Post-it escrita por Charlotte


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Mais uma Johnlock, espero que gostem! Boa leitura :)



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Sherlock acorda e encontra um post-it amarelo na mesa de cabeceira.

"Preto, dois cubos de açúcar. Chá sem açúcar e com uma pitada dificilmente detectável de leite para John", ele diz.

Ele se levanta, coloca seu velho roupão azul, deixando-o aberto e livre para o vento frio da manhã açoitá-lo enquanto desce as escadas até a cozinha. Ele faz o café seguindo as instruções no pequeno pedaço de papel, e toma um gole cuidadoso. A sensação é reconfortante. O gosto amargo é bom.

John ainda está dormindo, Sherlock vai ter que se lembrar de fazer chá para ele mais tarde. Ele pega um post-it e caneta, e deixa-o no balcão da cozinha com as seguintes palavras:

Chá, sem açúcar, com uma pitada de leite.

Depois de terminar o café, vai até o quintal. As folhas caídas do outono tem a mesma cor que os cabelos de John costumavam ter. De repente, uma voz o chama. Nem um minuto depois, ele ouve passos suaves atrás dele na grama e um braço circundando sua cintura fina.

"Você já esteve aqui por horas. Vem para dentro, está ficando frio, eu vou fazer uma sopa para o jantar."

Você está errado, Sherlock pensa, enquanto o segue. John está errado, não pode ter sido horas, ele tinha terminado de preparar o café há no máximo dez minutos.

Antes de entrar na cozinha, John dá um beijo suave na testa de Sherlock, tentando acalmar sua carranca, antes de se mudar para o fogão e começar a cozinhar a sua refeição.

Os olhos de Sherlock caem sobre o balcão, e se fixam no outro post-it amarelo.

Chá, sem açúcar, com uma pitada de leite.

Ele se esqueceu de fazer chá para John.

* * *

Sherlock acorda e encontra um post-it azul na mesa de cabeceira.

BORED. Ligue para Lestrade para encontrar um caso.

Ele se levanta, coloca seu velho roupão azul, deixando-o aberto e livre para o vento da manhã açoitá-lo, enquanto ele desce as escadas para encontrar seu celular. Ele toca uma, duas, três vezes antes de respostas de Lestrade.

"Eu posso sentir meu cérebro apodrecendo, preciso de um caso."

Lestrade suspira ao telefone. Sherlock não pode vê-lo, mas tem certeza que o homem está levantando a velha mão em direção ao seu rosto para passá-la, cansado, em sua testa. Ainda que não tivesse mais a mente brilhante (muito pelo contrário), as ações de Lestrade eram previsíveis.

"Sherlock, eu sou aposentado, lembra? Eu não posso te dar um caso, eu não tenho mais acesso às investigações."

Ele franze as sobrancelhas em confusão e pensa. Lestrade é aposentado? Isso não faz sentido, na semana passada mesmo eles estavam investigando o caso dos suicídios em série juntos.

Ele olha para a mesa de café em frente ao sofá e vê um outro post-it azul.

Olhe-se no espelho, lembre-se de olhar no espelho.

Ele se move em direção à lareira e ali, um pouco mais acima, ele vê seu reflexo. Seu cabelo ainda é encaracolado, sempre encaracolado, bagunçado de uma boa noite de sono. No entanto, agora é cinza. Há algumas mechas de branco aqui e ali. Suas linhas da testa e boca são assinados com rugas de preocupação e estudo, além da idade, já avançada. Seus olhos ainda estão brilhando, atentos, apesar de tudo.

"Sherlock? Você está aí?" Lestrade perguntou.

Ele olha novamente o post-it.

"Você é velho."

Lestrade bufa no telefone, com ar divertido, mas cansado.

"Sim, eu sou."

"Eu esqueci."

"Está tudo bem, você se lembra agora."

* * *

Sherlock acorda e encontra um post-it verde na mesa de cabeceira.

Mycroft está morto.

Ele se levanta, coloca seu velho roupão azul, deixando-o aberto e livre para o ar da manhã açoitá-lo enquanto ele entra no banheiro. John está lá, tomando banho.

"Mycroft está morto."

John desliga a água e abre a cortina, pegando uma toalha por perto para secar-se. Ele sai da banheira e olha para Sherlock com preocupação suave, dando uma rápida olhada no papelzinho verde em suas mãos.

"Eu sei. Você esqueceu?"

Sherlock olha para ele por um longo minuto: ele esqueceu. Ele odeia ter que admitir, mas sim, ele esqueceu.

Ele balança a cabeça.

"Quem é Mycroft?"

John parece ter sido acertado com um soco no rosto. Ele respira fundo, os olhos se movendo até o teto por uma fração de segundo antes de voltar em Sherlock. Seu brilhante, bravo, velho e doente Sherlock.

"Ele é seu irmão. Seu irmão mais velho, que você costumava brigar muito. Mas era óbvio para todos que vocês se amavam."

John teve que parar de falar, porque sua voz tinha quebrado. Sherlock piscou uma vez, duas vezes, três vezes. Mais algumas vezes bastaram para que as lágrimas voltassem por onde vieram.

"Eu só vou me vestir e, em seguida, nós podemos falar sobre Mycroft, se quiser."

Sherlock olha para John, piscando-lhe um pequeno sorriso triste.

"Sim, eu acho que eu gostaria de lembrar do meu irmão."

***

Sherlock acorda e encontra uma post-it rosa na mesa de cabeceira.

Jogue fora a cabeça na geladeira.

Ele se levanta, coloca seu velho roupão azul, deixando-o aberto e livre para o ar frio da manhã açoitá-lo enquanto ele desce as escadas em direção à cozinha.

"Bom dia", John disse, com um sorriso.

Sherlock ignora e abre geladeira, olhando através de seu conteúdo, e as mãos enrugadas se movendo em torno de comida e garrafas.

"O que você está procurando?" John perguntou. Paciência era audível em sua voz.

"A cabeça."

Um suspiro. Sherlock sente John movendo atrás dele, as mãos estendidas para parar sua busca frenética.

"Não há uma cabeça na geladeira há muitos anos."

Ele olha para John e de repente, se lembrou.

Estava chovendo lá fora. John abriu a geladeira e se afastou, com desgosto, por causa de uma cabeça, um pé, um coração. Ele se lembra de John, um jovem John. Ele estava fechando a geladeira, balançando a cabeça, murmurando sobre a obtenção de uma geladeira separada para experimentos e pedindo encarecidamente à Molly para nunca mais deixar Sherlock pegar outras partes do corpo emprestado.

Subitamente, o detetive se move para a sala, apressado, e pega o telefone. John o seguiu de perto com uma expressão preocupada.

"O que você está fazendo agora?"

"Acabei de me lembrar, Molly".

"Molly?"

"Eu nunca lhe agradeci pela cabeça. Eu deveria ligar para ela, era uma cabeça útil".

John olha como Sherlock se agacha para procurar o celular embaixo do sofá. Ele não tem coragem de dizer a ele que eles foram para o funeral de Molly há apenas uma semana. Sherlock vai se lembrar, em seu próprio tempo.

* * *

Sherlock acorda e encontra um post-it roxo na mesa de cabeceira.

John. Aconteça o que acontecer, lembre-se de John.

Ele se levanta, coloca seu velho roupão azul, deixando-o aberto e livre para o ar da manhã açoitá-lo enquanto ele desce as escadas para o pequeno quintal.

John está lá, sentado em uma cadeira, lendo o jornal. Não há nenhuma xícara de chá em suas mãos, Sherlock esqueceu de fazer isso. Ele não fez café para si também.

Andou lentamente até ele, e roçou seus lábios contra os dele.

"Eu esqueci de te dizer que eu te amo."

Ele não pode ver, mas sentiu o sorriso de John.

* * *

Sherlock acorda e encontra um post-it amarelo na mesa de cabeceira.

Não se preocupe em fazer chá.

Ele se levanta, coloca seu velho roupão azul, deixando-o aberto e livre para o ar frio da manhã açoitá-lo enquanto ele desce as escadas. Em cima da mesa do telefone, e espalhadas por toda a casa, há post-its com coisas relacionadas a John.

E então, a memória veio como um tiro de canhão seu cérebro. À medida que sua mente ficava pior, ele escrevia menos notas, com mais e mais delas sendo sobre de John.

Sentou-se no sofá, e pôs-se a escrever.

Sherlock queria dizer a John o quanto o amava por toda a sua vida. Queria dizer a ele o quão feliz estava para morrer com ele ao seu lado. Queria dizer a ele que ele era muito mais importante do que qualquer outra coisa, e que preferiria esquecer como respirar do que esquecê-lo.

E foi o que houve. Esqueceu como respirar.

Sua última nota foi um rabisco pouco legível com o nome apenas de John.

A casa está em silêncio.


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Notas finais do capítulo

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