Peça-me para ficar escrita por Zusaky


Capítulo 1
Capítulo único.


Notas iniciais do capítulo

Presente de amigo oculto para a Maria Gabriela. Perdão pela demora, sério. Foi minha primeira vez escrevendo uma fluffy. Eu escrevi e reescrevi de diversas formas até que ficasse algo decente e, bem, aqui está. Espero que você e (talvez) outros leitores gostem.



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Coloquei as mãos dentro dos bolsos do meu sobretudo logo após tocar a campainha da enorme mansão – as luvas de nada estavam adiantando contra o frio. Apesar de não ser minha primeira vez ali, já fazia algum tempo desde a última vez que visitei aquele lugar. O enorme portão de cor escura e a pouca iluminação fazia com que eu me lembrasse dos filmes de terror que tanto abominava.

Olhei para meu relógio de pulso. Já passava das dez da noite.

Pensei em tocar a campainha novamente, mas no segundo seguinte o portão foi aberto automaticamente. Me encolhi e entrei a passos apressados, passando pelo simples jardim e indo de encontro à porta principal. Assim que cheguei, reconheci o homem que estava parado na entrada. Apesar de ter um mínimo sorriso nos lábios, sua postura era séria.

— Como vai, Hinata?

Céus, fazia, realmente, muito tempo desde que eu não via Kankuro. Notei que ele tentou fazer com que sua voz, agora mais grossa, soasse gentil. Eu o cumprimentei e ele logo me fez entrar na casa, nos privando do frio que fazia.

Kankuro pegou as malas que eu carregava, e apesar de meus protestos, ele insistiu em carregá-las até o quarto que eu ficaria, no segundo andar. O caminho foi mais silencioso, uma vez que nós dois nunca havíamos sido muito próximos no passado.

— Vou deixá-la arrumar suas coisas — disse ele ao chegamos no recinto, coçando a parte de trás da cabeça como se não soubesse como agir em momentos como aquele. — Eu estarei partindo para onde está a sede da empresa daqui alguns minutos. Temari já está lá. Então… se sinta em casa.

Eu sorri para ele.

— Obrigada, Kankuro.

— A Ayame, nossa governanta, está aqui de segunda à sexta, mas somente até a hora do almoço. Não hesite em lhe pedir algo. — Ele já estava com a mão na maçaneta quando, subitamente, se virou novamente para mim — Foi bom te ver novamente, Hinata. Boa sorte com meu irmão.

E então saiu.

Sentei-me na cama e fiquei fitando o teto branco por breves segundos. Fazia exatos seis dias que o caçula dos Sabaku havia perdido temporariamente o movimento de seus braços, causado por uma paralisia periférica. Depois de várias recomendações dos médicos – entre elas, se movimentar –, ele pôde voltar para casa. Foi então que Temari, minha amiga e antiga colega da classe de medicina, me ligou.

“Você é uma das poucas pessoas em quem ainda confio. Ele também precisará de alguém para conversar, para ajudá-lo, você sabe”, ela me dissera ao telefone. Eu sabia que era verdade. Após a morte de seus pais, os três irmãos haviam se isolado de quase todo o resto do mundo. Gaara, o mais novo, não mais recebia visitas, havia resolvido ficar trancafiado em casa nessas férias; e Kankuro passou a cuidar dos negócios da família.

No início, foi difícil convencer meu pai, o patriarca Hyuuga, a me deixar ficar alguns dias fora de casa, mas como se tratava dos Sabaku, família que conhecia de longa data, ele permitiu. O fato de eu ter mantido minhas notas sempre altas até o fim do semestre também foi de grande ajuda.

Suspirei, fechando os olhos e me deitando. Lembrei-me de quando costumava brincar com Gaara quando ambos éramos crianças e como eu adorava observá-lo de longe. As outras crianças simplesmente não se aproximavam dele, fosse por medo ou outro motivo. Me perguntei o quão mudado ele estaria depois da perda que sofreu.

“Você vai conseguir, Hinata. Força”, pensei, positiva.

. . .

Foi somente no dia seguinte que tomei iniciativa para ir até o quarto de Gaara. Ayame, porém, me interceptou assim que apareci no corredor, dizendo que eu teria que tomar o café antes de fazer qualquer outra coisa.

— Mas n-não estou com fome… agora… — tentei argumentar, mas ela continuou a me puxar pelos degraus da escada.

— Não espere sua barriga roncar para ir atrás de comida, senhorita Hyuuga.

Eu apenas me calei e a segui. Pensei que ela, talvez, apenas estivesse mais animada que o normal, afinal, não era sempre que os Sabaku recebiam visitas em casa.

Enquanto comia, às vezes eu a olhava de esguelha. Seus olhos escuros continuavam focados na revista que lia, embora não parecesse tão interessada, já que passava as páginas rapidamente. Fiquei imaginando se ela sentia-se sozinha ali, com os silenciosos irmãos.

Não sei se foi por condolência, mas uma enorme vontade de conversar com ela se apossou de mim. Antes, porém, que eu abrisse a boca, pude escutar sua voz acalorada.

— Eu me voluntariei para cuidar do senhor Gaara, sabia?

Eu arregalei os olhos, me espantando pela súbita sinceridade dela para com uma desconhecida. Naqueles poucos segundos, me perguntei se ela estava guardando rancor por, talvez, ter sido trocada. Ou se estava se sentindo ameaçada.

Ayame não me olhava, mas mesmo que o fizesse, eu nunca havia sido boa em ler expressões. Engoli em seco, insegura sobre o que dizer ou fazer naquele momento.

Então, ela me fitou, primeiro de maneira gentil, mas, em seguida, sua feição mudou para uma preocupada.

— Oh — fez ela ao se aproximar de mim, ainda mantendo a preocupação no rosto pardo. — Não pense que estou raiva. Oh, não!

— Não… Eu não p-pensei nada disso — menti, forçando um sorriso, ainda sem entender a situação. Ela se sentou ao meu lado e segurou minhas mãos nas suas; corei imediatamente com aquela demonstração de afeto. Como ela permaneceu em silêncio, apenas me acariciando, eu falei, num fio de voz: — Você falava sobre… sobre ter se voluntariado.

Ayame me fitou por breves momentos. Me espantei, novamente; dessa vez por não encontrar mais a preocupação em seu rosto, mas, sim, um pequeno sorriso. Eu realmente estava confusa com todas aquelas suas facetas.

— Ah, claro, claro — disse, chegando mais perto, como se fosse fazer uma confissão. — Quando o senhor Gaara chegou em casa após sair do hospital, eu logo falei que poderia cuidar dele, ficando aqui mais tempo, sabe? — Eu balancei a cabeça positivamente. — Ele recusou de imediato e foi para o quarto. Mas então veio a surpresa.

Ayame continuou sorrindo e eu me repreendi mentalmente por quase perguntar por mais. Mas ela pareceu ter lido minha mente, pois alargou ainda mais o sorriso e continuou:

— O senhor Kankuro chegou até mim, se desculpando, e me contou que o irmão dele exigiu outra pessoa para ficar com ele.

Franzi o cenho, mas antes que pudesse falar qualquer coisa, ela finalizou:

— A senhorita.

. . .

Cessei meus passos ao chegar em frente à porta do quarto de Gaara. Meu coração pulsava fortemente dentro do peito. Subitamente, me vi batendo os dedos indicadores um contra o outro, pensando no que dizer e como agir. Não fazia ideia do que ele acharia de mim.

Antes de bater, eu notei que a porta estava entreaberta. Olhei pela fresta, mas não vi nenhum sinal de Gaara. Mordi o lábio inferior e abri vagarosamente.

— Gaara? — chamei por ele, baixinho, mas nenhuma resposta veio.

Pensei em dar a volta, mas minhas pernas pareciam se mover sozinhas naquele instante. Fechei a porta atrás de mim em um clique mudo. Aquela era a primeira vez que eu entrava no quarto dele, e logo me surpreendi com seu tamanho. Era incrivelmente grande. Havia duas estantes com livros empilhados, uns de literatura, outros de estudo, mas todos perfeitamente organizados.

Tanto a janela quanto as cortinas estavam fechadas. O lugar estava quase todo escuro, apenas a luz de um pequeno abajur ao lado da cama iluminava aquela parte. Havia um espelho pregado à parede, entre as duas estantes, quase que do meu tamanho. Fiquei em frente a ele. Me perguntei se Gaara me reconheceria, mas logo me dei conta de que eu não havia mudado quase nada. Meus cabelos continuavam negros, contrastando com minha pele alva, apenas o comprimento havia aumentado; eles agora já estavam no meio das costas, e não mais no pescoço. Dei um sorriso bobo para meu reflexo.

Então, ouvi um barulho vir da cama de casal.

Me aproximando mais, consegui distinguir a silhueta de um rapaz na cama. Meu coração quase pulou da boca quando vi que era Gaara. Seus olhos estavam fechados, mas eu sabia que ele estava acordado, pois seus dedos pareciam imitar o ritmo da música que parecia estar escutando pelos fones de ouvido.

De súbito, ele virou a cabeça em minha direção, como se sentisse uma nova presença. Eu logo pude ver os olhos verdes e frios dele. Ao mexer um pouco a cabeça, um dos fones saiu. Gaara passou a me observar de cima a baixo.

Me arrepiei.

— Gaara, sou… sou eu. Hinata — falei, praguejando mentalmente por ter gaguejado.

— Hyuuga… — A voz dele saiu rouca, talvez pelo pouco uso. Ele se sentou na cama. — Há quanto tempo está aí?

Eu corei violentamente. Respirei fundo. Não iria gaguejar novamente.

— Acabei de chegar no seu quarto.

— Hm.

E havia somente o silêncio naquele momento. Eu tinha passado algum tempo sem vê-lo, mas ainda o conhecia bem o suficiente para saber que ele estava lutando contra seu enorme orgulho. Ser dependente de alguém, com certeza, não fazia seu tipo. Minutos atrás, Ayame havia me dito para não contar nada para ele sobre eu ter sido escolhida. Um sorriso surgiu em meus lábios ao lembrar-me daquilo novamente.

Ao lado dele, ainda na cama, pude ver um livro. Logo reconheci ser o primeiro volume de uma das minhas sagas favoritas: A Torre Negra.

— Não sabia que gostava de Stephen King — comentei, como se tentasse puxar algum assunto. Já sabia que ele não era muito de falar, então não esperava uma resposta.

— Há várias coisas que não sabe sobre mim, Hinata.

Gaara olhou para o livro também, enquanto eu tentava descobrir o que havia nas entrelinhas de sua frase.

“Hinata”, ele havia dito.

“Hinata”. Meu nome na boca dele.

Eu peguei o livro, passando os dedos sobre a capa. Havia o lido ainda no ensino médio, mas conseguia me recordar de cada cena. Me sentei ao seu lado.

— Você quer que eu leia pra você?

Ele se virou pra mim, os lábios estavam levemente entreabertos.

— O quê?

— Eu posso… l-ler o livro, caso você queira.

Ele abaixou a cabeça, olhando para os braços enfaixados, como se pensasse por breves momentos. Eu não soube dizer se Gaara estava envergonhado ou com raiva por não conseguir nem ao menos começar uma leitura graças ao seu estado físico. Segundos depois, se encostou na cabeceira da cama com um travesseiro em suas costas.

— Faça o que quiser — respondeu, e eu logo soube que aquela era a sua maneira de dizer “sim”.

Fiquei do outro lado da cama, de frente para ele. Com o livro já em mãos e aberto, comecei:

— “O homem de preto fugia pelo deserto e o pistoleiro ia atrás.”

. . .

Já fazia uma semana que eu passara a ser uma moradora na casa dos Sabaku. Àquela altura, eu não mais sentia dificuldade em me comunicar com Gaara. Ele, é claro, continuava uma pessoa silenciosa e quieta, mas ao menos sabia começar um assunto às vezes.

Naquele dia, particularmente, notei Gaara estranhamente inquieto. Diferentemente dos outros dias, ele não estava em seu quarto, mas, sim, na sala – ia somente do seu refúgio para a cozinha –, assistindo a um filme qualquer, mas ainda usando os costumeiros fones. Eu os puxei timidamente ao sentar ao seu lado no sofá. Ele crispou os lábios, aborrecido, mas não tirou os olhos da televisão.

Me surpreendi comigo mesma, ali. Naquela semana que passamos o tempo inteiro juntos, não sei exatamente como aconteceu, mas Gaara e eu conseguimos criar certa intimidade um com o outro, se é que podia chamar assim. Eu estava feliz com tudo aquilo, mas também estava com medo.

Medo de quando acabasse.

— Você está me encarando — disse ele, impassível. — Pare.

— Hm? — Franzi o cenho, confusa — Como você pode saber? Está de costas para mim.

Eu movimentei um pouco a cabeça para frente e pude vê-lo curvar os lábios num sorriso zombeteiro, simples. Era, realmente, raro vê-lo sorrindo, e por esse motivo, eu fazia questão de guardar na memória cada vez que ele fazia isso, por mais que fosse algo rápido.

— Estou sentindo sua respiração em meu pescoço.

Enrubesci imediatamente, olhando para seu pescoço e vendo pequeninos pelinhos arrepiados. Permaneci calada. Sabia que iria gaguejar se tentasse falar algo.

. . .

— Tem certeza de que não vai pedir nada, Gaara?

Depois de alguns dias tentando, eu finalmente havia conseguido fazer com que Gaara saísse um pouco de casa. O Sabaku não parecia nada feliz, a julgar pelo seu semblante impaciente. Ele permaneceu em silêncio; os cabelos ruivos ainda bagunçados, como se tivesse acabado de acordar.

Depois de mais algumas sessões de fisioterapia, ele já estava conseguindo voltar a mexer seu braço esquerdo, de modo que apenas o direito ficasse apoiado em uma tipoia. Não conseguia segurar as coisas ainda, pois ainda sentia alguns espasmos, fazendo com que soltasse involuntariamente o que segurasse. Mas, ao menos, já conseguia levantá-lo.

Nós estávamos em uma espécie de Café inaugurado poucos dias atrás. Por mais que o lugar não estivesse cheio, ficamos em um canto mais isolado. As outras pessoas presentes pareciam mais entretidas em suas próprias conversas, o que eu agradeci mentalmente.

Uma vez acomodados, chamei uma das garçonetes. O estabelecimento era bastante quente, apesar de nevar lá fora, e provavelmente por isso as moças que atendiam as mesas usavam saias e blusas curtas.

— Dois chocolates quentes. — eu pedi, ignorando a raiva fulminante de Gaara sobre mim, mas não deixando de notar o olhar da moça sobre ele. — Apenas isso.

Quando ela se retirou, eu levantei e fui para o lado de Gaara. Ele me olhou sério, como se estivesse se perguntando o motivo da minha ação.

— É melhor para te dar o chocolate — respondi, sorrindo gentilmente.

Gaara estreitou os olhos. Mas, então, ele pareceu olhar para algo atrás de mim. Automaticamente, me virei, mas de um jeito mais discreto, como se estivesse checando se meu pedido demoraria. Então, senti todo o mundo ao meu redor ficar em ruínas quando notei o olhar de Sasuke sobre mim.

Arregalei os olhos. Ele me olhava de uma maneira intensa, mas tive a impressão de ver também uma centelha de raiva impregnada ali. Desviou o olhar quando notou que eu já o havia visto, voltando a conversar com um outro rapaz loiro em sua mesa.

Virei-me de volta, dando às costas para ele.

— Você o conhece?

Me surpreendi com o súbito interesse de Gaara.

— Sim, conheço — respondi, cabisbaixa, e me senti envergonhada por, naquele momento, estar recebendo sua completa atenção — Nós éramos… namorados…

— Hm — fez ele, voltando a olhar para a outra mesa.

Era bem verdade que eu não sentia mais nada por Sasuke, e até mesmo me sentia aliviada por termos terminado. Durou apenas alguns meses, mas o ciúme e o ego que todo Uchiha possuía não deixaram com que nosso relacionamento prosseguisse. Aquilo, de certa forma, foi algo bom.

Como estudávamos na mesma faculdade, às vezes nos esbarrávamos ou algo do tipo. Pensei que poderia me privar de vê-lo ao menos nas férias.

Meus devaneios foram interrompidos quando, no segundo seguinte, senti Gaara colocar o braço melhorado por sobre meus ombros. Estranhei aquele gesto afetuoso vindo dele. Eu o olhei e ele aproximou seu rosto do meu, me olhando de maneira séria.

Senti minha face esquentar; as batidas do meu coração eram quase audíveis. Quase. Meu corpo todo parecia estar formigando.

— Não se faça de fraca na frente dele.

E encostou seus lábios nos meus. Foi algo leve, rápido e simples, com certa hesitação da parte dele. Eu pude sentir a maciez de sua boca. Fiquei trêmula, sem saber como agir. Nem sabia se eu devia fazer algo ou não.

E apesar de estar extremamente envergonhada, eu queria mais.

Mas, então, ele se afastou com a chegada da garçonete, que colocou nossos pedidos sobre a mesa e falou alguma coisa que não consegui ouvir. Gaara a respondeu, como se nada de incomum houvesse acontecido, mas também não escutei o que foi dito.

Abri a boca para falar algo, porém, perdi a fala quando ele me olhou, analisando minha feição, e falou, simplesmente:

— Não vai beber seu chocolate quente?

. . .

— Oh — fez Temari, quando conversávamos no telefone, entusiasmada. — O braço dele realmente já está se recuperando?

Eu respondi que sim, mas falei ainda sobre a dificuldade que ele tinha em segurar algo mais pesado, apesar de estar melhorando mais a cada dia. Ela continuou fazendo perguntas. Me questionei o motivo de Temari não perguntar tudo isso ao próprio irmão, mas logo lembrei de como ele detestava conversar por telefone.

— Eu estarei voltando daqui dois dias e, então, você poderá se ver livre novamente.

Meu coração se apertou e engoli algo que tentava sair pela minha garganta. Pisquei algumas vezes. Embora a voz de Temari soasse divertida, simplesmente não consegui sorrir.

Eu já sabia, desde o início, que ficaria com Gaara apenas por certo período, o que não me incomodou nem um pouco. Mas ali, com os fatos expostos por Temari, era como se a ficha houvesse, finalmente, caído para mim…

— Hinata?

… e eu não mais passaria a vê-lo todos os dias. Não iria acordá-lo, retirar seus fones ou esquecer de como se fala quando ele se aproxima demais.

— Hinata, tudo bem? Está aí?

— Estou.

. . .

Ainda era cedo quando eu cessei os passos em frente ao quarto de Gaara, indecisa sobre bater ou não. Acordei às sete e já havia feito tudo o que queria. A sala ficava incrivelmente tediosa sem ele por perto. Não queria ficar apenas na cozinha, ouvindo Ayame falar sobre como seus vizinhos eram irritantes, mas eu também era incapaz de ser grossa ou algo do tipo, então havia dado a desculpa de que precisaria acordar o Sabaku e a deixei.

Por fim, resolvi entrar.

Como já era de costume, estava tudo escuro. Segui caminho até sua cama e fiquei ali, parada, o observando dormir. Gaara estava de bruços, respirando de maneira lenta e sem camisa – sua pele era incrivelmente clara. Corei involuntariamente, uma vez que nunca o havia visto semi nu.

— Gaara…

Eu o chamei, mas ele apenas se mexeu ligeiramente. Tornei a repetir seu nome. Então, ele entreabriu os olhos vagarosamente, como se tentasse focar a visão.

— Por que está aqui nesse horário?

Eu demorei alguns segundos pensando na resposta que deveria dar a ele. Não quis dar nenhuma desculpa, então me esforcei o máximo para respondê-lo sem gaguejar:

— Queria te ver.

— Hm — fez ele, simplesmente. Então, se virou, ficando de lado — Está frio. Vem aqui.

Não sei se foi sua voz autoritária ou o pedido para que eu me deitasse com ele, mas me fez esquecer de como respirar naquele momento.

“Me deitar com Gaara” foi o que repeti várias vezes na minha mente naquela pequena fração de segundos. Ele me olhou, com uma sobrancelha arqueada, como se esperasse uma resposta minha. Ainda hesitante, eu tirei minhas sandálias. Gaara se afastou um pouco e, quando me deitei, insegura sobre o que viria, me abraçou de leve.

Eu não sei se aquilo significou algo para ele, que ainda parecia estar com sono. Senti seus dedos percorrerem meu braço. Era incrível o fato de eu me arrepiar somente com aquele simples gesto

— Olhe para mim, Hyuuga.

Eu me virei para ele, observando os olhos verdes dos quais eu tanto gostava. Seu cabelo rubro bagunçado estava cobrindo a tatuagem que possuía na testa. Eu fitava seus lábios. Queria poder senti-los novamente, ao menos mais uma vez.

Sua mão estava agora em minha cintura, com os dedos acariciando de leve minha barriga por baixo do tecido da minha blusa, o que me fez questionar se ele realmente estava raciocinando direito. E então Gaara beijou meu rosto de leve, para então partir para minha boca, num toque sutil. Dessa vez, eu o correspondi, segurando seus cabelos e fechando meus olhos. Eu sequer acreditava que aquilo realmente era real, e se fosse, não sabia se iria acontecer novamente.

Sua mão foi para minha coxa desnuda – eu nem me lembrava de que estava de saia naquele dia – e a rodeou. Ouvi um suspiro escapar de seus lábios.

— Você não sabe o quanto eu te desejo, sabe? — ele disse quando afastou sua boca da minha, dando pequenos beijos na curva do meu pescoço. Não pude respondê-lo.

Então, um ruído de frustração veio dele. Gaara me beijou apenas mais uma vez e, sem aviso algum, me soltou, ficando com a barriga para cima e os olhos fechados, soltando um longo suspiro. De início, eu não entendi o motivo, mas logo me veio à mente de que, se ele continuasse, não iria querer parar depois.

Senti meu rosto esquentar com o pensamento e me virei, ficando de costas para ele.

Não sabia o que falar. Gaara parecia estar na mesma situação que eu. Permanecemos alguns minutos de silêncio até que eu pudesse ouvir sua voz grossa:

— Você não gostou?

Não pude evitar que um sorriso singelo aparecesse.

— Gostei… Eu gostei… — respondi, num fio de voz.

— Por que se virou então? — Sua voz era dura.

Não sei bem o porquê, mas o rosto de Temari me veio à mente e o aperto no peito logo voltou.

— Sua irmã voltará amanhã cedo.

Eu não pude ouvir nenhum som vindo dele, mas isso não me surpreendeu. Ele continuaria sendo o Gaara, afinal. Permanecemos alguns instantes calados, apenas ouvindo a respiração um do outro.

— Você irá embora? — ele indagou, não expressando nada em sua voz.

Eu queria negar. Esperava que ele me pedisse para ficar.

— Sim.

Eu queria Gaara para mim.

. . .

Naquele dia, eu me retirei e fui tomar banho. Ao encontrar Gaara novamente, não mais falamos sobre o assunto. Ele estava de mau-humor.

— Senhor Gaara, o que acha de trocar esse quadro da sala pelo o que está na sala de jantar? — indagou Ayame, numa tentativa falha de puxar conversa com ele.

— Deixe como está — disse, seco.

— Tem certeza?

Ele não voltou a respondê-la. Mais tarde, eu pedi desculpas à ela pelo mau comportamento dele.

. . .

Já era noite quando resolvi que era hora de, finalmente, arrumar minhas malas. Imediatamente, senti saudade de tudo aquilo, mesmo ainda estando na casa. Sentiria falta de ter de sustentar o olhar de Gaara sobre mim; do seu semblante sério e incrivelmente bonito; de seus toques e… seus beijos.

Doía saber que, mesmo naquele curto espaço de tempo, eu havia me apaixonado por ele.

Ouvi três batidas fracas na porta e pisquei algumas vezes, passando a mão pelos cabelos a fim de arrumá-los. Respirei fundo. Abri a porta e me deparei com Gaara. Ele parecia inexplicavelmente irrequieto e entrou no quarto de maneira apressada. Não pude saber o que estava pensando; os olhos indiferentes e implacáveis.

— Gaara? O que… — eu perdi a fala ao vê-lo ali. Me xinguei mentalmente. Vários dias me esforçando para não gaguejar ou ficar balbuciando palavras e, agora, tudo parecia ter sido em vão. — O que está fazendo?

Ele me olhou de uma maneira que fez com que eu me sentisse transparente, como se pudesse prever todas as minhas ações e pensamentos.

— Não quero que você se vá, Hyuuga.

Arregalei os olhos, ainda absorvendo aquelas palavras. Entreabri os lábios, mas o que eu poderia falar? Sequer conseguia pensar em alguma resposta. Ele, então, se aproximou de mim e encostou sua boca na minha. Havia sido apenas um selinho, mas foi o suficiente para me fazer esquecer tudo ao redor.

Gaara segurou na minha cintura firmemente com ambas as mãos. Eu franzi o cenho.

— Seus braços — falei, me afastando por um segundo apenas para olhá-los. — Eles estão… Bem? Os dois? Mas…

Ele me silenciou com o dedo indicador, com um sorriso zombeteiro na face.

— Não era algo tão grave assim — explicou, dando de ombros, como se fosse algo simples, voltando a me puxar contra seu corpo. Sentir ele tão próximo de mim foi uma mistura entre o prazer e o alívio. — E já faz algum tempo desde que eles estão bem.

Eu devo ter ficado com uma expressão de profunda confusão, pois ele soltou um sorriso. Era pequeno, é claro, mas sem ironia, como não era de seu feitio.

— Por que não me contou? — perguntei, com um tom de acusação.

Ele demorou alguns segundos para responder. Enrubesci com o olhar compenetrado dele sobre mim.

— Pensei que fosse embora quando soubesse.

Senti meus olhos ficarem molhados. Agarrei sua camisa e o abracei de um modo desesperado, como se ele pudesse fugir a qualquer momento. Ainda com uma mão na minha cintura, com a outra Gaara levantou meu queixo, me forçando a olhá-lo.

— Vai ficar? — ele questionou, impaciente.

Esbocei um sorriso, sem ainda conseguir acreditar direito na situação. Enxuguei algumas lágrimas e voltei a olhá-lo.

— Só se você continuar me deixando te dar chocolate quente na boca. — Olhei para baixo, me perguntando de onde havia vindo tal coragem para falar aquele tipo de coisa.

Um sorriso debochado apareceu em seu rosto. Céus, como eu não havia percebido antes que estava apaixonada por ele? Voltei a observá-lo, à espera de uma resposta que logo veio:

— Acho que posso conviver com isso. — Pude ver certo brilho em seu olhar. — Fique comigo, Hyuuga.

E me beijou, libidinoso.

Era tudo o que eu precisava ouvir dele.


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Notas finais do capítulo

Well, well... Espero que alguém tenha gostado e que você, leitor, fique à vontade para me dizer o que achou e, quem sabe, me dar dicas para escrever um fluffy de verdade da próxima vez.