Por trás de Frozen escrita por TamirisJ


Capítulo 6
Capítulo 5 - Rainha Elsa, de Arendelle.


Notas iniciais do capítulo

Bom dia, flores de Arendelle! Tudo bem cocêis?
Bem, está aqui o capítulo 5. Originalmente, ele ficaria maior, mas seria muito maior, então acabei resumindo para o que acredito ser o mais importante do capítulo :D
Espero que gostem! *------*



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POV ELSA

No caminho todo para cá, eu me concentrei. Eu tentei não pensar, tentei não aparentar e, principalmente, tentei não sentir. Não sentir nada é a chave para tudo, em especial para tentar controlar os meus poderes.

Sala do Rei, capela, festa, dormir. Foram os meus primeiros pensamentos, meu acompanhamento constante, o meu foco.

Sair do meu quarto foi mais difícil do que imaginava. Tentei sair de cabeça erguida, postura ereta e em passos rápidos; mas eu sentia um peso tão grande na boca de meu estômago, um nervosismo que me fazia ranger os dentes, a sensação de que eu iria me desconcentrar, de que iria perder o controle sobre as paredes construídas por mim ao redor do meu coração, que me levavam à loucura. Cada passo é controlado, cada respiração é controlada, e eu pensei que nunca mais queria essa sensação claustrofóbica e esse medo tão esmagador de revelar o meu segredo e de machucar alguém.

Entretanto, terá que ser assim pelo resto de minha vida. Entretanto, irei começar esse processo neste momento, ao dar o meu primeiro passo para dentro da capela.

Olho para cima e, nesse momento, a primeira pessoa que vejo é Anna.

Todos os sentimentos que eu tinha colocado escondidos em uma torre a sete chaves se libertaram em um despejo tão intenso que tive que morder meus lábios e fechar os olhos com força para me controlar. Meu coração bate rápido e minha garganta parece obstruída, trancada com angústia e meu segredo. Aperto minhas mãos e sinto minhas luvas, que me deixam mais tranquila. Nada de mal poderia ocorrer se as estivesse usando. Respiro fundo.

Ouço as pessoas conversando baixo, provavelmente tentando entender o que está acontecendo comigo.

Encenação, Elsa. Seja forte, Elsa.

Abro os olhos e concentro meu olhar no bispo, que está com um grande sorriso à minha espera. Se eu olhar para Anna novamente e ver como ela está crescida, começarei a pensar em todos os anos em que a ignorei para salvá-la, e em como ela me condenaria com um olhar de repulsa e abandono. Me lembrará o quanto estou com medo e não sou qualificada para ser Rainha.

E, principalmente, me fará ter vontade de chorar nos braços da única pessoa que restou na minha vida, de contar todos os meus medos e me libertar desse segredo que me consome mas, para todos os efeitos, eu não tenho sentimentos. Essa não é uma opção viável para mim.

Então, quando dou meu primeiro passo para dentro da igreja, meu olhar segue por toda a sala, menos para Anna.

Percebo que todos sorriem ao me verem passar e, pela primeira em anos, começo a sentir uma boa expectativa quanto ao futuro do meu reinado - há muito tempo não vejo sorrisos, e eles me fazem me sentir acolhida e até um pouco tranquila. Imaginei que todos achariam que sou uma completa estranha que herdou o poder e que não me apoiariam.

Ludvig me observa, os olhos brilhantes de orgulho. Ele acena a cabeça para mim, levemente, e meu coração parece mais calmo. Apesar de toda minha frieza, ele sempre foi bom comigo e, no fundo, acho que sabe que meu comportamento não foi proposital.

Continuo andando, os passos leves e lentos, como fui ensinada a fazer, controlando minha respiração e passando os dedos uns nos outros para sentir a textura da luva.

O sol ilumina de forma plácida e bela o ambiente, que é todo de madeira clara, as paredes detalhadamente esculpidas. Há anos eu não via o brilho do sol, trancada naquele meu quarto com a janela cheia de neve. Sinto algo diferente, que se inicia no meu coração e passa pelo meu corpo - luto para tentar definir esse sentimento, mas não consigo. Eu sei que ele me acalma e me faz vislumbrar um futuro diferente do que imaginava, um futuro sem resistência dos meus súditos e com o brilho do sol.

Esfrego os dedos com mais força. Não, Elsa, você não pode.

Você deve voltar ao seu quarto e, de lá, cumprir suas obrigações, se dirigindo poucas vezes à Sala do Rei para decidir problemas de maior gravidade. Não pode ignorar os seus malditos poderes.

Finalmente, chego até o palco, frente ao bispo, à coroa, o cetro e o globo de ouro - e ao lado de Anna. Esfrego as mãos com mais intensidade, preocupada, respirando controladamente.

O bispo segura minha coroa na mão - pequena e dourada, na forma de arco e com uma grande pedra azul em seu centro - e se aproxima de mim. Coloco minhas mãos na frente de meu vestido, a fim de controlá-las caso algo acontecer com as luvas e abaixo minha cabeça para ele colocar a coroa.

Espere. Meu cabelo. Meu cabelo é capaz de congelar?!

Por um momento, o pânico me invade e sinto a coroa ser colocada em minha cabeça. Me levanto rapidamente, me afastando, a respiração rápida.

Muito bem. Agora, só falta pegar o cetro e o globo dourado. Ambos possuem o formato da flor açafrão na parte superior, representando o poder de Arendelle e a autoridade do Rei. Digo, da Rainha. Quero dizer, minha autoridade.

O bispo pega a almofada com o cetro e o globo e, respirando fundo e tentando controlar minhas mãos trêmulas, avanço na direção dos objetos. Foco, Elsa, foco.

– Majestade… - levo um susto quando olho para cima e vejo o olhar de repreensão do bispo. - As luvas.

Meus olhos se arregalam e meu estômago se contorce enquanto eu fito o bispo, na esperança de que ele entenda que, por tudo o que é mais sagrado, eu não posso tirar as luvas. O pânico ousa aparecer e trazer aquela sensação desesperadora de falta de controle, e minha cabeça até dói com o esforço de tentar me controlar.

O rosto do bispo é impassível.

Minhas mãos tremem como nunca tremeram antes quando, da forma mais lenta possível, retiro minhas luvas azuis. Imediatamente, começo a sentir a ponta dos meus dedos ficarem geladas, o que significa que o poder está se libertando.

Não sentir. Não sentir. Não sentir – tento proferir as palavras com força para mim mesma, e aperto tanto minha boca que meus dentes até doem.

Coloco as luvas na almofada e penso rapidamente no que devo fazer - levar as mãos para frente, tentar sufocar o pânico, colocar as mãos nos objetos, deixá-los o mais longe de mim possível, apertar os dedos ao redor deles, tentar fazer com as pontas dos meus dedos não congelem.

Certo. Respiro fundo.

“Você consegue fazer isso, Elsa. Você precisa fazer isso”, ouço meu pai dizendo, e coloco meus movimentos em prática.

Pego os objetos e me viro na direção da população de Arendelle, tentando encontrar consolo nos rostos amigáveis que me observam. Rostos amigáveis que, com um gesto errado, poderão ser congelados imediatamente.

Aperto os lábios com toda a força possível para tentar sufocar meu medo enquanto todos se levantam e o bispo profere palavras em um idioma nórdico antigo, que entendo pelos livros que me entregavam para estudar - quando não os congelava, obviamente.

– Enquanto ela segura os objetos sagrados…

Olho para todas as famílias que poderia congelar e o pânico se alastra tanto que não consigo mais controlá-lo completamente, e toda a minha mão fica gelada. Aperto ainda mais os lábios e tento conter minhas lágrimas para não deixar meus súditos preocupados e nem me deixar ainda mais abalada.

– … e é coroada neste lugar santo…

Sinto o poder emanar para fora de mim, congelando pequena parte dos objetos que toco. Seguro minha respiração enquanto luto contra uma parte de mim mesma. Um mínimo movimento poderia congelar esse lugar inteiro, tanta é a confusão dos sentimentos despejados sobre mim.

– …, eu apresento a vocês...

Com certeza as pessoas conseguem ver meu rosto contorcido de desespero, de angústia, de medo, de terror.

– … Rainha Elsa, de Arendelle.

Nem mais prestando atenção se meus movimentos são bruscos ou não, coloco os objetos de volta na almofada vermelha o mais rapidamente possível e visto minhas luvas, sentindo um alívio tão grande que é capaz de eu desabar no chão.

– Rainha Elsa, de Arendelle! - todos repetem enquanto batem palmas, mal sabendo que poderiam estar congelados neste momento.

Meu alívio sai na forma de um pequeno sorriso, contagiado com a felicidade dos meus recentes súditos.

Apesar de perder o controle por pouco tempo, percebo que tudo poderia ter dado extremamente errado. Percebo o quanto não tinha confiança em mim mesma até conseguir passar por essa primeira prova de fogo. Aquela sensação desconhecida reaparece e aumenta um pouco o meu sorriso. Ainda não sei dar nome a ela, mas me deixa contente.

Nunca imaginei que, na primeira vez que saísse de meu quarto, poderia me sentir tão satisfeita comigo mesma. O povo de Arendelle gosta de mim, pessoa que nem eu mesma suportava, e consegui controlar meus poderes a ponto que não congelasse os objetos por completo.

Então, faço algo que nunca pensei que faria - procuro por Anna. As luvas me darão proteção, e essa sensação de vitória que tenho me faz acreditar que, pelo menos conversar com ela, será possível. Nem que seja apenas por hoje, dia em que todos estão felizes pelos portões terem sido abertos, falarei com minha irmã. Sei que, se não fizer isso, me arrependerei pelo resto de minha vida, pois eu não sei quanto tempo essa felicidade durará.

Vejo muitos súditos vindo até minha direção para me cumprimentar, mas Ludvig vem até a mim primeiro e os impede. Graças a Deus. Com essa mudança de comportamento - nunca tive uma mudança de comportamento na minha vida além da que me levou ao isolamento -, preciso calcular novamente meus passos e minhas ações.

O mordomo vem até a mim, o sorriso brilhante. Tento acompanhar seu sorriso, mas não tenho muita prática com isso.

– Rainha Elsa! Alteza! Que felicidade estamos todos sentindo! - ele diz, as mãos se estendo para me cumprimentar.

Meu coração acelera e me afasto um pouco. Sorrir não significa ter contato físico com outras pessoas, mesmo que isso envolva minha luva.

O sorriso dele se enfraquece um pouco e ele para onde está, apenas balançando a cabeça e fazendo um cumprimento. Faço o mesmo, agradecendo-o por me entender.

– Venho falar em nome do povo de Arendelle, Alteza. Todos somos honrados por tê-la como Rainha, e temos certeza de que reinará tão sabiamente quanto seu pais.

– Obrigada. - é tudo o que digo. Não planejei dizer muito, então não sei como proceder.

– Como está se sentindo? - ele pergunta, e vejo que está preocupado.

Por um momento, analiso os meus sentimentos. Meu coração bate com alegria, não sinto nervosismo, e nem mesmo estou esfregando os dedos com a necessidade de sentir o tecido das minhas luvas.

Levanto a cabeça, confiante.

– Diferente. Me sinto diferente, Ludvig.

E é esse sentimento que me diz que, hoje, tudo vai mudar - muito mais do que eu esperava.


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Notas finais do capítulo

TÃNÃNÃ! E agora? O que será que vai mudar (faz de conta que vocês não sabem)?
Há uma informação adicional que acho que é legal compartilhar. Esse globo de ouro que descrevo realmente foi - e ainda é - utilizado em muitas coroações, principalmente na Idade Média. Ele é o símbolo da dispersão e poder do cristianismo já que, originalmente, em vez de ter uma flor em cima do globo (como no filme, em que a flor representa Arendelle), era uma cruz. O globo representa o mundo e a cruz acima dele é a propagação do cristianismo no mundo. Quando vi o objeto no filme, me perguntei que raios era aquilo, então pesquisei na internet e encontrei essa definição, que acho legal compartilhar com vocês :D
Vocês sabem que gosto muito de comentários (hihihi), então peço que deixem para fazerem essa pessoa que vos fala muitíssimo feliz o/o/
Beijinhos e até o próximo capítulo! ;*