então desce as escadas e vai na direção de seu quarto e encontra com seu filho na porta o esperando.

-Eu sei que deve estar cansado, mas gostaria de lhe apresentar uma pessoa.

-Como quiser pai...

Então Daniel guia seu filho pelos corredores do castelo, até chegar em frente a um outro quarto. Daniel batia na porta e esperava, até que um jovem, que aparentemente tinha 17 anos, abria a mesma.

-Olá senhor Daniel. O que deseja?

-Olá Lucas, vim lhe apresentar meu filho.

-Ah, então esse é o garoto que eu irei treinar? Ele se parece muito com o senhor.

-Muitos dizem isso.

-Prazer em conhecê-lo garoto.

-O prazer é meu senhor – dizia olhando fixamente nos olhos azuis do rapaz

-Não precisa me chamar de “senhor”, afinal não sou muito mais velho que você.

-Tudo bem...

-Me desculpe pedir isso para você Lucas – diz Daniel

-Que nada. Eu queria participar do treinamento dos camponeses, mas não fui escolhido. Então seu filho terá toda a minha atenção.

-Muito obrigado.

-E então. Eu espero você amanhã bem cedo na sala de treinamento, está bem? - dizia Lucas para o garoto estendendo a mão

-Sim! – respondeu animado e apertando a mão do rapaz

-Nossa, você está quente! - dizia Lucas soltando sua mão – Você está bem? Parece estar ardendo em febre.

-Estou me sentindo bem sim...

-Mesmo? Tudo bem então.

-Novamente, muito obrigado Lucas.

-Não precisa agradecer senhor. Será um prazer treinar o seu filho.

No dia seguinte Daniel era novamente convocado para uma reunião enquanto seu filho estava na sala de treinamento, junto com os outros camponeses, esperando por Lucas.

-Desculpe a demora – diz Lucas se aproximando e ajeitando a espada na cintura – Está pronto?

-Estou.

-Muito bem. Siga-me

-Mas, você não vai me treinar?

-Vou, mas não aqui. - dizia enquanto começa a caminhar

Ambos então saem da sala de treinamento e entram em uma sala em frente, a mesma tinha alguns equipamentos utilizados pelos cavaleiros. Era menor do que a sala de treinamento normal, mas o espaço era suficiente para eles treinarem.

-Bem, aqui estamos, podemos usar todos esses equipamentos para treinar. Vamos começar com espadas de madeira, está bem? – dizia Lucas pegando uma espada próxima, enquanto guardava a sua – Vamos ver o que o senhor Daniel lhe ensinou.

-Sim – respondeu enquanto vai em direção as espadas de madeira e pega duas.

-Duas espadas? Realmente você se parece com o seu pai...

-Mesmo?

-Sim. Eu nunca o vi em combate, mas já ouvi histórias. Ele ficou famoso por sempre ficar na linha de frente e nunca exitar em um ataque. Enquanto os outros cavaleiros usavam uma espada e um escudo, ele usava duas espadas, ignorando completamente a defesa.

-Nossa. Meu pai é incrível.

-Realmente. Ele sempre foi minha inspiração. Mas chega de conversa, me mostre o que sabe fazer - o jovem avança em direção à Lucas e tenta atingi-lo com um golpe cruzado, que é facilmente defendido. - Bem, levando em consideração a sua idade, até que você tem uma boa força.

-Obrigado – dizia dando um salto para trás.

-Agora vamos ver a sua defesa!

Lucas avança rápido contra o jovem tentando atingi-lo com um golpe direto, mas o jovem esboça um pequeno sorriso e desvia de seu ataque.

-Ele desviou? - pensou enquanto se defendia de um segundo ataque – Muito bem, impressionante.

-Obrigado – rapidamente Lucas dá dois golpes nas espadas que o jovem utilizava, fazendo-as serem arremessadas para o alto

-Mas lhe falta experiência... Vamos de novo.

O jovem pega as espadas do chão e continua desferindo golpes contra Lucas que os defendia sem muito esforço e contra-atacava sem exitar, atingindo o jovem inúmeras vezes. Até que o mesmo cai no chão exausto após algumas horas de treinamento.

-Bem, por hoje é só. Continuamos amanhã.

-Certo – respondeu ofegante.

No dia seguinte o treinamento continuou, Lucas lhe ensinou novos golpes e técnicas de defesa. O jovem parecia aprender de pressa e estava evoluindo bem rápido. Daniel, que estava ocupado com inúmeras reuniões, não tinha tempo para acompanhar o treinamento do filho. E em meio a golpes de espadas de madeira e de reuniões, se passaram duas semanas.

-Você vem progredindo bastante, meus parabéns – diz Lucas

-Obrigado, o que você vai me ensinar hoje?

-Nada.

-Nada?

-Exato. Nada. Pelo menos não agora.

-Mas então, o que vamos fazer aqui?

-Vamos conversar, que tal?

-Conversar? Sobre o quê?

-Qualquer coisa, me fale sobre sua vida – dizia enquanto se sentava no chão se encostando em uma parede – É sempre bom conhecer mais sobre um amigo, não é?

-É sim... - dizia enquanto se sentava de frente para Lucas - Mas antes de falar sobre mim, fale-me sobre você.

-Sobre mim? Está bem. Como você já deve saber eu sou filho de um nobre, você já deve conhecê-lo. O comandante de minha divisão, Bernardo.

-Meu pai já me falou sobre ele, mas nunca tive a chance de conhecê-lo.

-Entendo. Sorte sua.

-Como assim?

-Podemos dizer que eu e meu pai somos totalmente opostos, ele se vê como um ser acima de qualquer coisa, apenas por ter um título de nobreza. Para ele, você e todos os outros camponeses aqui reunidos, não passam de lixo.

-Eu não gostaria de conhecê-lo.

-Entendo – ele sorri

-Você tem algum parente?

-Tenho uma irmã que tem mais ou menos a sua idade. Ela foi para o reino do Leste, onde meu avô trabalha como médico, para estudar sobre medicina.

-E sua mãe?

-Minha mãe morreu quando eu era apenas uma criança.

-Ah... Temos isso em comum...

-Como assim?

-Bem, diferente do seu, meu pai não nasceu um nobre, ele era um camponês que trabalhava aqui neste castelo. Um dia a filha mais nova do rei o conheceu e então eles se apaixonaram. Para não ter seu nome manchado pelo fato de sua filha estar esperando um filho de um plebeu, o rei deu à meu pai um título de nobreza e o mesmo se tornou um cavaleiro. Daí eu nasci. Cinco anos se passaram e eu, meu pai e minha mãe vivíamos felizes aqui. Eu era muito apegado a minha mãe, passava quase todo o dia ao seu lado e meu pai estava sempre sorridente, parecia ser uma vida perfeita, mas um dia minha mãe ficou doente e acabou falecendo pouco tempo depois. Arrasado, meu pai desistiu da nobreza e abandonou a guarda real, voltando a ser um camponês e passou a cuidar de mim sozinho. E aquele homem feliz deixou de existir.

-Entendo... Sinto muito.

-Não sinta... Um ano se passou e então ele conheceu Alice, uma camponesa gentil que morava em nossa vila, eles se tornaram bons amigos e, a partir daí, se apaixonaram. Foi a primeira vez que vi meu pai sorrir novamente, mas mesmo assim eu não conseguia aceitar o fato dele estar com outra mulher, pra falar a verdade, até hoje eu não consigo aceitar totalmente... Então quando eu completei sete anos, David nasceu.

-E como é esse seu irmão?

-Ele é um garoto animado e gentil, mas tem uma saúde frágil. Ele é muito apegado a mim, me lembra até o modo que eu era apegado à minha mãe.

-E você é apegado a ele?

-Eu tento ser, mas... Não consigo – dizia enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas – Eu nem sequer consigo chamá-lo de “irmão”

-Talvez por ele ser fruto do amor de seu pai com outra mulher? Como você disse, você era muito apegado à sua mãe e talvez isso seja para você uma forma de traição.

-Acho que sim.

-Muito bem, chega de conversa – dizia se levantando – Vamos continuar o treinamento.

-Sim. - Lucas começa atacando, mas quase todos os seus golpes estavam sendo bloqueados ou desviados. - Qual o problema Lucas? Seus golpes estão ficando mais lentos.

-É como se ele conseguisse prever meus movimentos – pensou – Um dia ele será um grande guerreiro...

Enquanto isso, na sala de reuniões, Daniel e Bernardo estavam discutindo novamente.

-Por quê você não consegue concordar Daniel?

-Porque é impossível essas pessoas que nunca tiveram contado com nenhum tipo de treinamento, ficarem prontas para uma batalha de tamanha importância que poderá ser travada daqui a duas semanas.

-Desculpe, mas eu discordo. Eu tenho certeza que até o dia da batalha, eles estarão prontos. E além do mais, alguns camponeses a menos não vão fazer falta não é?

-O quê?

-Já basta dessas discussões – dizia o rei – O que está feito, está feito. Concordo que os camponeses podem não estar prontos para a batalha, mas comparada com nosso inimigo, nossas tropas estão em menor número. Teremos que arriscar.

-Essa sua decisão pode levar esse reino à ruína.

-Como ousa dizer tais palavras para nosso rei?

-O fato dele ser um rei, não quer dizer que ele seja perfeito. Afinal, pessoas erram. Agora a questão é: caso esteja errado, quem será “nomeado” o responsável? O rei e seu comandante que tomaram uma decisão equivocada, ou os camponeses que estão apenas tentando lutar por esse lugar? - Daniel lhe dá as costas e se dirige até a porta.

-Onde pensa que vai? A reunião ainda não acabou!

-Deixe-o ir Bernardo – diz o rei – Na verdade, eu temo que ele esteja certo.

Ao sair da sala, Daniel se dirige até o local onde Lucas e seu filho estão treinando. Ao abrir a porta ele avista ambos sentados no chão descansando.

-Olá senhor Daniel.

-Pai!

-Olá, como ele está se saindo?

-Muito bem, eu diria que ele já está no nível de um cavaleiro.

-Ouviu isso pai? Um dia serei tão incrível quanto o senhor.

-Que bom, estou orgulhoso... Poderia vir até o lado de fora comigo por favor?

-Claro. Com licença Lucas.

-Fique a vontade.

-O que foi pai? - perguntou enquanto saía da sala e Daniel fechava a porta.

-Quero que vá embora daqui.

-O quê?! Mas porquê?

-Acho que essa guerra será muito mais perigosa do que eu imaginava e talvez eu não conseguirei protegê-lo caso esteja em perigo.

-Não precisa se preocupar pai, eu já sei me cuidar.

-Não, você não sabe!- o jovem fica em silêncio - Desculpe. É que eu tenho medo de perdê-lo assim como perdi a sua mãe. E caso isso aconteça, eu nunca vou conseguir me perdoar.

-Como eu disse antes, não precisa se preocupar. Farei o meu melhor para lutar ao seu lado e ao lado do Lucas. Deixarei o senhor orgulhoso de mim. - dizia olhando fixamente para seu pai, demonstrando uma grande determinação em seus olhos.

-Você já me deixou orgulhoso meu filho... Tudo bem, se é essa a sua escolha. Só quero que me prometa uma coisa.

-O quê?

-Caso você veja que a situação está muito perigosa para você, quero que fuja o mais rápido que puder. Não importa se tiver que me deixar para trás.

-Mas...

-Prometa. Alice e David precisam de você tanto quanto a mim.

-Tudo bem pai, eu prometo.

-Ótimo. Agora volte para seu treinamento.

E assim o mês chegou ao fim. A hora da batalha se aproximava, todos os cavaleiro e camponeses foram reunidos na frente do castelo, divididos em suas respectivas divisões. Todos estavam ansiosos e alguns muito nervosos, enquanto esperavam o ultimo comunicado do rei antes de partirem.

-Muito bem. Estamos reunidos aqui hoje para irmos para a batalha, com o dever de proteger o nosso reino, esse reino onde todos vocês e seus familiares habitam durante anos. Vamos acabar com o avanço das tropas inimigas e mostrar para eles que não são tão poderosos quanto pensam. Eu irei aguardar vocês aqui para recompensá-los pela sua coragem e determinação. Hoje vocês não estão mais divididos entre camponeses e nobres, todos são cavaleiros da Guarda Real. Agora vão meus cavaleiros, cavalguem até a fronteira, exterminem o inimigo e retornem vitoriosos! - todos ali presentes ficaram eufóricos.

-Ei garoto, está nervoso? - perguntou Lucas

-Não, estou empolgado. Não vejo a hora de por em prática tudo o que aprendi.

-É assim que se fala, e já que você está fazendo parte da minha divisão, lutaremos lado a lado. Espero poder contar com você.

-Digo o mesmo.

Antes do Sol nascer, as tropas partem em direção a fronteira, com o número total de dez mil cavaleiros, alguns cavalgando e outros caminhando. Empunhando espadas, escudos, lanças e arcos, estavam determinados para a batalha. Daniel, juntamente com sua divisão, é o primeiro a chegar na fronteira, lá estavam os cavaleiros escolhidos para patrulhar a mesma. A divisão de Bernardo, que era a ultima na formação, ficou encarregada de armar o acampamento. O Sol começava a nascer no horizonte, revelando as tropas inimigas se aproximando, Bernardo se aproxima de Daniel e, ao olhar a incrível quantidade de cavaleiros inimigos, começava a suar frio. Tratava-se de cem mil cavaleiros, dez vezes mais homens do que suas tropas, avançando ferozmente contra a fronteira.

-Não pode ser... Enfrentar essa quantidade de inimigos com essas tropas? - diz Bernardo - Está é a pior situação possível.

-É muito tarde para voltar atrás agora... - respondeu Daniel friamente enquanto os outros comandantes se aproximam.

Os comandantes se reúnem na frente das tropas, com Daniel no centro deles. Ele olha fixamente para seus homens e fica pensativo por alguns segundos, logo ele ergue uma de suas espadas. Nesse momento todos voltaram sua atenção para ele.

-Como já sabíamos estamos em desvantagem numérica, mas não deixem a quantidade de inimigos surpreender vocês. Sentir medo é normal, mas aqui vocês terão que superar o seu medo e empunhar suas armas com o pensamento de que todas as pessoas que amamos dependem de nós. Se falharmos, só Deus sabe o que pode acontecer. Então, se alguém aqui não se acha capaz de enfrentar o seu medo, peço que volte para casa, mas aqueles que estão aqui para proteger o nosso reino, nesse momento, avancem contra o inimigo junto a mim e aos seus comandantes. Assim como o rei disse: “Exterminem o inimigo e retornem vitoriosos!”

-Sim!!! - disseram todos em uníssono

-Eu não disse que seu pai era incrível? - diz Lucas

-É, agora estou vendo.

Então as tropas começam a avançar em direção ao inimigo, em seus olhos a determinação para proteger aqueles que amam, em suas mãos as armas que lhe davam o poder para executarem essa vontade e em seus corações, a coragem para enfrentar um inimigo inimaginável.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Two Worlds" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.