Por trás de Frozen escrita por TamirisJ


Capítulo 13
Capítulo 12 - A caminho da Montanha do Norte


Notas iniciais do capítulo

VOLTEI! VOLTEI! Começarei pedindo desculpas pela demora. Eu fiquei muitos meses sem me sentir bem e sem conseguir escrever. Mas agora voltei determinada a continuar e terminar! ;) Obrigada pela paciência, cidadãos lindos de Arendelle ♥, e bola (de neve) pra frente!
Esse capítulo é a continuação de Anna, Kristoff e Sven na floresta, com algumas cenas extras.
Espero que gostem e que a espera de vocês tenha valido a pena! :')))



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POV ANNA

— Então, como vamos chegar até a Montanha do Norte? – pergunto com a voz firme e autoritária, ao mesmo tempo em que tento puxar assunto. E, mesmo me forçando a ficar o mais calma que consigo, a ansiedade faz meu coração bater desenfreadamente no peito.

Ansiedade de acabar com essa situação horrível de uma vez. De resolver as coisas com a Elsa e trazê-la para casa. De que esse vento congelante pare de machucar o meu rosto. E de tentar levar uma vida normal com a minha irmã. São esses pensamentos que me fazem forte quando falo com Christopher. Quer dizer, o cara é um brutamonte e dá pra ver que ele não leva muito jeito com pessoas, já que até fala com uma rena, então eu decidi agir desse jeito para que ele pudesse me ajudar. Em muitas histórias, as garotas têm que agir assim para serem respeitadas, e me esforço ao máximo para conseguir. Ele foi minha primeira e única opção, e não hesitei em recorrer a ela.

Ele me encara com ironia.

— Hmm... De trenó, talvez? – e aponta para o transporte em que estamos sentados, em que um lampião é toda a luz que temos.

Dou um sorriso amarelo que, na hora, se torna uma boca rígida e certeira.

— Muito bem, isso mesmo, Christopher.

— É KRIST...

— Aliás, belo trenó. – digo, e ele se cala independentemente do que fosse dizer, e um olhar abobalhado e ao mesmo tempo orgulhoso trazem uma nova luz ao seu rosto. Então, de repente, ele fecha o cenho novamente.

— Não precisa ficar puxando papo. Estou apenas retribuindo um favor.

Sim, eu sei que não preciso ficar puxando papo, mas é que Christopher ainda é uma das primeiras pessoas com quem converso desde que saí da minha prisão dentro daqueles portões, e a perspectiva de conversar com uma pessoa – gente de verdade!—, ainda me é maravilhosa e faz com que sinta um rebuliço de emoção dentro de mim. É uma das únicas coisas boas que aconteceram comigo até agora, e tento me apegar a isso. Parece bobo mas, mesmo com toda essa situação, uma parte minha ainda fica fascinada com tudo o que vê e ouve, pois tudo faz parte de um novo mundo que está aberto para mim, cheio de descobertas e aventuras e amores e...

Não, peraí, amores não. Já conheci o meu perfeito amor verdadeiro Hans. Pensar nisso aquece meu coração, e me sinto mais reconfortada frente a essa tempestade terrível que me faz tremer até os ossos.

— Só estou tentando quebrar o gelo. – respondo, tentando permanecer séria, até que percebo o jogo de palavras que fiz e que ficou parecendo uma piada. Solto uma risada, tão audível que ouço ecoar pela floresta. Ai, ai.

— Shh! Você é louca?! – então faz uma careta como se já soubesse a resposta da pergunta. – Existem lobos por aqui, e eles podem ser atraídos por sons escandalosos. – apesar disso, me encara curioso. - Do que você está rindo? – e já não parece tão fechado, e sim impressionado com o fato de eu rir.

— “Quebrar o gelo”, entendeu? – seguro uma risada. – Gelo por todo canto, seu negócio com gelo, “quebrar o gelo”...

Christopher fica em silêncio, mas consigo perceber que está se segurando para não rir.

Nunca pensei que conseguiria me sentir tão bem andando de trenó numa floresta escura e sinistra em meio a uma noite de nevasca ao lado de um desconhecido. Christopher pede a Sven para andar mais rápido e o trenó dá uma guinada, e eu me seguro com mais força e rio, emocionada com a velocidade, o clima de aventura – meu Deus, sou eu quem está vivendo uma aventura, não estou lendo nada disso! -, e a certeza de que tudo dará certo (e admito que ainda estou rindo um pouco devido a minha piada). Sim, tudo dará certo porque conversarei com Elsa e a farei ver que voltar para Arendelle, acabar com o inverno e vivermos juntas e felizes para sempre é o melhor a se fazer.

— Se segura! Gostamos de ir rápido. – ele diz, um pouco mais animado, enquanto fazemos uma curva perigosíssima.

— Eu gosto também! – respondo, me sentindo tão confiante e bem que fico numa posição mais confortável no trenó, apoiando os pés em cima da frente do transporte e colocando os braços atrás da cabeça.

— OW, OW, OW, OW! – ele grita, como se esquecesse do conselho que me deu há alguns minutos, e tira abruptamente meus pés do trenó, e o encaro mal humorada. Acabou com o clima. – Pezinhos pra baixo. Acabou de ser polido. – e acaricia o trenó como se pedisse desculpas por meus atos. Primeiro uma rena, depois um trenó. Fico relativamente preocupada com a companhia que escolhi para minha aventura. – Vem cá, você foi criada no celeiro? – cospe no trenó e depois o limpa.

O cuspe rebate, devido à velocidade, e vai bem na minha cara. Passo a mão no rosto imediatamente, tirando a camada fria de cuspe nojenta que ganhei de presente.

— Argh, não! – digo, limpando, ultrajada. – Eu fui criada num castelo!

— Humpf. – grunhe ele, satisfeito com o trenó limpo devido a sua cusparada nojenta.

Andamos um pouco em silêncio, observo a silhueta das árvores e fecho os olhos para sentir o movimento do trenó e a neve, a fim me lembrar minimamente da sensação de liberdade que tenho agora. Percebo que isso é uma reação a ficar tantos anos presa; peguei o costume de, em cada situação diferente (como abrir uma janela para não morrermos com o mofo acumulado), aproveitá-la cada segundo e prestar atenção em seus detalhes para lembrá-los nas horas em que ficava trancada.

— Então, me fala. – Christopher corta meus pensamentos. Então, agora ele quer conversar, hein? O encaro, atenta. – O que fez a Rainha virar a louca do gelo?

Oh, sim, esse papo. Acho justo ele saber, já que está me ajudando.

— Ah... Pois é. – ouço minha voz se tornar insegura e tristeza e inconformidade se apossam de mim com as lembranças. – Foi tudo culpa minha, eu... – e mal começo a falar e os acontecimentos e sentimentos fazem com que eu despeje tudo de uma vez, como se Christopher fosse meu confidente. – Eu conheci um rapaz, mas aí ela deu um ataque porque eu resolvi ficar noiva no mesmo dia em que o conheci e ela disse que não ia abençoar o casamento e...

— Peraí. – ele interrompeu. – Você ficou noiva de alguém que conheceu no mesmo dia?!

Parece que ele tem uma tendência a interromper. Ignoro e continuo jorrando meus sentimentos, e não percebi até aquele momento o quanto precisava disso.

— É! – digo, ansiosa para continuar desabafando. - Enfim, eu fiquei com raiva e ela ficou com raiva e aí ela tentou ir embora e eu peguei a luva dela e...

— Parou. – ele me interrompe (de novo), mas com a voz mais séria, o que me faz olhar para ele. – Você está me dizendo que conheceu alguém e ficou noiva no mesmo dia?!

Meu Deus, esse cara é surdo?! Além de, possivelmente, ter Síndrome de Interromper Pessoas?!

Isso, presta atenção! O que acontece é que ela usava as luvas todo o tempo, então eu achava que ela tinha nojo de sujeira.

— Os seus pais não alertaram você sobre estranhos?!

Deus meu, do que esse cara tá falando?!

De repente, percebo que está falando sobre sair contando tudo da minha vida a um estranho que acabei de conhecer – no caso, ele -, então me afasto um pouco e o observo com cautela, demonstrando que estou atenta quanto a isso, mas que confio nele (senão, nem teria pedido para que me levasse até a Montanha do Norte, ponto crucial da minha jornada).

— Eles... alertaram sim. – respondo lentamente. Ele continua me encarando, então sorrio quando percebo que ele se refere a Hans, não a ele. – Mas o Hans não é um estranho.

Ele devolve o sorriso, mas é um sorriso irônico. Um sorriso bonito, na verdade.

Peraí, o quê?!

— Ah, é? – pergunta, com escárnio. - Qual o sobrenome dele?

Essa pergunta é tão fácil que rio.

— Ele é um das Ilhas do Sul.

— E a comida preferida?

— Sanduíche. - além de cantarmos sobre isso, comemos diversos sanduíches, então não pode ser outra coisa.

— Melhor amigo?

— Provavelmente, John. – Hans falou alguma coisa sobre o nome John, mas não consegui prestar atenção porque estava perdida sonhando com nosso futuro e em como o nome John ficaria bonito em um dos nossos filhos.

— Cor dos olhos?

— Lindos! – o que mais eu preciso saber além de que me perco neles loucamente?

— Tamanho do pé?

— O tamanho do pé não importa! – desde que ela não seja o Pé Grande, tá ótimo! (Adorei a recém-descoberta do meu lado piadista)

— Você já almoçou com ele? – não consigo responder porque ele não deixa. – E se odiar o jeito como ele come? E se você odiar como ele tira meleca?

— Meleca?! Que nojo! – quem pensa nisso?!

— E aí engole. – complementa, como se fosse algo natural e magnífico.

Como ele ousa falar de Hans dessa forma, sem ao menos conhecê-lo?

— Me desculpe, senhor, ele é um príncipe!

Ele dá de ombros.

— Homens fazem isso – responde simplesmente.

— Urgh! – é minha reação a essas ideias nojentas do “Rei das Renas”. Não devia estar surpresa, já que ele cheira a cocô de rena. – Olha, não importa, é amor verdadeiro. – constato, orgulhosa e desafiadora. Ele não pode ir contra esse fato.

— Mas não tá parecendo.

A tranquilidade com que ele fala isso acende uma chama de raiva em mim – como ele ousa julgar um relacionamento dessa forma, como se tivesse todo o conhecimento do mundo a respeito disso? De acordo com os livros, apenas sábios podem fazer isso. E, com certeza, Christopher não é o sábio da minha aventura. Humpf.

— Humpf. – bufo. – Por acaso, você é especialista em amor? – meu tom sai muito mais irônico do que pretendia, mas ele merece.

— Não, mas... – hesita um pouco. -... eu tenho amigos que são.

Esse homem nojento e pouco sábio tem amigos especialistas em amor?

Você tem amigos especialistas em amor. Não acredito.

— Para de falar. – ele me corta de maneira abrupta.

Até agora estou tentando me controlar, mas esse cara está passando dos limites com a minha paciência. Primeiro julga o meu amor verdadeiro, o que me libertou daquela vida terrível que tinha, e agora não quer dizer o porquê?!

— Não, não, eu quero conhecer esses... – e ele tapa bruscamente minha boca com sua mão enluvada. A chama de raiva que já estava tentando conter aflora e luto contra ele, resoluta.

— Não, é sério. – diz, determinado.

Tiro a mão dele da minha boca, completamente ultrajada e me arrependendo de ter pedido a ele para fazer parte da minha aventura.

— Eu...

— Shh! – e se levanta com o lampião em mãos, analisando ao redor.

De repente, um silêncio denso e perigoso me envolve e percebo que o pedido dele tem um objetivo muito maior do que me calar. A chama de raiva transforma-se em medo, em uma expectativa de que algo terrível está por vir. Eu já passei por isso antes, e a sensação me causa náuseas, porque você nunca sabe o que pode acontecer depois da ação. Meu estômago embrulha e fico tão atenta quanto meu guia.

Sven solta um urro assustado e preocupado.

Ao olharmos para trás, o que parecem luzes verdes, pequenas e brilhantes, aparecem na floresta. Começo a tremer, tanto de medo quanto de expectativa.

— Sven, vai. VAI! – grita, e o trenó se move tão abruptamente que sou jogada para trás com um baque terrível e minhas costas batem na madeira, que me deixa repentinamente sem ar.

— Ah. – tento gritar ao recuperar o ar. – O que era aquilo? – pergunto, tentando ouvi-lo por cima das batidas desenfreadas do meu coração.

— Lobos. – responde, concentrado.

— Lobos?! – olho para trás e vejo uma matilha grande correndo na nossa direção. Fico momentaneamente sem ação, mas logo vejo Christopher ao meu lado se levantando e mexendo nos objetos do trenó. Ótimo, ele tem um plano. – O que vamos fazer?

— Olha, princesinha, deixa comigo. – enquanto fala, pega uma espécie de bastão que cobre com um pedaço de tecido e coloca fogo nele com o lampião, de forma que tem uma tocha. – Tenta só não cair e ser devorada.

“Deixa pra lá, Anna, tenta só não atrapalhar” foi uma frase que ouvi a vida toda, mesmo que de maneiras diferentes, como as que diziam para me afastar de Elsa ou de alguma tarefa que algum servente fazia. Fique longe, Anna, vá para lá, Anna, como se eu fosse uma inútil, nada além de um estorvo. Mas eu provei que não sou – consegui um noivo, estou indo salvar minha irmã e me virei muito bem até agora. Eu sou muito mais do que pensam de mim.

— Mas eu quero ajudar! – grito.

— Não! – responde, mal prestando atenção em mim.

— Por que não?!

— Porque você é uma desmiolada!

Fico alguns milésimos de segundo inacreditada com a frase daquele desconhecido que tudo o que fez foi pegar um “atalho” que nos levou direto a lobos e se julga o sabidinho do amor.

— Como é que é?!

Um lobo se aproxima de nós e ele o afasta com um chute.

Nos livros, li algo sobre um estágio durante a guerra em que os soldados simplesmente batalham, sem pensar nas consequências, afim de que todo aquele pesadelo termine logo, guiados pelas suas emoções mais instintivas.

Como a raiva.

— Quem se casa com alguém que acabou de conhecer? – Christopher grita.

Os lobos estão por perto e tudo o que consigo sentir é raiva deles por atrasarem a minha viagem e desse homem por me julgar tão erroneamente. Ah, sim, eu estou naquele estágio da batalha, e farei de tudo para mostrar meu valor.

Pego a primeira coisa que me vem às mãos – felizmente, a viola desse loiro aguado - e grito:

— É AMOR VERDADEIRO! – e dou uma pancada que deixa meus braços doendo, mas que me satisfaz, em um lobo que pulara em direção ao trenó.

— Wow. – o loiro aguado diz, impressionado.

Dou um sorriso de satisfação e minha respiração pesada e rápida parece ser a única coisa que consigo ouvir.

De repente, um lobo aparece e Christopher é mordido por ele e puxado do trenó, caindo na neve.

Meu coração parece parar por alguns segundos.

— CHRISTOPHER! – grito.

Ele se agarra à corda que está saindo do trenó, e suspiro de alívio por não continuar a ser arrastado em direção à matilha, apesar de ele estar ganhando uns machucados bem feios enquanto é arrastado pelo trenó.

— É KRISTOFF! – ele responde.

Kristoff?! E eu falando errado o nome dele esse tempo todo?! POR QUE ELE NÃO FALOU ANTES?!

Dois lobos se aproximam de Chr... Kristoff e mordem suas pernas. Ele grita, um grito agudo e cheio de dor.

O grito penetra meus ouvidos e lembra meus próprios gritos de desespero ao ouvir a notícia da morte dos meus pais. A morte precoce, desnecessária, a morte...

Qualquer pensamento que me vem à mente me traz raiva, e é ela que me impulsiona a pegar um rolo de cobertor e colocar fogo nele com a tocha, a fim de jogá-lo naquelas porcarias cinzentas que são os lobos.

O cobertor acerta em cheio os lobos que mordiam Kristoff e os outros recuam momentaneamente, assustados. Mas, logo em seguida, se reaproximam.

Puxo Kristoff com a corda, enquanto tento me equilibrar em pé no trenó – anos me equilibrando em corrimãos e balaustradas não foram à toa.

— Quase colocou fogo em mim! – ele grita, enquanto o ajudo a subir no trenó.

— Mas não coloquei! – meu Deus, mas que homem reclamão!

Com certa dificuldade, nos sentamos e bufamos aliviados, mesmo com os lobos atrás de nós – pelo menos, ambos estamos dentro do trenó. A falsa sensação de segurança acaba quando Sven urra e olhamos para frente.

Oh oh.

Um desfiladeiro enorme é o único caminho que nos guia para frente – e para longe dos lobos. Já dei grandes saltos em muitos lugares do castelo, mas é totalmente diferente dar um deste tamanho e, ainda, em cima de um trenó. A náusea volta e meu estômago se retorce.

Só uma solução me vem à mente.

— Se prepara pra pular, Sven! – grito, sentindo o vento bater tão forte no rosto com a velocidade que Sven adquire que é difícil abrir os olhos.

— Não diz o que ele tem que fazer! – Kristoff bronqueia. – Eu digo! –coloca sua sacola nas minhas mãos e, num único movimento, me pega no colo com seus braços de brutamonte e me joga no torso de Sven.

— Ei! – e me esforço para cair de maneira que consiga me equilibrar em Sven. O baque faz com que minhas pernas doam e adormeçam por alguns segundos, mas estou muito preocupada com o desfiladeiro à frente para me prestar atenção nisso agora.

— Pula, Sven! – ouço Kristoff gritar e o barulho da faca cortando a corda.

Não consigo olhar para trás; apenas tento atrair, desesperadamente, a outra ponta do desfiladeiro com os olhos, como se a chamasse para ficar mais perto. Não olho para baixo, e não tento pensar que podemos cair ali.

Pensamento positivo, Anna. É o que sempre disse a mim mesma, e não pode ser diferente agora, apesar de ser maravilhosamente horrível a sensação de ter um desfiladeiro, e nada mais, abaixo de seus pés.

Ouço meus gritos, os de Kristoff e os de Sven, e nosso voo parece interminável, e começo a me desesperar. Finalmente, Sven alcança a outra ponta e aterrissamos com um baque estrondoso que bate até os meus dentes.

Olho para trás, sentindo um alívio tão grande que me faz ter vontade de deitar na neve e fechar os olhos até minha respiração e meus batimentos cardíacos se acalmarem. Entretanto, Kristoff não está à vista, e meu coração se aperta, subitamente desesperado, enquanto Sven urra desenfreadamente.

Abro a sacola que Kristoff me deu e lá encontro uma picareta e uma corda. Amarro rapidamente e jogo a picareta na direção em que ouvi Kristoff gritar.

Faço uma rápida e pequena oração para que dê certo.

— Segura aí! – grito.

Uma alegria me invade quando o peso da corda aumenta – Kristoff conseguiu alcançá-la -, e começo a puxar com todo o resto de força que a adrenalina me provê.

— Puxa, Sven! – animo-o. – Força!

Com todo o esforço que conseguimos reunir e depois de um tempo que parece interminável – sinto meus dedos esfolados -, Kristoff aparece e deita no chão, obviamente acabado.

Dirijo-me até ele com desespero, torcendo para que esteja bem. Sinto uma vontade imensa de abraçá-lo, agradecê-lo por passar tudo isso comigo – e por minha causa.

Olho para trás para tentar achar o trenó, e o vejo pegando fogo e destruído no fundo do desfiladeiro.

Talvez ele não queira um abraço meu.

— Puxa... – fico um momento em silêncio, estranhando essa quietude e pensando no que ele gostaria de ouvir. – Eu vou pagar pelo seu trenó. E tudo nele. – ele bufa, cobrindo o rosto com as mãos, e meu coração despenca. – E... Imagino que você não queira mais me ajudar.

Ah, sim, tenho certeza. Kristoff, o cara que ganha a vida vendendo gelo, acabou de perder todos os bens materiais que possuía por minha causa. Meus olhos lacrimejam, mas seguro o choro. Apenas mais uma pessoa que se sacrificou por mim. Como Elsa ao ficar longe para me proteger; como Hans que deixou sua terra para cuidar da minha; como Arendelle que se submete a um reinado sem sua princesa para que eu consiga alcançar meu objetivo.

Saio andando, desolada, perdida em meus pensamentos. Para onde ir agora? Eu não conheço essas montanhas – não conheço meu próprio reino. Não sei me virar na floresta. Percebo, apenas neste momento, que não preciso mais do auxílio do lampião para me guiar, pois o dia amanheceu. O cansaço de uma noite não dormida me atinge, e tenho vontade de me jogar no chão e deixá-lo me consumir.

Mas eu não posso. Elsa precisa de mim. Arendelle precisa de mim.

Respiro fundo e continuo andando, meus passos grandes e lentos na neve funda, mas decisivos.

Quando chego perto da entrada de outra floresta, ouço Kristoff gritar.

— PODE PARAR AÍ! Estamos indo.

É como se algo tivesse acendido dentro de mim. Sorrio involuntariamente, sentindo esperança e a caridade daqueles dois que, depois de tudo aquilo, ainda se dispõe a me ajudar. Uma nova energia passa por mim.

— Estão?! – minha voz não esconde minha alegria. Penso que o brutamonte, com todo seu jeitão, ainda prefere um jeito de ser mais durão da minha parte, já que ele também é assim. Então acrescento: - Claro! Eu deixo vocês virem comigo!

Olho para trás e Sven já está em meu encalço.

—----

Kristoff tenta se levantar, mas cai na neve. Minha alegria dá espaço à preocupação, e Sven e eu corremos em direção a Kristoff, que agarra suas pernas, soltando urros de dor. Olho para a neve e percebo que há um caminho de sangue por onde Kristoff passou. A náusea volta – não pelo sangue, eu já me machuquei muito nas minhas andanças pelo castelo -, mas por Kristoff ter se machucado tanto. Ajoelho-me e tiro, cuidadosamente, as mãos de Kristoff de suas pernas para analisar o estrago que os dentes dos lobos fizeram.

— Porcaria de lobos. – ele xinga, apertando os lábios. – Você sabe cuidar disso aí?

— Claro que sei. – respondo, em tom de obviedade. – Li alguns livros sobre as artes médicas. 13 anos presa na própria casa pode ter alguma serventia.

Claro que não me lembro de uma página. Apenas quero traquilizá-lo. Entretanto, deixo sair uma exclamação de horror ao ver as longas feridas abertas de Kristoff que, mesmo ao redor do gelo, sangram e estão sujas, cheias de gravetos e pequenas pedras. Sua calça rasgou e não protege mais suas pernas.

Não entendo nada, mas sei que aquilo pode inflamar.

Olho para a neve, incerta se devo usá-la ou não.

— Que bom. – ele me responde. - Porque eu também sei e sei que não tem a menor ideia do que fazer.
      Ele me encara e com aquele sorriso irônico e divertido, que me faz soltar uma gargalhada. Talvez seja melhor ser apenas eu com Kristoff, nada de Anna durona.

— Eu sei que não fazia a menor ideia do que fazer o tempo todo. Lido com muitos tipos de pessoas, e conheço o seu. É inoce... – ele para de falar ante ao meu olhar feio para ele. - ... Boazinha demais para agir de forma tão durona. Apesar de que arrasou com aqueles lobos, na verdade. É mais corajosa que a maioria, devo admitir.

O elogio me faz corar e sentir certo orgulho de mim mesma. Sorrio.

— E você é o melhor vendedor de gelo amigo de renas que já conheci. – os olhos dele brilham por um segundo, e vejo que ele tenta esconder isso ao franzir o cenho, mas não consegue. Meu sorriso se abre um pouco mais. - Agora, poderia me dizer o que fazer para cuidar de suas feridas?

Kristoff vai me guiando e eu vou cuidando, utilizando os objetos que ele pede e da forma que me instrui. Conversamos sobre nós – sobre como ele foi criado com gelo e Sven, sobre minha infância solitária. Ele continua discordando da relação que Hans e eu temos, mas decido ignorá-lo quanto a isso. Sinto-me extremamente confortável ao lado de Kristoff, e até segura. Ele parece saber o que faz e o que diz com propriedade; tem um largo conhecimento do mundo, o conhecimento de fora dos portões, que eu sempre estive ávida para conhecer.

Em certa hora, o silêncio toma conta da conversa. Mas é um silêncio bom, reconfortante.

— Por que está fazendo isso por mim? – Kristoff pergunta, com um tom curioso e incrédulo. – Você mal me conhece. A maioria das pessoas, assim que vê que alguém está doente ou em apuros, foge dos possíveis problemas e...

— Então são pessoas péssimas. – interrompo, séria. – Você se machucou por mim. É uma forma de retribuir. Além disso, eu nunca deixaria nenhuma pessoa ferida sozinha.

Ele me olha, intrigado, como se eu fosse uma espécie de alienígena.

— É por isso que vai atrás da sua irmã?

— Sim. Ah, e pelo seu negócio de gelo, claro.

Ele fica em silêncio depois disso, pensando na minha resposta.

Terminados os curativos, Sven e eu ajudamos Kristoff a se levantar e procuramos uma caverna para passarmos a noite. Encontramos uma não muito longe, de tamanho médio. Sven vira de costas e se transforma em uma porta; colocamos um cobertor em suas costas para que não fique com frio. Comemos algumas cenouras (Sven come a maioria, claro) e, depois, dormimos.

Kristoff dorme rápido, e Sven também. Fico algum tempo observando esses dois corajosos que tanto me ajudaram e em como, de uma hora para outra, se tornaram especiais para mim.

— Obrigada. – sussurro.

Quando deito, todo o cansaço que tenho o direito de sentir vem sobre mim e mal consigo abrir os olhos. Meus machucados – como mãos esfoladas, as costas que bati, a dor nas pernas – ardem e latejam, mas penso que essas dores são muito melhores que as dores no coração que já tive durante toda minha vida.

Então durmo, pela primeira vez com companhia e com o calor deles aquecendo a minha alma.

—----

Acordo com um forte cheiro de rena fedida bem perto do meu nariz e a primeira coisa que vejo é Kristoff esparramado na caverna. Deve ter se mexido tanto durante a noite que a cabeça foi parar do lado da minha. Apesar de ter me acordado, o cheiro não me incomoda mais. Acordo-os – claro, eles resmungam - e nos aprontamos para mais um dia de aventura.

Andamos e andamos e andamos por montanhas que parecem todas iguais e, ao mesmo tempo, diferentes. Os cumes são diferentes, algumas mais rochosas, outras menos. De vez em quando, Kristoff, Sven e eu discutimos o formato de alguma nuvem e ficamos rindo com as piadas que eu faço (adoro). Entretanto, chegamos a uma montanha tão alta que, dela, é possível ver toda Arendelle. E a cena, apesar de lindamente iluminada pelo pôr-do-sol, não é nada promissora.

Solto uma exclamação surpresa, ao mesmo tempo em que sinto meu coração congelar. Arendelle é a junção de vários pontos brancos e minúsculos em meio a montanhas e mar congelados. Um clima mórbido, triste, cinzento, nada bonito. Sinto-me murchar.

— Arendelle... – é tudo o que consigo dizer.

— Tá completamente congelada. – Kristoff complementa, preocupado.

Faço uma careta. Apesar de só ver um pouco de Arendelle pelas janelas, sempre pude ouvir os “bom dia!” bem humorados, os gritos das feiras que ficavam próximas do castelo, a movimentação. Agora, não havia nada além do frio terrível e suas consequências.

— Mas vai ficar bem. Elsa vai descongelá-la. – digo, esperançosa. É a única alternativa para Arendelle voltar a ser feliz. E, mesmo que Elsa não saiba, para ela ser feliz.

— Vai, é? – Kristoff pergunta, um pouco incrédulo.

— Vai. – sussurro. – Agora vamos. Temos que ir nessa direção? – e aponto para frente.

— Hum. – Kristoff urra (como Sven faz). – Melhor seguir... – e pega no meu braço. O contato faz com que meu braço formigue e meu corpo parece acender. Sinto minhas bochechas corarem e meu coração bater rápido, acompanhado de um sorriso que aparece sem eu mandar. Tento controlar essas sensações balançando a cabeça enquanto Kristoff move meu braço para cima. - ... nessa direção.

Tentando disfarçar meus sentimentos confusos – não, peraí, eles não estão confusos, é só o contato do calor que se chocou contra esse frio invernoso. Só isso, Anna. -, fico realmente impressionada com a montanha enorme que Kristoff aponta. Onde mais Elsa se esconderia a não ser em uma montanha? Com certeza ela pensou que lá se esconderia bem mas, no fundo, foi uma tentativa de ser encontrada.

Porque, fala sério, quem que tem o objetivo de se esconder faz isso na maior montanha da cidade?

Olho para Kristoff, e ele devolve o olhar. Ele entende que essa jornada não será fácil. E Sven também.

Nossa relação mudou bastante de ontem para hoje. É como se fôssemos uma única mente, dispostos a tudo um pelo outro – apesar, admito, de Kristoff ainda se manter um pouquinho distante. Mas já estou muito feliz com nosso progresso.

— Obrigada por me acompanharem. – é tudo o que consigo dizer ante a gratidão que eu sinto, e sorrio verdadeiramente, e depois dou um beijo na bochecha de cada um, demonstrando meu carinho por eles. Então, viro-me em direção à montanha e recomeço a caminhada, mas percebo que não estou sendo acompanhada. – Ei, vocês não vêm? – pergunto, subitamente preocupada.

Olho para Kristoff e ele ainda olha na minha direção, com o rosto vermelho, a boca aberta e os olhos brilhantes, como se observasse a coisa mais linda do mundo. Solto uma risada.

— Eu sei que você adora montanhas, Kristoff, mas não precisa ficar assim.

Kristoff balança a cabeça, como se voltasse para a realidade, e Sven o empurra para frente.

— Anna. – ele diz. – Eu...

— Sim? – pergunto.

— Eu... – recomeça, e gesticulo de maneira a incentivá-lo a falar. – EU VOU NA FRENTE. – grita, e marcha na minha frente e na de Sven.

Ergo uma sobrancelha.

— O que deu nele? – pergunto a Sven.

— “Nem me pergunte” – ele responde.

Então abraço Sven e seguimos Kristoff rumo à montanha.


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Notas finais do capítulo

Ufs! Esse capítulo ficou bem maior que eu pretendia, mas foi para compensar o tempo sem postar! E, também, coisinhas tinham que se desenvolver, né? Sempre achei que o filme deixou um vácuo muito grande na relação entre a Anna e o Kristoff, e decidi explorar um pouco isso.
Gostaram? Críticas/sugestões/desabafos?
Obrigada por lerem!! Estou extremamente feliz por ter voltado!! Essa fic já me proporcionou muito mais que podia imaginar: leitores que se tornaram meus melhores amigos, alegrias em tempos de tristeza, uma distração extremamente agradável e feliz.
UM FELIZ ANO NOVO a todos, com muitas fics e comentários e recomendações e autores legais e leitores legais e amor e paz e alegria e tudo o que seus corações desejarem!
Ainda vou continuar um pouco inconstante nas postagens, mas não vão demorar tanto quanto essa, fiquem tranquilos! kkkk
ATÉ ANO QUE VEM!