Assassin's Creed: Aftermath escrita por BadWolf


Capítulo 25
A Tempestade


Notas iniciais do capítulo

Olá!!

E aqui vamos nós, caminhando para mais um cap.
Vejamos agora as consequências das escolhas do Connor....

Boa leitura!



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Nos últimos tempos, sonhos me afligiam constantemente. Não eram poucas as vezes que eu sonhava com minha realidade anterior – a realidade que modifiquei – mas nos últimos tempos eu estava sonhos com acontecimentos provavelmente vividos por mim nesta realidade. Acontecimentos que eu não me lembrava.

Como em um sonho, que de tão singular, serviu para animar o resto de meu dia, assim que acordei. Lembro que neste sonho eu estava em minha casa, na Fazenda Kenway. Trazia em minhas costas os espólios de minha caçada: um cervo, bem robusto. Sentia-me satisfeito, com a sensação de que estava cada vez mais me aprimorando. Sem dúvida, Ista ficaria orgulhosa de mim, ao ver o tamanho do animal que teríamos para o jantar.

Faltava ainda alguns bons passos para a Mansão. O sol estava forte naquele dia. Meus olhos se apertavam, incomodados por seu brilho, e isso apressava meus passos. Mas todo o cuidado com que eu trouxe o cervo até ali foi desperdiçado, quando um grito repentino provocou meu susto.

Era um grito de horror. Sem dúvida, de minha mãe.

Abandonei o cervo e corri, o mais rápido que pude. Após subir completamente a colina, finalmente a encontrei, com a mão esquerda apoiada no tronco de uma árvore, e a mão direita em sua barriga, cada dia mais imensa. Muitas vezes, eu sentia a sensação de que aquela coisa iria explodir. Me dava ainda mais pavor notar a criança se mexer dentro de si. Só o que me aliviava era que aquela criança seria meu irmão. Ou irmã, quem sabe. O que importava era de que eu não mais estaria sozinho.

–Ratonhnhaké:ton! – ela gritou, ao me ver. Fiquei desesperado.

–Ista... Você precisa de ajuda!

–Não... Meu filho, não... – ela tentava dizer, sendo interrompida por sua própria dor. Antes que eu pudesse argumentar, notei uma sombra se projetando atrás de mim.

–Ziio?! – meu pai, Haytham, exclamou desesperado. – Não me diga que o bebê...

Minha mãe assentiu, enquanto se contorcia de dor. Sem que ela pedisse ajuda, meu pai se aproximou, mas ela o rejeitou.

–Eu vou... Para a mata...

–Para a mata?! Está louca, mulher? Eu vou buscar um médico...

–Não! – minha mãe gritou, nada contente. – Eu vou ter este bebê sozinha.

–Sozinha?! Nem pensar!

–Como acha que tive Ratonhnhaké:ton?

Percebi que meu pai, realmente, não fazia a menor idéia de como eu nasci.

–Eu... Aqueles eram outros tempos. – corrigiu-se rapidamente. – O que importa é que você agora tem todo amparo médico necessário e...

Minha mãe acenou para que ele parasse.

–Deixe-me seguir com as tradições de meu povo, Haytham. – ela pediu, enquanto caminhava para a mata. – Eu quero um lugar isolado para ter nosso bebê, e sem a ajuda de vocês dois ou de quem quer que seja.

–Mas Ziiio...

–É assim que deve ser, Haytham. Por favor, me respeite. – ela disse, enquanto ainda caminhava com dificuldade. Finalmente, meu pai suspirou, assentindo.

–Está bem, mas permita que eu ao menos te ajude a ir até lá.

Assim que minha mãe encontrou o local exato para ter a criança, fomos imediatamente enxotados dali. Ela se deitou sobre a grama, e continuou a grunhir. Percebi muita relutância em meu pai – e também em mim – enquanto ele caminhava para longe dela, deixando-a sozinha.

–E se os lobos a atacarem?

Negativei. – Não há lobos naquela área pai, só castores e esquilos.

–E se alguém aparecer? Não sei se fiz a coisa certa. Eu deveria ter vigiado, ao menos... Céus, você viu como ela estava gritando?

Senti uma súbita vontade de rir de seu desespero, mas fui impedido por minha própria preocupação.

–Pai, ela e o bebê vão ficar bem. É assim que os partos são feitos em nosso povo.

Cerca de quatro horas se passaram. Meu pai já estava completamente descomposto. Seu chapéu estava amassado entre suas mãos, os olhos azuis ansiosos e a gravata desalinhada. Jamais o vi tão nervoso e aflito, o que era natural. Ele não presenciou o meu parto, afinal de contas. Aquela era a primeira vez que ele acompanhava o nascimento de um filho, assim como eu, que acompanhava o nascimento de meu primeiro irmão.

As perguntas bobas e aflitas tinham finalmente cessado, mas dando lugar a um silêncio, cortado apenas quando ele chutava alguma pedrinha aleatória ou soltava algum suspiro insatisfeito.

Entretanto, a aflição deu lugar à surpresa, assim que ouvimos ao longe o choro de uma criança.

Quase caí para trás, e quando me recompus, notei meu pai, já longe. Preferi nem tentar alcança-lo, pois sabia que era inútil. Apenas sorri comigo mesmo, pensando no quanto a chegada dessa criança faria bem a todos nós.

Quando finalmente me aproximei, meu pai já estava agachado ao lado de minha mãe. Notei muito sangue, e uma espécie de gosma próxima de suas pernas, não muito diferente das que eu observava nos animais que acabavam de ter cria na floresta. Aquilo fez meus olhos rapidamente se desviarem, e então notei o pequenino bebê nas mãos de meu pai, que tinha a cara mais boba que já vi em minha vida.

–É uma menina. – ele disse, mostrando o pequeno bebê rosado para mim. Notei que ela já possuía um pouco de cabelo negro, mas que sua pele não seria tão morena quanto a minha, mas era difícil dizer qual era sua verdadeira cor. O bebê chorava, se contorcendo nas mãos de meu pai, sujando-as com sangue, mas ele pouco se importava. Tirou a casaca e envolveu o bebê sobre ela.

–Kyhnsi:a. Este será seu nome. – minha mãe disse, em Mohawk.

–Theresa Kenway. Tessa. – ele disse, escolhendo seu nome colonial.

E por meio deste sonho, descobri que foi desta forma que Kyhnsi:a, ou Tessa Kenway, entrou em minha vida.


§§§§§§§§§§§§§



Propriedade dos Kenway. 10 de Junho de 1776.



Minha relação com meu pai parecia ter estremecido de vez depois de nossa discussão, na noite em que fugi de minha ação no enforcamento de Minowhaa. Não voltamos a nos falar, passando a viver distantes um do outro. Ele parecia saber de tudo que estava acontecendo, sabe-se lá como. Nossa existência se resumia à mera tolerância. Por isso, passava cada vez mais tempo fora de casa, ajudando os colonos e supervisionando a fazenda, ou mesmo treinando sozinho.

Foi com alívio que soube que ele iria para Nova York, negociar algumas mercadorias vendidas na fazenda. Sequer me despedi dele. Achei melhor assim.

Aproveitei a oportunidade e conheci melhor meus irmãos, nestas semanas longe de toda a confusão de Assassinos e Templários, principalmente Jim, o menor. O temperamento de Jim era parecido com o meu. Percebi ali muitas semelhanças entre nós dois. Ele gastava de caçar e se imaginava um grande guerreiro. Eu aproveitei e dei algumas lições de caça, e comecei a ensiná-lo a andar pelas árvores. Soube que meu pai estava começando a dar-lhe um treinamento parecido com o que eu recebera, e mais uma vez, sem tocar no nome Assassino ou Templário. Como se assim, nos poupasse da realidade.

A rotina na fazenda estava monótona, e decidimos ir para a Aldeia dos Kanien'kehá:ka, para visitar o nosso povo. Minha mãe sempre parecia leve quando voltávamos. Percebi, entretanto, que não éramos, de todo, bem-vistos. Especialmente Tessa, a mais branca de todos nós. Isso me deixou entristecido. Não era bem essa a recepção que esperava de meu povo aos meus irmãos, mas percebi que os dois pareciam acostumados com a ligeira rejeição, especialmente Tessa.

Kanen'tó:kon, meu amigo, já era um guerreiro, e me convidou para caçar um alce, a quilômetros da aldeia. Decidi segui-lo para ajudar. Quando estava no alto da colina, observando o Vale atrás do animal, percebi alguém se aproximar de mim.

–Bela atuação.

Virei-me, para encontrar Minowhaa ao meu lado. Seu rosto trazia uma cicatriz profunda na testa, e notei também que ele estava mais envelhecido que minha lembrança de sua imagem, mas não foi isso que me trouxera mais pasmo.

Ele vestia o manto de Assassino. O meu manto.

Parece que já tinha escolhido sua vida.

–Fiz a pedido de Achilles. E pela Ordem.

–Fico contente em ver o filho de Kaniehtí:io ao nosso lado.

Seu lado, você quis dizer.

–Há quanto tempo está na Ordem? – sondei.

–Há mais de dez anos. Achilles parecia relutante em me aceitar, devido a algumas discordâncias, mas acabamos chegando a um consenso.

–Imagino que tais discordâncias estejam relacionadas ao meu pai. – disse.

Ele olhou profundamente em meus olhos, e depois riu.

–Quando você era um menino, eu não percebia, mas agora que é um homem, eu posso ver claramente. Tens os olhos de sua mãe, mas o resto de seu rosto... Sem dúvida, vem daquele bastardo.

Tive vontade de soca-lo, mas eu sabia que ele estava me testando.

–Mas fico feliz em vê-lo na Ordem dos Assassinos. Acredito em seu potencial.

Nossa conversa, tensa demais para meu gosto, foi interrompida pelo chamado de Kanen'tó:kon. Certamente, ele conseguiu caçar o animal. Enquanto eu me preparava para descer, fiz-lhe uma última pergunta.

–Você vai voltar para a Aldeia?

Ele pareceu pesaroso.

–Infelizmente, não. Creio que minha vida com os Mohawk tenha se encerrado. Minha presença na Aldeia traria riscos a todos eles, ainda mais depois que tudo que aconteceu recentemente.

Assenti, entendendo seu ponto. Desci, e instantes depois, notei que ele já tinha desaparecido pelas copas das árvores. Segui meu caminho, sem contar a Kanen'tó:kon sobre a presença de Minowhaa.

Assim que saímos do Vale, notamos uma extensa fumaça cortar o horizonte.

–Céus! Eu acho que vem da Aldeia! – gritei, e corremos até sua direção.

De novo não, pensava comigo, de novo não...

–Você está certo! Atearam fogo em nossa aldeia outra vez! – concluiu meu melhor amigo, quando avistamos toda a madeira do muro em chamas. Entramos, já nos deparando com as pessoas correndo das chamas, que devoravam tudo que tocavam.

–Ista! – gritei. – Tessa! Jim!

Eu esbarrava pelos feridos, e notei que um deles trazia um ferimento à bala. Diferentemente da outra vez, também estavam atacando os nativos a tiros.

–O que foi isto? Casacas-vermelhas?

–Não... – disse um dos feridos. – Homens estranhos... Jamais os vi por aqui.

Para o meu horror, eu só imaginava uma coisa. Não eram os homens de George Washington, mas Templários.

–Tessa! – disse, ao encontrar minha irmã, tentando esconder o rosto em um pano, enquanto tossia sem parar. – Onde está nossa mãe? E Jim?

–Connor! Jim estava na casa da Mãe do Clã. Ele está preso! Ista está tentando tirar o nosso irmão de lá!

Assenti. – Vá para fora, rápido! Se puder, se esconda. Kanen'tó:kon, proteja a minha irmã.

–Claro, meu amigo. – ele disse, conduzindo minha irmã para fora. Sentindo minha irmã mais segura, prossegui em direção à casa. Notei que o local estava perto de entrar em colapso e desabar, mas ainda assim, enfrentei as chamas

–Ista! – gritei. Só o que pude ouvir, além do estalo do fogo consumindo a madeira, era o choro de uma criança.

O choro de meu irmão.

–Jim! – chamei, e vi que ele estava em um canto, acuado e assustado pelas chamas. Antes que eu desse mais um passo, uma tora de madeira caiu onde ele estava. Infelizmente, o choro cessou, e não pude ver nada além de chamas altas.

–Não! – gritei. – Jim!

Antes que eu pudesse caminhar, escutei o leve tossir de alguém. Virei, tentando encontrar, e descobri que minha mãe estava presa, com um corte na testa. Certamente, ela tinha desmaiado depois de uma tora de madeira cair sobre sua cabeça, o que a impediu de resgatar Jim. Mas agora, ele estava morto. Ao menos ela não o viu morrer, pensei, enquanto a carregava em meus braços para fora do incêndio, meus olhos repletos de lágrimas.

–Connor! – disse minha irmã. – Ista! Ela está viva, não está? – ela disse, às lágrimas, tentando tocar em nossa mãe.

–Sim, minha irmã. Apenas ficou inconsciente.

–Mas onde está Jim?

Eu não consegui responder. Para meu alívio, nem precisei, pois Tessa parecia ter compreendido tudo. Assim dizia seu choro descontrolado, seguido a seguir de meu silêncio. Meu silêncio, na verdade, era um choro reprimido. Eu estava revivendo toda a dor e tristeza do mesmo dia em que perdi minha mãe. E desta vez, fui incapaz de impedir que meu irmão Jim tivesse o mesmo destino. Uma sensação de impotência acossava-me, implacável. Havia culpa e raiva misturadas em meu coração. Um inútil, isso é tudo que eu sou. Um inútil, por não estar lá, quando aqueles que amo mais precisavam de mim. Um inútil, por deixar minha vida desmoronar outra vez.

Eu vou matar quem fez isso. Juro que vou matar.


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Notas finais do capítulo

R.I.P. Jim Kenway

Tadinho do Connor!!! Fiquei com pena de matar o irmão mais novo dele, mas eu não tive escolha. Essa morte é crucial para o desenrolar da História e principalmente para fazer o Connor abrir mais os olhos a respeito de suas atitudes e escolhas. Como o nome da fic sugere, tudo que ele fizer terá suas consequências.

Não sei quanto a vocês, mas eu ainda acho que essa história de Maçã não foi bom negócio... Mas vamos ver até onde isso vai dar.

No próximo cap, as consequências da consequência... É, acho que esse negócio tá indo longe demais, rs.

Um grande abç, e até o próximo cap! E deixem reviews!!!


PS: Não faço idéia de como os partos Mohawk são feitos. Apenas presumi. Ok?



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