Menino anjo escrita por Celso Innocente
A televisão é o veículo mais importante para divulgação de fatos bons e principalmente cruéis. A maior parte dos noticiários só informam coisas más e o pior, sem solução, pois um crime depois de ocorrido, dificilmente tem como ser solucionado a contento para as vítimas. Mesmo que se prenda ou execute o marginal, a vítima, que foi ferida ou assassinada, no mínimo estará traumatizada para sempre.
Regis, como qualquer garoto de sua idade, gostava de assistir desenhos pela televisão e raramente assistia a algum tipo de noticiário. Mas... às vezes era pego de surpresa, quando a televisão interrompe o desenho ou outra programação para noticiar algo urgente.
— Interrompemos nossa programação para notícia urgente — informou o jornalista. — Sequestrado agora a pouco na entrada de Ribeirão Preto, o empresário Marco Cesar de Souza, de trinta e cinco anos. O empresário é um dos principais acionistas do grupo de laticínios Rafaelli, com diversas unidades na região de Ribeirão Preto. O carro do empresário foi interceptado no anel de acesso da rodovia Anhanguera por dois outros carros e segundo testemunhas, quatro homens armados renderam o empresário e o levaram, deixando seu carro abandonado. A polícia foi acionada pela família e assessores do empresário, mas ninguém quis falar a respeito e ainda não se sabe o motivo do sequestro. Outras noticias a qualquer momento durante nossa programação.
Regis se levantou e correu até sua mãe que também prestara atenção ao noticiário.
— Mamãe! Preciso ir lá! — Insinuou ele triste.
— Você não precisa ir lá coisa nenhuma! — Negou ela preocupada, pois já conhecia o menino.
— Preciso cumprir minha missão!
— Sua missão é ficar aqui comigo e ser apenas uma criança.
— Aquele homem precisa de mim! — alegou o menino.
— Não precisa nada! A polícia já está sabendo e ela vai cuidar disso!
— Aquele homem será exec... morto.
— Não será nada! Quando sequestradores pegam alguém rico, eles querem dinheiro!
— Depois que receberem o dinheiro não precisarão mais do homem — retrucou Regis.
— Tudo acabará bem praquele homem — afirmou sem muita confiança, Jaqueline.
— Claro! Depois que eu estiver presente! Mamãe, você tem que me levar! É minha missão!
— Você nem sabe onde eles estão! E também não sabe como agir!
— Eu vejo eles em minha mente. Sei onde estão!
— Então avisamos a polícia e ela resolve.
— Não sei explicar! Sei ir!
— Você não irá lá! Está decidido! Mesmo que eu tenha que amarrá-lo.
Regis riu, se aproximou mais de sua mãe e cruzou os punhos dizendo:
— Faça o que tem que ser feito.
A mulher mudou de idéia negando:
— Não vou amarrar você meu filhinho! Eu te amo e só quero o seu bem! Mas esta noite dormirei com você.
— Que bom, mamãe! Sinto falta dessa época!
Realmente, Jaqueline resolveu dormir com o menino e para evitar surpresas, resolveu permanecer abraçado a seu corpo pequeno...
... Quando ela acordou na manhã seguinte, Regis já teria saído há muitas horas. Ele se levantara às quatro e meia da manhã, apanhara dinheiro emprestado da bolsa de sua mãe e às cinco e meia, mesmo que para este embarque, se fizesse necessário a apresentação de carteira de identidade (RG) e ele sem este documento, após, de seu jeito, convencer o motorista, embarcara em ônibus lento, em sentido a Ribeirão Preto.
A viagem de aproximadamente cento e trinta quilômetros demorou quase quatro horas, só chegando à entrada da cidade pouco depois das nove horas da manhã, onde, quando o ônibus entrou no anel de acesso, passando inclusive no local do referido sequestro e descendo sentido centro, por uns quinhentos metros, o menino se levantou e pediu para que o motorista parasse, então desceu e começou a caminhar em sentido a se afastar do aglomerado de casas. Caminhou lentamente por mais de um quilômetro, em torno de doze minutos, parando em frente a uma solitária e grande casa com muros altos, forçou o portão que estava trancado. Soltou a maçaneta, pensou um pouco e voltou a tentar. O portão se abriu facilmente e ele entrou, caminhando devagar; quando colocou a mão na maçaneta da porta de entrada, ela se abriu e um homem bem vestido, moreno, alto, aparentando seus vinte e cinco anos, o surpreendeu. Ou não. Regis era imprevisível.
— Quem é você, menino? — Perguntou-lhe surpreso, o homem. — O que pretende aqui?
— Conversar — afirmou calmamente o menino. — Posso entrar?
Sem esperar resposta ou ser convidado, entrou naquela sala grande, com poucos móveis: apenas dois sofás, uma mesa pequena, uma estante com alguns livros e um televisor antigo de talvez vinte polegadas de tela.
— A mamãe não lhe ensinou a não conversar com estranhos? — Perguntou-lhe o homem, surpreso.
— Eu conheço você — insinuou calmo o menino. — Onde estão os demais?
— Quem demais? — Ficou nervoso o homem.
— Seus três companheiros e o empresário.
— Foi bom você aparecer — disse o homem, com certo nervosismo. — Venha comigo!
Segurou o menino pelo braço e o arrastou para um quarto, onde se deparou com o empresário, apenas de calção, amarrado a uma cama e com muitos hematomas, inclusive no rosto e braços, resultado de algumas torturas sofridas.
— Este meu amigo está mesmo precisando de companhia. Acho que você veio ao local errado.
— Engano seu — retrucou o menino, nervoso pela cena que viu. — Você e seus parceiros têm duas opções... a cadeia ou o inferno!
Bruscamente o homem forçou o menino, jogando-o e amarrando-o fortemente a uma cadeira, bem de frente ao empresário. Então, como ouviu barulhos, vindo, talvez da cozinha, disse:
— Fiquem aqui que eu volto já!
E se retirou.
— O que faz aqui, menino? — Perguntou ainda mais surpreso, Marcos Cesar.
— Não se preocupe — pediu sério o menino. — Às vezes as coisas não são o que parece.
— Quem é você? Por que se atreveu a vir aqui? Esses homens vão matar a gente. Inclusive você.
— Não sou o que vê!
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Meu canal do youtube apresenta alguns vídeos, inclusive alguns que, não sendo encontrado dublado ou legendado em L.Portuguesa, resolvi fazer como hobby.