Assassin's Creed: Aftermath escrita por BadWolf


Capítulo 11
Outra Vez


Notas iniciais do capítulo

Olá!!!

Mais um cap postado, dessa vez Connor POV.


Att.,



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Todas as manhãs, eu brincava de pique esconde com as crianças. Como sempre, eu as achava com facilidade, e também conseguia me esconder com notável proeza. Quando chegava a minha vez de localizá-la, todas se mostravam desanimadas. “Ah, você não tem graça”, insistiam em dizer alguns de meus coleguinhas. Por fim, acabava por agir de modo mais humilde que o habitual, e decidi “fingir” certa “incompetência”, para não estragar a brincadeira.

Mal tinha terminado uma contagem, eu já era capaz de vê-los. Meus sentidos estavam ainda mais apurados que dos meus tempos de criança. Perguntava-me se era possível deixa-los ainda mais aprimorados com o passar dos anos, se eles eram capazes de maiores habilidades. Prometi, então, me aproveitar deste “delírio” provocado pela Maçã para testar essa alternativa.

Fingindo procura-los, já um tanto entediado, acabei notando uma fumaça atrás de uma pedra enorme, já nos limites do Vale. Eu sabia que não poderia sair do Vale, mas pouco me importava. Por mais que fosse uma criança, minha cabeça era de um adulto, e eu me sentia capaz de cuidar de mim mesmo.

O puxão que recebi em meu cabelo, no momento em que me aproximei daquela pedra, me provou que eu estava errado.

–O que temos aqui?

E lá estavam eles. Aqueles mesmos rostos, que povoariam os meus pesadelos e centralizariam meus planos da vida adulta por muito tempo. Os mesmos velhos rostos. Benjamin Church, Thomas Hickey, Willian Johnson...

Charles Lee.

Não... De novo, não...

Fui lançado para um lado por Willian Johnson. Diferente da primeira vez, eu fui mais engenhoso para tentar escapar, dando um soco repleto de veneno e maldade nas partes baixas de Hickey, que tentou me segurar. Isso, notei, causou certa surpresa, e para piorar, maior animosidade e desprezo deles para comigo. Minha situação só estava piorando, e eu não estava fazendo qualquer coisa para melhorá-la – se isto era possível.

Benjamin Church trazia um mosquete, apontado para meu rosto. Devido a minha estatura infantil, ele mais parecia um gigante. Percebi que não sentia um terço do medo daquela época, talvez por saber que cedo ou tarde, eu os mataria. Isso era reconfortante.

–Você parece... Familiar. – observou Lee. – Já nos vimos antes?

A mesma sensação reconfortante foi a mesma que me permitiu ser mais ousado. Cuspi nele, quando notei que ele estudava meu rosto.

–Isso não foi muito gentil. – ele disse, limpando seu rosto, com desagrado, até me arrastar com força pelo braço.

Foi então que voltei às lembranças daquele dia. As agressões, a raiva nos olhos deles. O fogo na Aldeia.

A morte da minha mãe.

–Me deixem em paz! – gritei, quando dei por mim do que estava prestes a acontecer, melhor dizendo, a deixar acontecer. Eu estive tão perto de impedir a morte da minha mãe, tão perto... Seria isto o destino mostrando que a morte dela era inevitável? Que minha brincadeira com o tempo não levaria a lugar algum senão à vida repleta de tristeza e solidão?

Meu desespero trazia apenas mais diversão àquele grupo grotesco.

–Vejam só! Este sabe falar inglês!

–Espertinho para um selvagem. – notou Hickey.

–E bastante espirituoso, também. – comentou Church.

Prensando-me contra uma árvore, segurando-me pelo meu pescoço, Charles Lee começou a dizer, no que pensei serem as mesmas coisas daquele dia, porém acabei por me surpreender.

–Apenas queremos algumas informações, garoto.

–É bom você obedecer. – avisou Johnson. Com falta de ar, esperei que ele se explicasse.

–Gostaríamos de confirmar se há um branco vivendo entre vocês.

Arregalei meus olhos. Mas é claro. Os Templários estavam ali à procura de meu pai, não de um local precursor como soube há tantos anos.

Notando meu silêncio, Charles Lee continuou com seu discurso desagradável.

–Eu poderia quebrar seu pescoço. – disse, apertando-o com mais firmeza. – Um pouco mais de força e pronto! A pequena chama de sua vida é logo extinguida. Você não é nada. Você e os da sua... Laia, vivendo na lama e na poeira, como animais. Mal sabem que em breve cairão diante de meus joelhos, clamando misericórdia. Mas não você. Você parece submerso demais em sua tolice para entender isto, não é? Mas não se preocupe, eu não serei grosseiro.

Suas mãos se soltaram de meu pescoço, devolvendo-me a capacidade de respirar plenamente outra vez.

–Eu vou te poupar, para que você possa levar uma mensagem ao seu povo. Se eles mantêm um homem branco como prisioneiro, que o soltem. Ou do contrário, não teremos misericórdia. É bom que se apressem, pois o prazo é curto, e dificilmente apresentarei aos de sua laia a mesma misericórdia que te concedi agora, moleque. Pois então, este não é um ótimo acordo? – ele perguntou, com o ar divertido.

Eu sabia que deveria perguntar o nome dele. Sabia que isto o impactaria. Li no diário de meu pai que minhas palavras naquela época causaram-lhe perturbação, anos depois deste encontro. Embora eu soubesse o nome dele muito bem, eu queria que ele soubesse que eu me tornaria ciente de quem ele era – para caçá-lo depois.

–Qual... É o seu nome? – perguntei, ainda arfando.

Ele riu. – Charles Lee. Por que pergunta?

–Para que eu possa encontra-lo. – disse, com determinação.

Todos riram, depois do que disse.

–Estarei esperando por isto. – ele acenou. Eu sabia o que auqilo significava. Um deles me daria uma coronhada, e eu desmaiaria. Isso não poderia acontecer de novo, eu pensei. Eu preciso estar consciente, preciso escapar. Minha mãe depende de mim para viver. Se eu falhasse, eu a perderia de novo, e desta vez seria para sempre.

Johnson acenou. No momento em que ele o fez, eu saberia o que viria. Quando ele se preparava para me ferir, eu me esquivei com habilidade, e me esgueirei, dando uma cambalhota entre as pernas de Church. Hickey tentou me pegar, mas eu ameacei dar-lhe outro golpe baixo, e isso o fez se resguardar repentinamente, e assim pude escapar.

–Maldição! – resmungou Johnson, enquanto me via a fugir dali.

–Mas nem mesmo de um fedelho vocês sabem dar conta! Que tipo de homens vocês são? –retrucava Lee, ao perceber que eu consegui escapar. E isso foi tudo que eu ouvi, pois já estava a uma boa distância.

–Tive uma idéia... – ouvi, na voz de Hickey, enquanto eu corria em disparada.

E então, veio o primeiro disparo.

Felizmente, eu corria tanto que o disparo acabou por acertar uma árvore. As gargalhadas deles escoavam pela floresta. Sim, estavam tentando me abater tla qual faziam com um coelho ou um cervo. E então, vieram mais três disparos. Um deles, infelizmente, chegou a atingir levemente de raspão o meu braço. Logo senti o ardor inconfundível de um ferimento a bala consumindo meu braço em dor, mas eu sabia que não poderia sucumbir a ela. Havia muita coisa importante a ser feita.

Por fim, os disparos finalmente cessaram. Talvez tivessem desistido.

Chegou à Aldeia arfando em cansaço. Notei que as crianças já tinham voltado. Há quanto tempo eu estava fora, afinal? Eu não sabia dizer. O sol ainda estava alto, no entanto. Alguns adultos pareceram comemorar minha presença. Decerto eu já estava sendo procurado.

– Ratonhnhaké:ton! Finalmente você apareceu! – disse minha avó.

–Mãe do Clã, há algo que você precisa saber...

Minha avó, no entanto, ignorou-me instantaneamente.

–Você se feriu! – ela disse, observando meu braço.

–Mãe do Clã...

–Venha menino, vamos tratar desse ferimento. – ela me interrompeu. – Vocês, crianças, sempre correndo de um lado a outro... Vamos tratar antes que infeccione...

Fiquei irritado. Minha vontade era de gritar, avisar do incêndio que estava prestes a acontecer, ser desrespeitoso, se fosse necessário. Mas eu sabia que isso só impediria ainda mais os meus alertas.

–Mãe do Clã, há homens brancos por aqui. – tentei começar, enquanto ela limpava meu braço.

–Eu já fui avisada disto, criança. E se você sabe, significa que saiu do Vale.

Abaixei meus olhos, envergonhados.

–Eu... Eu percebi que eles estavam acampados perto da Aldeia.

–E foi lá ver, não foi?

Assenti, enquanto a dor do remédio picava meu braço.

–Aposto que este é um ferimento de bala. Realmente, Ratonhnhaké:ton, você é muito sortudo por ter escapado de um encontro com brancos com vida!

Eu sabia que ela iria começar a me recriminar, e sabia também que ela me deixaria de castigo por um mês ou mais devido à minha ousadia, mas seu discurso sequer terminou. Um dos guerreiros apareceu esbaforido, adentrando a tenda com pavor estampado em seu rosto.

–Mãe do Clã, Mãe do Clã! – alertou o homem, que para o meu desgosto, trazia a notícia que eu já sabia. – Atearam fogo à Aldeia!


§§§§§§§§§§§§§


Apesar de ter sido descoberto antes do cair da noite, notei que o incêndio tinha sido mais forte que a primeira vez. Ou talvez aquela fosse só uma impressão. O fato era de que meus olhos estavam horrorizados. Eu não queria ver a Aldeia em que cresci incendiada outra vez, não queria ver a minha mãe morrer diante de mim.

Por isso, corri até a nossa casa, mas fui impedido por um dos guerreiros.

–Aonde pensa que vai? – ele me questionou.

–Salvar minha Ista! – disse, com convicção.

–Deixe isto para os adultos! Vá para fora com os demais! – disse, me apertando e conseguindo evitar com proeza que eu lhe pisasse nos pés e me libertasse de seus braços.

–Ista! – exclamava, mas era em vão. Outro guerreiro apareceu, e os dois se tornaram capazes de me tirar dali. Senti-me impotente, incapaz, fraco. Minha mãe iria morrer outra vez, e eu fui incapaz de salvá-la. Fracasso era tudo o que eu sentia naquele momento. Fracasso, e uma dor antecipada. Lágrimas escapavam de meus olhos, enquanto a fumaça neblinava minha visão. Minha Ista iria morrer, e eu estava ocupado demais com coisas fúteis para me aperceber disto. A Maçã só pode ter sido um pesadelo, ou uma zombaria dos Deuses.

–E Kaniehtí:io? – perguntou um deles, enquanto eu chorava, ainda tentando me libertar dos dois.

–Ela está com o homem branco. Decerto já escaparam.

Sim, havia o meu pai. Lembrei-me que o meu pai estava com ela desta vez. Da pouca e tímida interação que notei nos dois, naquele jantar, eu percebi que ambos se amavam, e que ele jamais a deixaria em perigo. Isso me deu um pouco de alívio, pois eu sabia que ele seria capaz de fazer mais do que eu, por exemplo. Ele era um homem adulto e forte, e protege-la seria mais fácil. No entanto, eu só estaria plenamente tranquilo se ela aparecesse viva diante de mim.

Sentando em uma pedra, assistindo a tristeza e pesar dos sobreviventes, comecei a deixar escapar algumas lágrimas, até finalmente meus olhos serem agraciados por meu pai, carregando minha mãe em seus braços.

E ela estava viva.



§§§§§§§§§§§§§


O abraço de meu pai foi a coisa mais estranha que eu poderia ter esperado.

Ele jamais me abraçou daquela forma. Era acolhedor e confortante. Fazia me sentir protegido, não só por estar rodeado por tantos músculos, mas também pela sensação de proteção e afeto que seu gesto me proporcionava. Enquanto vivo, jamais nos abraçamos. E agora, eu tinha esta rara oportunidade.

–Você está bem? – ele perguntou, hesitante.

–Sim. – respondi. Imediatamente, notei que havia algo de diferente ali. Ele não me olhava com os mesmos olhos. Será que ele já sabia que eu era o seu filho?

–Ratonhnhaké:ton... – chamou minha mãe. – Este homem é seu pai. – ela disse, em inglês. Eu já sabia, na verdade, mas confesso que tudo me era emocionante da mesma forma.

–Menino... Eu realmente não sei dizer o seu nome... – ele riu, em seguida, arrancando risos de todos nós, também. – Mas... Eu estou muito feliz em saber que sou o seu pai.

–Eu também. – disse. Para meu pasmo, ele pôs sua mão pesada sobre meu cabelo, e o despenteou. Do que eu o conhecia, eu realmente não esperava ver uma demonstração de afeto desta forma, tão calorosa. Ou aquele Haytham de fato não era o mesmo homem que conheci pessoalmente, em minha juventude, ou ele estava muito abalado pelos últimos acontecimentos. Era difícil dizer qual era a situação.

Nosso momento foi interrompido, entretanto, pela aparição de um preocupado e esbaforido Minowhaa, desmontando de seu cavalo apressadamente.

–O que está havendo aqui? – disse o índio, completamente estarrecido. – O que fizeram com nossa Aldeia?

–Está destruída. – disse a Mãe do Clã, reaparecendo. – Como ainda se sucederá muitas e muitas vezes, enquanto vivermos.

–Isso é culpa sua, Templário! – rosnou Minowhaa, com o dedo em riste para cima de meu pai. – Eu vi seus homens aqui, nas redondezas...

–Pare de acusa-lo, Minowhaa. – interveio minha mãe. – Não há qualquer lógica em seu argumento. Os homens de Haytham jamais ateariam fogo à Aldeia sabendo que Haytham estava conosco. Seria matar o que estavam buscando.

–Kaniehtí:io tem razão, Minowhaa. – finalmente interveio a Mãe do Clã. – Alguns membros de nossa tribo começaram a interferir na guerra dos brancos, inclusive você, Minowhaa, e todos nós sabemos isso. E estas são as consequências. Portanto, este fogo é muito mais obra sua do que de Haytham.

Percebi uma certa pontada de orgulho em meu pai ao ouvir a Mãe do Clã chama-lo corretamente, por seu nome, e mais do que isso, a defende-lo. Como será que ele reagiria em saber que aquela idosa era, na verdade, a minha avó, e portanto sua sogra? Gostaria de ver sua reação.

Minowhaa, obviamente, ficou abnegado pela acusação

–Não fiz nada diferente do que Kaniehtí:io já fizera. – ele disse, em inglês, para que todos nós pudéssemos entender. – Com a diferença de que não fui eu quem desonrou a tribo voltando para casa depois de me deitar com um branco.

Até mesmo eu me senti ofendido pela forma agressiva e estúpida como Minowhaa se referiu a minha mãe. Mais uma vez desejava meu corpo de adulto, mas felizmente havia meu pai para agir por mim, calando-o com um soco bem colocado. Ninguém da Aldeia interferiu, pois todos viram, claramente, que Minowhaa tinha passado dos limites.

–Se disser tais palavras a respeito de Ziio outra vez, pode ter certeza de que será um homem morto!

–Eu vou mata-lo, Haytham Kenway... – disse Minowhaa, limpando o canto do lábio. – E eu zombarei de vossa desgraça depois que tomar de você tudo que tens.

Meu pai o ignorou, voltando-se à Mãe do Clã, que, para minha total consternação, deu-lhe um gentil afago no ombro.

–Obrigado por poupar a vida de Minowhaa, Haytham. Provou ser um homem de valor. Com muitas escolhas erradas, mas ainda um homem de valor. – ela disse, se distanciando de todos nós, e juntando-se ao acampamento improvisado montado pelos sobreviventes.

De repente, minha mãe soltou um suspiro de dor.

–Suas feridas, Ziio... Precisam ser tratadas, e logo. – ele disse, com desespero. – Eu vou te levar a um médico...

–Em Lexington? Estamos muito longe e... Jamais atenderiam alguém como eu... – disse minha mãe. – Haytham... Por favor... Me leve a Achilles.

Eu senti minha respiração falhar, e provavelmente o mesmo ocorreu com meu pai, diante da proposta surpreendente de minha mãe.

–O-O-Quê?! – ele gaguejou, descrente. Aquele era o último lugar que ele desejava ir. Percebi que a Mãe do Clã trocara um olhar com ele, expectante. Aquele, eu percebi, não era um pedido comum. Era o pedido de uma mãe pelo bem-estar de uma filha, algo que ainda não cheguei a sentir em minha vida.

Meu pai engoliu em seco.

–Está bem. – ele disse, tomando minha mãe em seus braços, e a colocando em uma égua que pastava ali perto. Percebi os dois conversando ao longe, mas as outras crianças imediatamente me rodearam para conversar sobre os últimos acontecimentos, agitadas pelo nervosismo e medo. Aquele não era o primeiro incêndio que eu vira na minha vida, o que me fez dar maior atenção a elas – e é estranho admitir, um pouco de privacidade aos meus pais.


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Notas finais do capítulo

Já pensou, Connor? Todo o trabalho para salvar seu pai, e ele morre nas mãos de Achilles? Porque eu entendo a raiva dele, depois que joguei Rogue. Ele estaria no direito dele. Rs, só mesmo a Ziio para fazer um Grão-Mestre procurar um Mentor para pedir ajuda. O que o amor não faz...

Obrigado por acompanharem, pessoal. Por favor, deixem reviews! Gostaria muito de saber o que estão achando da fanfic. Até o próximo!

Próximo cap: Haytham bate à porta de Achilles... Ih....



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